Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | AI diz que é vergonhoso que guerra já dure há 1 ano A Amnistia Internacional considerou ontem que o prolongamento durante um ano da guerra entre Israel e o Hamas é sinal de “um fracasso colectivo da Humanidade”, sublinhando que foram cometidas várias atrocidades. Lamentando que ainda não tenha havido um cessar-fogo nem libertação de reféns, a organização de defesa dos direitos humanos afirma que a necessidade de respeitar os “direitos de todas as vítimas à verdade, à justiça e à reparação” é mais premente do que nunca. Em comunicado ontem divulgado para assinalar o primeiro aniversário dos ataques do grupo islamita Hamas a Israel, que conduziram à guerra, a secretária-geral da organização, Agnes Callamard, descreveu o 7 de Outubro como “um dia de luto”. “É um dia de luto para os israelitas cujos entes queridos foram mortos e raptados e para milhares de pessoas que continuam a ser deslocadas desde os hediondos ataques do Hamas e de outros grupos armados”, afirmou, referindo que se assinala também “um ano desde o início da terrível ofensiva das forças israelitas em Gaza, que matou dezenas de milhares de pessoas, deslocou à força 90 por cento da população e desencadeou uma catástrofe humanitária sem precedentes, colocando os palestinianos de Gaza em risco de genocídio”. Sem fim à vista Há exactamente um ano, cerca de mil combatentes do Hamas atacaram inesperadamente o território israelita, matando quase 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns, dos quais quase 100 continuam detidos. O Governo de Telavive prometeu aniquilar o movimento islamita, considerado terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia. As investidas de Israel na Faixa de Gaza já mataram cerca de 41.500 pessoas e forçaram quase dois milhões de pessoas a fugir de casa. “A guerra prossegue sem fim à vista”, lembrou a responsável da Amnistia Internacional, afirmando que “a necessidade de um cessar-fogo, de respeito pelo direito internacional e pelos direitos de todas as vítimas” é “mais premente do que nunca”. O aniversário, adiantou Agnes Callamard, “é um lembrete sóbrio da necessidade urgente de abordar as causas profundas, cortar o fornecimento de armas a todas as partes e acabar com a impunidade de longa data que tem visto as forças israelitas, o Hamas e outros grupos armados desrespeitarem o direito internacional durante décadas sem temerem quaisquer consequências”. Apelando a “um cessar-fogo imediato e à libertação imediata e incondicional dos reféns civis detidos pelo Hamas e outros grupos armados e de todos os palestinianos detidos ilegalmente por Israel”, a líder da Amnistia Internacional sublinhou que “o mundo nunca deve esquecer as vítimas e a angústia das famílias afectadas”. A organização pediu a responsabilização daqueles que cometeram “assassinatos deliberados, raptos e ataques indiscriminados, incluindo ataques com ‘rockets’ contra Israel, e dos que são culpados de crimes de guerra, “incluindo ataques diretos a civis e objetos civis ou ataques desproporcionados e ilegais”.
Carlos Coutinho VozesExtermínio em curso Desde o dia 7 de outubro de 2023, as tropas israelitas matam por dia, em média, 130 pessoas, na Faixa de Gaza e nos territórios ocupados da Palestina, sendo já mais de 40 005 o número de mortos contabilizados, além de 107 mil feridos. Isto segundo os dados divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza, que parecem muito restritivos, já que, na contabilidade publicada pela revista britânica “Lancet”, o número de mortes diretas e indiretas será da ordem dos 186 mil. Convém lembrar que o número de mortes na Faixa de Gaza se aproximava das 20 mil, em Dezembro último, segundo a ativista Sally Habed, cidadã israelita de origem palestiniana que, em declarações em Haifa, Israel, disse não querer “falar de números, de estatísticas”, porque recusava que as mortes, ou seja, que a “nossa humanidade apareça como “tópico para debate”, mas reconheceu que os palestinianos mortos nesta guerra já serão mais de 40 mil. Já a organização Airwars ligada à Goldsmiths (Universidade de Londres, que se dedica a documentar mortes de civis em guerras por drones dos EUA e do Reino Unido, identificou 3 000 palestinianos nos primeiros 17 dias de outubro de 2023, segundo declarou ao “The Guardian” e ao “The New Iork Times” acrescentou que a maioria dos nomes dos mortos coincide com a lista do Ministério da Saúde de Gaza. Por outro lado, na carta com o título “Couting the dead in Gaza: dificult but essential, assinada por Rasha Khatib, do Advocate Aurora Research Institute, em Milwaukee (EUA) e do Instituto de Saúde Pública e Comunitária da Universidade de Bizeit, Ramallah, MartinMckee, do Departamento de Saúde Pública da London School of Hygiene and Tropical Medicine, de Londres, e Salim Yusuf, do Instituto de Investigação de Saúde Populacional da McMmaster Univertcity, e Hamilton Health Sciences, em Ontário, Canadá, faz-se uma apreciação da tragédia que considera recuados os números expressos no diversos relatos, se se tiver em conta as vítimas dos bombardeamentos e as causadas pela deslocação forçada e pela falta de salubridade que podem causar doenças, bem como pela falta de tratamentos e por outras condições mórbidas. Acontece que Israel troça da “propaganda palestiniana”, mas os seus serviços secretos acham fiáveis os números do Ministério da Saúde de Gaza, segundo um artigo saído na “Vice” que cita o jornalista israelita Yuval Abraam, da revista “+972”. Para que conste. PRISÕES convertidas em campos de tortura são cada vez mais em Israel e nos colonatos sionistas da Palestina ocupada, onde já há mais de 2 milhões de deslocados errantes, 8 mil desaparecidos e, segundo as Nações Unidas, 163 trabalhadores humanitários foram mortos na Faixa de Gaza pelas forças armadas de Israel. Uma organização não governamental (ONG) israelita acusa as autoridades penitenciárias de Telavive de reduzirem a quantidade de alimentos aos presos palestinianos até ao ponto de levarem a fome a um extremo fatal. O Centro de Informação Israelita para os Direitos Humanos no Territórios Ocupados (B’Tslem) revelou que testemunhos de palestinianos libertados confirmam que mais de uma dezena de instalações prisionais foram convertidas numa rede de campos de tortura. Como parte da campanha, “foram reduzidas as rações de alimentos até ao ponto de provocar inanição”, alertou. A B’Tsalem informa também que o ministro da Segurança Nacional, Itamar Bem Gvir, está à frente da operação, indicando que este extremista de vezo nazi aproveitou os acontecimentos de 7 de outubro do ano passado para implementar o seu plano já muito avançado de esmagar “os direitos básicos e a dignidade de todos os prisioneiros palestinianos” A referida ONG publicou um relatório de 90 páginas que contém testemunhos de 55 ex-presos palestinianos logo após a respetiva libertação. Entre os vexames cometidos, o relatório inclui agressões sexuais, humilhações, fome deliberada, más condições sanitárias, tortura do sono (estátua), impedimento da prática de culto religioso e falta de atenção médica. De facto, ao longo dos anos, desde 1948, Israel encarcerou centenas de milhares de palestinianos nas suas masmorras que sempre foram utilizadas como ferramentas de opressão e do controlo da população árabe, aplicando raivosamente, à sua maneira, muito do que aprenderam na sua desgraçada passagem pelos campos de Hitler.
Hoje Macau China / ÁsiaGaza | Quase 20 mortos em novo ataque do exército de Israel O Exército de Israel atacou, na madrugada de ontem, o norte, centro e sul do enclave palestiniano de Gaza, num ataque que fez quase 20 mortos, incluindo crianças, anunciaram fontes palestinianas. Este ataque acontece ao mesmo tempo que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, se dirige para a região para tentar fechar um acordo de cessar-fogo após meses de negociações contenciosas. Os EUA e os restantes mediadores, Egipto e Qatar, apontam estar perto de acordo após dois dias de negociações em Doha, com autoridades americanas e israelitas, mas o Hamas tem mostrado resistência e ontem denunciou novas exigências de Israel. Pelo menos quatro palestinos morreram no campo norte de Jabalia, criado pela ONU em 1948 para abrigar palestinianos deslocados. Aviões israelitas terão bombardeado dois apartamentos, informou a agência palestiniana Wafa, acrescentando que as equipas de resgate procuram vítimas nos escombros. Outros quatro palestinianos morreram na noite passada na cidade de Deir el Balah, no centro da Faixa de Gaza, num ataque a uma casa localizada ao sul da cidade, e uma mulher e uma menina morreram a leste de Khan Yunis, quando a casa pertencente à família Musbbeh foi bombardeada, segundo fontes palestinianas. Já a Al Jazeera informou que outras sete pessoas, incluindo três crianças, morreram num ataque de aviões de guerra israelitas contra uma torre residencial no campo de refugiados de Nuseirat (centro). De acordo com o Exército, as tropas israelitas da 98.ª Divisão continuam a operar tanto em Deir el Balah como em Khan Yunis, para eliminar lançadores de foguetes e armamento, incluindo granadas explosivas e Kalasnikovs. Além disso, em Rafah (sul), e de acordo com um comunicado militar divulgado ontem, alegaram ter eliminado cerca de 20 milicianos “acima e no subsolo”. Genocídio em curso Durante 317 dias consecutivos, e já ultrapassando as 40.000 mortes, Israel continua a sua ofensiva na Faixa de Gaza, ignorando o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ), que ordenou que evitasse o genocídio na sua ofensiva militar em Rafah. Estima-se que estejam pelo menos 10 mil palestinianos desaparecidos e mais de 92.500 feridos. No total, quase 2,3 milhões de pessoas de toda a Faixa de Gaza foram deslocadas. As negociações de longa duração foram repetidamente paralisadas numa guerra que causou uma catástrofe humanitária. A proposta actual pede um processo de três fases no qual o Hamas libertaria todos os reféns sequestrados durante seu ataque de 07 de Outubro, que desencadeou a guerra mais mortal já travada entre israelitas e palestinianos. Em troca, Israel retiraria suas forças de Gaza e libertaria prisioneiros. Especialistas alertaram sobre a fome e o surto de doenças como a poliomielite.
