Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteAntónio Monteiro, presidente da Associação dos Jovens Macaenses: “É necessário dar lugar às novas caras” Decorre hoje, na Fundação Rui Cunha, o debate que pretende ir além da questão comum do lugar da identidade macaense e antes olhar para o papel ou o contributo desta etnia no Macau dos nossos dias. “Creative Dialogues & Discovery with Macanese” é organizado pela Associação dos Jovens Macaenses. O seu presidente, António Monteiro, considera fundamental chamar as novas gerações e tentar fazer diferente para que a comunidade não se dilua Que objectivos pretendem atingir com este evento? Anteriormente foi promovida, por diversas vezes, a discussão sobre a identidade macaense, mas desta vez achámos mais pertinente mostrar novas caras, falar sobre os macaenses, e também falar da situação corrente de Macau, pois decorreram muitas alterações depois da pandemia e surgiram novas abordagens no território, com as ideias de [construção] de um centro mundial de turismo e lazer, a plataforma comercial que Macau é entre a China e os países de língua portuguesa, mas há agora novas vertentes como a cidade criativa de gastronomia, a integração de Macau em Hengqin, e a ligação de Macau como centro de espectáculos e de desporto, além de toda a riqueza patrimonial que já existe. Gostava que, através da sessão, promover novos diálogos e fazer um brainstorming que pode levar a novas abordagens e dúvidas sobre a forma de os macaenses contribuírem para a sociedade. É importante que o público participe para que haja uma maior interacção de ideias, incluindo as comunidades portuguesa e chinesa. Queremos abranger todo o tipo de público, para que se possa fomentar todo o tipo de ideias e medidas. Uma das grandes questões é o lugar que a comunidade macaense terá face a todas estas alterações que Macau está a sofrer. Como é que esta se pode ir adaptando, sobretudo no que diz respeito às novas gerações? É um grande desafio. Não posso obrigar as pessoas a fazerem parte do associativismo, mas é preciso que as pessoas compreendam que este pode levá-los a projectar não apenas a comunidade, através da gastronomia ou do teatro em patuá, que são reconhecidos pela República Popular da China e por Macau, mas existe um networking [rede de contactos] bastante abrangente dos macaenses, desde a música, às artes, a literatura. A comunidade mais jovem tem de perceber que esse contributo é muito relevante. Recorrendo a várias associações podem elevar a contribuição da comunidade macaense a um outro patamar, e têm de estar integrados e expor-se, devem propor-se ideias diferentes para esta Macau que está cada vez mais evoluída. A questão do macaense centrou-se sempre na adaptação à realidade, e, ao mesmo tempo, propor novas celebrações que não sejam apenas viradas para o passado. Convidámos o Giulio Acconci por ser uma figura presente na música, e depois temos o Fernando Lourenço, que é professor assistente do Instituto de Formação Turística. Procurámos ter um debate entre os dois que conseguem transmitir perspectivas sobre a actual situação de Macau, sem que se aborde muito a questão identitária. É necessário ter uma partilha mais objectiva e concreta do que eles querem ou desejam de Macau. Quando a comunidade macaense organiza eventos para falar de si mesma, recorre sempre aos elementos do patuá ou gastronomia. É necessário inovar também na afirmação da comunidade? Relativamente à parte linguista, fomos sempre os mediadores das culturas em Macau, sobretudo a chinesa e a portuguesa. Com o desenvolvimento de Hengqin e da Grande Baía, temos de ter em conta que não nos podemos apenas focar no lado de Macau, pensando também nas vertentes desse outro lado. Devemos usar a cultura para a diversificação económica que o Governo deseja. Temos de fazer parte, mas não podemos deixar de reflectir que a cultura é importante, que faz a diferença em Macau. A existência da diáspora macaense, e felizmente temos este ano o Encontro dos Macaenses, que vai voltar a trazer novas componentes e pessoas, para fomentar a existência de uma comunidade que não se fixa apenas nos avós e nos pais. Que expectativas tem para a edição do Encontro este ano? Podem esperar-se ideias concretas? O Encontro vai, certamente, dar um contributo importante, porque acho que vai marcar a retoma após os anos de pandemia, em que tudo ficou um pouco