Andreia Sofia Silva EventosLivros | Carlos André cumpre sonho ao traduzir Eneida, de Virgílio Carlos André, ex-director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau, acaba de ver lançada, pela editora Cotovia, em Portugal, a sua tradução de Eneida, uma obra clássica de Virgílio. O autor assume ter ultrapassado o medo de traduzir uma obra desta dimensão, num projecto que começou ainda em Macau [dropcap]E[/dropcap]scrito por Virgílio no século I a.c., a Eneida é um clássico da literatura latina que acaba de ganhar uma nova tradução para português da autoria de Carlos André, especialista na área e ex-director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM). A obra foi apresentada esta semana em Portugal pela editora Cotovia e partiu de uma ideia de Carlos André. “Há muito tempo que pensava fazer isto. A Eneida foi um dos meus livros no curso de mestrado. Lembro-me de ter estudado a Eneida com o mestre a quem é dedicado o livro, o professor Valter de Medeiros, que me ensinou a gostar da Eneida. Ele dizia-me que nunca iria traduzir a Eneida porque ele era um perfeccionista e demoraria 12 anos, porque são 12 cantos, e que depois precisava de seis anos para rever tudo. Eu agora tive a ousadia de fazer isto.” Os dois primeiros cantos da Eneida começaram a ser traduzidos em Macau, um lugar onde Carlos André encontrava a solidão necessária para, à noite, se dedicar ao clássico da literatura em Latim. A restante tradução foi feita o ano passado. “É uma espécie de sonho que se concretiza agora”, assume Carlos André, que assume sempre ter tido medo de realizar este projecto. “A Eneida fez sempre parte do meu convívio, mas tinha medo de traduzir. Traduzi muitos textos do latim clássico porque tinha medo de mexer na Eneida, era uma espécie de medo sagrado, até que ganhei coragem.” Um compromisso Sendo uma obra com inúmeras traduções já feitas para português, tanto em Portugal como no Brasil, Carlos André quis fazer algo de diferente. “Quis encontrar um compromisso entre o texto antigo e actual mas respeitando o dizer poético, o ritmo, os sons. Tentando que a tradução tivesse uma dimensão estética, que não pode ser a do original, porque o original é inimitável.” Para Carlos André, uma tradução é efémera, ao contrário do texto original. “O texto de partida é eterno, a Eneida é um poema eterno, como são todos os grandes textos. Virgílio é um dos maiores poetas do Ocidente e a Eneida é uma das mais significativas obras primas do Ocidente e, portanto, um texto como esse é eterno.” A sua tradução traz, portanto, “algo novo”. “Respeito muito os trabalhos dos meus colegas que já traduziram a Eneida, tanto aqui como no Brasil. Fiz uma tradução porque gostava de a fazer e porque entendi que poderia acrescentar algo às traduções que estão feitas, ou seja, uma visão diferente da forma de traduzir”, disse ao HM. Trata-se de imprimir “uma dimensão mais poética, o respeito pelo verso”. “Para quem souber um pouco de latim consegue fazer a confrontação se pegar no texto original. Uma tradução em prosa não facilita nada isso porque as pessoas perdem-se. É a demão estética e esta interpretação que tenho da Eneida de Virgílio que é um poema grandioso à escala do universo, mas muito sombrio e pessimista na dimensão individual.” Carlos André confessa o seu grande amor por esta obra. “Virgílio é, para mim, o monstro sagrado da literatura latina. É um dos grandes poetas do Ocidente e a Eneida é a epopeia do Ocidente. Ao contrário dos poemas homéricos, a Eneida é feita por seres humanos, que sofrem como nós, que fazem barbaridades como nós. Aquilo é a história sangrenta do Ocidente, onde o Ocidente foi humano e implacável. Construiu, mas também destruiu.” O autor fala de como a Eneida retrata os feitos de Augusto, antigo imperador romano. “Augusto, o grande Imperador romano, e a Eneida celebra o antepassado mítico de Augusto, que foi tudo isso: foi como os grandes dirigentes que tivemos no nosso Ocidente. Antes de construir um Império fez muitos disparates”, rematou.