Hoje Macau China / ÁsiaMediador americano em Beirute para tentar conter escalada com Israel O mediador norte-americano Amos Hochstein iniciou ontem em Beirute uma série de reuniões com as autoridades libanesas para tentar conter o clima de tensão entre o movimento xiita Hezbollah e Israel. Hochstein chegou à residência do presidente do parlamento libanês, Nabih Berri, também líder da formação xiita Amal, um dos principais aliados do Hezbollah, para participar na primeira reunião oficial do dia, após a qual deverá fazer declarações à imprensa. Os receios de um conflito aberto no Líbano voltaram a aumentar há duas semanas, depois de ataques atribuídos a Israel terem matado o comandante máximo do Hezbollah, Fuad Shukr, em Beirute, e o líder político do movimento islamita palestiniano Hamas Ismail Haniyeh em Teerão. O conselheiro norte-americano, que mediou o acordo histórico que permitiu ao Líbano e a Israel demarcarem as suas fronteiras marítimas em 2022, deslocou-se várias vezes à capital libanesa desde o início do fogo cruzado entre o Hezbollah e o Estado judaico, em Outubro passado. A última destas deslocações, em meados de Junho, coincidiu também com a intensificação dos confrontos na fronteira entre as forças israelitas e o Hezbollah, poucos dias depois de um atentado bombista ter matado um alto comandante xiita no sul do Líbano. Nessa viagem, Hochstein afirmou que “um cessar-fogo em Gaza ou uma solução diplomática alternativa poderia também pôr fim ao conflito na Linha Azul”. A chamada Linha Azul é a linha de demarcação estabelecida pela ONU entre Israel e o Líbano em Junho de 2000. Dois em um Israel e o Hezbollah estão envolvidos num intenso fogo cruzado transfronteiriço desde 8 de Outubro de 2023, um dia depois do início da guerra em Gaza, nos piores confrontos entre as duas partes desde 2006. O Hezbollah integra o chamado “Eixo da Resistência”, uma coligação liderada pelo Irão de que fazem parte também, entre outros, o grupo extremista palestiniano Hamas e os rebeldes Huthis do Iémen. A visita de ontem do mediador norte-americano ocorre na véspera de uma reunião prevista para Doha ou para o Cairo, na qual os Estados Unidos da América, o Qatar e o Egipto pretendem forçar um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, o que poderia também travar a frente libanesa. O Hamas já afirmou que não vai participar nas negociações de cessar-fogo, exigindo um “compromisso claro” do Governo de Israel, que terá acrescentado novas exigências para um acordo de tréguas.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO Clube da Luta (II) “Pezeshkian might be able to bring some social freedoms. But he will be a weak president because Khamenei and his allies are much more powerful than the president.” Sohrab Hosseini A classe dirigente israelita está longe de estar convencida da ambição ou megalomania de Shiloah. Em torno de David Ben-Gurion, que governou o seu Estado como um quase ditador, os dirigentes trabalhistas da época tendiam para o não-alinhamento, ou seja, para a neutralidade. Pelo menos até 1956, quando, graças à guerra do Suez, o aventureiro Nasser desencadeia a vaga pan-arabista e se torna um defensor da resistência palestiniana, que organiza e promove. E aproxima-se da União Soviética. Geopolítica dos três círculos, o árabe, muçulmano e africano, com o Egipto no centro. Perigo mortal para Israel, rodeado de árabes inimigos. Shiloah sugere a Ben-Gurion uma contra-estratégia em espelho e Israel como pivot de uma “Aliança da Periferia”, composta pelo braço Norte, com a Turquia e o Irão, e pelo braço Sul, com a Etiópia e o Sudão. Encoberto, entendimentos bilaterais, baseados em informações (espionagem e operações especiais), comércio (ver as importações israelitas de hidrocarbonetos persas, também através da duplicação do oleoduto entre Eilat e Beersheba com a contribuição da companhia petrolífera nacional iraniana) e até produção de armas, incluindo um protótipo de míssil israelo-iraniano. Baile de máscaras. Tudo estrictamente secreto, muitas vezes salpicado de polémicas amargas sublinhadas pelos meios de comunicação social, porque as opiniões públicas respectivas e as potências opostas não apreciariam essas convergências incómodas. O que une o trio é a desconfiança em relação aos árabes e o medo do Egipto de Nasser, um cavalo de Troia soviético. Não uma verdadeira aliança. Em 29 de Agosto de 1958, numa reunião secreta em Ancara entre Ben-Gurion e o seu homólogo turco Adnan Menderes, com a presença de Shiloah, o patriarca israelita explicou que “Os árabes estão a fazer uma tal algazarra que o mundo inteiro pensa que o Médio Oriente é composto apenas por países árabes, mas isso não é verdade. Se formarmos este bloco de cinco países, poderemos garantir a nossa existência e independência, o que também terá efeitos no Norte de África”. Pouco tempo antes, Ben-Gurion e o Xá da Pérsia trocaram missivas calorosas de entoação semelhante, com tons de intimidade multimilenar. O líder israelita recorda o que o rei Ciro fez pelos judeus, trazendo-os de volta a casa, e Mohammad Reza Pahlavi disse que “A memória do que Ciro fez pelo seu povo é-me cara e tentarei continuar esta antiga tradição”. O mesmo se passa com Haile Selassie, imperador da Etiópia, “descendente” do rei Salomão e da rainha de Sabá. Na frente dos serviços secretos, nasceu o “Trident”, um acordo de colaboração secreta entre a Mossad e os serviços correspondentes da Turquia e do Irão. A sede é em Israel, financiada pela CIA, com uma secção amarela para os turcos e uma azul para os iranianos, que depressa caiu em desuso e foi transformada num ginásio da Mossad. É impossível avaliar a extensão das trocas entre os membros da “Aliança da Periferia”, dado o grau de secretismo e informalidade. O impulso inicial perde-se rapidamente, ainda que a colaboração secreta de Jerusalém com Ancara resista entre altos e baixos até 7 de Outubro de 2023 e à escolha de campo de Erdoan a favor do Hamas, quando a tensão entre o secretismo do aparelho e a pressão da opinião pública parece esmagar as arquitecturas subterrâneas do semi-eixo turco-israelita. O de Teerão sobrevive em parte à revolução de Khomeini, desenvolve-se na guerra Irão-Iraque (1980-1988), até ao advento do Pasdaran ao leme da República Islâmica. Dois objectivos principais unem o triângulo que é quebrar as ambições pan-arabistas de Nasser e dos seus emuladores; contar mais com a América. Atingido o primeiro objectivo mais devido ao irrealismo egípcio do que por mérito próprio, o segundo é progressivamente alcançado por Israel, ao ponto de, desde os anos de 1970, ter evoluído para uma quase simbiose. Na opinião do diplomata Gershon Avner “A aliança contribuiu para que nos sentíssemos como uma grande potência. Não somos apenas um mendigo sentado numa vala a ser alvejado em todas as direcções.” Talvez não compreendamos hoje o sentimento de precariedade que tirou o sono a Ben-Gurion e que continua a assombrar as elites mais conscientes do Estado judaico. O fundador escreveu em 1963 ao Presidente Kennedy que “Pode não acontecer hoje nem amanhã, mas não tenho a certeza de que o Estado continue a existir depois da minha morte”. Equivalente ao roncado com que Ben-Gurion comenta a confissão do general Yehoshafat Harkabi, director dos serviços secretos militares de que “O que temos em comum é que nenhum de nós acredita que o Estado de Israel existe realmente”. Para a Turquia, que neste momento sofre por estar reduzida a uma sentinela no flanco sudeste da NATO, e para o Irão do Xá, que está menos esmagado por Washington do que parece, a “Aliança da Periferia” não é o bilhete privilegiado para o que espera o establishment americano. O quantum de influência de que o Estado judeu goza e que Ancara e Teerão esperam utilizar para os seus próprios fins não é o que Shiloah e companhia se gabam. Washington também não precisa de utilizar o canal israelita para negociar com Ancara e Teerão. A CIA assegura que a troca de informações não excede um certo grau. Se se aproxima, Langley esvazia o depósito. Quanto ao Departamento de Estado, o lobby arabista iguala, se não ultrapassa, o lobby pró-israelita até aos anos de 1960. Hoje, os antigos aliados da periferia são adversários. E têm tendência para o parecer. Porque, enquanto o pan-arabismo já não tem vestígios e o espantalho do Ocidente é encarnado pelo jihadismo, se é que este serve para dividir a frente supostamente islamista, estes três continuam a presidir ao pódio dos desequilíbrios do Médio Oriente. Apostamos que continuarão a precisar uns dos outros. Talvez como inimigos acesos. Muitas vezes, a inimizade une mais do que a amizade. Até porque, em geopolítica, a primeira existe, a outra é digna de dúvida. Finalmente, e para já visível, a época das alianças, reais ou presumidas, passou e dificilmente voltará. No turbilhão do Médio Oriente, o menu é apenas à la carte. O império persa compreende, na sua actual forma informal, uma população multiétnica com uma maioria árabe agregada por líderes que se sacrificam diariamente a uma ideologia fundada no ódio contra Israel (Pequeno Satã) e o seu protector americano (Grande Satã). Centrada na República Islâmica do Irão, fundada em 1979 pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, governada, para além dos véus teocráticos, por uma oligarquia militar-policial centrada nos Guardiões da Revolução (Pasdaran) e nos paramilitares basiji. A sua ramificação em redes de clientes e milícias estende-se desde o oeste do Afeganistão (Herat) até ao Mediterrâneo oriental (Beirute), passando por Bagdade e Teerão. Penetração na Península Arábica, desde os Territórios Palestinianos Ocupados até à costa ocidental do Estreito de Ormuz e ao Iémen dos Hutis. O Irão acrescenta à sua aversão aos judeus e aos americanos a sua rivalidade geopolítica com a Arábia Saudita, que envolve as petromonarquias do Golfo, sobretudo os Emirados Árabes Unidos. O seu centro comercial e financeiro é Dubai, a lavandaria premiada de todos os tráficos iranianos e outros tráficos oblíquos. Para aqueles que resistiram desde o nascimento às sanções americanas e ocidentais, destinadas a esmagar as suas ambições nucleares e a cortar-lhes as asas imperiais, esta saída é essencial. O leque de relações especiais é completado pela cooperação, não só energética e militar, com a Rússia, mestre das operações cinzentas, que, após a invasão da Ucrânia, arrebatou ao Irão a primazia de Estado mais sancionado do mundo. Selo de um entendimento pragmático entre impérios historicamente adversários. Para além da relação ambígua com a Turquia, rival geopolítico e ao mesmo tempo matriz genética relevante dos povos do Irão metade persas, um quarto de azeris e outros turcos, um décimo de curdos, muito poucos árabes, reflectida na parábola dos impérios persas, como testemunha a origem azeri do Guia Supremo, o turcófono Ali Khamenei; finalmente, o “olhar para Leste”, sobretudo para a China, para equilibrar a pressão americana. Para Washington, o Irão é um membro permanente de qualquer “Eixo do Mal”. Do original, baptizado em 2002 por George W. Bush para classificar o Irão, o Iraque e a Coreia do Norte como patrocinadores do terrorismo jihadista, numa tentativa falhada de identificar os inimigos a vencer para erradicar essa raiz maléfica. E a mais recente, evocada pela administração Biden, alinhando China, Rússia, Irão e Coreia do Norte. Acusados, entre outras coisas, de conluio na produção de mísseis hipersónicos, a marca das superpotências nucleares. Os quatro cavaleiros do apocalipse estariam equipados com eles, incluindo o Irão com o seu último Fatah, os Estados Unidos ainda não. (perdoe-se a condicionalidade, mas a ideia de que a informação pública sobre armas estratégicas é real ultrapassa mesmo a nossa ingenuidade). Além disso, os drones iranianos fornecidos aos russos estão a ajudar a afundar a Ucrânia e a aumentar o receio da Casa Branca de perder a guerra com a Rússia. Hipóteses impensáveis na actual revolução. Perante este cenário, conceber os conflitos do Médio Oriente como locais ou regionais, se não redutíveis à rivalidade Israel-Irão, é um erro crasso. Igualmente desviante é centrarmo-nos na competição ideológico-religiosa, numa região onde a legitimação divina do poder está em declínio com excepção dos extremistas religiosos do governo israelita enquanto as inclinações agnósticas, se não mesmo ateias, se propagam sobretudo entre os jovens (no Irão, a idade média é de 27 anos). (Continua)
