José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasBranquear com sangue [dropcap]O[/dropcap] castelo está cercado, aproxima-se o fim. O general Kurogane sobe aos cómodos reais para confrontar a Dama Kaede, astuciosa intriguista, cujas conjuras e ciladas, acrescidas de um sortilégio sexual, conduziram o clã Ichimonji à catástrofe iminente. A câmara fixa-se nela e Kaede, niponicamente hierática, como deve ser a alteza sobretudo em face do veredicto, vai fitando um ponto infinito enquanto revela que o seu triunfo é inexorável assim alcançando a vingança por que tanto porfiara. Está iminente a aniquilação dos Ichimonji que décadas atrás haviam massacrado a sua família. Kurogane desembainha a catana e ante o clamor de pânico das cortesãs, na parede para onde agora olhamos estampa-se um formidável jorro sangue. O realizador Akira Kurosawa oferece-nos alguns segundos de fascínio e silêncio para contemplarmos aquele esplendor vermelho. De seguida o General Kurogane repta quem o quiser ouvir: “Preparem-se para morrer.” E parte para a batalha. Ao longo de “Ran” o General Kurogane assassinara e cometera crimes irremissíveis porque a todos os valores sobrelevou o princípio da lealdade. Em nome dela permitiu-se executar as iniquidades que lhe foram encomendadas pelo seu Senhor; para não a desfalcar recalcou apreensões e dúvidas, comprometendo-se com franqueza em actos que sabia serem indecentes. Mesmo que imperturbável e deixando connosco o encargo de ajuizar o que nos dava a ver, a câmara de Kusosawa, porque nada omitindo, foi-nos revelando a personagem do General Kurogane como sórdida e degradada. Um esbirro sempre teria o indulto da inconsciência e da subordinação, mas o braço direito do Senhor não tem como atenuar a sua parte de responsabilidade individual. É inesperado, logo um golpe de génio, daqueles que desequilibram o escrúpulo do espectador, que no final de “Ran” Kurosawa conceda a Kurogane uma dádiva inestimável – a redenção. É, aliás, uma dupla e apoteótica oferta: primeiro a de acertar contas com a perfídia ao cortar o mal pela raiz acutilando a Dama Kaede, no que acrescenta mais uma grave culpa ao seu rol; mas a seguir a de resgatar a honra com uma morte em combate. Aliás retrocedendo àquela cena capital nela descobrimos, porque só ali nos é dado saber, que afinal a odiosa Dama Kaede também agiu com abandono e sem cupidez, por motivos superiores ao seu interesse pessoal, consciente desde o início das suas maquinações de que, na melhor das hipóteses, trespassá-la-ia a lâmina de uma catana. Também ela agiu por fidelidade, neste caso à memória dos seus antepassados, desafrontando o ultraje com um castigo ainda maior do que o sofrido. Maior porque mais subtil do que a mera extinção olho por olho, dente por dente, da casa Ichimonji. A queda que ela provocou é antecedida por um apogeu de poder e força, angariados por uma sucessão de infâmias políticas, conjuras familiares e massacres militares. Não só ela fez com que os Ichimonji caíssem de mais alto como trabalhou para que merecessem a ruína. Ou seja também com a Dama Kaede Kurosawa foi misericordioso. A economia narrativa de “Ran” ficaria estropiada se ela fosse retirada de cena de maneira inconclusiva, rendendo o seu desenlace à imaginação e à especulação dos espectadores, talvez a pior desgraça a que se pode condenar uma personagem. Esse martírio ficou reservado para o velho rei Hidetora cuja ponderação, equidade e candura no início do filme, ao dividir com isenção o reino pelos seus três filhos, desencadeou todos os tormentos e tribulações que fomos presenciando. Hidetora, o justo, acaba cego e só a tactear o vazio à borda de um precipício. As culturas mais díspares e historicamente incomunicáveis, todas reconhecem o sacrifício da vida pela sorte das armas como um honroso resgate dos males antes praticados. “Ran” é assim um filme absolutamente japonês e absolutamente shakespeariano. A tragédia é inseparável do sangue – nos tempos de hoje talvez o elemento que mais repugna ao sentimentalismo e ao moralismo vigentes – e tem aqui como detonador a lealdade, pois é por via dela que se corre para a perdição. Do elenco de virtudes cardinais a lealdade será a que mais a que mais sobressalta a ética com os seus dilemas, a que mais corrompe as outras virtudes e a que mais dano causa a quem a professa. Incubado nas decisões erradas que incauta e aleatoriamente por ela vamos tomando o vírus do fatalismo nela latente pode alastrar a peste da tragédia, esse ectoplasma que se apropria sem remédio de uma vida. Pior do que a lealdade só a deslealdade.