parado. Certamente este Encontro vai ser a prova da exigência do futuro e aquilo que o macaense pretende fazer daqui para a frente. Da minha parte, como presidente da Associação dos Jovens Macaenses, propus actividades para o programa, e de certa forma é uma interacção dos jovens com os mais séniores, e é importante procurar o passado, mas com palestras e convívios aparecerem novas perspectivas. O programa não está oficializado e não posso divulgar ainda [a versão final], mas levámos a nossa proposta ao doutor Sales Marques, e posso afirmar que vai continuar a haver sessões culturais que explicam o passado e o futuro. Há uma falta de liderança cívica e associativa na comunidade macaense? Não diria que há falta de liderança, mas creio que é preciso haver uma sensibilidade para começar a apostar em caras novas. Haverá o dia em que eu também vou começar a ficar velho, e é preciso haver a noção de que o associativismo é algo em constante mutação e que deve dar sempre lugar aos mais novos. Temos de preparar sempre essa geração nova para liderar. Estou convicto de que daqui a menos de uma dezena de anos me vou retirar [da liderança da AJM], e é preciso que os mais novos possam pegar nas associações e continuar a dar o contributo ao legado macaense. Existem já associações firmadas e estabelecidas ao nível da cultura e da gastronomia, por exemplo, e acho que é necessário começar a dar lugar às novas caras. Considera que a identidade macaense estará devidamente protegida nos novos projectos de renovação dos bairros antigos desenvolvidos em parceria com as operadoras de jogo? Vejo essa questão de uma maneira mais positiva. O Governo entende que tem de se estabelecer o encontro entre o oriente e o ocidente, que é, precisamente, o lado especial de Macau, incluindo a parte da cultura macaense. A parte essencial é como deve ser trabalhado tudo isto. Tem-se visto, aos poucos, que é necessário incluir a participação da sociedade civil, e temos o exemplo comum da interacção da tuna macaense, por exemplo, ou do grupo de folclore da Ana Manhão Sou, ou a presença da gastronomia macaense em muitos eventos. É, no entanto, muito cedo para falar sobre isto, porque só vimos os eventos na Rua da Felicidade e na Taipa. Teremos de ver o que vai acontecer, por exemplo, junto à Ponte 16. As concessionárias têm de contar sempre com as associações e a parte comunitária, porque eles é que conhecem a história de cada bairro, e podem depois introduzir-se novos elementos com a sua ajuda. Creio que o Instituto Cultural está bastante atento e deve manter esta identidade. Esperamos que continue a existir, para não que não se diluia a faceta histórica e identitária de Macau. “Conversa entre macaenses” Não é novo o debate sobre o lugar do macaense, mas da sessão que decorre hoje, a partir das 18h30, na Fundação Rui Cunha, esperam-se ideias diferentes quanto ao presente e futuro. Fernando Lourenço é professor do Instituto de Formação Turística, enquanto Giulio Acconci é um filho da terra e músico bem conhecido. Paula Carion, macaense, rosto presente no associativismo da comunidade e atleta, vai moderar a sessão. A nota de imprensa divulgada fala dos “desafios num futuro próximo” de uma Macau que quer afirmar-se como “Centro Mundial de Turismo e Lazer” ou “plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”, e considerada Cidade Criativa de Gastronomia da UNESCO. Não se ignora a crescente integração do território na ilha de Hengqin e na Grande Baía, ou ainda a aposta em elementos como a “Cidade de Espectáculo” e “Cidade do Desporto”, com um “rico património material e imaterial”. “O que está por vir para Macau e para as gerações futuras?”, é a questão deixada pela organização.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAJM | Assinado protocolo com Escola Internacional “Gerações” Dez anos depois da sua fundação, a Associação dos Jovens Macaenses está financeiramente estável graças aos apoios da Fundação Macau. A entidade acaba de assinar uma parceria com a recém-formada Escola Internacional “Gerações” Realizou-se na última quinta-feira uma assembleia-geral da Associação dos Jovens Macaenses (AJM) que confirmou a boa situação financeira da entidade que já conta com dez anos de existência. Depois do período difícil da pandemia, a associação prepara-se para continuar com a agenda programada e com novas parcerias. “Assinámos recentemente