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO terrorismo do Hezbollah I “Hezbollah was declared as a terrorist group by the US, Arab Leage, UK, Germany and other countries. It is an organization used by Iran to plan and be ready to execute terror attacks in the future”. Itamar Kasztelanski A prioridade do Partido de Deus é preservar as posições que adquiriu ao longo do tempo, e não um conflito em grande escala. Seria obrigado a vir em socorro extremo do Irão, mas na condição de este não se suicidar. Porque o conflito fronteiriço com Jerusalém continua a ser existencial. Imaginemos a prática corrente de que o telefone toca e um número libanês do WhatsApp aparece no ecrã. Um indivíduo de nome Ali como tantos outros milhões com o mesmo nome atende. Do outro lado, a voz de um homem com um claro sotaque sul-libanês cumprimenta-o, apresentando-se como um amigo da família que vive na Austrália. Ali ouve e responde aos cumprimentos habituais sem perceber bem com quem está a falar. O homem começa a fazer-lhe algumas perguntas sobre a sua família e as necessidades dos seus entes queridos na difícil situação das regiões libanesas mais próximas da frente de guerra com Israel. Ali responde de uma forma geral, mas fica desconfiado quando o homem lhe pergunta se o filho mais velho está no sul ou em Beirute. Ali não é um combatente activo do Hezbollah, mas trabalhou durante anos como quadro civil do partido. Ali teme que o homem seja um informador de Israel e não um parente distante preocupado com os seus entes queridos. Entre o final de Dezembro de 2023 e o início de Janeiro de 2024, houve milhares de chamadas telefónicas de números de WhatsApp libaneses, feitas por homens com sotaque libanês claro e recebidas por cidadãos libaneses, residentes nos locais mais próximos da linha de demarcação com Israel. Tanto assim que, a 10 de Janeiro, o Hezbollah lançou o seguinte aviso à população do Sul do Líbano nos seus canais Telegram de que “O inimigo israelita continua a procurar alternativas para recolher informações sobre a resistência (as unidades militares do Hezbollah) e o paradeiro dos seus combatentes nas localidades do Sul do Líbano. E isto especialmente depois de ter perdido a maior parte da eficácia dos seus dispositivos de intercepção e espionagem que estavam instalados ao longo da fronteira, mas que foram destruídos pela resistência. Neste contexto, o inimigo israelita tenta contactar algumas das nossas estimadas famílias a partir de números de telefone que parecem ser libaneses, quer por telefone fixo quer por telemóvel, com o objectivo de inquirir sobre certos indivíduos, o seu paradeiro e o estado de certas localidades. Nestas comunicações, o inimigo faz-se passar por vários personagens, por vezes polícias, agentes dos serviços de segurança libaneses ou membros da defesa civil. O interlocutor, que fala com um forte sotaque libanês, tenta obter informações sobre os membros da família e o seu paradeiro, ou faz perguntas para obter dados sobre os arredores. O inimigo utiliza estas informações para verificar a presença dos irmãos combatentes nalgumas das casas que tenciona bombardear”. O aviso termina convidando “os nossos caros concidadãos em geral e, em particular, os habitantes das localidades próximas da frente a não responderem a chamadas telefónicas de estranhos que façam perguntas sobre o meio circundante e a circulação de pessoas”. A anedota do telefonema a Ali e o texto do aviso contribuem de forma exemplar para descrever o laço orgânico intrínseco entre o Hezbollah e a grande maioria das comunidades do Sul do Líbano, palco do conflito em curso com Israel desde há oito meses e que será um potencial campo de batalha nos próximos meses. Aqui e noutras zonas do país, como o Vale do Beca oriental e os subúrbios do sul de Beirute, o movimento armado apoiado pelo Irão não está integrado na sociedade local, é ele próprio a sociedade local. A adesão à causa da resistência, na retórica e na prática, é quase absoluta e inquestionável em grandes segmentos das comunidades. Explorando o quotidiano da vida colectiva em certas zonas de Beirute, no sul do país e em Beca, a indissolubilidade entre a estrutura do Hezbollah e o tecido comunitário é evidente. Este tecido não é um bloco monolítico, é um conjunto de componentes individuais, familiares e de grupos alargados; de laços geográficos e político-ideológicos; de convergências de interesses tácticos e estratégicos; de ligações a médio e longo prazo; de relações horizontais e verticais, internas e externas ao que pode ser justamente considerado a “comunidade” do Hezbollah. Perante este facto, é evidente a impossibilidade de derrotar o Hezbollah. A menos que se faça terra queimada, deportando mais de um milhão de libaneses das regiões onde o Partido de Deus representa a sociedade local. Apesar disso, os israelitas e os seus aliados americanos, apoiados pela França e pelo Reino Unido, insistem em encontrar uma solução dita diplomática para facilitar o regresso às suas casas e campos agrícolas dos cerca de 60 mil civis israelitas deslocados desde 8 de Outubro, dia do primeiro lançamento de rockets por parte do Hezbollah. Para isso, Israel exige que o governo libanês que inclui ministros do Hezbollash e é apoiado por um parlamento composto também por deputados do Partido de Deus e dos seus aliados aplique à letra, após dezassete anos, a resolução 1701 da ONU de 2006. Esta estipula, entre outras coisas, a ausência de actividades militares que não sejam as do exército regular libanês perto da linha de demarcação com o Estado judaico. Israel e os seus aliados pretendem, na prática, o desmantelamento da estrutura militar do Hezbollah no Sul do Líbano, pelo menos até ao rio Litani, cerca de quarenta quilómetros a norte da Linha Azul. O sonho de Israel é o restabelecimento da zona tampão criada entre 1978 e 2000, que impediu durante anos que a Alta Galileia fosse exposta aos ataques dos grupos de resistência armada palestiniana. As condições dessa época são muito diferentes das actuais pois Israel invadiu militarmente o Sul do Líbano em várias ocasiões, a partir de 1978, até tomar a capital Beirute em 1982. Desde então, e durante muitos anos, tentou delegar o controlo do território libanês a uma milícia de colaboracionistas libaneses anti-Pasdaran. A partir de meados dos anos de 1980, o aparecimento do Hezbollah como ramo local do Pasdaran iraniano e a sua emergência, nos anos de 1990, como principal força de resistência armada anti-israelita alteraram gradualmente a equação, obrigando o Estado judaico a pôr termo à ocupação e a retirar-se em Maio de 2000. Actualmente, Israel não teria capacidade militar para conduzir uma invasão em grande escala e bem-sucedida no Sul do Líbano contra a comunidade Hezbollah, a menos que sofresse enormes custos políticos internos e internacionais causados pelas consequências desastrosas de uma tal campanha. Mas se o Estado judaico, com o apoio militar dos Estados Unidos, tivesse sucesso nesta tentativa, seria obrigado a manter o controlo do território sem poder contar com a cooperação das forças locais. Mesmo nesta eventual segunda fase, os custos políticos seriam muito elevados para Israel e para toda a coligação pro-israelita. Sem contar que o Irão e todos os seus aliados regionais do Iraque ao Iémen, da Síria ao Líbano interviriam de forma ainda mais agressiva do que já o fazem, oferecendo apoio directo e indirecto ao Hezbollah. Isto aumentaria a pressão política, diplomática e militar sobre Israel, os Estados Unidos e os seus aliados nos vários quadrantes envolvidos na guerra em curso no Médio Oriente, do Mediterrâneo ao Golfo, da Mesopotâmia ao Mar Vermelho. Actualmente, as hipóteses de Israel desencadear uma guerra total contra o Hezbollah, em território libanês, parecem reduzidas. É uma holding financeira mundial, capaz de controlar os tráficos lícitos e ilícitos (incluindo o das anfetaminas Captagon) em vários cantos do planeta, da América do Sul à Austrália, da Europa à África subsaariana, passando pelo Médio Oriente. (Continua)
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | China mostra “profunda preocupação” com operação militar em Rafah O Governo chinês expressou hoje a sua “profunda preocupação” com os ataques israelitas em Rafah, na Faixa de Gaza, depois de o exército de Israel ter bombardeado um campo para pessoas deslocadas, que fez um elevado número de mortos. “A China manifesta a sua profunda preocupação com as operações militares israelitas em curso contra Rafah”, declarou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, em conferência de imprensa regular. “Exigimos que todas as partes protejam os civis e as instalações civis e instamos Israel a dar ouvidos ao apelo da comunidade internacional e a cessar os seus ataques a Rafah”, afirmou Mao Ning. Israel intensificou ontem os seus ataques à cidade. O Conselho de Segurança da ONU convocou já uma reunião de emergência. Estes novos bombardeamentos surgem na sequência de uma onda de condenação internacional a um ataque na zona, que fez 45 mortos e 249 feridos, no domingo à noite, segundo o Ministério da Saúde de Gaza. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, lamentou “o acidente trágico”. O exército israelita afirmou que está a investigar a morte das vítimas civis, depois de ter dito inicialmente que tinha visado dois altos funcionários do Hamas com “munições precisas”. “A posição da China sobre o conflito israelo-palestiniano é constante e clara. Opomo-nos a qualquer violação do direito internacional, incluindo o direito humanitário internacional”, sublinhou Mao Ning. “A comunidade internacional deve trabalhar em conjunto para aliviar e pôr fim ao desastre humanitário em Gaza”, vincou. A China tem boas relações com Israel, mas apoia a causa palestiniana há décadas. Pequim tem tradicionalmente feito campanha por uma solução de dois Estados, enquanto o processo de paz israelo-palestiniano está num impasse desde 2014.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA | Conselheiros de Biden temem repercussão de protestos estudantis Os conselheiros do Presidente dos EUA, Joe Biden, estão preocupados com a repercussão para a Casa Branca das manifestações pró-palestinianas nas universidades, que recordam protestos estudantis dos anos 60 do século passado. Em recentes declarações ao jornal Washington Post, um assessor da recandidatura presidencial de Biden confessava que o debate sobre a posição da Casa Branca relativamente ao conflito no Médio Oriente pode tornar-se um tema de campanha que acabará por beneficiar o adversário republicano, o ex-presidente Donald Trump, sobretudo depois da escalada de conflito nos protestos estudantis nas universidades. O argumento que sustenta as preocupações nas fileiras democratas prende-se com o radicalismo das posições assumidas pelo Governo do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que pode desmobilizar o eleitorado mais à esquerda do Partido Democrata, se Biden não se demarcar de algumas das suas decisões no conflito na Faixa de Gaza. Por outro lado, os conselheiros do Presidente norte-americano estão preocupados com o facto de as manifestações pró-palestinianas em diversas universidades estarem igualmente a suscitar um debate sobre os limites da liberdade de expressão, o que poderá dar relevantes armas políticas a Trump, que tem acusado Biden de usar instrumentos da máquina judicial e política para procurar conter as posições conservadoras dos republicanos. A história repete-se Os conselheiros de Biden lembram ainda que a Casa Branca pode ser afectada por qualquer escalada no conflito social provocado pelas manifestações nas universidades, tal como aconteceu em 1968, quando, a propósito da luta pelos direitos civis e contra a guerra no Vietname, num cenário de manifestações estudantis, o Partido Democrata acabou por ser derrotado por Richard Nixon. O paralelismo entre o que aconteceu na Universidade de Columbia em 1968 e agora, em 2024, é inevitável, sobretudo depois de a presidente da instituição, Minouche Shafik, ter apelado à intervenção policial para desmobilizar os estudantes ativistas pró-palestinianos, repetindo acções de detenção de alunos que se verificaram há mais de 50 anos. Em 1968, os alunos protestavam contra a ligação da Universidade de Columbia a uma organização que fazia investigação de armas para a guerra do Vietname, bem como contra a forma como a administração tratava os alunos de minorias étnicas. Tal como sucedeu nos últimos dias, a administração da universidade permitiu que agentes da Polícia de Nova Iorque entrasse nas instalações para expulsar os manifestantes, provocando duros confrontos físicos, que levaram a dezenas de detenções e feridos. Os confrontos estudantis prejudicaram fortemente a imagem do então presidente democrata Lyndon Johnson, bem como as aspirações políticas do candidato do partido às eleições presidenciais de Novembro de 1968, Hubert Humphrey, que acabou derrotado pelo republicano Richard Nixon. Charles Blow, analista político e colunista do jornal The New York Times, estabelece o paralelo entre o momento vivido em 1968 e aquele que agora se repete em várias universidades e lembra que há 50 anos os democratas sentiram na pele os efeitos dos protestos estudantis na convenção do partido que se realizou em Chicago. Também em 1968 se debateu a questão do direito à liberdade de expressão dos estudantes e também a decisão de usar os agentes policiais para desmobilizar as manifestações acabou por afetar a imagem da Casa Branca, o que pode ser um aviso para a postura de Biden sobre esta matéria, como defende Blow. Esta semana, Donald Trump preferiu comparar os protestos estudantis na Universidade de Columbia com a invasão do Capitólio, a 6 de Janeiro de 2021, pelos seus apoiantes, com o objectivo de tentar reverter a vitória de Biden nas eleições presidenciais de 2020. “Os alunos ocuparam um edifício. Isso é um grande problema. Eu interrogo-me se o que acontecerá será comparável ao que aconteceu a 6 de Janeiro”, ironizou Trump, referindo-se ao facto de muitos dos seus apoiantes terem sido investigados e punidos judicialmente pela invasão do Capitólio.