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasTitanic [dropcap]N[/dropcap]o primeiro dia, ela leva-me para o escritório e fecha a porta à chave atrás de si, apesar dos dois seguranças do lado de fora, sorridentes e prestáveis. Na verdade, lembram mais polícias do que outra coisa. A casa tem vigilância 24 horas por dia, explica. A nossa conversa interrompida por gritos e risos vindos do corredor e, depois, por batidas cada vez mais fortes e pedidos cada vez mais desesperados de um dos rapazes tentando entrar. Como se fosse arrombar a porta. Como se fosse a coisa mais importante, mais urgente do mundo, entrar por aquela sala adentro. Para quê? Explicações, justificações e desculpas enquanto alterna o que nos trouxe ali com pedidos para que se acalme, e espere. Nada. Ele continua e, eventualmente, consegue entrar. Parece perturbado por alguma coisa ou alguém. Parece encurralado, tentando escapar. Parece em perigo, a precisar de ser salvo. Ela pergunta, finalmente, o que é que ele quer, e ele responde conseguindo-o: um abraço. Aquele rapaz, nos seus treze anos e quase um e oitenta de altura, caracóis dourados e olhos claros, capaz de tamanha brutalidade para com uma porta, apenas exige, apenas quer do mundo um abraço. Assino os papéis. Gostas de mim? Silêncio. Ouviria esta pergunta dezenas de vezes por dia nas próximas semanas. Pijama polar azul, olhar fixo sobre a rua, à espera de ver os outros regressar, com telemóveis novos nos bolsos ou mais uma expulsão da escola. A mesma força bruta e incomensurável de antes. Força essa que o levaria a passar dois dias no hospital, ao partir a cabeça de propósito contra uma janela, por querer visitar um dos companheiros, que lá está por doença. Sempre a mesma pergunta e, quanto mais ele a coloca, maior a tendência para passar do silêncio ao sim, e de essa resposta passar de conveniente a verdadeira. Claro que gosto de ti. Desço para a rua. Nas escadas ecoa um assobio cujo dono eu ainda não sei reconhecer. Ao tema, sim: My heart will go on, de Céline Marie Claudette Dion. Tenho tempo antes de começar. Como um gelado na praça, nas únicas vezes talvez em que não reparo em ninguém. Dois euros, três sabores à escolha e natas. Quero esvaziar a cabeça ou ganhar coragem. Estar preparada. Como se fosse possível. Há sempre futebol quando venho. Dois ou três fazem questão de estar em casa nesses finais de tarde. Ocupam o sofá, mandam os outros calar. Sento-me a ver com eles. Nos intervalos, jogam hóquei de mesa. Noutra noite, participarei numa peça de teatro sem guião e sem público, repetida incansáveis vezes. Perucas brilhantes, de cores extravagantes, e vozes feitas grossas para a ocasião, muita gesticulação e um médico louco, que nos persegue no lusco-fusco. É suposto que nos deixemos vencer por um destino cruel ao som de gargalhadas maléficas. Há um rapaz de quem toda a gente me fala, mas o tempo passa e não nos cruzamos. Parece que ninguém sabe o que fazer com ele e, como se comporta, deixam-no no que julgam ser em paz. Entretanto, deixo-me ficar com os dois irmãos: um joga no computador (carros), enquanto ouve rap tuga sobre como é difícil a vida nas ruas. Ensurdecedora, pelos vistos. O outro, o que me ofereceu chocolates uma vez, lê a Bíblia. Às vezes não sabe dela e não sossega enquanto um dos outros não a descobre e lha devolve. Normalmente, está no andar de cima, onde nunca chegarei a ir. Quando volto, na semana seguinte, ele já não está lá. Foi transferido para outro lugar. Na parede, nas