Sofia Margarida Mota SociedadeGrande Baía | Português como elo de ligação entre regiões O ensino do português na Grande Baía foi o tema do Fórum que teve lugar ontem no Instituto Politécnico de Macau. Carlos Ascenso André considera que a língua portuguesa pode ser um elo de ligação entre as regiões que integram o projecto de cooperação que envolve Macau, Guangdong e Hong Kong [dropcap]A[/dropcap] língua portuguesa poder ser um factor de ligação entre as regiões que integram o projecto de cooperação da Grande baía. A ideia foi deixada ontem por Carlos Ascenso André no Fórum para a Promoção do Ensino do Português na Grande Baía realizado ontem no Instituto Politécnico de Macau (IPM). O académico regressou ao território para participar no evento organizado pelo Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP), pelo qual foi responsável até ao ano passado. “Suponho que o português é uma das coisas que une as cidades e as regiões da Grande Baía”, revelou à margem do evento onde proferiu uma comunicação sobre o ensino de português. Carlos Ascenso André sublinha que Portugal pode dar um contributo importante para a divulgação da língua além do apoio financeiro. “Felizmente no caso de Macau, Portugal não tem que apoiar através de investimentos financeiros porque isso não é o que Macau precisa. Macau precisa mais de apoio institucional, apoio científico e de parcerias”, refere. Já o actual presidente do CPCLP, Gaspar Zheng, deu conta da propagação do ensino de português na zona da Grande Baía, nos últimos anos. Na província de Guangdong, são já cinco as instituições que oferecem a língua de Camões e “não podemos esquecer que Guangdong é a província com um maior índice de cooperação económica e comercial com os países de língua portuguesa”, apontou. Outro sinal de valorização do português na região é a realização, pela primeira vez, em Cantão, do 5º Fórum Internacional do Ensino de Português, agendado para o próximo mês de Julho, depois de ter passado por Pequim, Xangai e Macau em edições interiores. Hong Kong, não tendo nenhuma licenciatura em português, tem uma formação leccionada pela Universidade de Hong Kong desde 1956. A mesma instituição abriu ainda um programa de formação continua para adultos há cerca de oito anos. À frente desta formação está Irene Lacasa que considera que a promoção do ensino desta língua na região vizinha é ainda uma missão “desafiante”. “A comunidade portuguesa em Hong Kong é muito pequena”, referiu. Neste contexto, Macau tem um papel fundamental por ser um território com características particulares. “Macau tem vantagens próprias até porque o português é uma das línguas oficiais. A par da equipa de professores portugueses e bilingues é ainda onde se produzem vários manuais para ensino da língua. Por outro lado, também tem cursos que integram alunos portugueses e chineses”, salientou Gaspar Zheng. O pioneiro Outra novidade do território no sentido da criação de profissionais de tradução e interpretação chinês-português, é a abertura do curso de mestrado especializado no IPM já no próximo ano lectivo. “É um curso profissionalizante concebido em concreto para formar talentos na área a que se refere “, explicou Han Lili, directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM, à margem do mesmo evento. De acordo com a responsável existe um interesse crescente por parte dos jovens da província de Guangdong em aprender português. “Lançámos a notícia de abertura de curso de mestrado numa altura em que recebemos muitos pedidos de informação sobre esta formação, tanto a nível nacional como da área da Grande Baía”. A resposta à abertura a este mestrado traduziu-se em “muitas candidaturas recebidas” No entanto, nesta primeira edição, as vagas são exclusivamente para alunos locais. A razão, aponta Han Lili tem que ver “a grande procura em Macau e sendo o IPM uma instituição da RAEM”, será prioritário preencher a procura local”, apontou. Trata-se do primeiro curso de especialização nesta área a ser leccionado na China. Aperitivo lusitano A Casa de Portugal pode vir a apresentar as suas actividades nas regiões que integram a Grande Baía. A ideia foi deixada ontem pela presidente do organismo, Amélia António, à margem do Fórum para a Promoção do Ensino do Português na Grande Baía. “Pode ser um capítulo aberto em termos de divulgação cultural, disse. Em causa está a apresentação de actividades que a Casa de Portugal em Macau já pratica no território como “a cerâmica, o azulejo português ou a gravura”, que envolvem “uma dose da cultura portuguesa muito importante”. Este tipo de divulgação abre o apetite para que as pessoas queiram ter outros conhecimentos pelo que a Casa de Portugal seria uma “espécie de entrada”, apontou. No entanto são preciso meios e esta expansão das actividades da Casa de Portugal teria que ter “um caminho próprio”. Para o efeito, Amélia António sugeriu a criação de um mecanismo de subsídios dirigidos a este tipo de iniciativas. A responsável admite “é uma coisa que precisa de ser muito pensada