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael: Autoridade Palestiniana e Hamas saúdam resolução de cessar-fogo da ONU A Autoridade Palestiniana e o movimento islamita Hamas saudaram hoje a aprovação, no Conselho de Segurança da ONU, de uma resolução de cessar-fogo na Faixa de Gaza e pediram maior pressão sobre Israel para que a aplique “imediatamente”. Numa reação citada no diário Filastin, um dos mais importantes diários árabes no Médio Oriente, o Hamas, congratulando-se com a resolução aprovada com 14 votos a favor e uma abstenção (Estados Unidos), exigiu que Israel seja pressionado a respeitar a medida, que surge depois de mais de 32.300 pessoas terem sido mortas em ataques israelitas no enclave palestiniano. “Congratulamo-nos com o apelo do Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo imediato em Gaza. Sublinhamos a necessidade de um cessar-fogo permanente que conduza à retirada de todas as forças sionistas e ao regresso dos deslocados”, declarou o Hamas, segundo o diário Filastin. “Apelamos ao Conselho de Segurança para que pressione a ocupação [israelita] a aderir ao cessar-fogo e a pôr termo à guerra de genocídio e de limpeza étnica contra o nosso povo”, declarou o movimento islamita. O Hamas manifestou igualmente disponibilidade para participar num processo “imediato” de troca de “prisioneiros”, sublinhando simultaneamente a necessidade de liberdade de circulação no enclave palestiniano para a distribuição adequada da ajuda humanitária. Por fim, o Hamas agradeceu à Argélia, país impulsionador desta última resolução, pelos seus esforços, bem como aos outros países do Conselho de Segurança que têm trabalhado para “travar a agressão sionista e o genocídio”. Em Ramallah, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Autoridade Palestiniana também se congratulou com a aprovação da resolução e apelou à sua aplicação imediata e à adoção de medidas práticas e “consequências” para obrigar Israel a cumpri-la. Num comunicado, o Governo palestiniano sublinhou o “consenso internacional” alcançado, mas apelou aos Estados membros do Conselho de Segurança para que “tomem medidas” e assumam as suas “responsabilidades legais e históricas” para “implementar imediatamente a decisão” e “parar a guerra de genocídio”. O apelo a um cessar-fogo é “um passo na direção certa”, mas exige “uma paragem completa e sustentável da agressão” e a retirada das forças israelitas da Faixa de Gaza, a entrada de ajuda humanitária e o regresso das pessoas deslocadas, prosseguiram as autoridades palestinianas na mesma nota informativa. A resolução aprovada “exige um cessar-fogo imediato para o mês do Ramadão, respeitado por todas as partes, levando a um cessar-fogo duradouro e sustentável”. O Ramadão, o mês sagrado dos muçulmanos, começou em 10 de março e termina em 09 de abril, o que significa que a exigência de cessar-fogo abrange duas semanas. A Autoridade Palestiniana apelou também ao Conselho de Segurança da ONU para que “assuma a responsabilidade de proteger os civis e o povo palestiniano” do “crime de genocídio que Israel tem vindo a cometer deliberadamente desde 07 de outubro”. O comunicado menciona especificamente os países que pressionaram a resolução e destaca o apoio dos membros permanentes (e com poder de veto) do Conselho de Segurança, como foi o caso da Rússia, França e China. Este é o primeiro texto a obter consenso no Conselho de Segurança, após três vetos anteriores dos Estados Unidos (também membro permanente), que se abstiveram nesta ocasião, posição fortemente contestada pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que decidiu cancelar a viagem a Washington de uma delegação de alto nível do seu executivo. Na passada sexta-feira, a Rússia e a China utilizaram os seus vetos para rejeitar uma resolução apresentada pelos Estados Unidos, considerando-a insuficiente para pôr termo às hostilidades na Faixa de Gaza. A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 07 de outubro de 2023, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | Pequim apoia nova proposta para cessar-fogo em Gaza A nova proposta para um cessar-fogo humanitário imediato durante o mês do Ramadão foi elaborada por oito dos dez membros não permanentes do Conselho de Segurança, Argélia, Malta, Moçambique, Guiana, Eslovénia, Serra Leoa, Suíça e Equador A China anunciou ontem o seu apoio a um novo projecto de resolução no Conselho de Segurança da ONU que apela ao cessar-fogo imediato em Gaza, alguns dias após ter vetado uma proposta dos Estados Unidos. “A China apoia este projecto de resolução e felicita a Argélia e os outros países árabes pelo seu trabalho árduo nesta matéria”, afirmou Lin Jian, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país asiático. “Esperamos que o Conselho de Segurança o aprove o mais rapidamente possível e envie um sinal forte para a cessação das hostilidades”, acrescentou. A votação, que estava prevista para sábado, foi adiada para ontem, numa tentativa de evitar novo fracasso. Na sexta-feira, a Rússia e a China vetaram um projecto de resolução dos Estados Unidos que sublinhava a “necessidade” de um “cessar-fogo imediato” em Gaza, no âmbito das negociações para a libertação dos reféns capturados durante o ataque sem precedentes do Hamas em solo israelita, a 7 de Outubro, em que morreram cerca de 1.200 pessoas e foram raptadas mais de duas centenas. Alguns observadores viram nisto uma mudança substancial na posição de Washington, que está sob pressão para limitar o seu apoio a Israel. Até então, os Estados Unidos tinham-se oposto sistematicamente ao termo “cessar-fogo” nas resoluções da ONU, tendo bloqueado três textos desse tipo. Mas a proposta norte-americana não apelava explicitamente a um cessar-fogo imediato, utilizando uma redação considerada ambígua pelos países árabes, pela China e pela Rússia, que denunciaram o “espetáculo hipócrita” dos Estados Unidos enquanto Gaza é “virtualmente varrida do mapa”. “Se os Estados Unidos estão a falar a sério sobre um cessar-fogo, então votem a favor do outro projecto”, disse o embaixador chinês na ONU, Jun Zhang. Munição política Oito dos dez membros não permanentes do Conselho de Segurança (Argélia, Malta, Moçambique, Guiana, Eslovénia, Serra Leoa, Suíça e Equador) elaboraram um novo projecto de resolução, cuja votação era desconhecida à hora do fecho desta edição. A última versão, apoiada pelo grupo árabe, “exige um cessar-fogo humanitário imediato durante o mês do Ramadão (…), que conduza a um cessar-fogo duradouro”, enquanto a ofensiva israelita em Gaza já causou mais de 32.000 mortos, segundo o Ministério da Saúde do Hamas. No projecto de texto apela-se também à libertação incondicional dos reféns e à eliminação de “todos os obstáculos” à ajuda humanitária. “Este projecto de texto adopta uma posição clara, exigindo um cessar-fogo e a extensão da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, o que corresponde à orientação correcta das acções do Conselho de Segurança”, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa. “Actualmente, o conflito em Gaza está a arrastar-se e a provocar uma crise humanitária, pelo que a comunidade internacional espera que o Conselho de Segurança cumpra os seus deveres na prática e de forma abrangente”, acrescentou.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO inimigo da paz “Bibi Netanyahu has an innocent-sounding first name. But he is the danger man for a dangerous region. Even an avid supporter like Trump knows that Bibi doesn’t want peace. On and off, for the 16 years he has occupied Israel’s highest office, he has butchered tens of thousands of Palestinians. Under him, Gaza has endured a 16-year blockade, with itsa 2 million-plus population languishing in a virtual concentration camp. Now, Netanyahu threatens to Hiroshima it with a massive non-nuclear ground invasion.” Hendrick Kung Em 2009, Israel regressa às urnas e o Kadima voltou a ganhar com Tzipi Livni, mas não tinha os assentos necessários para governar. Em vez disso, Netanyahu (conhecido por Bibi) consegue-o, graças a um acordo com o líder da extrema-direita Avigdor Lieberman. É o seu segundo governo, ao qual se seguirão outros quatro, que lhe permitirão bater o recorde de Ben Gurion como o primeiro-ministro com mais anos de governo da história de Israel, ou seja, mais de 14 anos de poder, desde 2009, excepto o interlúdio dos governos Bennett e Lapid (Junho de 2021-Dezembro de 2022). Em 2010, Obama reiniciou as negociações à distância entre Netanyahu e Abu Mazen, que foram interrompidas quando Bibi retomou a colonização da Cisjordânia a toda a velocidade. E volta a atacar Gaza em 2012 com a “Operação Coluna de Nuvem”. Em 2013, ganha novamente as eleições e regressa ao cargo de primeiro-ministro pela terceira vez. No ano seguinte, lança um novo ataque violento contra Gaza para atingir o Hamas. É a “Operação Margem Protectora” (dois mil e duzentos palestinianos e setenta e um israelitas mortos). Em 2015, Netanyahu consegue declarar no “Congresso Sionista Mundial”, como qualquer negacionista, que “Hitler não queria exterminar os judeus, apenas expulsá-los”, mas depois foi atraiçoado pelo Mufti de Jerusalém (tio de Arafat). Mas a maioria dos eleitores continuou a votar nele. Nas eleições antecipadas do mesmo ano, volta a ganhar e forma o seu quarto governo, novamente entre o Likud e a extrema-direita nacionalista e religiosa. No entanto, já estava a ser investigado em três processos diferentes por corrupção, fraude fiscal e quebra de confiança (correspondente ao nosso abuso de poder). E, ao contrário de Olmert, ataca frontalmente o poder judicial, acusando-o de fabricar falsas acusações contra ele. Em 2018, faz aprovar uma lei constitucional que altera a natureza secular e multiétnica de Israel, transformando-o num “Estado-Nação do Povo Judeu”. No mesmo ano, Netanyahu concorda que o Qatar deve transferir milhões de dólares por ano para o governo do Hamas em Gaza. Numa reunião do Likud, chega mesmo a confessar que “quem quiser impedir a criação de um Estado palestiniano tem de apoiar o reforço do Hamas. Isto faz parte da nossa estratégia, de isolar os palestinianos de Gaza dos palestinianos da Judeia e da Samaria” (mesmo com o famoso muro de separação, que ele prolonga com uma barreira subterrânea muito cara). Um conceito que ele irá mesmo reiterar perante a polícia que o interroga num dos seus julgamentos, dizendo “Temos vizinhos que são nossos arqui-inimigos… Envio-lhes mensagens a toda a hora, engano-os, desestabilizo-os, provoco-os e bato-lhes na cabeça… Controlamos a altura das chamas”. Ele ilude-se, como um aprendiz de feiticeiro, para guiar as chamas do Hamas para queimar Abu Mazen. Tal como pensa que está a remover o furúnculo palestiniano sem o curar, mas ignorando-o enquanto espera que desapareça por si próprio. Em 2019, Israel regressa às urnas e Netanyahu volta a ganhar, mas não consegue formar governo e obriga o Knesset a “dissolver-se” por lei e a mandar o país de novo às urnas. Mas nem mesmo desta vez surge uma maioria clara, antes o partido centrista “Azul e Branco” do antigo chefe do Estado-Maior do Exército, Binyamin “Benny” Gantz, ultrapassa o Likud por alguns pontos. E ninguém consegue quebrar o impasse. Em 21 de Novembro, o procurador-geral Avichai Mandelblit decidiu acusar (ou seja, colocar em prisão preventiva) Netanyahu, que se tornou assim o primeiro primeiro-ministro israelita a ser acusado no exercício do cargo (embora apenas por assuntos correntes). As acusações são de fraude e abuso de confiança em dois casos; e de suborno, fraude e abuso de confiança num terceiro caso. O primeiro caso (fraude e abuso de confiança) diz respeito a presentes muito caros oferecidos a Bibi por dois amigos ricos (o magnata de Hollywood Arnon Milchan e o bilionário australiano James Packer) em troca de favores como a ajuda na obtenção de vistos, facilitação e promoção de interesses comerciais. Segundo a acusação, os dois terão oferecido ao primeiro-ministro e à sua terceira mulher Sara (uma antiga hospedeira de bordo com quem casou em 1991) mais de duzentos e sessenta mil euros, bem como viagens e estadias em hotéis. No segundo caso (fraude e abuso de confiança), Netanyahu deve responder por ter usado a sua influência política sobre o editor do diário gratuito “Israel Hayom” para favorecer o seu principal concorrente, o jornal “Yedioth Ahronoth”, que deveria retribuir escrevendo bem sobre ele. Mas o acordo acabou por não se concretizar. O terceiro caso é o mais grave (corrupção, fraude e abuso de confiança) e diz respeito às decisões de Netanyahu enquanto ministro das telecomunicações e nessa qualidade, teria favorecido o “guru dos média” Shaul Elovitch, proprietário do primeiro colosso editorial “Bezeq”, para obter boa imprensa no seu site “Walla News”. De acordo com os investigadores, o primeiro-ministro e a sua mulher Sara, bem como Elovitch e a sua mulher, intervieram continuamente para influenciar o conteúdo do sítio, chegando mesmo a controlar as nomeações de jornalistas. Em troca, Netanyahu terá aprovado regulamentos pró-Elovitch e várias facilidades que renderam ao magnata mais de quinhentos milhões de dólares. Em Israel, os arguidos não podem ser ministros e, se os ministros acabam por ser julgados, o Supremo Tribunal obriga-os a demitir-se. Mas uma lacuna na lei permite salvar os primeiros-ministros que estão a ser julgados, até porque ninguém antes de Bibi tinha estado nessa posição (Olmert tinha-se demitido antes), no pressuposto de que devem sair se forem condenados no recurso. No entanto, é sempre possível que o Supremo Tribunal se pronuncie sobre o caso de Bibi, preenchendo essa lacuna, pois de facto, Netanyahu está a começar a colocá-lo na mira. Em 2020, como não há acordo, Israel volta às urnas. Desta vez, Netanyahu e Gantz chegam a acordo sobre um “governo de emergência” em forma de estafeta, ou seja, Bibi assume a sua liderança, à espera de passar o testemunho a Benny. A 13 de Agosto, em plena emergência Covid, Netanyahu assina na Casa Branca os “Acordos de Abraão”, mediados pelo seu amigo Donald Trump, com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, estabelecendo relações diplomáticas com estes países (à semelhança das sancionados com o Egipto e a Jordânia). Seguiram-se acordos semelhantes com Marrocos e o Sudão. E