Hong Kong | Imposto sobre bebidas alcoólicas reduzido para reactivar vida noturna

Com a implantação das novas medidas, Hong Kong tenta recuperar a dinâmica pré-pandemia e conseguir manter os seus residentes a consumir internamente em vez de os ver a viajar para o Interior nos fins-de-semana

 

 

O líder de Hong Kong anunciou ontem um corte no imposto sobre bebidas alcoólicas, numa altura em que o centro financeiro asiático espera reavivar a reputação como destino turístico com vida nocturna e gastronomia vibrantes. Depois de promulgar uma lei de segurança nacional, como definido por Pequim, o Chefe do Executivo, John Lee, enfrenta agora desafios económicos e rivais regionais como Singapura, Japão e até cidades da China continental.

As mudanças nos estilos de vida dos residentes de Hong Kong e uma vaga de emigração da classe média durante a pandemia da covid-19 reduziram a procura local.

Muitos residentes preferem agora passar fins de semana no interior da China, atraídos pelos preços mais baixos e por uma maior variedade de opções de entretenimento. Os visitantes do continente também estão a gastar menos na cidade do que antes.

É comum ver lojas vazias nas zonas comerciais mais populares da cidade e as receitas dos bares da cidade diminuíram cerca de 28 por cento no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período de 2019, indicam dados oficiais preliminares.

No discurso político anual, Lee disse que a taxa de imposto para bebidas alcoólicas com um preço de importação de mais de 200 dólares de Hong Kong vai ser agora reduzida de 100 por cento para 10 por cento acima desse preço.

O responsável disse esperar que esta política promova os sectores da logística, do armazenamento, do turismo e da restauração de luxo. Em 2008, quando Hong Kong aboliu as taxas sobre o vinho, as importações aumentaram 80 por cento num ano e a cidade acolheu centenas de novas empresas relacionadas com o vinho.

Lee, um antigo secretário de Segurança escolhido por Pequim para liderar a região administrativa especial chinesa, fez aprovar a nova lei de segurança em Março.

Esta lei seguiu-se a uma lei semelhante imposta a Hong Kong por Pequim em 2020, na sequência dos protestos que abalaram a cidade em 2019. Desde que entrou em vigor, muitos dos principais activistas locais foram processados e outros exilaram-se. Para o governo regional, as leis de segurança são necessárias para a estabilidade do território.

Estas mudanças políticas dramáticas levaram também muitas famílias de classe média e jovens profissionais a emigrar para Reino Unido, Canadá, Taiwan e Estados Unidos.

Bolsos cheios, portas abertas

Para atrair mais emigrantes ricos, Lee reviu também um esquema que concede residência aos candidatos que invistam um mínimo de 30 milhões de dólares de Hong Kong em certos tipos de activos. A partir de ontem, as compras de casas avaliadas em 50 milhões de dólares de Hong Kong, ou mais, podem ser contabilizadas até um terço do requisito, disse.

Horas antes do discurso de Lee, um pequeno grupo de activistas da Liga dos Sociais-Democratas organizou uma pequena manifestação diante da sede do governo. Exigiram o sufrágio universal para as eleições para o executivo e um regime de pensões de reforma: “regresso à democracia, melhoria das condições de vida das pessoas”, gritavam.

17 Out 2024

Os nove bares magníficos de Hong Kong, para alguns

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ove dos bares que a Drinks International distingue como os 50 melhores da Ásia encontram-se em Hong Kong (18%). Singapura mostra igualmente nove casas neste conjunto, uma parcela que ajuda a promover a feroz competição que entre as duas cidades se mantém a vários níveis. Tóquio ocupa o terceiro lugar com oito. Seguem-se Bangkok (6), Seul e Taipé (4), Xangai (3), Jacarta e Manila (2) e Kuala Lumpur, Tainan e Pequim (1).

A criteria que subjaz a esta selecção já aqui foi isolada a propósito de um artigo semelhante mas de alcance global. Repete-se:

Supremo é a qualidade das bebidas misturadas, nuclear numa altura em que a regressada moda do cocktail mostra uma vitalidade que já teve no passado e uma propensão experimentalista que é nova. Muitos dos membros da Academia são bartenders e a maior parte dos elogios recai sobre a qualidade dos cocktails.