porque não é fácil. Mas é uma possibilidade”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePortuguês | Macau pode perder terreno na formação de docentes da China Carlos André alerta para a necessidade crescente de inovação no apoio dado por Macau à formação de professores de português de forma a não ser ultrapassado pela China. O académico acredita que daqui a cinco ou seis anos o continente será auto-suficiente na formação de docentes da língua de Camões [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi um recado dado à margem do lançamento da quinta edição do curso “Verão em Português no Instituto Politécnico de Macau” (IPM), destinado a professores de língua portuguesa de universidades chinesas. Para Carlos André, director do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do IPM, o ensino superior local terá de inovar nas ferramentas que disponibiliza aos docentes chineses ou Macau perderá o seu papel de formador daqui a poucos anos. “O grande problema que vamos enfrentar nos próximos tempos é que tudo isto está em transformação. Não lhe dou mais do que cinco a sete anos para que estes professores tenham atingido um tipo de qualificação de topo. Aí, ou somos capazes de ser parceiros, ou se continuamos a pensar que continuamos a ser instrumentos, podemos ser perfeitamente descartáveis”, defendeu Carlos André. Neste sentido, o território “tem de ser capaz de enfrentar uma nova realidade”, sendo que “tudo depende de como Macau se comportar”. “Se Macau continuar a pensar, como muitas pessoas pensam, de uma forma superior, de facto torna-se perfeitamente secundário, não tenho dúvidas nenhumas.” Para o ainda director do CPCLP, há académicos de outras nacionalidades capazes de dar formação em português e entender o universo da língua de Camões. “Não digam que eles não são capazes, porque eu conheço o mundo de formação em língua portuguesa e o melhor que foi surgindo nas últimas décadas não são portugueses mas sim franceses, italianos ou americanos. Não vamos imaginar que os estrangeiros não são capazes de saber tanto sobre nós como nós. Até podem saber mais.” Manuais online Uma das inovações que o IPM está a desenvolver é o projecto “Convergências”, financiado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior (GAES), e que coloca online todos os manuais que o IPM tem vindo a produzir para docentes de português do continente. “Vamos comprar equipamento áudio e vídeo e software adequado, o que significa que, à medida que nos vão chegando os inputs do trabalho dos professores no interior da China nós estamos a transformar os materiais. Os materiais são postos online e estão sempre em transformação. É a grande revolução no fornecimento de materiais pedagógicos. Esta dinâmica tem outra vantagem, pois nós não conseguimos exportar os livros para o interior da China”, adiantou. Carlos André, que está de saída da direcção do centro do IPM, explicou que está na calha a publicação de mais livros até 2019. “Temos dois volumes da professora Adelina Castelo relacionados com fonética e fonologia, temos um volume de vocabulário organizado por Rui Pereira. Também temos uma gramática de desvios, organizada pela professora Isabel Poço Lopes, um estudo feito com professores chineses sobre as suas principais dificuldades, onde se verifica que eles têm desvios na gramática. Já estamos com todos esses livros na forja para saírem até 2019”, explicou. Na formação de docentes, que ontem teve início, participam 24 professores de 17 universidades chinesas. Na quinta edição a formação conta com a certificação do Instituto Camões. “Conseguimos alcançar um modelo de formação certificado pela única entidade portuguesa que pode, de facto, certificar formações desta natureza. Isto dá mais currículo aos professores chineses, e do ponto de vista do conhecimento, obviamente, dá mais conforto ter uma certificação de uma entidade que é internacionalmente reconhecida”, rematou Carlos André.
