Andreia Sofia Silva EventosBABEL | Programa “Arte na Escola” apresenta oficinas artísticas e debates Arranca hoje o programa educacional e artístico “Arte na Escola”, que importa o modelo que a Fundação Serralves, em Portugal, pratica com várias escolas. A associação BABEL trouxe este programa em parceria com a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau, destinado a alunos, pais e educadores. A iniciativa começa hoje com um workshop na Casa de Portugal em Macau e inclui palestras com Guilherme D’Oliveira Martins e Álvaro Laborinho Lúcio Para que serve a escola e como nos podemos servir dela? Como pensar as grandes questões do nosso mundo, como fazer usufruto da educação de que dispomos? Estas são algumas das questões às quais o programa “Arte na Escola” pretende dar resposta. Inicialmente pensado pela Fundação Serralves, em Portugal, para ser desenvolvido com as escolas, este programa foi adaptado a Macau, e mais especificamente ao universo educativo da Escola Portuguesa de Macau (EPM), pela associação BABEL e pela Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEPM). “Arte na Escola” inclui palestras sobre educação e questões de cidadania, além de workshops destinados à comunidade escolar. O primeiro acontece hoje na escola de artes e ofícios da Casa de Portugal em Macau (CPM) e intitula-se “Como nasce uma imagem?”, contando com a colaboração de Isaac Pereira. O objectivo desta iniciativa é a descoberta da fotografia analógica, numa altura em que o digital revolucionou essa área. Isaac Pereira, nascido em 1966, tem como nome artístico Ezaak Ez e formou-se em comunicação pela Universidade do Minho, e em fotografia pelo Ar.co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa. Ao HM, Margarida Saraiva, co-fundadora da BABEL, falou de um programa que “é particularmente desenhado para a EPM” e que traz “formas de reflexão em torno da arte”. “Formulámos os workshops em torno das questões fundamentais para os alunos da EPM, na forma como elas são identificadas pelos próprios pais”, explicou Margarida Saraiva. “Consideramos que há uma escassez ou falta de oportunidades para as crianças conhecerem os processos artísticos contemporâneos. Este programa parte sempre de obras de arte contemporâneas e, através delas, questiona o mundo”, frisou. Exemplo disso é o olhar sobre a obra que Barbara Kruger expôs no The Geffen Contemporary (MOCA), com o nome “Sem título (perguntas)”. A iniciativa “Quem está acima da lei?” acontece no dia 5 de Abril na EPM, entre as 10h e as 13h, estando aberta a todos os interessados e conta com a participação de Diogo Baptista, licenciado em Direito pela Universidade Católica Portuguesa. Natália dá o mote A 17 de Abril tem lugar, também na EPM, a oficina “O que será que nos alimenta?”, com Valentina Thayer, fundadora da Macau Moons. Esta actividade parte da prerrogativa deixada pela poetisa Natália Correia, “A poesia é para comer!”. “O que será que nos alimenta? Serão frutas e vegetais? Proteínas e fibras? Filmes e livros? Arte e poesia? Ou será tudo isso em conjunto? Seja qual for a resposta encontrada pelos estudantes durante a oficina, o certo é que talvez seja necessário equacionar de forma mais vasta a questão do alimento”, explica a brochura do evento. Ainda na área das artes estará em destaque a obra “A Noiva”, de Joana Vasconcelos, com a oficina “Haverá algo de especial no corpo de uma mulher?”, também com Valentina Thayer. Esta oficina está agendada para 24 de Abril. “Abecedário ou Oiradeceba?” é o nome dado à oficina que acontece entre os dias 1 e 3 de Maio e que está pensada para crianças com mais de 9 anos. Acontece na EPM entre as 15h e as 17h30 com a própria Margarida Saraiva como mentora. “Já imaginaste imprimir o teu próprio rosto? é uma outra oficina agendada para os dias 29 e 30 de Março e também para 1 de Abril, entre as 10h e as 13h, e que terá como participante Gerald Estadieu, professor e coordenador de Investigação do departamento de design da Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José (USJ) desde 2009. “Como se pode usar uma máscara” acontece nos dias 5 e 6 de Junho, na EPM, e é uma oficina que contará com a coordenação não só de Margarida Saraiva mas também de Elisa Vilaça, da CPM. Questões do nosso mundo Além do universo artístico, o programa “Arte na Escola” traz dois pensadores portugueses sobre as questões da educação e da cidadania, sem esquecer a sua vasta formação e experiência na área do Direito. São eles Álvaro