Uma parcela muito importante é dedicada à hospitalidade, o que não é a mesma coisa que serviço. É a capacidade de fazer o cliente ocasional ou regular sentir-se bem vindo e acarinhado.

Muito elogiada em bares desta classificação, é o constante apuramento ou reinvenção dos cardápios e a atenção dispensada aos pormenores: o gelo, a música, o serviço, a ambiência.

A distinção atinge-se ainda quando um bar exibe uma oferta generosa de uma bebida particular, whisky ou, por exemplo, gin ou rum.

Os nove bares magníficos de Hong Kong situam-se todos (o que é suspeito) na ilha de Hong Kong e, com excepção do Lobster e do Mahalo, respectivamente em Admiralty e em Wanchai, ficam todos em Central, a pouco mais de cinco minutos a pé uns dos outros.  Deve lembrar-se que numa cidade como Hong Kong estão constantemente a abrir bares novos e que acompanhar de um modo compreensivo todos os seus movimentos seria impossível, ou, no mínimo, perigoso. São, por ordem da distinção que a Drinks International faz, os seguintes:

Lobster bar and Grill (4º lugar na classificação geral dos bares asiáticos). Estamos em terreno firme. Basta entrar no Lobster – que é um bar contíguo a um restaurante – para perceber, pela movimentação dos funcionários, eficientes e simpáticos mas que não interferem na esfera do cliente, que estamos num bar de hotel a sério (fica no Island Shangri-La).

Não tendo uma lista muito extensa de cocktails (e não tendo praticamente cocktails especiais) prova que não se trata dum sítio da moda mas de um sólido bar de hotel com anos de vida. O resto da lista é extensa e bem preparada, a dos vinhos – que já de si é generosa – podendo ser completamentada com a do Restaurante Petrus. A lista em si é um primor, com escolhas rigorosas e perfeitamente informadas. Nos vinhos fortificados encontramos 2 Pineau des Charentes, 8 Portos, 4 Jerez e 3 Madeiras.

A cerveja à pressão, como acontece no Captain’s Bar do Mandarin, é servida no mais fresco dos continentes, em tankards de metal. Muito importante: abre às 10 da manhã, tem zona de fumo em terraço e um balcão muito acolhedor. Nota máxima no género.

Quinary (6º). Traz consigo a fama de alguns dos seus mixordeiros e distingue-se pela mistura molecular. Tudo o mais, retirado da minha fraca experiência, não me seduz – da decoração ao acolhimento, num lugar aberto à rua, sem que se permita intimidade. Mas, lembre-se, os cocktails, cerca de vinte, são de qualidade superior. É uma embirração particular.

The Pontiac (19º). Apresenta-se com a pretensão de ser um bar de bairro, amável e barulhento. É famoso e fica num lugar, no Soho, bem conhecido. Um bar de tipo Americano com bartenders intrusivos, no bom sentido do termo, muita animação e pouco decoro. Do cimo do balcão algumas das serviçais entornam espíritos na garganta dos clientes. No fim tudo parece um pouco inofensivo.

Honi Honi (29º). Este é um cocktail lounge tiki. Em Macau não há. Um bar tiki é um bar de inspiração polinésia, pleno de ícones, coisinhas de palha e arbustedo. Pode ser irritante mas os cocktails, que tendem a ser um pouco diferentes, de sabor tropical, têm uma clientela certa e vêm em continentes exóticos. Tem zona exterior e muitas almofadas. Faz parte de um package bem identificado e repetitivo.

Stockton (31º). De aspecto muito clássico e britânico, de luzes baixas, dedica especial atenção aos cocktails, que não são muitos mas são calorosamente pensados. Tem comida que anda em volta do peixe e do marisco. Tem várias regras e fica-se com a impressão que se esforçam demasiado. Tem muito uísque. Se a precisão de bebida se centrar na ideia de um bar confortável e conservador mas que ofereça bebidas da moda, o Stockton é imbatível.