Sofia Margarida Mota SociedadeUniversidades discutem ensino do português no Interior O Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa realiza hoje um encontro com a participação de 31 universidades do Continente, com o objectivo de discutir problemas e ouvir sugestões para melhorar o ensino do português [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap]s alunos que forem aprovados em todos os cursos de formação contínua em língua portuguesa do Instituto Politécnico de Macau vão ter uma certificação da instituição e do Instituto Camões. Esta é uma proposta que está em cima da mesa e que vai ser discutida, ao longo do dia de hoje, numa reunião entre o Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa (CPCLP) do IPM e 31 universidades do Interior da China, onde se ensina a língua portuguesa. “Uma das ideias que vai ser discutida passa pelo facto dos cursos de formação contínua passarem, quando todos somados, a atribuir uma certificação do Instituto Politécnico e do Instituto Camões”, disse Carlos André, director do CPCLP, ao HM. “Esta proposta tem como grande vantagem para quem completa os cursos uma certificação pela entidade portuguesa que gere o ensino da língua no estrangeiro. Será a grande novidade da reunião”, explicou. Segundo os moldes actuais da formação contínua de português do IPM, há um conjunto de 12 módulos, dois quais 9 são de formação obrigatória. No entanto, caso optem, os alunos podem completar mais três módulos, opcionais. Será depois de completarem os diferentes módulos que terão acesso à certificação. No total, as formações englobam, 360 horas de aulas. O encontro que vai decorrer ao longo de todo o dia de hoje tem como objectivo discutir os problemas que as diferentes instituições que ensinam português no Interior da China atravessam. Segundo Carlos André, existem actualmente 38 instituições a ensinar português no Interior da China, das quais 31 vão estar presentes. Um número visto como muito satisfatório. “Este encontro pode ser muito proveitoso para fazermos um balanço do trabalho feito, sendo que ao mesmo tempo que permite um olhar retrospectivo, também esperamos que permita um olhar prospectivo. Temos de saber até que ponto o que fazemos corresponde às expectativas das instituições no Interior da China”, considerou o director do CPCLP. Participação positiva “Considerei que seria muito importante juntar todas as instituições. A primeira coisa que me surpreende nesta reunião é o número de participantes. Vêm cá 31 instituições, mas posso dizer que segundo os levantamentos que fiz até agora, são 38 as instituições que têm português no Interior da China”, reconheceu o director. “Das sete instituições que ficaram de fora, quase todas só começaram a ensinar português de uma forma incipiente. Estão a dar os primeiros passos. Por isso também não fazia muito sentido começarem a discutir problemas que ainda não enfrentam”, clarificou. Em relação ao dia de discussões, Carlos André deixou o desejo de que as conversações resultem em várias sugestões, que depois poderão ser adoptadas. O encontro é organizado pelo IPM, com o apoio do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior.
Andreia Sofia Silva EventosPoesia | Carlos André lança novo livro com imagens do Oriente “O sol, logo em nascendo, vê primeiro” é o título do novo livro de poesia de Carlos André, com o qual finalmente se assume como poeta. Editado pela Livros do Oriente, a obra espelha aquilo que o autor sentiu e viu nas muitas viagens que já fez deste lado do mundo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] poeta caminhou na estrada até Baalbek, no Líbano, imaginou as histórias que contam as seculares pedras de Angkor Wat, no Cambodja, e procurou no Vale de Beqaa, também no Líbano, por onde andam a luz ou o mel. Carlos André, o poeta, também coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), escreveu o seu terceiro livro de poesia quase por acaso ou instinto, muito antes de perceber que os seus poemas se transformariam na obra “O sol, logo em nascendo, vê primeiro”, editado pela Livros do Oriente. Muito antes de vir para a China abraçar o projecto do IPM, Carlos André escreveu em Quioto, no Japão, e no Líbano. “No princípio não tinha sequer a intenção de fazer um livro”, contou ao HM. “A poesia acontece desta forma. Em determinado dou comigo a fazer um poema, nos poetas isso é normal. Quatro desses poemas foram escritos há muito tempo. A ideia de que poderia fazer um livro com estas impressões de viagem aconteceu na China, nas viagens que fui fazendo. A partir de certa altura começou mesmo a ser um projecto pessoal, e como gosto muito de fazer fotografia, juntei essa parte”, acrescentou. Ao editar o terceiro livro de poesia, Carlos André assume-se, finalmente, um poeta, além de ser um professor e académico, especialista em literatura clássica e também tradutor. “Apesar de já aceitar um pouco a designação de poeta, tenho por hábito dizer que o meu compromisso é com a minha profissão. Sou professor, tenho de escrever coisas científicas e académicas, e aí tenho muitos projectos em cima da mesa…o