Laborinho Lúcio, que fala numa palestra online na Fundação Rui Cunha dia 19 de Abril, e Guilherme D’Oliveira Martins, que fala no dia 21 de Abril. “Queríamos fazer um programa que fosse muito interdisciplinar e que abordasse a educação não só do ponto de vista prático, mas também que oferecesse algum enquadramento teórico e filosófico até, mais vasto, às questões da educação na contemporaneidade”, disse Margarida Saraiva. A co-fundadora da BABEL pretende, com estas reflexões, “intervir e contribuir para uma transformação concreta da forma como se pensa a educação, em particular no contexto de uma comunidade específica que é aquela que existe em torno da EPM”. “O que significa realmente ser cool?” é outra das palestras programadas e que acontece em parceria com o projecto Be Cool, da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM). Para dia 29 de Maio está programada a palestra “I Upload, Therefore I exist” que parte da obra da artista de Macau Wong Weng Yo, exposta em 2018. A conversa terá lugar no auditório da EPM entre as 15h e as 17h e versa sobre o poder dos algoritmos e das redes sociais nos dias de hoje. Haverá ainda lugar, entre os dias 11 e 25 de Abril, à iniciativa “A arte como desporto ou o desporto como arte?”, que tem a colaboração do Clube de Rugby de Macau. “Como potenciar a diversidade linguística?” Está agendada para o dia 29 de Maio, no auditório da EPM, e conta com José Pascoal, autor de programas e referenciais para o ensino, avaliação e aprendizagem da língua portuguesa. Este “apresenta perspectivas teóricas e abordagens práticas a partir da sua própria experiência, capazes de abrir novos horizontes ao convívio e aprendizagem muitas vezes difícil de gerir, de alunos que não dominam a mesma língua”. “O título do programa comunica uma ideia, que é a mais importante do programa inteiro: é preciso questionar o mundo contemporâneo”, adiantou Margarida Saraiva ao HM. “É preciso imaginarmos o que vai ser a escola [EPM] no futuro, sobretudo porque estamos num tempo em que é possível aprender tudo o que se deseje em qualquer sítio e hora. Vai ser difícil explicar aos nossos jovens o que é a escola e para que serve.” A BABEL gostava de levar o programa “Arte na Escola” a todas as instituições de ensino em Macau, mas tal não foi ainda possível de concretizar. “Os projectos vão-se adaptando. E agora foi possível realizá-lo no contexto possível da EPM e essa é uma oportunidade que não pode ser menosprezada de maneira nenhuma.” Num território onde “há várias culturas, que são diferentes”, Margarida Saraiva, que também faz parte da direcção da APEP, não quis desperdiçar esta oportunidade. “Quando falamos de educação falamos de valores e aí temos de escolher o que ensinar e porquê. Há várias possibilidades de posicionamento na área da educação. A nossa cultura, a portuguesa, é diferente e essa deve ser assumida e expressa”, rematou.
Sofia Margarida Mota EventosFotografia | Projecto de Nuno Cera revela os paradoxos da paisagem local Termina hoje a primeira residência artística promovida pela associação cultural Babel que levou o artista visual Nuno Cera a trabalhar e viver durante um mês em Macau. Da experiência por cá vivida, em termos conceptuais, o artista destaca o confronto entre o novo e o velho e o choque identitário em que a cidade vive [dropcap]N[/dropcap]uno Cera, que já esteve no território na altura da transferência de administração, passou um mês em Macau a explorar a cidade através da captura de imagens. A oportunidade surgiu na sequência da primeira residência artística promovida pela Associação Cultural Babel, apoiada pela Fundação Oriente, e permitiu ao artista trabalhar e viver durante um mês no território. A estadia revelou-se com um interesse acrescido, visto poder testemunhar com este regresso, as mudanças “drásticas” que se deram a nível de paisagem e urbanismo. “Estive há 18 anos em Macau, durante a transferência de administração, por isso tenho a possibilidade de fazer uma comparação em que registo uma cidade que se transformou totalmente com os novos territórios ou com toda uma zona do Cotai que na altura não existia”, começou por contar ao HM. Aliás, é o crescimento da urbe que tem pautado muitos dos projectos a que o artista se dedica. Dentro do trabalho que tem vindo a desenvolver, intitulado “Futureland”, Nuno Cera fotografou Istambul, Cairo, Dubai, Los Angeles, Cidade do México, Xangai, Hong Kong, Jacarta e Mumbai. Do trabalho realizado em Macau, Nuno Cera destaca