Zuma (39º). Fica no Hotel Mandarin/Landmark (não no antigo e primeiro Mandarin onde existe um bar, o M, recipiente regular de elogios nesta página e que tem qualidade mais que suficiente para figurar nesta lista). Este Zuma é um Izakaya Contemporâneo. Não será preciso acrescentar muito mais. Desenho contemporâneo mas sem ousadias que entusiasmem, muito amplo, bom para grupos. Tem muito saké e muitos cocktails, uns 40, muitos deles com esta bebida japonesa. Sendo um izakaya também tem comida, maki, espetadas, etc. A sua superfície não permite, no entanto, a experiência íntima de um pequeno izakaya de bairro. Isto é uma coisa grande e urbana, com música quase alto. Tem um longo balcão, bom, e espaço para fumo no andar inferior. (só abre às 5).

Ori-Gin (44º). Um pouco difícil de definir. Quase 40 cocktails, incluindo uma mixórdia encantadora, criada por Antonio Lai, com vodka e sumo de yuzu – chama-se Dusk & Dawn. É um bar pequeno, aberto à rua, num lugar muito central (Wyndham Str., 48), a cerca de 15 segundos do Stockton. Especializa-se, como o nome indica, em gins – conta com cerca de 85 gins diferentes. Tem uma rede superior ao balcão que o distingue mas não causa particular frisson. Note-se que mesmo sendo um pequeno bar tem uma lista generosa e muito cuidada nas suas escolhas.

The Envoy (45º). Fica no Hotel Pottinger, uma estalagem de luxo suficiente e construção recente. É um bar de hotel, pretencioso mas bom. O pessoal de misturas leva a cocktalia demasiado a sério mas as mixórdias são excelentes. Mais de 25 são de assinatura, presumo que grande parte delas em vasilhame bastante precioso. A obsessão com a inovação é um pouco infantil mas o resultado final justifica uma visita. A zona de balcão é muito atraente e britânica e à medida que se penetra mais profundamente no The Envoy alcança-se, uma vez mais, uma surpresa: um terraço delicioso. É também um restaurante.

Mahalo Tiki Lounge (47º). Outro tiki (da mesma empresa do Honi Honi), este o que fica mais longe do centro, em Wanchai. É num 29º andar. Esta posição elevada permite que o terraço, onde se pode fumar, ofereça uma boa vista. Não é muito irritante e tem boa vibração. Oferece, como é normal, muitos cocktails (senão não figuraria nesta lista) com base de rum. Mesmo quem não mostra inclinação por tikis pode frequentar este sem medo – não exagera nas plantas, nas palhinhas e nos ídolos de madeira – e reconciliar-se com o seu lado polinésio. O Zombie é um excelente cocktail e a Senhora Letícia uma companhia (que fez um dia no Hotel Mandarin de Macau em Julho deste ano) a frequentar.

Nota 1: O leitor, avisado, sabe que o melhor bar do mundo não é o que faz melhores cocktails mas aquele em que melhor se sente, pelo que estas considerações devem ser tomadas como uma apreciação de uma lista com características próprias – obsessivamente centrado nos cocktails. Nenhum dos meus bares preferidos de Hong Kong, com a possível excepção do Lobster, figura nesta lista. Não é surpreendente.

Nota 2: Tristemente, nenhuns destes nove bares apresenta o menor arrojo no seu desenho, tal como acontece com os que vão aparecendo em Macau. Permanece o ar britânico do The Envoy e do Stockton, a estética Tiki tropicalóide do Honi Honi e do Mahalo, o desenho muito cuidado mas pouco ousado do Zuma e do Lobster, que são lounges de restaurantes, o desinteressante (decorativamente) Quinary ou o aspecto Retro-Industrial-Roqueiro do The Pontiac. O Ori-Gin tenta mas, a nível do desenho, pouco mais é que simpático.

Nota 3: Abriram este ano de 2016 em Hong Kong dois bares desenhados pelo relutante noctívago Ashley Sutton, conhecido pelos bares que concebeu em Bangkok. Os de Hong Kong chamam-se Ophelia (em Wanchai) e The Iron Fairies (Soho).

25 Out 2016