resto, se me acontecer, fico muito feliz.” “O sol, em nascendo, vê primeiro” é sobretudo o resultado de muitas imagens que o poeta viu de perto, e que se traduziram em palavras. “Muitas destas palavras são explosões. Acontecem de repente e depois precisam de se arrumar. Olho para uma determinada paisagem aquilo está à minha frente e isto tem de ser traduzido num poema. Mas não há duas circunstâncias iguais.” Carlos André assume que “transmitiu para o papel” à semelhança de quando um pintor transpõe um sentimento ou uma ideia para a tela, cheia de cores e formas. “O poeta tem um conjunto de sensações perante uma determinada circunstância e perante uma imagem. No meu caso, na maior parte das situações, tratam-se de imagens, e traduzo essas emoções em palavras, com alguma carga estética, para o papel.” Quando percebeu que os seus escritos poderiam ser publicados, “quis partilhar com as outras pessoas as minhas emoções”. A influência dos clássicos Especialista em Línguas e Literaturas Clássicas, Renascimento e Humanismo, Carlos André explicou que o seu terceiro livro de poesia revela algo diferente de todos os outros: essa ligação aos clássicos, no que diz respeito à forma como os poemas foram escritos. “A quase totalidade este livro é feito de formas clássicas e obviamente que a minha formação está aí. São textos em oitavas heróicas, são sonetos, quadras no sentido mais tradicional. São formas clássicas com rima, métrica. Foi o que deu, não sei dizer de outra forma.” Essa influência acabou por surgir de forma espontânea ou até inconsciente. “Como poetas somos filhos de tudo o que lemos, porque nos está atravessado no subconsciente. Há um conjunto de imagens que, ainda que não tenha consciência delas, elas estão lá”, disse. A referência a Camões O poeta pensou em vários títulos para o seu terceiro livro, até que resolveu utilizar o verso escrito por Luís de Camões, quando este, n’Os Lusíadas, se dirige ao rei D.Sebastião. “[O sol, logo em nascendo, vê primeiro] é a expressão que Camões utiliza para descrever os lados do então império português, para se referir às terras do sol nascente, ao Oriente. Poderia dizer, simplesmente, ‘Poemas do Oriente’, andei às voltas com muitos títulos e achei que seria muito interessante [utilizar este verso]. Aí vem a minha formação clássica”, frisou. Carlos André assume que escreve como respira, mas quando traduz outros autores opta por não escrever os seus poemas, por “estar demasiado concentrado na tentativa de captação das emoções do outro”. Enquanto académico Carlos André tem um outro ritmo. “[Escrever poesia] tem a ver com aquele momento e todas as circunstâncias que o envolvem. O poeta tem essa sensação, é completamente diferente do que se passa com os meus escritos académicos. Chega-se a estes através de um trabalho atento, com muita leitura ou reflexão. A poesia não é assim. As impressões traduzem-se em palavras na expectativa de que haja algo entre alguma coisa e outra”, concluiu. A apresentação da obra de Carlos André decorre na próxima terça-feira na Fundação Rui Cunha.
Andreia Sofia Silva SociedadeIPM | Sucessão de Carlos André está a ser pensada Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau, garante não estar preocupado com a sucessão de Carlos André na direcção do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa. Quanto ao ensino do mandarim, defende que não deve ser obrigatório [dropcap style≠’circle’]“J[/dropcap]á planeámos o futuro do ensino do português em Macau.” Foi desta forma que Lei Heong Iok, presidente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), deixou claro que a sucessão de Carlos André à frente do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa não deverá ser um problema. “O professor Carlos André vai deixar o cargo de director do centro, mas tenho a certeza de que vai manter a ligação ao IPM. Temos de escolher um novo director e, neste momento, não estou muito preocupado com isso, porque temos vários colegas com esse perfil”, apontou. “Neste momento ainda não tenho um nome. Já planeamos o futuro do ensino do português em Macau e temos gerações jovens que vão continuar com esta causa muito importante”, disse ontem Lei Heong Iok à margem da cerimónia de lançamento do livro “Português Global 4”, destinado aos alunos chineses que já aprendem um grau mais avançado da língua. Carlos André, que foi director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, chegou ao IPM em 2012 com a missão de colocar os professores de português da China a terem mais formação. Deverá