Jenin | Exigida investigação a Israel após tiros contra diplomatas

As acções das autoridades israelitas continuam a chocar o mundo. Além do cerco imposto à população em Gaza, replicando práticas medievais, os soldados israelitas dispararam quarta-feira, em Jenin, contra uma delegação de diplomatas de vários países, incluindo Portugal. Pequim exige uma investigação de Israel

 

A China exigiu ontem uma investigação completa sobre o incidente em que soldados israelitas dispararam contra uma delegação diplomática na cidade de Jenin, na Cisjordânia, e pediu medidas para evitar que uma situação semelhante se repita.

“Estamos atentos ao incidente. Opomo-nos firmemente a qualquer acção que ponha em perigo a segurança do pessoal diplomático e exigimos uma investigação completa para evitar a repetição destes acontecimentos”, disse ontem a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning.

Em conferência de imprensa, Mao apelou a todas as partes, e em especial a Israel, para que “evitem quaisquer acções que possam provocar uma escalada das tensões” na região.

“A situação na Jordânia e na Cisjordânia tem sido tensa desde há algum tempo”, afirmou.

Meio mundo

A declaração de Pequim surge um dia depois do exército israelita ter disparado tiros de aviso contra uma delegação diplomática composta por representantes de 24 países.

De acordo com uma lista noticiada pela agência de notícias EFE, a delegação incluía representantes do Gabinete da União Europeia e de 14 países da UE: Portugal, Áustria, Irlanda, Espanha, Lituânia, Polónia, Roménia, França, Holanda, Finlândia, Itália, Alemanha, Dinamarca e Bélgica.

Representantes do Canadá, Reino Unido, México e Uruguai, bem como Jordânia, Marrocos, Turquia e Egipto, também terão feito parte da delegação. Somam-se diplomatas da China e do Japão. Representantes do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da agência da ONU para refugiados palestinos, UNRWA, também participaram da visita.

O grupo diplomático, convocado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina, estava a realizar uma visita para “observar as condições humanitárias e os crimes e violações cometidos pelas forças de ocupação na área”, informou fonte palestiniana.

Vídeos do incidente, partilhados por diplomatas palestinianos, mostram soldados israelitas a apontar armas e a atirar na direcção do grupo. O exército israelita acusou a delegação diplomática de “desviar-se da rota aprovada”, razão pela qual, dizem, decidiram disparar tiros de “advertência”.

“As IDF [Forças de Defesa de Israel] lamentam o inconveniente causado”, disseram as forças israelitas em comunicado, sublinhando que ninguém ficou ferido no incidente, que ocorreu em uma “zona de combate activa”.

23 Mai 2025

Gaza | Hamas e outras milícias palestinianas reúnem-se em Pequim

A reunião patrocinada pelo Governo chinês, e que tenta unir os diversos movimentos palestinianos através do diálogo, terá lugar na capital do país nos próximos dias 21 e 22 deste mês

 

O grupo islamita Hamas, que controla de facto a Faixa de Gaza, disse ontem que aceitou um convite do Governo chinês para se reunir em Pequim com outras facções palestinianas para discutir o futuro do enclave no pós-guerra.

“O Hamas e as facções palestinianas receberam um amável convite da República Popular da China para realizar uma reunião entre facções nos dias 21 e 22 deste mês”, declarou, em comunicado, Husam Badran, membro do gabinete político do Hamas e chefe do seu gabinete de relações internacionais.

O grupo islamista “respondeu com espírito positivo e responsabilidade nacional a este convite, a fim de alcançar uma unidade nacional que corresponda ao povo palestiniano e aos seus sacrifícios e heroísmo”, especialmente no actual contexto de guerra, acrescentou.

De acordo com Badran, está prevista apenas uma reunião de grupo e não reuniões bilaterais.

Na terça-feira, o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês sublinhou a sua disponibilidade para “fornecer uma plataforma e criar oportunidades para as facções palestinianas se reconciliarem e dialogarem”, mas não confirmou a reunião.

O Hamas e o partido secular Fatah, que governa pequenas partes da Cisjordânia ocupada através da Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), reuniram-se na capital chinesa em Abril, altura em que os dois movimentos sublinharam a necessidade de avançar para a “unidade nacional” e acabar com a divisão entre as facções palestinianas.

