Europa vista como contrabalanço pela China ao poder dos Estados Unidos

A China continua a ver a Europa como peça-chave para contrabalançar o poder hegemónico dos Estados Unidos, observam analistas, apesar de a União Europeia ter reavaliado a sua relação com Pequim nos últimos anos

 

A Europa continua a ser para Pequim um ponto de equilíbrio no sensível xadrez geopolítico e no braço-de-ferro com os Estados Unidos. A China ocupa um lugar importante na agenda da visita do Presidente norte-americano Joe Biden à Europa, esta semana, à medida que a principal potência emergente assume uma relevância crescente nos assuntos internacionais.

Shen Dingli, director do Instituto de Estudos Internacionais na Universidade Fudan, em Xangai, nota que Pequim continua a ver a “UE como um provável contrabalançar da hegemonia dos Estados Unidos”.

Numa altura em que Biden se tenta reaproximar dos aliados, após o antecessor, Donald Trump, ter abalado as relações transatlânticas, e assumir uma política comum para a China, diferentes interesses económicos e estratégicos continuam a dificultar um consenso entre ambos os lados.

“Não existe um consenso para uma abordagem comum transatlântica para a China”, admite à agência Lusa o embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte. “Esse consenso tem que ser construído e trabalhado com a própria China” e depende também “da reacção que a China tem e como trabalha, cria as explicações, as seguranças, junto dos outros, para que haja respostas diferentes”, resume.

Nos últimos meses, a relação entre China e União Europeia deteriorou-se, depois de os dois lados imporem sanções um ao outro. Entre os visados pelas sanções retaliatórias da China estão cinco membros do Parlamento Europeu – Reinhard Butikofer, Michael Gahler, Raphael Glucksmann, Ilhan Kyuchyuk e Miriam Lexmann.

A decisão chinesa colocou em risco o Acordo Global de Investimento entre os dois lados. O acordo precisa da aprovação dos eurodeputados para entrar em vigor. O Parlamento Europeu decidiu congelar a ratificação do acordo, entretanto, e anunciou que não prosseguirá com este até que a China levante as sanções.

A outra balança

À semelhança dos Estados Unidos, a União Europeia reclama uma relação mais igualitária e recíproca em termos de comércio e investimento com a China e espera que o país asiático tenha mais respeito pela democracia e direitos humanos. “Convém trabalhar seriamente nisso, para encontrar os equilíbrios necessários e para que haja um sentimento de reciprocidade e igualdade de tratamento entre todos os povos”, afirmou José Augusto Duarte.

A nível de Defesa, vários países europeus, incluindo França e Alemanha, estão agora também mais dispostos a enviar navios da Marinha até ao mar do Sul da China para reforçar a mensagem dos EUA sobre a liberdade de navegação na região.

“Para a China, o conceito de uma política independente de defesa europeia é, geralmente, considerado adequado, na sua noção preferida de um mundo multipolar, ao invés de unipolar e dominado pelos Estados Unidos”, aponta também à Lusa Shen Dingli.

Apesar de, no contexto da NATO, EUA e Europa executarem operações militares conjuntas no exterior, uma política de segurança e defesa europeia independente “não seria necessariamente igual à dos Estados Unidos, especialmente se os norte-americanos divergirem significativamente da norma do direito internacional, como foi o caso da Guerra do Iraque”, argumenta.

Biden viaja primeiro para o Reino Unido para uma cimeira entre os líderes do G7 e, em seguida, para Bruxelas, para a cimeira da OTAN e um encontro com os chefes da União Europeia.

10 Jun 2021

China torna-se no maior parceiro comercial da União Europeia em 2020

A China tornou-se o maior parceiro comercial da União Europeia (UE) em 2020. Tanto as exportações como as importações aumentaram apesar da pandemia de Covid-19, informou a Eurostat nesta segunda-feira. De acordo com o serviço estatístico da UE, as importações do bloco vindas da China em 2020 cresceram 5,6% ano ao ano, para 383,5 mil milhões de euros, enquanto as exportações, 2,2%, para 202,5 mil milhões de euros.

Ao mesmo tempo, o comércio de bens com os Estados Unidos, que lideravam a lista de parceiros comerciais da UE até o início de 2020, teve um declínio substancial em ambos os sentidos.

A UE também testemunhou um maior comércio com o resto do mundo em Dezembro de 2020, um aumento de 6,6 mil milhões de euros em relação ao mesmo mês de 2019, o primeiro aumento anual desde que foi atingida pela pandemia.

Em 2020, o mercado único sofreu uma queda de 9,4% nas exportações de bens e de 11,6% nas importações. Com as indústrias amplamente afetadas pelas medidas de confinamento no ano passado, a energia registou de longe a queda mais acentuada entre todos os sectores, seguida por alimentos e bebidas, matérias-primas e produtos químicos.

As cifras da Eurostat na segunda-feira mantêm-se em conformidade com os dados oficiais da China publicados em meados de Janeiro, que mostraram que o comércio com a UE cresceu 5,3%, para 4.495,77 mil milhões de yuans, em 2020.

Enquanto as importações e exportações totais de bens da China expandiram 1,9% ano a ano, para 32,16 biliões de yuans em 2020, um novo recorde, o aumento do comércio com a UE foi mais do que o dobro da taxa média de crescimento.

O resultado fala plenamente “da forte resiliência e importância da cooperação económica e comercial China-UE”, disse Zhang Ming, chefe da Missão Chinesa na UE.

18 Fev 2021