reformar-se no ano que vem. Na visão do presidente do IPM, o centro “tem feito um trabalho magnífico”. O manual que foi ontem lançado, com revisão científica de João Malaca Casteleiro, põe fim a uma “maratona” de quase dez anos, que começou a ter resultados visíveis em 2011, quando foi lançado o “Português Global 1”, para alunos que começam a dar os primeiros passos na língua. “Este projecto está finalizado, finalmente. Não só para mim, mas para esta casa e os meus colegas tem sido uma maratona de cerca de dez anos. Há muito tempo começámos a definir uma estratégia para o ensino e divulgação da língua e cultura portuguesa, não só em Macau, como na grande China”, referiu o presidente do IPM. O manual tem sido utilizado em 30 universidades do Continente, estando nas mãos de cerca de mil alunos de licenciaturas, sem contar com alunos que aprendem português e que são de outras áreas. Mandarim só por escolha Confrontado com as últimas notícias que falam da possibilidade de o ensino do mandarim vir a ser incentivado nas escolas, Lei Heong Iok referiu que tal não deve ser obrigatório. “É importante o ensino do mandarim, tal como do português, cantonês e outras línguas. Mas é melhor não impor ou obrigar alguém a fazer coisas. É melhor respeitar a vontade das escolas e dos próprios estudantes. Para o ensino do português, a partir do ensino primário ou secundário também é preciso vontade própria e mobilizar, semear e plantar, e só colher os frutos anos depois”, disse. O próprio secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse recentemente que o Governo não vai impor o ensino do mandarim no ensino não superior.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasOs homens do meu país Carlos André vêm da raiz do tempo os homens do meu país já não sabem já não lembram a raiz com sua chama […………………..] foram ossos a arder em piras de chamas que chispam ódio ódio surdo e cego de lei que manda que se não diz que nos homens deste povo há país e há raiz! mas na cinza desses ossos nos restos desses brasidos crepitam olhos e gritos com ecos na voz do vento: ‘ainda não fomos vencidos!’ sentiram correr nos corpos a seiva do pensamento tiveram nome de antero de martins ou de queirós e viram que a voz de dentro só é viva se for voz deram tiros conspiraram no segredo das conjuras e mataram e gritaram ao seu povo que era sua a praça pública que viesse que estivesse que dissesse que era gente e que ser dono de um país seu era imperioso e urgente acreditaram na força de sua mão e ao porem pedra por pedra nessa nova construção descobriram que um país com homens feitos raiz não é vão rasgaram em barcos novos os sonhos despedaçados fincaram olhos num gongo ouvido em nambuangongo estiveram em bissau em terras desconhecidas foram alcântara-partidas e alcântara-chegadas e partiam regressavam e iam e não voltavam combateram sem vontade contra a vontade dos outros e mataram e espancaram incendiaram queimaram ceifaram e deceparam deitaram fogo a choupanas sem saber serem humanas uns foram voz de metralha voltaram outros mortalha ficava a terra viúva dos homens que ia perdendo dos homens que iam partindo rumo ao norte em busca doutras paragens outro vento outras aragens com a sorte a soprar mais forte saíram em austerlitz povoaram champigny construíram com suor o futuro de morrer aqui também ficaram apodreceram aos poucos nos poços doutras masmorras perderam o sono e o sangue no sol que nunca viam mas mantiveram de pé a certeza da vontade doutro sol que acreditavam com nome de liberdade uns foram nomes pra sempre outros pra sempre sem nome nome de sérgio de bento de humberto de catarina nas balas doutra metralha mandada ser assassina usaram armas e redes e martelos pás enxadas terras crestadas de sedes que esperam ver saciadas e de novo guitarras e violas e vozes que valem balas e esfarrapam as mordaças com que as querem caladas voz de zeca voz de graça de zé gomes de adriano palavras que a gente ouvia sentia repetia que a vontade de ser dia não pode chamar-se engano foram alvoradas novas nas ruas nas avenidas nos canos das espingardas empunhadas por esperanças reacendidas e floridas acreditaram possível uma nova construção e em volta da liberdade com vontade de querer apertaram mão com mão sem estar certos do caminho estão certos de caminhar e nas veias misturadas no sangue que ferve fundo a esperança a vontade a certeza de ser gente de ser mundo vêm da raiz do tempo os homens do meu país sem que saibam sem que lembrem têm bem fundo de si a raiz e sua chama