um protocolo de cooperação com a Escola Internacional ‘Gerações’, exactamente visado para, futuramente, ampliar o conhecimento dos mais novos, dentro ou fora das suas instalações”, contou António Monteiro, presidente da AJM, ao HM. A associação continua a colaborar com o Instituto Internacional de Macau (IIM), bem como a promover actividades desportivas e recreativas, estando na calha a realização de “workshops e eventos ligados à música e cultura num bairro histórico”. Financeiramente a situação da associação é “saudável”, tendo em conta os poucos anos de existência. “A nova direcção achou importante investir numa página electrónica para a promoção da imagem da AJM junto dos associados e ao público que desconhece a associação, projectando também o seu trabalho através das redes sociais.” Para este ano estão previstas actividades que permitam “o convívio dos jovens”, com a aposta no fomento de uma rede das associações macaenses e portuguesas e no “trabalho com associações e entidades de matriz chinesa”. “Tencionamos trabalhar com universidades e escolas para ampliar a divulgação da identidade macaense, incluindo a sua cultura, legado, bem como actividades que permitem discussões de outros temas ligadas à sociedade e ao desenvolvimento de Macau e da China”, frisou António Monteiro. Outra aposta da AJM para este ano será a realização de uma viagem, com o apoio do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, à província de Xinjiang, adiada várias vezes devido à pandemia. “Não há dúvida que a viagem tem atraído mais associados a participar. As viagens são importantes para intensificar o conhecimento dos jovens macaenses junto da República Popular da China, podendo ser útil não só para o intercâmbio cultural, mas para cultivar também interesses a níveis empresariais, pois cada jovem ou associado está integrado em diferentes áreas da sociedade.” Nestas visitas pretende-se “transmitir as características da comunidade macaense e da plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, factores que fazem a diferença a Macau”, adiantou. O arraial como exemplo Recentemente nomeado membro do Conselho do Património Cultural, António Monteiro defende que “é uma mais valia ver vida junto dos monumentos, pois não basta a restauração e a preservação, são as pessoas que dão vida aos monumentos”. O exemplo do Arraial de S. João surge de imediato como um evento com “valor histórico” que resulta “da própria identidade de Macau, da presença portuguesa em Macau e da existência dos próprios macaenses. Portanto, deve ser promovido cada vez mais à comunidade chinesa”. Como membro do Conselho do Património Cultural, António Monteiro diz ainda que dá especial atenção à preservação de elementos como “procissões, gastronomia macaense ou teatro em patuá”. O dirigente da AJM diz que um dos temas que mais gera preocupação é a ligação com a diáspora macaense. “Acredito que vamos desenvolver plataformas úteis [de contacto]. É uma possibilidade, e temos sempre abertura, que a diáspora apresente também ideias e propostas viáveis. O trabalho nunca foi só da AJM ou das diversas instituições (macaenses) em Macau.” António Monteiro não sabe quando será realizada uma nova edição do Encontro da Comunidade Juvenil, mas acredita que a diáspora vai “manter viva a cultura macaense directa ou indirectamente”. “A China entende que, sem esta particularidade da própria comunidade e das características macaenses em Macau, o território deixará de ser diferente. Não espero que um dia desapareça tudo em Macau e o único legado que resta seja somente os livros publicados. A única chamada de atenção que deixo é que a própria comunidade trabalhe sempre, individualmente, colectivamente ou a nível associativo, em prol da preservação e da promoção da nossa cultura”, rematou.
