Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasSimpósio [dropcap]T[/dropcap]udo o que é bom com sustento na memória será certamente a ideia da reunião fraterna nas mesas em que se partilha a substância da vida e nos associamos ao fluxo comum. Os mais felizes parceiros serão sempre os comensais que bebendo das suas taças o vinho partilhado, asseguram a paz, o diálogo, esquecendo o tempo da servidão dos dias. Simpósio, no entanto, será mais um helenismo, que repomos para Ceia e Banquete, mas muito mais prolongado na satisfação dado que se seguia à partilha dos alimentos para firmar o grupo dos que continuavam bebendo os mais preciosos líquidos onde a troca de ideias por entre grandes e pequenos temas se firmava. Não há separação entre a construção dialéctica e a harmonia de grupo num tal significado. As Bodas bíblicas aproximam-se destes festins que sentavam à mesa gentes diversas em laudatórios discursos e passagens de Cânticos até ao milagre da transformação da água – que festa sem vinho é um estado mórbido de associação – e que aquelas foram até à mais emblemática mesa: a da Última Ceia. Em «Simpósio» registam-se as falas e a magnitude da obra parece uma peça de teatro em muitos actos que conflui para uma entidade única a um tempo em que todas as vozes se soltam – os seres ouviam vozes – e falavam da natureza do Amor o que não será exactamente o mesmo que falar de Amor, estamos num domínio ético que é amplamente expressivo nesse coroar de interesse pelo belo e tal estado exige uma longa abordagem que saliente os efeitos e as vertentes que não separem as boas acções das naturais matérias da sua sustentação. Registamos os diálogos que se escutam não como uma narração mas enquanto discurso e sabemos que se está diante de taças cheias e fontes várias que incitam uma magistral inspiração. De súbito, olhamos ao redor – uma volta no tempo – e este efeito para além de lendário tornou-se ainda mais improvável, e é então que nos recordamos que esta marcha, dizem, não será reposta, rasurando assim o melhor da natureza humana, ou, que aberto este hiato, nos preparamos agora para manjares frios e assépticas beberagens. O Eros entediante das nossas refeições não é menor que aquele que nos distancia por motivos vários: reclusão, desconfiança, temor, e a linguagem não se precipita para lado algum que valha a pena ir buscar só para trazer de volta o deus que disperso se encontra agora entre a desolação de um estranho vazio, já não ceamos e as noites quentes estão alheadas de encantamentos. Toda a ternura se ofende e uma perturbação geral acompanha os destros dias como uma punição que não saberíamos dimensionar se nos tivessem indagado acerca deles, que a direito, também parece encaminhar-se para esse lado sombrio ou à deriva a multidão mundial resguardada de si mesma. Há os diálogos escorregadios do plasma virtual sempre mais presentes que um palmo de mesa em frente dos narizes, e aos sóbrios, as alternativas escoam-se até ao falar directamente com as paredes. Cenários gravosos para a continuidade do pensamento, sem dúvida, e muito mais grave se tornam quando os problemas mentais e morais parecem fazer enfermas populações inteiras. Neste diálogo fala-se no amor inato que os seres têm uns pelos outros « o amor tende a reencontrar a antiga natureza, esforça-se por se fundir numa só, e por sarar a natureza humana» remete-nos a uma saudade qualquer que só poderá ser solucionada pelos encontros, e tudo isto é feito com a simpatia que é o apelo irresistível dos seres. Já não estamos neste Simpósio num registo tribal, mas algures numa fina matéria que superou o instinto de sobrevivência, da exclusividade do clã, e passou a contemplar cada ser na sua natureza, desse outro igual a nós, e, se diferente, complementar em nós. Tudo isto sabemos, mas dizê-lo pode corresponder a sabe-lo mais e melhor, sobretudo quando pensando que sabemos não estamos à altura de o vivermos, somos presas fáceis dos nossos interesses e sem nos dar-mos conta esse intrínseco amor desaparece no meio de tantas circunstâncias que o desfazem, ficando a caricatura de proximidade onde nada de transformador acontece nem se insinua. E desse estado solitário, nasceu agora e ainda, a distância. – Para a peste, exemplifica então o Eros da desordem cujos desregramentos atacam animais e plantas quando tal estado incide na união dos elementos- ( o que faz sentir o nosso instante como uma provação por interferirmos de modo grosseiro no desígnio das coisas ). «Descendo esta cidade com ternura…» de um antigo