mesas, vestígios da festa de despedida do dia anterior: fotografias a cores dos rapazes e da equipa, felizes. Bolos, sandes, frango de churrasco, sumo. Agora foi-se o líder. Agora que íamos ouvir música, escrever e rever canções juntos. Agora que eu lhe ofereci o meu pin do Muhammad Ali. Agora que eu estava a tentar convencê-lo a regressar à escola. Agora que eu o fizera sorrir, e falar-me dos temas do rap que fazia e da rapariga de quem gostava. Agora que volta a ser um nome suspirado por todos os adultos e recordado respeitosamente por todos os miúdos. Eu não sei o que fazer e, como tal, escolho o que sempre faço nessas situações: um bolo. A oito mãos, impacientes e conflituosas, curiosas e inexperientes, que vão seguindo as minhas indicações com mais ou menos nuvens de farinha no ar. Mas isto não é sobre o bolo, embora eu espere que as cabeças que surgem à porta com olhar de gula, desprezo e maldizer, sejam compreensíveis caso não esteja como querem. É, ainda, a estreia do forno que não consigo entender de imediato como funciona. Ajudam-me. Ainda há muito por fazer e por limpar. Alguns recebem telefonemas da família. Outros, encontram-na nos que ali trabalham e estão presentes todos os dias. Alguém suspira. Alguém comenta o quão nova era a casa ainda agora e o quão destruída vai ficando a cada dia, conforme as energias negativas, de que me dizem estar cheios, vão sendo libertadas. “Se eles puderem roubar-te, não vão hesitar.” Quem confiará em quem primeiro? Há um momento de tensão, e outro, e outro. Alguém separa adulto e adolescente. Em breve, ela, a adulta, estará de baixa, oferta da casa. Mas voltará. Voltará sempre, porque entende. Porque escolheu estar ali. “Quem és tu?” Apresentam-me. Apresento-me. “Deve ser a nova estagiária.” Já no sofá, em sossego, continua: “Tens filhos?” Respondo. “Não te preocupes, miúda, um dia ainda vais ser mãe.” E mal tenho tempo de processar isto quando regressam os outros, como quem tivesse estado à escuta: “Vieste buscá-lo? És a tia dele?” Contam-me que uma ex-funcionária tentou adoptá-lo mas não conseguiu a aprovação. Queria levá-lo de novo para a terra onde nasceu, mas acabou por desistir. “Era a oportunidade de ele sair daqui. Vai sempre depender de alguém. Não sei o que vai ser dele.” Ele. Tenho carinho por ele. Quando vou a casa dos meus pais, na semana seguinte, resgato o velhinho 20,000 Léguas Submarinas. No quarto, lemos juntos, à vez. Confessa, às vezes tenho uma escuridão dentro de mim. Daí a Bíblia. Tem medo, e um dos sorrisos mais bonitos que já vi. À nossa volta, posters e mais posters do filme Titanic, o seu preferido. Vê-o todos os dias. Chora sempre. Convida-me para o seu aniversário, daí a dois dias. Deixo-o descansar. Saímos os três para a noite fria. Estou de totós, que outro dia aprendi dizer-se Maria-Chiquinha, no Brasil. “Pareces a Harley Quinn”. Fico a olhar para ele e digo a mim mesma: disfarça, não queres que deixe de pensar que és fixe. Continuamos a volta ao bairro. Estão a aprender a dar a quem precisa. Levam comida para quem a não tem. Eles que já têm tão pouco, e de quem apenas se espera o pior. Mas a verdade é que perto, longe, onde quer que estejamos, tornam-se facilmente os nossos miúdos preferidos. Mesmo quando se peidam sem pudor e evitam tomar banho por tanto tempo quanto possível. Mesmo se o autismo, a delinquência, o abandono, a deficiência. Ah, rapazes perdidos. Fosse o mundo assim tão puro.
Hoje Macau EventosFilme “The Great Wall” é pouco interessante, diz realizador [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador chinês Zhang Yimou disse que o fracasso da maior produção cinematográfica conjunta entre a China e os Estados Unidos, o “The Great Wall”, terá ficado a dever-se ao pouco interesse da história retratada. “Os atores são todos muito bons. [O protagonista] Matt Damon e todos os outros foram esplêndidos”, afirmou Zhang à agência The Associated Press. “Provavelmente, a história é um pouco fraca, ou o momento não foi o melhor, ou então fomos nós que não fizemos um bom