está a ser preparado o muito mais decisivo com a Arábia Saudita. Tudo sobre a cabeça e a pele dos palestinianos. A grande ideia prevê, pelo menos numa primeira fase, a luz verde para a anexação de 30 por cento da Cisjordânia, ou seja, dos territórios que rodeiam as colónias judaicas. Uma dupla provocação para o povo dos Territórios e para a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) do cada vez mais fraco Abu Mazen. E mais um favor inesperado para os extremistas do Hamas. Em 2021, o governo de amplo acordo desmorona-se e tanto Gantz como Netanyahu optam por mais uma votação antecipada. O Likud volta a ser o partido líder, mas Bibi não consegue encontrar o número de assentos para governar. E, desta vez, a oposição une-se contra ele, interrompendo o seu reinado após 12 anos ininterruptos. A 13 de Junho, Naftali Bennett, líder da “Yamina” (a nova federação da direita anti-Likud), aliou-se aos centristas liderados por Gantz e Yair Lapid, mas também a grupos de esquerda e (pela primeira vez) a um partido árabe, e tornou-se primeiro-ministro. A fórmula do revezamento regressa, e os dois primeiros anos da legislatura para Bennett, os outros dois para Lapid. Em Março de 2022, Bennett declara a neutralidade de Israel na guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia. Apesar da pressão de Biden, apenas envia aos ucranianos armas defensivas, capacetes e escudos militares. E oferece-se como mediador entre Moscovo e Kiev. Mas justamente quando um cessar-fogo parece próximo, (ele próprio o diz) o veto conjunto dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha chega para bloquear tudo. Entretanto, em Telavive, a coligação governamental desmorona-se ao fim de apenas um ano. Em Julho, Bennett passa o testemunho a Lapid, na expectativa de eleições antecipadas em Novembro. As sondagens dão a Bibi o favoritismo, com uma maioria relativa de lugares no Knesset. Mas ele, consciente do desaire do ano anterior, não quer arriscar e continua a ter a espada de Dâmocles de um julgamento sobre a sua cabeça. Por isso, apresenta às urnas uma ampla coligação de extrema-direita com os partidos religiosos “Shas” e “Judaísmo Unido da Torá” e, pior ainda, com a direita fundamentalista “Sionismo Religioso”, uma lista encabeçada por Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir. Este último, líder do “Poder Judaico”, é um supremacista fanático e fascistóide, repetidamente acusado e uma vez mesmo condenado por incitar ao racismo contra os palestinianos, também famoso por ter ameaçado publicamente Rabin duas semanas antes do seu assassinato. Um aliado indesejável até para os seus amigos americanos na administração de Joe Biden. Nas eleições de 1 de Novembro de 2022, a coligação de Netanyahu venceu com sessenta e cinco dos cento e, após dois meses de negociações frenéticas, Bibi formou o seu sexto governo. O mais à direita de toda a sua história e da história de Israel. Anuncia imediatamente uma reforma contra a justiça para colocar o Supremo Tribunal sob a alçada do governo. Nomeia Aryeh Deri, líder do “Shas”, condenado por suborno e fraude fiscal, para Ministro do Interior, mas o Tribunal obriga-o a demiti-lo. Em vez disso, Ben Gvir torna-se nada menos que Ministro da Segurança Nacional e, a 3 de Janeiro de 2023, estreia-se com uma caminhada na “Esplanada das Mesquitas” em Jerusalém, imitando a caminhada de Sharon que desencadeou a segunda Intifada em 2000. Poucos dias depois, o exército invade Jenin, na Cisjordânia, onde morrem uma dúzia de palestinianos. No dia seguinte, um ataque palestiniano mata nove israelitas em frente a uma sinagoga em Jerusalém Oriental. E os confrontos voltam a explodir tanto na Cisjordânia como em Gaza. Na política externa, Netanyahu confirma a linha de Bennett com nenhum envio de armas ofensivas para a Ucrânia. Na política interna, o seu verdadeiro inimigo são os magistrados que o julgam e o Supremo Tribunal que o pode expulsar se for condenado. De facto, já em Janeiro, apresentou a sua anunciada reforma judicial, que dá ao governo (ou seja, a si próprio) mais poder na nomeação dos juízes e ao parlamento (ou seja, à sua maioria) o poder de anular as decisões do tribunal com uma votação de 50 por cento +1. É um ataque à divisão de poderes, a pedra angular de todas as democracias, incluindo a israelita. E, desde Fevereiro, as pessoas saem à rua praticamente todos os dias em Telavive, Jerusalém e em todas as principais cidades do país, protestando contra essa lei, mas também contra outra que é a criação de uma força policial especial, a “Guarda Nacional de Israel”, directamente dependente do ministro Ben-Gvir. Netanyahu foi em frente, mas a 27 de Março, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, criticou a reforma do Tribunal e o primeiro-ministro expulsou-o na mesma noite, decapitando efectivamente as forças armadas (um gesto de que se arrependeria amargamente alguns meses mais tarde). As ruas e praças ficam ainda mais inflamadas com manifestações pró-Gallant, greves, barricadas, confrontos, marchas, até de soldados e reservistas enfurecidos. Bibi é forçado a voltar atrás no despedimento do ministro. Mas, em Julho, fez com que o Knesset aprovasse a lei anti-judiciária em etapas forçadas, lançando mais achas para a fogueira. Nessa altura, o Presidente da República Isaac Herzog interveio, apelando a Netanyahu para que retirasse a reforma. Israel nunca esteve tão dividido biblicamente em quarenta semanas de protestos ininterruptos. No final, o primeiro-ministro concordou em congelar a medida enquanto se aguarda uma mesa redonda com as oposições, mas não a da Guarda Nacional. Entretanto, continua a financiar novos colonatos na Cisjordânia como antes e mais do que antes, pois em apenas seis meses, o seu governo aprova a construção de mais treze mil casas do outro lado da fronteira. Trata-se de um recorde desde 2012. E uma escolha tão cínica quanto suicida. Os dados demográficos são impiedosos, dado a taxa de natalidade dos palestinianos ser superior à dos judeus israelitas e uma anexação da Cisjordânia (com o direito automático de voto para os seus habitantes) entregaria em breve a maioria parlamentar à população árabe e “Adeus Estado Judaico”. Mesmo a ideia de uma anexação parcial é insustentável, porque dizer adeus à fórmula “dois povos, dois Estados” deixaria Israel cercado e sitiado por populações ainda mais hostis do que é actualmente. É impensável imaginar um paraíso rodeado de inferno. Sharon compreendeu-o em 2005. Netanyahu não o entendeu agora e varre o pó velho para debaixo do tapete e acumula pó novo. Em 1993, ano de Oslo, havia cento e trinta e seis mil colonos na Cisjordânia. Depois, Rabin reduziu-os e Sharon também, desde 2004. Actualmente, são cerca de quatrocentos e setenta mil na Cisjordânia e duzentos e trinta mil em Jerusalém Oriental, distribuídos por duzentos e setenta e nove colonatos em que metade deles nem sequer são reconhecidos pelo governo, ou seja, duplamente abusivos. Ocupando os territórios palestinianos mais férteis e ricos em água, os colonos são mal vistos pelos invasores, despojados de terra e água, muitas vezes expulsos das suas casas, não raro destruídas para os mandar embora. Por isso, Israel é obrigado a fazer enormes esforços para os proteger, com cerca de quinhentos postos de controlo e grande parte do exército reduzido à sua escolta armada. Na frente norte da Cisjordânia, o governo de Netanyahu mantém vinte e seis batalhões do exército, deixando os serviços secretos (outrora os melhores do mundo) sem bússola, e a frente sul de Gaza, guarnecida por apenas duas companhias de recrutas e a polícia local, desprotegida. Para Netanyahu, o Hamas já não é uma emergência, dado que em 2023, o Governo deixa de pôr os seus dirigentes sob escuta para “não desperdiçar recursos”. E logo na frente sul, às 06h30 de 7 de Outubro de 2023, no dia seguinte ao 50.º aniversário da guerra do “Yom Kippur”, enquanto Israel festeja a “Simchat Torah” (Alegria da Torah), o Hamas lança a operação “Dilúvio de Al Aqsa” com dois mil e quinhentos terroristas que se infiltram de Gaza em Israel, atravessando a fronteira a bordo de carrinhas, camionetas, motos, asas-delta e parapentes. E atingem vários “kibutzim” na fronteira com a Faixa de Gaza e uma festa Rave. O Estado judaico é apanhado totalmente desprevenido, exactamente como no Kippur, cinquenta anos antes, e apesar dos avisos dos serviços secretos egípcios e americanos sobre o perigo iminente de Gaza. É uma carnificina, um ” pogrom”, o pior massacre de civis jamais sofrido por Israel com cerca de mil e quatrocentos mortos num dia (incluindo muitas crianças, rapazes e mulheres) e duzentos e trinta e nove reféns. Netanyahu, agora no fim da corda, proclama o estado de guerra, como não fazia desde 1973. Tenta recompor o país que ele próprio dividiu, com um governo de unidade nacional a que se junta Benny Gantz. E desencadeia a operação “Espada de Ferro na Faixa de Gaza” que é um cerco com lançamentos indiscriminados de mísseis, ataques aéreos e incursões por terra, mar e ar, que cheira a retaliação decidida com raiva, a “vingança colectiva” contra a população, uma vez que os dirigentes do Hamas estão quase todos no estrangeiro, entre o Qatar e a Síria. Os relatórios da ONU são aterradores e indicam sete mil palestinianos mortos, incluindo três mil crianças, só nos primeiros vinte dias; 40 por cento das casas destruídas; cerca de seiscentos mil deslocados (mais de um quarto da população) em fuga para a parte sul da Faixa de Gaza e para o deserto do Negev; uma catástrofe humanitária e sanitária; ajuda alimentar em abundância que demora muito a chegar aos destinatários (as fronteiras com o Egipto e Israel estão seladas, salvo algumas brechas esporádicas). E uma catadupa de anúncios loucos de invasão de terras sem um plano ou uma saída. Até à data, o número de mortos subiu para trinta e um mil e trezentos e de feridos para setenta e três mil e cem. Todos os dias estes números aumentam e a comunidade internacional não tem uma solução imediata para parar a carnificina. Entretanto, o Hamas, longe de estar enfraquecido, continua a atacar o Estado judaico com quase dez mil rockets em três semanas. E atinge dois dos seus objectivos com o “pogrom” que é o congelamento dos novos “Acordos Abraâmicos entre Israel e a Arábia Saudita” e uma guerra aberta com o Estado judaico na selva de Gaza. Se, a 7 de Outubro de 2023, Israel tinha regressado por um dia ao lado da direita, ou pelo menos do agredido, em poucas horas Netanyahu conseguiu a árdua tarefa de o fazer regressar ao lado errado, ou pelo menos do agressor. A profecia de Gandhi torna-se realidade pois à força de “olho por olho”, ficaram todos cegos.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | Pequim apoia “reconhecimento total” da Palestina e insiste na solução de dois Estados O representante da diplomacia chinesa, Wang Yi, volta a erguer a voz contra o conflito israelo-palestiniano que diariamente continua a provocar vítimas civis e apela à implementação da solução de dois estados de modo a restaurar a justiça para o povo palestiniano A China apoia o “reconhecimento pleno” da Palestina como Estado na ONU, afirmou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa. Wang Yi acrescentou que a China “vai insistir” na solução de dois Estados para garantir a “coexistência pacífica” entre israelitas e palestinianos. “O actual conflito israelo-palestiniano já causou mais de 100 mil vítimas civis. Esta catástrofe humanitária é uma tragédia para a humanidade e uma vergonha para a civilização. Nada justifica a morte de civis e a comunidade internacional deve actuar para promover um cessar-fogo imediato”, afirmou o responsável, à margem da Assembleia Popular Nacional (APN), a decorrer esta semana em Pequim. O diplomata chinês afirmou que a assistência humanitária “deve ser garantida” em Gaza, “uma calamidade” que mostra que “a longa ocupação dos territórios palestinianos é um facto que não deve continuar a ser ignorado”. “A aspiração dos palestinianos a um Estado independente não pode continuar a ser ignorada. Não se pode permitir que a injustiça histórica com os palestinianos fique por corrigir. Restaurar a justiça para o povo palestiniano e implementar plenamente a solução de dois Estados é a única forma de quebrar o círculo vicioso dos conflitos israelo-palestinianos”, considerou. Palavras de paz Wang garantiu que a China vai continuar a “apoiar firmemente” a “causa justa do povo palestiniano”, bem como o pleno reconhecimento como Estado na ONU. “Apelamos a alguns membros do Conselho de Segurança para que não se coloquem no caminho para alcançar este objectivo. Acreditamos que a Palestina e Israel devem retomar as conversações de paz o mais rapidamente possível para atingir o objectivo final de uma coexistência pacífica como dois Estados e para que os povos árabe e judeu vivam em harmonia como dois grupos étnicos”, afirmou. A China está empenhada no “compromisso e na solução política para resolver desacordos e disputas” e evitar “o uso da força ou de pressões e sanções”. “O que é necessário é o diálogo com a máxima paciência, procurando um terreno comum que satisfaça as necessidades de todas as partes em todas as questões polémicas. A China promove sempre as conversações para a paz. A China nunca atira achas para a fogueira”, sublinhou. Nos últimos meses, o país asiático apelou para “todos os esforços possíveis para proteger os civis e evitar uma catástrofe humanitária ainda mais grave”. Pequim manifestou igualmente o apoio à “causa justa do povo palestiniano para restaurar os seus direitos e interesses legítimos” e à “solução dos dois Estados”, tendo responsáveis chineses realizado numerosas reuniões com representantes de países árabes e muçulmanos para reafirmar esta posição ou tentar fazer avançar as conversações de paz.