mirante podemos ver os pátios andaluzes com suas cítaras dolentes, os seus encantos secretos como úteros, uma cidade que esqueceu e lembra agora o mais melodioso do legado mouro, que a água se escuta nas fontes por onde a cidade verte os escondidos encontros, sem vinhos, talvez, e ébria de um encantado amor nos seus dias de Estio :- mas, teria seria possível tal abstinência !? Mesmo na Pérsia muçulmana ninguém parou de absorver a mágica poesia de Omar Khayyam e de apreciar esse vinho. Todos levamos a lembrança cheia com tinas, garrafas, cálices, alambiques… a noite que vasa plena com um eclipse lunar nos convida a olhar como foi bom para a Humanidade as longas horas de vida passada nos Simpósios, que o brilho da nossa estrela só brilhou quando assim fomos unidos. «…..Vens na hora exacta! Ceia connosco, Aristodemo! Se outro motivo de trouxe guarda-o para mais tarde. Ontem mesmo te procurei para te convidar sem conseguir encontrar-te.» Agatão- Simpósio
Hoje Macau China / ÁsiaChina afirma que EUA querem retomar diálogo para resolver disputas comerciais [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ashington convidou Pequim a retomar o diálogo, face à guerra comercial em curso entre ambos os países, anunciou ontem o ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, enquanto os Estados Unidos equacionam nova ronda de taxas alfandegárias sobre produtos chineses. O anúncio surge após as câmaras de comércio norte-americanas e da União Europeia terem revelado que as empresas dos seus países estão a ser atingidas pelas disputas comerciais. “Nós, de facto, recebemos um convite dos EUA, e demos as boas-vindas”, confirmou o porta-voz do ministério, Geng Shuang. “As duas partes estão a abordar os detalhes relevantes”, acrescentou. O Financial Times avançou ontem que o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, quer reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He. A última ronda de negociações entre representantes dos dois países, em 22 de Agosto, terminou sem progressos. Pequim tem recusado as exigências de Washington para abdicar da sua política para o sector tecnológico, nomeadamente o plano “Made in China 2025”, que visa transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos. Os EUA consideram que aquele plano, impulsionado pelo Estado chinês, viola os compromissos de Pequim em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa. Um relatório difundido ontem por duas câmaras de comércio dos EUA revela que dois terços das empresas norte-americanas afirmaram, num questionário, terem sofrido prejuízos ou perda de lucros, devido ao aumento das taxas alfandegárias. E mais empresas afirmam que vão sofrer, caso Donald Trump, avance com nova ronda de impostos. “As firmas norte-americanas estão a sofrer devido às taxas retaliatórias da China e, ironicamente, devido às taxas impostas pelos EUA, que visam atingir a economia chinesa”, afirmaram, em comunicado, a Câmara do Comércio dos EUA na China e a Câmara do Comércio dos EUA em Xangai. “Instamos ambos os Governos a regressar à mesa de negociações”, lê-se na mesma nota. Também a câmara do Comércio da União Europeia na China afirmou ontem que uma em cada seis empresas estão a adiar decisões de investimento devido às disputas comerciais. “A guerra comercial está a causar perturbações significativas nas cadeias globais de produção”, descreveu.
Hoje Macau China / ÁsiaGuerra Comercial | Pequim apela ao diálogo entre EUA e Turquia [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou no fim-de-semana ao diálogo entre a Turquia e os Estados Unidos, de forma a resolverem a tensão política e económica entre os dois países, que levou à imposição mútua de tarifas. Naquela que é a primeira declaração oficial de Pequim após a queda da lira turca, a China expressou a convicção de que a Turquia “é capaz de superar as suas dificuldades económicas temporárias”. Num comunicado publicado na página na internet do Ministério dos Negócios Estrangeiros, o porta-voz, Lu Kang, enfatizou que a China está a acompanhar de perto a situação na Turquia, “um importante mercado emergente” cuja situação é importante para a “paz e estabilidade” na região. No início desta semana, a lira caiu para níveis históricos, uma situação que foi agravada pelas tensões entre os Estados Unidos e a Turquia, que resultaram na imposição mútua de tarifas comerciais. Pequim mantém um conflito comercial semelhante com Washington, embora esteja já prevista a ida de uma delegação chinesa aos Estados Unidos para tentar negociar uma trégua.