o confronto entre os diferentes tempos das construções que ocupam o território, sendo que as fotografias que tem feito “abordam em particular esta questão em que o novo e o velho estão ao mesmo tempo muito próximos e muito distantes”, explicou. A exploração da urbe está presente no trabalho de Nuno Cera desde o tempo em que viveu na Amadora. “Sendo um subúrbio de Lisboa, em que se sente a periferia e o suburbano”, o afastamento do que está central levou o artista “ao encontro das coisas que estão à margem”. Foi também nessa altura que se começou a interessar por arquitectura, nomeadamente “do que transmite e das sensações que lhe estão associadas”. Relativamente ao que sentiu em Macau, Nuno Cera destaca “uma certa decadência que implica o conceito de passagem do tempo, de sujidade e que tem um valor que por vezes pode ser bastante estético e romântico”. Por outro lado, é um território que possibilita uma experiência “quase distópica, não real que transmite a sensação de uma identidade que não é muito óbvia””. O poder do artificial Os edifícios dos casinos não passaram indiferentes ao olhar do artista que inaugurou o programa de residência da Babel. “Não podia deixar de destacar toda aquela artificialidade, todo o capitalismo e esta atracção pelo consumismo que me interessa em especial até pela contraposição com outros locais que existem no território”, refere o artista. O resultado deste trabalho vai ser dado a conhecer através de uma exposição que se realiza em Maio do próximo ano. Na mostra vai estar patente a convivência entre os diferentes “mundos que habitam a cidade e a relação entre a natureza e o urbano na sua dualidade e contraste”. Do trabalho que desenvolveu pela região, constou ainda a deslocação a Hong Kong e a Cantão o que enriqueceu os interesses e resultados. “Foram locais onde tive experiências urbanas muito intensas, foi muito interessante ver como Cantão está a crescer e a desenvolver-se e como a sociedade se relaciona com isso”. Em Hong Kong, a circulação de pessoas foi um dos aspectos que mais impressionou a lente de Nuno Cera, nomeadamente pela necessidade de vários tipos de passagens para se chegar aos locais numa cidade vertical em que se anda muito em plataformas. Da experiência que tem no trabalho sobre cidades, Nuno Cera revelou a tendência dos centros urbanos se tornarem cada vez mais parecidos entre si. “Obviamente que há aspectos que identificam cada um dos locais, mas há cada vez mais muita coisa muito parecida, como se fosse uma espécie de globalização da urbe”. Apesar da curiosidade pela vertente humana que as cidades integram, as pessoas ficam de fora das imagens de Nuno Cera. “Tenho sempre um certo pudor em fotografar pessoas directamente. Acho que vou contra a sua privacidade”, esclareceu. O projecto que se debruça sobre o território vai, em princípio, chamar-se “Blured City” – cidade desfocada “mas pode ainda mudar”, apontou. O título, para já provisório, faz sentido para o artista uma vez que “Macau é uma cidade desfocada porque tem duas identidades que estão em confronto e em que se perde um pouco de uma identidade original”.
Sofia Margarida Mota EventosFotografia | Nuno Cera é o primeiro convidado da residência artística da Babel A primeira edição do programa de residência artística promovido pela associação Babel tem o fotógrafo Nuno Cera como primeiro convidado. O resultado da estadia do artista em Macau, que tem duração de um mês, será apresentado em Maio de 2019 [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uno Cera, fotógrafo e artista visual, é o primeiro convidado da Babel para o novo programa de residências artísticas, uma iniciativa da associação cultural Babel que dá os primeiros passos e pretende ter periodicidade anual. A ideia é trazer um artista de fora para viver e trabalhar durante um mês em Macau com o intuito de apresentar o fruto desse trabalho em exposição, explica Margarida Saraiva, curadora do projecto e responsável pela Babel. “No seu conjunto, o programa de residências criará uma memória visual, literária e contemporânea da cidade de Macau, produzindo novo conhecimento a partir de uma diversidade de olhares”, acrescenta. De acordo com a responsável, a residência tem como objectivo promover o intercâmbio internacional e explorar práticas artísticas e curatoriais experimentais, fundadas na investigação transdisciplinar. O projecto funciona por convite porque “para alguns artistas faz muita diferença o espaço em relação ao