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | Egipto e China apelam a cessar-fogo e à criação do Estado da Palestina Os ministros dos Negócios Estrangeiros do Egipto e da China apelaram domingo conjuntamente a um cessar-fogo no centésimo dia da guerra em Gaza e à criação de um “Estado da Palestina” que seja membro de pleno direito da ONU. Numa conferência de imprensa conjunta, no início de uma viagem a África, Wang Yi afirmou que, tal como o homólogo egípcio, Sameh Choukri, são a favor de “um Estado da Palestina independente e soberano dentro das fronteiras de 1967, com Jerusalém Oriental como capital”. Já num comunicado conjunto, os dois chefes da diplomacia apelaram também para o “fim da violência e dos combates” e ainda à realização de “uma cimeira internacional de paz para encontrar uma solução justa, global e duradoura para a questão palestiniana”. Para tal, acrescentaram, deve pôr-se termo à “ocupação” israelita e criar-se um Estado da Palestina “independente e com continuidade territorial”, apesar de os palestinianos viverem atualmente sob dois governos rivais e paralelos. A Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), do Presidente Mahmoud Abbas, detém partes da Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967, enquanto o Hamas – em guerra com Israel desde o seu ataque a solo israelita a 07 de Outubro de 2023 – controla a Faixa de Gaza. A China mantém boas relações com Israel, mas apoia a causa palestiniana há várias décadas e considera que a Palestina é um Estado. Pequim tem defendido tradicionalmente a solução de dois Estados.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | Seul diz que Hamas usa armamento norte-coreano O Serviço Nacional de Inteligência (NIS) da Coreia do Sul disse ontem que o grupo islamista palestiniano Hamas tem utilizado lançadores de granadas antitanque fabricados pelo regime da Coreia do Norte. Um porta-voz do NIS, citado pela agência de notícias Yonhap, disse serem verídicas fotografias divulgadas pelo portal norte-americano Voice of America que mostram peças de lançadores de granadas F-7 com caracteres em coreano, usados recentemente pelo Hamas. A fonte acrescentou que o NIS está a recolher provas mais detalhadas dos alegados fornecimentos de armas da Coreia do Norte ao Hamas. Em Outubro, os militares sul-coreanos já afirmavam suspeitar que a Coreia do Norte tinha fornecido, directa ou indirectamente, armas ao Hamas após analisarem os ataques que a milícia realizou contra Israel no dia 7 de Outubro. O próprio NIS também disse em Novembro que obteve provas de instruções directas do líder norte-coreano Kim Jong-un para fornecer equipamento militar e armamento a organizações que se opõem a Israel. O regime norte-coreano negou publicamente qualquer ligação com o Hamas e descreveu os relatórios que indicam o contrário como rumores veiculados pelos Estados Unidos.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael-Hamas e Ucrânia-Rússia entre principais conflitos em 2024 A guerra entre Israel e o Hamas, com o risco de alargamento a todo o Médio Oriente, e entre a Rússia e a Ucrânia, estão entre os principais conflitos mundiais em 2024, prevê o International Crisis Group (ICG). Segundo a análise do centro de investigação sobre conflitos, as guerras em Gaza, no Sudão e na Ucrânia, entre outras em todo o mundo, significam que “os esforços diplomáticos para acabar com os combates estão a falhar” e que os líderes “estão a perseguir os seus objectivos militarmente”. Sobre o conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, que começou em 07 de Outubro com um ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em solo israelita, este organismo detalhou, na sua análise, que “os esforços de pacificação enfraqueceram há anos e os líderes mundiais desviaram o olhar”. “Vários governos árabes fecharam acordos mediados pelos EUA com Israel que, na sua maioria, ignoraram a situação dos palestinianos”, atirou. Para o ICG, é “difícil imaginar uma saída”, lembrando que o custo da guerra até agora “já foi muito elevado” e que é imperativa uma nova trégua. Apesar dos analistas do ICG considerarem que nem os EUA e Israel procuram um confronto regional, ou seja, alargado ao restante Médio Oriente, estes alertaram para um “ponto de conflito” perigoso, na fronteira entre Israel e o Líbano, onde as forças israelitas intensificaram confrontos com o movimento xiita Hezbollah. “Os ataques de grupos apoiados pelo Irão às forças dos EUA na Síria e no Iraque aumentam as tensões, tal como os ataques dos rebeldes houthis do Iémen aos navios no mar Vermelho”, alertaram ainda. Riscos e incertezas A guerra na Ucrânia, na sequência da invasão russa em Fevereiro de 2022, está actualmente estagnada, com poucas alterações na linha da frente, mas o Crisis Group refere que, por agora, “pouco sugere” que as negociações possam resultar no fim do conflito. “As aparentes exigências da Rússia – rendição, território e um governo mais flexível em Kiev – são compreensivelmente rejeitadas pela Ucrânia. Entretanto, os debates ocidentais levantam receios de que o apoio a Kiev esteja a vacilar”, frisou. Este organismo chamou também a atenção para os “riscos elevados” de uma vitória da Rússia na Ucrânia: “a sua propensão para a agressão conduzirá a uma Europa e a uma Eurásia inseguras nos próximos anos”. Para o ICG, a incerteza sobre os Estados Unidos, que tem eleições presidenciais em 2024, também contribui para a incerteza global. “Uma votação potencialmente ‘divisiva’ em 2024 e o possível regresso do antigo Presidente dos EUA Donald Trump, cujo gosto por homens fortes e desdém pelos aliados tradicionais já abala grande parte da Europa e da Ásia, tornam o ano especialmente difícil pela frente”, frisou também este organismo. Apesar do recente encontro, considerado positivo pelos analistas, entre o Presidente dos EUA Joe Biden e o homólogo chinês Xi Jinping, em Novembro, os “interesses das grandes potências colidem na Ásia-Pacífico”. O ICG lembrou as eleições em Taiwan e as tensões no mar da China Meridional, podem levar a tensão EUA-China “ao auge”. “A rivalidade não dá sinais de diminuir, com os falcões de ambos os lados a falarem de competição (…) e até a falarem, de uma forma normalizadora, de guerra”, sublinharam. Com a diplomacia a fazer o seu trabalho, o ICG alertou ainda que o maior perigo por agora é a colisão de aviões ou navios chineses e norte-americanos, lembrando que o Pentágono tem vindo a alertar para o aumento dos riscos nos últimos dois anos. Para este organismo, é improvável que os líderes mundiais, devido às suas divisões, reconheçam os riscos actuais ou se unam para pedir que não se mudam fronteiras “pela força”. Outros conflitos destacados pelo International Crisis Group para 2024 são o Sudão, Myanmar (antiga Birmânia), Etiópia, Sahel, Haiti e Arménia-Azerbaijão.
Hoje Macau Manchete SociedadePalestina | Imã diz que medo de retaliação é limitação a protesto Ding Shaojie aponta que os fiéis não-residentes, principalmente da Indonésia, temem retaliações, como a expulsão do território, se fizerem manifestações de apoio à Palestina O imã da única mesquita de Macau disse à Lusa estranhar a inacção da população local em relação à guerra na Palestina, sublinhando que o medo de retaliação pode estar a limitar acções de protesto da comunidade muçulmana. No escritório de Ding Shaojie, duas bandeiras de mesa estão pousadas sobre uma montra de vidro: a bandeira chinesa e a palestiniana. A guerra entre Israel e Palestina, agravada desde que o grupo islamita Hamas, que governa a Faixa de Gaza, lançou o ataque de 7 de Outubro, é seguida diariamente pelo imã da única mesquita de Macau. As duas bandeiras, unidas pelo mesmo mastro, reflectem a visão chinesa sobre este histórico conflito no Médio Oriente. Apesar de ter relações estáveis com Israel, Pequim apoia a causa da Palestina, considerando-a um Estado soberano e defendendo a solução de “dois Estados”. Na sequência do ataque do Hamas, que matou 1.200 pessoas em Israel e fez 240 reféns, a resposta de Telavive causou a morte pelo menos a mais de 21 mil palestinianos e deslocou quase todos os 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza. “Como muçulmanos, temos de estar com o povo palestiniano. Por isso, todos os dias acompanhamos as notícias e é doloroso para nós, tantas crianças mortas”, começa por dizer Ding Shaojie em entrevista à Lusa. Ding é também Mohammed Ramadan. É originário de Hohhot, capital da região autónoma chinesa da Mongólia Interior, onde cresceu no seio de uma família Hui, um dos maiores grupos étnicos da China, predominantemente muçulmano. Referindo-se “a esta matança” que está a “pôr o mundo em ebulição”, Ding questiona por que razão permanece Macau em silêncio. “Pergunto, porquê?”, interroga o líder religioso, notando que, até ao momento, não foi questionado por ninguém sobre o que se passa em Gaza. “É estranho, a população não tomou nenhuma atitude, incluindo a comunidade muçulmana”, constata. Sem dados Em Macau, não há dados oficiais sobre o número de muçulmanos, mas o imã estima que, antes da pandemia da covid-19, este se situasse entre os cinco e os dez mil fiéis. Com a crise do coronavírus, Macau perdeu milhares de estrangeiros com estatuto de trabalhador migrante, incluindo da Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo. A vulnerabilidade deste estatuto laboral, que implica menos direitos em relação aos residentes, pode estar a condicionar possíveis movimentações de protesto por parte dos praticantes islâmicos locais, defende o líder espiritual. “[Fiéis indonésios] têm medo que talvez ao se manifestarem sejam expulsos e enviados de regresso ao país. Existe essa preocupação. No primeiro dia que aqui cheguei, fui aconselhado a não fazer nada relacionado com manifestações. Somos avisados que Macau é uma cidade pacífica, daí ser melhor não fazer nada”, conta. A última manifestação pública local ocorreu antes de Macau fechar portas ao mundo devido à covid-19, em 2020. Durante a pandemia, as forças de segurança recusaram-se a aprovar o percurso de qualquer protesto, invocando razões de “ordem e segurança” ou saúde públicas. As restrições levantaram-se, mas os protestos não voltaram às ruas da cidade. Apesar do silêncio à volta da Faixa de Gaza, Ding admite haver espaço de discussão na mesquita: “Não há como evitar, não podemos ficar calados. Todos os líderes muçulmanos, os imãs das mesquitas do mundo, falam disso, invocam Alá para que proteja as pessoas na Palestina. Por isso, nós também falamos. A matança deve ser interrompida”, reforça. Há mais que se pode fazer, conclui. Seja via doações a Gaza ou através da própria comunidade muçulmana, a quem Ding sugeriu, desde o primeiro dia, “escreverem aos seus países e consulados para apoiarem a Palestina”. Construção de nova mesquita pode arrancar este ano O imã Ding Shaojie avançou que ao longo deste ano poderá começar a ser erguida a nova mesquita em Macau, cidade onde considera haver ainda muito desconhecimento sobre o Islão. As declarações foram prestadas à Agência Lusa. “A nova mesquita vai provavelmente ser construída muito brevemente. (…) Esperamos ter muito em breve a aprovação do Governo para iniciar a construção”, afirmou Ding Shaojie, salientando que as obras poderão arrancar este ano. A futura mesquita, a erguer no mesmo local, onde também existe um cemitério islâmico, vai ter uma área de 1.250 metros quadrados e uma capacidade para 600 fiéis, segundo avançaram já as autoridades locais. Ding destaca a dimensão reduzida do espaço actual, que não consegue dar resposta às necessidades. Menciona, além disso, “a extrema pobreza” da estrutura, “comparando com outras associações e igrejas” do território. Numa tenda gigante e improvisada, onde mulheres costumam ler o Alcorão aos domingos, as orações fazem-se no Verão sob intenso calor. A tenda, com luzes penduradas em estruturas metálicas, armazena vários objectos: mesas, baldes, caixotes, chinelos, mais uma bicicleta para ali atirada. “Temos dois grandes feriados, a primeira celebração é o Eid. Depois do jejum [do Ramadão], reunimo-nos aqui para rezar. Todos os anos chove, mas o que é que podemos fazer? Temos de rezar no exterior, porque há sempre muita gente, então temos duas sessões, uma sessão com à volta de 1.500 pessoas”, conta. Saber receber Em Macau, avalia Ding, sabe-se ainda muito pouco sobre a comunidade muçulmana local: “Talvez as pessoas reconheçam pela aparência quando olham para uma mulher indonésia de ‘hijab’, sabem de onde vem, que não come carne de porco, mas mais do que isso…”. Foi para fazer face a esse desconhecimento que o Governo, juntamente com a associação islâmica, começou a organizar seminários para operadores turísticos. A ideia das autoridades passa por diversificar a origem dos visitantes, que chegam sobretudo da China, e receber, por exemplo, mais pessoas do Médio Oriente. “Quem trabalha na área tem de saber receber turistas muçulmanos, na preparação do quarto de hotel, por exemplo. Alguns visitantes não gostam de ter vinho no quarto, em respeito aos ensinamentos do Islão”, explica. “Os ‘workshops’ têm sido bem recebidos. As pessoas estão muito interessadas, porque não conhecem a cultura árabe, a história árabe. Só conhecem o Islão, grosso modo. Mas qual é a história do Islão?”, reflecte. Apesar disso, o líder religioso considera Macau uma sociedade inclusiva” no que respeita à convivência de diferentes religiões. “Eu próprio vou comer ao templo budista”, nota.