O Hamas e a Fatah estão em conflito desde 2007, altura em que o Hamas expulsou as forças da Fatah da Faixa de Gaza, dissolveu o executivo conjunto e tomou o poder pela força, depois de ter vencido as eleições legislativas um ano antes. Vários mediadores, incluindo o Egipto, a Arábia Saudita, o Qatar e a Rússia, tentaram intervir para pôr fim à divisão que se mantém desde então.

Controlo entregue

Em Fevereiro, o governo da ANP demitiu-se, invocando a necessidade urgente de “um consenso palestiniano” capaz de substituir o Hamas na Faixa de Gaza.

Embora Israel se oponha tanto ao regresso da ANP a Gaza após o fim da guerra como à criação de um Estado palestiniano, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou, num projecto de plano pós-guerra, que o controlo civil de Gaza caberia a responsáveis locais afastados de “países ou entidades que apoiam o terrorismo”.

Os Estados Unidos – mediadores da guerra, juntamente com o Qatar e o Egipto – afirmam ser favoráveis a uma entidade reformada apoiada pelos palestinianos.

A guerra eclodiu a 7 de Outubro de 2023, na sequência de um ataque do Hamas a Israel que causou cerca de 1.200 mortos e 251 sequestrados. Desde então, as forças israelitas têm atacado incessantemente a Faixa de Gaza, onde mais de 38.700 pessoas foram mortas e mais de 88.000 ficaram feridas.

Não é a primeira vez que a China intervém como mediador num conflito na região: no ano passado, mediou um acordo entre o Irão e a Arábia Saudita para o restabelecimento das relações diplomáticas.

18 Jul 2024

Gaza | Pequim estima que veto dos EUA torne situação ainda mais perigosa

Os EUA, apesar dos apelos a uma pausa humanitária na guerra em Gaza, continuam a dar luz verde ao massacre israelita

 

A China criticou ontem o veto americano a um projecto de resolução da ONU que exige um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, o que, segundo Pequim, torna a situação “ainda mais perigosa” no território.

“Os Estados Unidos distinguiram-se mais uma vez por se oporem com o seu veto, tornando a situação em Gaza ainda mais perigosa. As partes envolvidas, incluindo a China, expressaram a sua forte decepção e insatisfação”, disse durante um ‘briefing’ à imprensa, o porta-voz para a diplomacia chinesa, Mao Ning.

Os Estados Unidos vetaram na terça-feira um projecto de resolução proposto pela Argélia no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza.

A resolução, que teve amplo apoio dos países árabes, recebeu 13 votos a favor, um voto contra (Estados Unidos) e uma abstenção (Reino Unido).

Trata-se da terceira vez que, desde o início da guerra, os Estados Unidos – um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e com poder de veto – bloqueiam uma resolução sobre Gaza.

 

Dedos apontados

A Faixa de Gaza está mergulhada numa situação humanitária catastrófica, na sequência dos ataques mortais israelitas.

Quase um milhão e meio de pessoas, segundo a ONU, estão concentradas na cidade de Rafah, localizada no sul do território palestiniano, junto à fronteira fechada com o Egipto.

Foi neste contexto que os Estados Unidos vetaram o projecto de resolução proposto pela Argélia.

O veto norte-americano não apanhou o Conselho de Segurança da ONU de surpresa, uma vez que a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, já havia anunciado no domingo que iria votar contra o texto da Argélia, argumentando que a proposta apoiada pelos países árabes poderia interferir nas negociações em prol de um acordo pela libertação de todos os reféns detidos pelo movimento islamita palestiniano Hamas.

Estas negociações, especificou, estão a ser levadas a cabo pelo seu país, juntamente com o Egipto e o Qatar, e incluem ainda uma pausa de seis semanas nos combates.

A embaixadora norte-americana justificou o seu veto com o argumento de que o texto da Argélia “colocava em risco as delicadas negociações” em curso, considerando ainda que proceder à votação foi um ato “irresponsável”.

O veto americano “irresponsável e perigoso” envia a mensagem de que Israel pode “continuar a fazer qualquer coisa impunemente”, criticou, por seu lado, o embaixador palestiniano, Riyad Mansour.

Também numa reacção ao veto norte-americano, o movimento islamita Hamas considerou a posição dos EUA como uma “luz verde” para Israel realizar mais “massacres”.

“A posição americana é um sinal verde para a ocupação [israelita] cometer mais massacres (…). Isto só aumentará o sofrimento do nosso povo”, afirmou o movimento islamita palestiniano num comunicado.

22 Fev 2024