qual a obra se desenvolve, enquanto para outros nem tanto”, refere a curadora. Como o programa tem a finalidade de potenciar novos olhares sobre Macau, “não faz sentido que venham para um projecto com estas características artistas que não usufruam da influência do espaço onde se encontram”, sublinha Margarida Saraiva. Outro dos detalhes fundamentais nesta iniciativa é o facto destes olhares terem de ser externos ao território, ou seja, “a forma como artistas do mundo inteiro olham para a nossa cidade e de que forma ela pode influenciar a sua obra”, explica. Mas os desígnios do programa não se ficam por aqui. De acordo com Margarida Saraiva, é fundamental que da iniciativa resultem pesquisas que “façam sentido para o território, para que fique o registo de uma memória segundo uma perspectiva externa”, aponta. A cidade como alvo Nesta primeira edição, Nuno Cera foi o convidado a integrar a residência artística, que decorre desde 15 de Setembro e se estende até ao próximo dia 15. “É um artista que trabalhou dentro de uma investigação à escala global acerca do desenvolvimento das cidades”, conta a curadora. O trabalho de Cera aborda questões espaciais, a arquitectura e situações urbanas, “através de formas ficcionais, poéticas e documentais”. Dentro deste período de tempo, o artista desloca-se ainda a Cantão e Hong Kong e, ao longo da viagem, dará continuidade a uma investigação que é já longa no seu percurso e em que “explora a terra e o mar, o interior e o exterior, a paisagem e a construção, o cheio e o vazio, o espaço e o tempo, a arquitectura e a música”, aponta a curadora. Dentro do trabalho que tem vindo a desenvolver, intitulado “Futureland”, Nuno Cera fotografou Istambul, Cairo, Dubai, Los Angeles, Cidade do México, Xangai, Hong Kong, Jacarta e Mumbai. De acordo com Margarida Saraiva, o fotógrafo costuma debruçar-se “sobre a forma como a cidade se desenvolve e expande”. “Estamos a falar de megalópolis e por isso achámos que poderia ter interesse juntar a estas cidades mais uma visão, desta feita sobre Macau, e por esta via colocar o território em diálogo com outras cidades do mundo”, reitera. A exposição dos trabalhos realizados por Nuno Cera em Macau vão ser expostos na Casa Garden a partir de 2 de Maio do próximo ano. Da mostra vão ainda constar outras obras do fotógrafo, uma vez que a ideia não é apenas mostrar o trabalho que fez no território, mas também o realizado previamente em outras cidades do mundo dentro do projecto “Futureland”. O artista Bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian para integrar uma residência artística na Kunstlerhaus em 2000, em Berlim, Nuno Cera publicou em 2002, com o arquitecto Diogo Seixas Lopes, o livro “Cimêncio”, um levantamento de paisagens suburbanas. Foi nomeado para o prémio Besphoto 2004 e participou numa residência artística em Nova Iorque, em 2006. Em 2007 e 2008 realizou o vídeo Sans, Souci e o projecto Futureland, uma investigação artística sobre 10 metrópoles com o apoio da Dgartes – Ministério da Cultura de Portugal. Em 2012 foi seleccionado na XX edição da Bolsa Fundación Botin, Santander, com o projecto The Symphony of the Unknown. Nuno Cera integrou ainda a residência artística na International Artist Residency Récollets, em Paris, no ano de 2013, além de ter fotografado para os Guias de Arquitectura Álvaro Siza e Eduardo Souto de Moura. Este ano, participou na representação Portuguesa na Bienal de Arquitectura de Veneza. Entre as suas exposições individuais mais recentes destacam-se: “Dark Forces / V”, “Poesia Mineral – Eduardo Souto de Moura”, “A Pressão da Luz – Álvaro Siza”, “Vestiges du Réel”, “Tour d´Horizon | Amadeo de Souza-Cardoso”, e “Symphony of the Unknown”.
Sofia Margarida Mota EventosWong Weng Io apresenta “I upload, therefore i exist” na Casa Garden: “Como é que se sabe que se é humano?” A exposição “I upload therefore I exist”, da artista local Wong Weng Io, vai ser inaugurada no próximo dia 8 de Maio na Casa Garden. A mostra organizada pela associação Babel, e com curadoria de Margarida Saraiva, pretende explorar a relação e impacto entre a existência humana, a tecnologia, a informação, os media, a identidade e a inteligência artificial. Para a artista este trabalho reflecte o mundo em que se move e a forma como o apreende O que vamos ver nesta exposição? Vamos ter quatro espaços, cada um com uma instalação. No primeiro estará um trabalho que se chama a “A omnipresença do texto”. A instalação é inspirada em “Éter”, um romance de ficção científica que se passa nos Estados Unidos, escrito por Zhang Ran e é uma abordagem a uma sociedade em que as pessoas livres não encontram outro espaço que não seja a linguagem gestual e silenciosa para se expressar, num mundo completamente vigiado. Peguei em excertos deste texto, imprimi e tapei algumas palavras. No segundo espaço, temos “A omnipresença das imagens”. É uma instalação com 1200 postais feitos de imagens distribuidas em três categorias: o mundo, os humanos e o lixo. A terceira sala apresenta “A omnipresença do complexo”, uma obra composta por caixas de luz, com citações seleccionadas a partir de frases de robots que questionam humanos: “Como é que se sabe que se é humano?” Também há respostas às perguntas sobre o que está para vir: O futuro será “uma nova estrutura social”, “novos modelos económicos”, “novos modelos de negócios” e “uma nova cidadania”. As citações tratam da inteligência artificial e da robótica por detrás de questões existênciais. O último espaço aborda a questão do tempo, memória, do dados pessoais e da mudança. Tem o nome de “Passado” e mostra os meus últimos 2000 mil dias de vida. Estamos perante uma reflexão contemporânea que questiona a sociedade e a sua relação com a tecnologia? Já Martin Heidegger questionava o papel da tecnologia e qual a sua essência. Para este autor, a tecnologia iria preencher o mundo. No entanto, na sua essência, a tecnologia não é nada mais do que a construção e uma moldura que depois não tem conteúdo. Por outro lado, o facto de ter denominado grande parte dos espaços desta exposição de “omnipresença” tem que ver com o excesso de informação e de imagens que estão actualmente em todo o lado. A informação é demasiada e no fim, acaba por ser nada. Por isso mesmo, por ser demais. O que quero apresentar é esse nada através da apresentação de tudo através de imagens, lixo e pessoas. É como apresentar a própria realidade e a forma como a informação nos é exposta actualmente. É muita coisa e parece que está tudo partido em pequenos pedaços que fazem com que seja muito difícil compreender o que vemos e o que nos chega. Esta exposição é isso e é um reflexo do meu estado. Não chego a nenhuma conclusão porque recebo demasiada informação. Se calhar cada imagem que apresento na sala dos postais, se estiver isolada, não representa nada. Mas tendo aqueles imagens todas juntas, consigo reflectir a forma como a informação nos é exposta. Aborda a inteligência artificial. Tem-se falado que muitas das funções humanas vão ser substituídas pelas máquinas inteligentes. Acha que isso vai acontecer também com a arte? No que respeita à inteligência artificial, penso que pode vir a ser uma ferramenta de ajuda no futuro. Penso que realmente podem vir a substituir os humanos em muita coisa e podem mesmo estabelecer a sua forma de comunicação activa com as pessoas. Podem falar e também podem criar, mas nunca vão criar como criam os humanos. Terminou o curso de Belas Artes na Austrália com distinção. O que a levou a regressar a Macau? Voltei porque tinha saudades da minha família. Por outro lado, não podia lá permanecer por não ter visto. Acha que Macau tem espaço e condições para crescer enquanto artista? Penso que qualquer lugar que tenha sítios disponíveis para expor os trabalhos dos artistas são ajudas para o desenvolvimento de uma carreira. Quanto a Macau, penso que é uma região que apoia os artistas. O território tem a sua própria história na arte. Não tem a tradição do Reino Unido ou dos Estados Unidos, mas o Governo tem subsídios destinados às artes que são muito valiosos para a promoção da arte que se faz por cá. O programa da associação Babel que promove os jovens artistas locais é um bom exemplo disso. Esta exposição faz parte dele. O Governo apoia oficialmente eventos de grande envergadura, como é o caso do Festival das Artes, e não deixa de apoiar associações que se dedicam à divulgação de artistas mais independentes. A AFA, o Armazém do Boi a Babel são outros bons exemplos de associações que têm os apoios oficiais e que promovem os artistas locais. Babel, uma torre segura A associação sem fins lucrativos Babel tem no seu programa anual a divulgação de artistas locais. Este ano a convidada foi Wong Weng Io. De acordo com a responsável pela Babel, Margarida Saraiva, o contacto com o trabalho de Wong Weng Io foi feito depois de uma visita a uma exposição no Armazém do Boi em que ficou impressionada com uma instalação da