Carlos Coutinho VozesChumbo neles! OPERAÇÃO Chumbo Fundido (em hebraico בצע עופרת יצוקה, transcrito como Mivtza Oferet Yetsuká, “chumbo fundido”, também chamada, incorretamente, “Operação Chumbo Grosso”) é uma grande ofensiva militar das tropas de Israel na Faixa de Gaza. Arrancou no dia 27 de dezembro de 2008, sexto dia da festa judaica de Hanucá, e nunca mais cessou. Todavia, na maior parte do mundo árabe e na generalidade dos países sem vassalagem aos EUA, à EU e à NATO, o morticínio ficou conhecido como o Massacre de Gaza (em árabe مجزرة غزة). O ataque israelita ocorreu dias após o fim de um cessar-fogo que vigorou por seis meses, conforme havia sido acordado entre o governo de Israel e representantes do Hamas, maioritário no Conselho Legislativo da Palestina com jurisdição sobre a Faixa de Gaza. Como Telavive não suspendeu o bloqueio à Faixa de Gaza e não cessou os ataques ao território da Palestina, militantes do Hamas anunciaram o encerramento oficial da trégua e passaram a lançar foguetes caseiros, tipo Qassam, em direção ao Sul do território israelita. Dias depois do anúncio do fim do cessar-fogo, o próprio grupo palestiniano ofereceu uma proposta para renovar a trégua, condicionando-a ao fim do bloqueio israelita ao território palestino. Todavia, já em 27 de dezembro de 2008, iniciou-se a mais intensa operação militar contra um território palestiniano desde a Guerra dos Seis Dias (1967). Oficialmente, o objectivo da operação era interromper os ataques de foguetes do Hamas contra o território israelita que, sintomaticamente, não tinha fronteiras legais – ia do Rio Jordão até ao mar. No primeiro dia da ofensiva militar, a Força Aérea israelita lançou, em quatro minutos, mais de cem bombas contra bases, escritórios e campos de treino do Hamas nas principais cidades da Faixa de Gaza, entre as quais Gaza, Beit Hanoun, Khan Younis e Rafah. Também foram alvos de ataques as infraestruturas civis, incluindo casas e escolas. Israel diz que destes locais são disparados muitos dos foguetes palestinianos ou servem para esconder munições. Logo, não seriam alvos civis. A marinha sionista também reforçou o bloqueio e bombardeou alvos na Faixa de Gaza, o que resultou num incidente com o barco de uma organização pacifista, que trazia ajuda médica para a população de Gaza. Militantes do Hamas, em resposta, intensificaram os ataques de foguetes e morteiros em direcção ao Sul de Israel, atingindo cidades como Bersebá e Asdode. Na noite de 3 de janeiro de 2009, começou a ofensiva por terra, com tropas e tanques israelitas a entrarem no território da Palestina, a que eles chamam Samaria. Em 17 de janeiro, o primeiro-ministro israelita Ehud Omert anunciou uma trégua unilateral, a vigorar a partir da madrugada do dis seguinte. O Hamas anunciou um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza. O representante do grupo, Ayman Taha, afirmou que a trégua valeria por uma semana, para que os israelitas pudessem retirar as suas tropas da região. O Exército de Israel declarou que retiraria suas tropas da Faixa de Gaza até à posse de Barack Obama na Presidência dos EUA, no dia 20 de janeiro. No dia seguinte, Israel completou a retirada das suas tropas da Faixa de Gaza, no dia 1 de junho uma comissão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, chefiada pelo juiz sul-africano, Richard Goldstone, foi à Faixa de Gaza, para investigar possíveis violações dos direitos humanos, durante a ofensiva israelita. Em 15 de setembro de 2009, a comissão apresentou seu relatório, concluindo que Israel “cometeu crimes de guerra” e “contra a Humanidade”, considerando que “o plano visava, pelo menos em parte, a população de Gaza como um todo”. O mesmo relatório reconheceu que o lançamento de foguetes pelos insurgentes palestinianos também configura crimes de guerra. Segundo a ONG israelita de direitos humanos B’Tselem, a “Operação Chumbo Fundido” resultou na morte de 1387 palestinianos, mais de metade deles, civis, sendo que 773 deles não participaram nos combates, e incluindo 320 jovens ou crianças (252 com menos de 16 anos) e 111 mulheres. Do lado de Israel, houve 13 mortos, sendo três deles por “fogo amigo”. Em junho de 2008, representantes do Hamas e do governo israelita chegaram a um acordo de cessar-fogo na região, mediado pelo Egipto, com duração de seis meses, e que expirou no dia 19 de dezembro. O grupo palestiniano decidiu não o renovar, visto entender que Israel não havia cumprido o seu compromisso de suspender o bloqueio imposto à Faixa de Gaza. Mesmo depois de 2005, quando realizou a remoção dos 8 mil colonos dos assentamentos judaicos da Faixa de Gaza, Telavive continuou a controlar o espaço aéreo da Faixa, o seu mar territorial e todas as passagens de fronteira. Era o início do grande bloqueio israelita (com apoio egípcio) ao território palestiniano, que tem impedido a entrada de alimentos, combustíveis, água e medicamentos, além de dificultar enormemente o comércio em Gaza e Palestina, bem como o acesso dos palestinianos aos seus locais de trabalho. Da mesma forma, o boicote económico do Ocidente americanizado continua a estrangular a economia local. Em 4 de novembro de 2008, Israel violou a trégua com o Hamas, ao realizar, na Faixa de Gaza, uma incursão contra militantes do grupo palestiniano, matando seis milicianos e deixando outros três feridos. No dia seguinte, os militantes do Hamas responderam, lançando mais de 20 foguetes contra o sul de Israel. No dia 14 de Novembro, as forças israelitas realizaram novos bombardeamentos massivos. Com o final do cessar-fogo, segundo o jornal “El País”, que não esconde a sua simpatia por Israel, mais de 200 foguetes caseiros do tipo Qassam foram lançados por militantes palestinianos contra o Sul do território israelita, sem causar mortes, o que serviu de pretexto aos líderes sionistas “para darem luz verde ao início da ofensiva”, segundo o jornal israelita “Haaretz”. No dia 23 de dezembro, o Hamas havia dito estar aberto à trégua, desde que o bloqueio à Faixa de Gaza fosse suspenso. Em 26 de Dezembro, o governo de Telavive autorizou temporariamente a entrada de suprimentos em Gaza, que vive uma grave crise humanitária, pois Israel vinha bloqueando o acesso ao território palestiniano havia já 18 meses. Agora, até a manhã de Natal pôde ter como prenda para os amigos e cúmplices de Israel o bombardeamento mais mortífero dos últimos meses em qualquer parte do mundo.
Hoje Macau China / ÁsiaMédio Oriente | China continua a desenvolver esforços pela paz A China continuará a trabalhar com todas as partes para melhorar a coordenação e galvanizar mais acções responsáveis e significativas no Conselho de Segurança da ONU para uma cessação rápida das hostilidades em Gaza, a implementação da solução de dois Estados e a paz e estabilidade no Médio Oriente, disse segunda-feira Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês. Mao prestou as declarações ao comentar a Resolução 2720, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU com 13 votos a favor e duas abstenções na sexta-feira passada, pedindo uma acção urgente para expandir a assistência humanitária a Gaza e criar as condições para uma cessação sustentável das hostilidades, indicou o Diário do Povo. Mao disse que a China votou a favor da Resolução 2720, que é a segunda resolução adoptada pelo Conselho de Segurança desde o início do actual conflito em Gaza. A responsável também acrescentou que a resolução não atende às expectativas internacionais e tem certas lacunas que precisam ser preenchidas. Mao disse que, como o actual conflito palestino-israelita matou e feriu dezenas de milhares de civis e a situação humanitária em Gaza continua a deteriorar-se, a China pediu que a resolução seja implementada de forma eficaz, que a assistência humanitária seja ampliada e que um mecanismo de monitoramento seja estabelecido o mais rápido possível. Realizar um cessar-fogo continua a ser a prioridade absoluta e pré-requisito para todo o resto, disse Mao.
Hoje Macau China / ÁsiaIsrael | China decepcionada com veto americano a cessar-fogo A China expressou sábado “profunda decepção” com o veto dos EUA a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU para um cessar-fogo imediato em Gaza, apresentada pelos Emirados Árabes Unidos e patrocinada por 97 países membros. A proposta “reflecte o apelo universal da comunidade internacional e representa a direcção certa para o restabelecimento da paz”, afirmou o embaixador chinês na ONU, Zhang Jun, citado pela televisão estatal CGTN. “A China apoia totalmente esta iniciativa e juntou-se à pressão para a elaboração deste projecto de resolução”, acrescentou Zhang, que acusou Washington de empregar “dois pesos e duas medidas” ao falar da protecção das mulheres, das crianças e dos direitos humanos, enquanto “consente” na continuação do conflito. Zhang apelou ainda a Israel para que ponha fim à “punição colectiva do povo de Gaza”. Esta é a segunda vez, desde o início da guerra em Gaza, que os EUA vetam uma resolução no mesmo sentido – fizeram-no a 18 de Outubro – alinhando assim com Israel, que argumenta que um cessar-fogo deste tipo ajudaria o Hamas a rearmar-se e a manter em cativeiro os 138 reféns na Faixa de Gaza. A 18 de Outubro, os EUA vetaram também, sozinhos, uma resolução de cessar-fogo semelhante apresentada pelo Brasil, argumentando que não mencionava o direito de auto-defesa de Israel. Esta última votação foi realizada a pedido do próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, que na semana passada recorreu a um mecanismo excepcional da carta fundadora do organismo, o artigo 99, que lhe dá poderes para solicitar a intervenção do Conselho de Segurança em casos de ameaças graves à paz e à segurança no mundo.