trabalho. Pode ser por muitas razões”, acrescentou. O “The Great Wall” remete para uma China imaginária, onde a Grande Muralha, o monumento mais conhecido do país, foi edificada para deter a invasão por monstros que comem carne humana. O guião demorou sete anos para Hollywood concluir. Zhang acrescentou elementos da cultura chinesa e o seu estilo visual, patente no drama de Kung fu, “House of Flying Daggers”, ou na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos Pequim 2008. Os produtores esperavam que o filme, com um orçamento de 150 milhões de dólares, pudesse inverter a tendência das produções conjuntas entre a China e os EUA falharem em ambos os mercados. O “The Great Wall” arrecadou apenas 45 milhões de dólares em receitas de bilheteira, desde que estreou em fevereiro passado, mas ganhou 332 milhões globalmente. Na China, onde foi exibido em dezembro, alcançou 171 milhões de dólares, tornando-se o oitavo filme com maiores receitas no país, em 2016. O filme foi produzido pela Legendary East, subsidiária chinesa da produtora de Hollywood Legendary Entertainment, adquirida no ano passado por Wang Jianlin, o homem mais rico da China e presidente do grupo Wanda Group, que tem a maior rede de distribuição cinematográfica do mundo. Zhang considerou que o “The Great Wall” é um marco na colaboração entre produtores chineses e de Hollywood. “Como os chineses dizem, ‘tudo é difícil no início’. Penso que foi importante começar. Espero que haja mais cooperações do género, que as pessoas não parem só porque o resultado não foi bom”, afirmou Zhang. Questionado se participaria de outra produção conjunta entre a China e Hollywood, Zhang respondeu: não tenho que ser eu a fazer. Espero que mais pessoas colaborem nisto”.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasO filme que os chineses vêem no Ano Novo Lunar (e será que gostam?) 乘何方风破何方浪 Foto: Selecção de raparigas para uma Escola de Artes chinesa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme é uma comédia para animar os espíritos, chamada Cheng Feng Po Lang, 乘风破浪,Título em inglês: Duckweed (Lentilhas). Estreou no primeiro dia do Ano Lunar Chinês (28 de Janeiro) e atingiu recordes de bilheteira num período de apenas seis dias. No quinto dia de exibição já tinha ultrapassado o limite anterior de 70 milhões de RMB. Ah! pois, têm razão, vocês nunca devem ter ouvido falar deste filme, nem tão pouco do realizador Han Han, que faz parte de um grupo de chineses super populares devido a um fenómeno local chamado “o cancro do heterossexual”. Há alguns anos atrás Han Han revelou-se, a si e aos seus desprezíveis sintomas: “Quando uma rapariga aceita um convite para jantar e ir ao cinema, significa que quer sexo. Quando traís a tua namorada o melhor que ela tem a fazer é calar a boca.” O Cancro do Heterossexual 直男癌é um neologismo chinês para designar um grupo de homens obstinadamente sexistas. Foi inventado por utilizadores das redes sociais em meados de 2014 para nomear chineses do sexo masculino que por palavras e actos menosprezam os valores femininos, ofendem os direitos das mulheres e combatem o movimento para a igualdade de género. Destacam-se, não só pela retórica misógina, mas também pela promoção da homofobia, uma higiene duvidosa, fraco sentido estético e pela violência doméstica. O termo surgiu na China continental para designar um fenómeno que se pode dever a uma economia fechada, a tradições que continuam a persistir, a uma preferência por filhos rapazes e ainda a outros factores, tais como sentimentos de fracasso pessoal e desconhecimento do estatuto da mulher. Agora deixo-vos o início da letra da canção do filme tão popular de que já vos falei: Antes de casares comigo / Há umas coisas que tens de dizer a ti própria /Talvez não gostes do que vou dizer /Mas mesmo assim tens de me ouvir / Porque estas são palavras que me saem do coração / só quando estou um pouco bêbedo / À noite nunca vais para a cama antes de mim/ De manhã nunca te levantas depois de mim / Tens de cozinhar óptimas refeições / E tens de