artista. “Tratava-se de uma impressão de 27 metros, com dez dedos de uma pessoa. Os dez dedos tinham sido passados por um scanner e criavam um padrão regular acerca da identidade”, referiu ao HM. Depois de ver um outro trabalho de Wong Weng Io, Margarida Saraiva não tive duvidas. “Decidi convidar Wong Weng Io para abordar estes tópicos relacionados com os media sociais, o mundo virtual e a inteligência artificial numa exposição”, apontou. Quanto aos planos futuros da associação, a Babel está a trabalhar para a realização de uma residência artística. A ideia é ter artistas portugueses em Macau, e para o efeito Margarida Saraiva convidou o fotógrafo português Nuno Cera que tem vindo a recolher imagens de cidades em diferentes partes do mundo. O projecto chama-se “Futureland” e vai estar em Macau nos meses de Setembro e de Outubro. Nuno Cera vai ainda registar o desenvolvimento da cidade e “este projecto estará em diálogo com as outras 12 cidades que já registou”, esclareceu a responsável da Babel.
Joana Freitas EventosBabel | Macau Architecture Promenade de 10 de Outubro a 1 Novembro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]mês de Outubro é o mês internacional da arquitectura e, em celebração disso mesmo, a Babel lança um novo projecto intitulado Macau Architecture Promenade (MAP). Com inauguração marcada para sábado, às 18h00, no Albergue SCM, o evento apresenta um programa que se divide em exposições e espectáculos e que se prolonga até dia 1 de Novembro. Para celebrar a arquitectura, haverá três exposições e espectáculos, conversas e literatura, projecções de filmes e vídeo-arte – umas no exterior, outras em 3D – mais de dez sessões de workshops e quatro intervenções em espaços públicos. O MAP envolve mais de 30 artistas e tem um objectivo bem claro: mostrar “a arquitectura nas suas relações com outras artes e com o espaço público, celebrar a cultura urbana, o experimentalismo e as práticas inovadoras com o propósito de inspirar novas formas de pensar a cidade”, explica a organização. A abrir o MAP, no dia 10, está o lançamento do livro “Macau Sessions. Dialogues on Architecture and Society”, de Tiago Saldanha Quadros, director do Departamento de Arquitectura da Babel e professor na Universidade de São José. O livro reúne conversas com “figuras importantes no campo da arquitectura e do urbanismo” e fotografias de Ieong Man Pan. Programa extenso A 17 de Outubro, às 17h00, inaugura a exposição “Treeplets”, na Universidade de Macau. A mostra, que se estende até dia 1 de Novembro, reúne estruturas de bambu de João Ó e Rita Machado, da empresa de Macau Impromptu. No mesmo dia e local, poderá assistir ao filme “The Human Scale”, de Andreas Dalsgaard, às 20h00. O dia seguinte é dedicado a um workshop, das 17h00 às 19h00, intitulado “Building With Straws”, antes dos dias 24 e 25 de Outubro, quando a MAP convida o público a ir ao Centro de Ciência de Macau. Lá, das 10h00 às 18h00, as crianças poderão fazer uso do playLAND, um set de bóias de praia à escala humana. Seguem-se os espectáculos de rua “Bodies in Urban Spaces”, no dia 31 de Outubro, às 10h00 e às 19h00. Dos lagos Nam Van às Ruínas de São Paulo vai poder assistir a artistas que vão juntando o corpo humano à arquitectura, desafiando regras e comportamentos. É Cie. Willi Dorner quem tem a responsabilidade de levar a cabo o projecto, sendo que vai ainda reunir 25 dançarinos locais que serão coreografados pelo artista de Viena. Na calha estão ainda um conjunto de visitas guiadas a certos quarteirões de Macau, de forma a que o público possa “descobrir novas formas de ver a cidade”, através de passeios conduzidos por especialistas de arquitectura, património, planeamento urbano e festividades locais. Além disso, um conjunto de actividades educativas preenche o mês de Outubro para que crianças, famílias e adultos possam aprender em conjunto. “O MAP destaca o papel da arquitectura e da arte no desenvolvimento cultural, urbano e social. A questão que o MAP procura abordar é muito simples: qual o papel da arquitectura e da arte no construção de melhores cidades, maior qualidade de vida e futuros mais sustentáveis? E ainda… quão público é o espaço público?”, adianta a Babel, uma organização cultural sem fins lucrativos focada na arte contemporânea, arquitectura e ambiente. Coordenado pela BABEL, o MAP conta com a colaboração de mais de 20 organizações, desde universidades até infantários, museus e associações culturais, instituições públicas e privadas.