Hoje Macau China / ÁsiaPalestina | China alerta na ONU que reacendimento de combates pode “devorar a região” A diplomacia chinesa apresentou um plano para acabar com a guerra e os massacres. Mas Israel não está pelos ajustes. O chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, alertou ontem que o reacendimento dos combates entre Israel e Hamas poderá levar a um desastre capaz de “devorar toda a região”, apelando a que a actual trégua conduza a um cessar-fogo. “O reacendimento dos combates apenas se transformaria muito provavelmente numa calamidade que devoraria toda a região”, disse Wang Yi, ao presidir uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) sobre a situação em Gaza. A China, que tem apoiado uma solução de dois Estados, espera que a trégua em curso possa levar a “um cessar-fogo abrangente e duradouro”. “O actual conflito israelo-palestiniano conduziu a uma enorme perda de vidas inocentes e a um desastre humanitário sem precedentes. Os seus efeitos colaterais ainda estão a emergir. Os testes de guerra, a consciência da humanidade e a justiça e a paz apelam à nossa racionalidade e sabedoria”, instou. De acordo com o diplomata, a história entre a Palestina e Israel ao longo de décadas mostrou repetidamente que recorrer a meios militares não é uma saída, e “abordar a violência com violência apenas conduzirá a um ciclo vicioso e incessante”. “A China espera firmemente que os últimos dias de trégua não constituam um hiato antes de uma nova fase desta ofensiva, mas sim o início de novos esforços diplomáticos para um cessar-fogo abrangente e duradouro (…) como uma prioridade absoluta”, reforçou. Israel contra cessar-fogo Contudo, na mesma reunião e contrariando os apelos feitos pela maioria dos Estados-membros presentes na sessão, Israel opôs-se a um cessar-fogo permanente em Gaza, argumentando que servirá apenas para sustentar o “reinado de terror do Hamas”. “Quem apoia um cessar-fogo está basicamente a apoiar a continuação do reinado de terror do Hamas em Gaza”, avaliou o embaixador israelita junto à, Gilad Erdan. Na presença de vários ministros dos Negócios Estrangeiros, o chefe da diplomacia chinesa apresentou ainda uma proposta de solução para o conflito israelo-palestiniano, que assenta na implementação de um cessar-fogo abrangente e o fim dos combates, a protecção dos civis, a garantia efectiva da assistência humanitária, o reforço da mediação diplomática, e uma solução política através da implementação da solução de dois Estados. Além disso, Pequim apoiou a Palestina a tornar-se “membro de pleno direito das Nações Unidas”, num momento em que mantém, desde 2012, o estatuto de Estado-observador. O papel da China nas negociações israelo-palestinianas tem sido diminuta, com os Estados Unidos a assumirem esse papel durante décadas. Contudo, desde a mais recente escalada, Pequim tem sido das vozes mais activas dentro do Conselho de Segurança. A embaixadora norte-americana nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, aproveitou a reunião para enfatizar os esforços de Washington, juntamente com os aliados do Médio Oriente, para aliviar a guerra atual, frisando que o “progresso acontece muitas vezes fora das paredes” do Conselho de Segurança. “Colegas, estamos agora no sexto dia de pausa humanitária em Gaza. Uma pausa que, francamente, não teria sido possível sem a liderança do Qatar, do Egito e dos Estados Unidos”, advogou, acrescentando que a posição dos Estados Unidos neste conflito tem sido pautada pela “diplomacia presidencial direta e pessoal”. “Os Estados Unidos instaram Israel a tomar todas as medidas possíveis para evitar vítimas civis enquanto exerce os seus direitos de salvaguardar o seu povo de atos de terror”, disse ainda a diplomata, num momento em que crescem as críticas a Washington por apoiar Israel numa ofensiva que, segundo o Hamas, já matou mais de 15 mil pessoas em Gaza. Thomas-Greenfield garantiu ainda que os Estados Unidos não descansarão até que todos os reféns detidos pelo Hamas sejam libertados. Também o ministro das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina, Riyad al-Malki, esteve presente na reunião, tendo apelado para que “os massacres não sejam retomados”, numa referência à trégua em vigor. “O nosso povo enfrenta uma ameaça existencial. Não se deixem enganar com toda a conversa sobre a destruição de Israel, porque é a Palestina que está a ser alvo de um plano para a sua destruição”, insistiu. “Israel deveria estar convencido de que nenhuma força na Terra pode arrancar os palestinianos da Palestina”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaGaza | Filipinas não conseguem localizar 49 cidadãos O Ministério dos Negócios Estrangeiros filipino informou que 49 dos 136 cidadãos do país na Faixa de Gaza estão incontactáveis e os 87 restantes enfrentam “problemas crescentes” para encontrar água potável. “Por enquanto, 49 filipinos ainda estão incontactáveis”, admitiu, na segunda-feira, o embaixador das Filipinas na Jordânia, Wilfredo Santos, de acordo com a agência de notícias estatal filipina PNA. Santos acrescentou que as autoridades estão em contacto com 87 dos filipinos que permanecem em Gaza, e que, “embora o seu abastecimento alimentar seja suficiente, o acesso à água está a tornar-se cada vez mais difícil”. Até ao momento, as Filipinas confirmaram a morte de pelo menos quatro cidadãos do país asiático no conflito entre Israel e o Hamas, na sequência do ataque surpresa do grupo islamita palestiniano em 07 de Outubro. O governo israelita publicou na quarta-feira uma lista de titulares de passaportes estrangeiros que se encontravam entre os raptados pelo Hamas durante o ataque, incluindo dois cidadãos filipinos. Manila não confirmou a identidade destas duas pessoas. O ministro dos Negócios Estrangeiros das Filipinas, Enrique Manalo, disse, na segunda-feira, que ia “investigar se é possível, pelo menos, localizar” os dois filipinos. No domingo, o exército israelita elevou para 239 o número de pessoas raptadas e detidas em Gaza pelo Hamas, apesar de um dia antes ter referido que 230 pessoas se encontravam em cativeiro. Entretanto, o quarto comboio de cidadãos filipinos a serem repatriados de Gaza chegou a Manila na segunda-feira, com cerca de 60 pessoas a bordo. Antes do início do conflito, cerca de 30 mil filipinos encontravam-se em Israel e cerca de 17.500 no Líbano, de onde pelo menos 124 pediram para ser repatriados, indicaram, na segunda-feira, as autoridades filipinas.
Hoje Macau China / ÁsiaONU alerta para bombardeamentos junto a três hospitais em Gaza As Nações Unidas alertaram ontem que durante o fim de semana, Israel bombardeou os arredores de três hospitais de Gaza, incluindo o mais importante do enclave, Al-Shifa, onde estão milhares de pacientes e deslocados internos. No seu relatório diário sobre a situação em Gaza, que pode ser actualizado graças ao regresso das telecomunicações ao enclave palestiniano no domingo, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação dos Assuntos Humanitários (OCHA, na siga em inglês) indicou que houve ataques próximos dos hospitais de Al-Shifa, Al-Quds (ambos na capital Gaza) e do Hospital Indonésio, na parte norte do território palestiniano. “Os dez hospitais ainda operacionais, na cidade de Gaza e no norte do enclave, receberam repetidas ordens de evacuação nos últimos dias”, afirmou a ONU, acrescentando que cerca de 117 mil pessoas deslocadas internamente estão abrigadas nestas instalações, juntamente com milhares de pacientes. No balanço da ONU recorda-se o apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) para suspender estas ordens de evacuação, uma vez que na opinião da agência de saúde das Nações Unidas, “é impossível retirar os pacientes sem colocar as suas vidas em risco”. Ordem em colapso Outro motivo de preocupação para a ONU, é o saque no sábado de vários armazéns de ajuda humanitária da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), um sinal, segundo as Nações Unidas, de que “a ordem civil está a colapsar depois semanas de guerra e cerco severo”. No domingo, houve um aumento no número de camiões com ajuda humanitária autorizados a entrar em Gaza através da passagem de Rafah (Egipto), para 33, elevando o total desde o início destas entradas, em 21 de Outubro, para 117, dos quais cerca de 70 destes levaram material médico. De acordo com a ONU, que cita números do Ministério da Saúde de Gaza, 302 palestinianos morreram no enclave, elevando o número de mortes desde o início das hostilidades em 07 de Outubro para 8.005, incluindo 3.324 crianças e 2.062 mulheres, além de 1,4 milhões de deslocados internos. Na Cisjordânia, a morte de mais quatro palestinianos nas últimas 24 horas elevou o número de vítimas das forças de segurança israelitas e dos colonos judeus nas últimas três semanas para 115, incluindo 33 crianças, enquanto cerca de mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas. Em Gaza “os ataques aéreos parecem estar a destruir sistematicamente áreas residenciais inteiras”, denunciou o relatório das Nações Unidas, que citou bombardeamentos como o de Jabalia (norte de Gaza) que causou 26 mortes no domingo, deixando outras 14 pessoas soterradas entre os escombros. Num ambiente onde o sul de Gaza já não é visto como mais seguro do que o norte, “as pessoas deslocadas internamente deslocam-se de uma área para outra com base na possibilidade de obter água e alimentos”, indicou o relatório da ONU.
André Namora Ai Portugal Vozes11 mil sem-abrigo em quatro anos Antes de mais, quero informar-vos que hoje faz três anos que este jornal único no panorama do jornalismo e do grafismo português publica os meus textos. O meu agradecimento ao director Carlos Morais José e aos leitores. Não fazia a mínima ideia do que poderia escrever sobre o que acontece em Portugal se passamos todo o tempo a ouvir os canais de rádio e televisão a falarem do conflito Israel-Palestina em sessões contínuas de 24 sobre 24 horas. Naturalmente, que Portugal vive com crises na Saúde, no Ensino e no tecido social. O que mais me chocou na semana passada foi a informação de que os sem-abrigo aumentaram 78 por cento em quatro anos por todo o país: são cerca de 11 mil, entre homens, mulheres, jovens, idosos, estrangeiros e famílias inteiras. Precisamente na mesma semana em que me deparei com um jovem deitado na rua, na entrada de um prédio, com um copo de plástico à sua frente. Parei impressionado, deixei algum dinheiro no copo e o jovem abriu os olhos. Perguntei-lhe porque era sem-abrigo. Respondeu-me que os pais o expulsaram de casa ao terem conhecimento que andava a consumir drogas. O jovem é licenciado em gestão e após dormir na rua e lavar-se na casa de banho de um café, vai trabalhar numa empresa média a recibos verdes. Ainda me recordo quando o Presidente Marcelo andou pelas ruas de Lisboa a contactar com sem-abrigo e afirmou que iria terminar com esta tragédia. Passaram mais de dois anos e o que constatamos é que cada vez mais assistimos a compatriotas a dormir na rua. Nem todos são drogados ou alcoólicos, foram despejados por não conseguir pagar a renda ou ficaram desempregados e após um litígio com a mulher, ela pô-lo fora de casa. Os dramas são da maior variedade e a realidade é que o governo fala muito do problema da habitação, mas não vimos construir casas de renda acessível ou moradias pequenas para quem nada tem. 11 mil a mais em quatro anos a dormir nas ruas é trágico e o pior é que nada acontece. Os turistas passam, olham, comentam e não acreditam que a capital lisboeta tenha tanta gente na miséria. As tendas de lona têm aumentado por todos os bairros e albergam pais e filhos que ficaram sem casa por não conseguir pagar a prestação do imóvel que tinham adquirido com crédito bancário. No entanto, estes números que vos apresento reportam-se a 2022 e sabemos que este ano houve um aumento substancial de sem-abrigo. O número de sem-abrigo aumentou bastante e foi transversal, de portugueses a estrangeiros, de jovens a idosos. Só este ano registaram-se mais cerca de 25 por cento, essencialmente devido ao agravamento das condições de vida, à imigração e ao aumento de consumo de drogas. Em Lisboa, nunca vimos tantas tendas. E o fenómeno dos sem-abrigo mudou. Antes, eram essencialmente homens com problemas de saúde mental ou dependência. Agora o perfil é muito variado. Há famílias inteiras sem casa. Gastam-se milhões de euros e as pessoas continuam na rua ou num umbral de uma porta de um prédio dependentes da caridade dos transeuntes. Há quase 11 mil sem-abrigo nos últimos quatro anos e o PRR (ajuda europeia) não tem um euro para lhes dar casa. O único dinheiro que existe é para respostas de emergência e temporárias. Continua-se a falhar na resolução do problema. Segundo Renato Alves, da Comunidade Vida e Paz, as respostas que existem não chegam para todas as pessoas actualmente a viver na rua. “Os centros de acolhimento estão cheios. Temos uma unidade para 40 pessoas sempre lotada. E as instituições estão a atravessar muitas dificuldades pela subida de custos, ausência de apoios e descida de donativos.” No passado Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, o Presidente Marcelo pediu novas abordagens e modelos de acção no combate à pobreza, alegando que o país não se pode conformar com quase dois milhões de pobres. Mas, na minha óptica a ferida que foi aberta entre Belém e S. Bento deve ter levado as palavras do Presidente da República a entrarem por um ouvido do primeiro-ministro e a saírem pelo outro. O governo sabe que a pobreza e a situação dos sem-abrigo são uma chaga na governação do país e, contudo, continuamos a assistir a vidas miseráveis de reformados que auferem uma pensão entre 150 e 400 euros. São milhares de famílias que não podem pagar renda de casa, não podem comer dignamente, não podem comprar medicamentos, não podem pagar a água e a luz e no meio disto tudo, temos o nosso “ilustre” jornalismo apenas preocupado com os “terroristas” do Hamas, existindo jornalistas a quem devia ser retirada a Carteira Profissional por apenas tomarem posição a favor de Israel.
Hoje Macau China / ÁsiaGaza | ONU alerta que “nenhum lugar é seguro A coordenadora dos assuntos humanitários da ONU para os territórios palestinianos alertou ontem que “nenhum lugar é seguro em Gaza” devido aos bombardeamentos israelitas no território desde o início da guerra com o Hamas. Lynn Hastings afirmou em comunicado que os “avisos prévios” emitidos pelo exército israelita para que as pessoas se retirem das zonas que pretende atingir “não fazem qualquer diferença”. “Nenhum sítio é seguro em Gaza”, afirmou Hastings, citada pela agência francesa AFP. A guerra foi desencadeada por um ataque do Hamas em Israel em 07 de Outubro, que as autoridades israelitas dizem ter causado mais de 1.400 mortos. Israel prometeu aniquilar o grupo islamita palestiniano e, desde então, tem bombardeado a Faixa de Gaza, com um saldo de mais de 6.500 mortos, segundo o Hamas. Hasting disse que o exército israelita “continua a avisar os habitantes da cidade de Gaza de que aqueles que permanecem em casa estão a colocar-se em perigo”. Referiu que, em alguns casos, a notificação do exército israelita] “encoraja as pessoas a irem para uma zona humanitária em Al-Mawasi”, situada a oeste da cidade de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza. “Para as pessoas que não podem fugir, porque não têm para onde ir ou não podem deslocar-se, os avisos precoces não fazem qualquer diferença”, disse a coordenadora da ONU. Hastings lamentou que as pessoas tenham de enfrentar escolhas impossíveis “quando as rotas de evacuação são bombardeadas, (…) quando faltam os bens essenciais à sobrevivência e quando não há garantias de regresso”.