te vestir à maneira / Vais viver em harmonia com a minha mãe e a minha irmã (e comer as bodegas que elas te derem) … E por aí fora. A progressiva afirmação das mulheres, quer a nível académico quer a nível profissional, conferiu-lhes papéis cada vez mais importantes na sociedade. No entanto, alguns homens recusavam-se a aceitar a alteração do estatuto social feminino. De acordo com o índex sobre a desigualdade de género, elaborado pelo programa de desenvolvimento das Nações Unidas em 2013, a China ocupa a posição 91 entre 187 países, pior que a do Irão e da Ucrânia. Isto fez-me lembrar o conselho de uma mãe chinesa à sua filha: “Rapariga, lembra-te sempre que és uma convidada em casa dos teus pais e uma estranha em casa do teu marido.”
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteCinema | Filme de José Drummond chega a trienal alemã O filme de José Drummond “Kiss me, and you will see how important I am” está de viagem para Berlim. A apresentação por terras alemãs decorre amanhã, a convite da curadora Christine Nippe. O filme será parte integrante da rubrica “A sense of self”, espaço inserido na Trienal Transart de Berlim [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Trienal Transart de Berlim decorre durante o mês de Agosto e conta nesta edição também com o se faz por Macau. A representação local viaja através da obra de José Drummond, artista local, com a projecção do filme “Kiss me, and you will see how important I am”. Decorre nos Uffer Studios enquanto parte da rubrica “A sense of self”. O filme retrata um encontro desconexo e momentâneo entre duas pessoas, como avança a apresentação no anúncio de selecção do filme. Um encontro falhado, onde há uma perda ilusória de equilíbrio e uma melancolia inerente para mostrar que a beleza também pode ser encontrada em expressões de crueldade e de dor. É do absurdo do momento do encontro e do imaginário das duas personagens que acompanham a película que se desenrola uma viagem que “prende o espectador” aos meandros de um labirinto que se pretende de amor. O sentimento de derrota vai aparecendo e fazendo-se sentir, num crescendo lento com o desvendar de que cada um de nós é o responsável pela sua catástrofe pessoal ilustrada por um vazio “súbito” e profundo. Quem somos? O filme de Drummond integra a selecção da rubrica destinada à reflexão sobre os aspectos que interrogam a identidade. A questão do “quem sou eu” é um fundamento existencial que acompanha a humanidade desde sempre e, nos dias que correm, é um conceito dirigido ao ego que se pensa, se diz e se concretiza. A resposta ao “quem somos” e as formas como é percebido o meio circundante estão intimamente ligadas e é nesta interacção que o papel dos média, da fotografia, vídeo e da própria internet contêm uma função contemporânea essencial. Na rubrica “A sense of self” serão apresentados dez trabalhos em vídeo, que ilustram os processos narrativos de diferentes formas de abordar o “eu” e a identidade. Estarão presentes trabalhos que vão de abordagens românticas ou aventureiras ao frenesim urbano. De entre os artistas seleccionados, acompanham José Drummond nomes como Eli Cortinas, Jonathan Goldman, Kate dela RHEE, Sanja Hurem, Richard Jochum, Ahmed Mohsen Mansour, Christine Schulz, Jana Schulz e Suzan Tunca. Prata da casa José Drummond é um artista e curador residente em Macau. O director do VAFA (Festival Internacional de Vídeo-arte de Macau) é mestre em Práticas Criativas pelo Instituto Transart de Nova Iorque e Universidade de Plymouth do Reino Unido. Já foi por duas vezes seleccionado para o Sovereign Asian Art, tendo na edição deste ano chegado aos nomes finalistas. Representante de Portugal na Bienal de Valência, Drummond conta com bolsas de estudo de diversas entidades, entre as quais a Fundação Oriente, o Centro Nacional de Cultura de Portugal e o Instituto Cultural. O seu trabalho tem corrido mundo e já foi exibido em Macau, Hong Kong, China, Taiwan, Coreia do Sul, Tailândia, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Hungria e EUA.