Hoje Macau PolíticaJovens Macaenses | Associação reuniu-se com Chefe do Executivo A Associação de Jovens Macaenses (AJM) foi recebida pelo Chefe do Executivo, num encontro que serviu para trocar “impressões sobre a preservação e a divulgação da cultura macaense, a promoção do posicionamento de Macau como plataforma sino-lusófona e o reforço da formação de quadros qualificados plurilíngues locais”. A informação foi divulgada ontem, em comunicado pela AJM. O encontro teve lugar no passado dia 16 de Junho. Na reunião, Ho Iat Seng garantiu a protecção e promoção da comunidade macaense, que elogiou pelo apoio prestado à governação, segundo a versão da AJM. Nesta, é igualmente indicado que o Chefe do Executivo frisou que “a RAEM tem atribuído elevada importância ao estatuto único e à identificação singular da comunidade macaense”. Foi ainda dito pelo líder do território que “o Governo irá também continuar a prestar um forte apoio ao trabalho das associações de matriz macaense, com o intuito de assegurar que a cultura macaense pode passar de geração em geração e desenvolver-se de uma forma sustentável”. Por sua vez, o recém-eleito presidente da comissão directora, António Monteiro, destacou que a “gastronomia macaense e o teatro em Patuá figuram na Lista de Património Cultural Imaterial Nacional” e falou da “especial relevância” da cultura macaense. Além disso, frisou igualmente que a comunidade macaense domina várias línguas e que pode contribuir para maior conhecimento e “promoção do desenvolvimento mais actualizado da RAEM e da Grande Baía”.
Hoje Macau SociedadeJovens Macaenses | Duarte Alves reeleito presidente da Associação Duarte Alves foi reeleito presidente da Associação dos Jovens Macaenses para o triénio de 2022 a 2024, durante a Assembleia Geral que decorreu na sexta-feira passada. A informação foi divulgada no sábado, através de um comunicado. O presidente vai ser auxiliado por três vice-presidentes, José Chan Rodrigues, Luís Gabriel Sales Marques e Filipe Ferreira. Dinis Ka Chon Chan foi escolhido para secretário. Quanto à comissão directora, António Monteiro foi eleito para a presidência, que conta com cinco vice-presidentes: Paula Carion, Duarte Rosário, José da Costa Giga, Mariana César de Sá e Delfino Gabriel. Adelina Chou Wai In é a secretaria, Ana Marisa Nunes a tesoureira, e Sérgio dos Santos Lai, Luís Manhão Sou e Carlos Esteves Ferreira vão ser os vogais. A associação comemora este ano o 10.º aniversário e a assembleia serviu igualmente para a Comissão Directora apresentar as linhas de acção do programa para o corrente ano, propondo actividades para a promoção e preservação das tradições e usos e costumes da identidade cultural de Macau, promoção de actividades para a participação cívica dos associados nos assuntos de Macau, actividades de caridade, reforço da promoção institucional da AJM e criação de uma plataforma online destinada aos jovens de Macau.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAssociação de Jovens Macaenses | Jorge Valente pondera deixar direcção Com oito anos de existência celebrados na última semana, a Associação de Jovens Macaenses pode mudar de presidente no próximo ano. Isto porque Jorge Valente está a ponderar não se recandidatar para dar lugar a sangue novo O mandato de Jorge Valente como presidente da Associação dos Jovens Macaenses termina este ano, e nas próximas eleições a liderança poderá ter um novo rosto. Isto porque o empresário confessou ao HM que está a ponderar não se recandidatar. “Provavelmente não me recandidato como presidente da direcção porque as ideias novas acabam por se esgotar se for sempre a mesma pessoa. Nos últimos anos atraímos mais jovens e preparamos mais pessoas para se chegarem à frente e levarem a associação a fazer coisas mais inovadoras.” Os estatutos determinam que os associados não podem ter mais de 45 anos. Apesar de ainda não ter atingido essa idade, Jorge Valente disse que está na altura “de surgirem outras pessoas que, no próximo mandato, levem a associação a patamares mais altos”. O actual dirigente “gostaria de ver mais dinamismo e mais vertentes” na associação. Com oito anos celebrados na passada quinta-feira, a Associação dos Jovens Macaenses sofreu as consequências da pandemia, ao ter de cancelar uma série de eventos. “O nosso mandato termina no fim deste ano e para o ano há novas eleições. A próxima equipa terá de definir o que a associação vai fazer no futuro”, declarou. Balanço positivo Nos últimos oito anos, a Associação dos Jovens Macaenses viu muitos jovens sair para outras entidades, mas Jorge Valente considera que esse é um sinal de que os jovens macaenses estão hoje mais despertos para o associativismo. “A divulgação aumentou, o que fez com que os jovens macaenses tenham percebido que a sociedade de Macau é inclusiva. Não estamos excluídos. Vários jovens entraram para a nossa associação, saíram e entraram para outras associações de matriz portuguesa ou outras mais ligadas aos seus passatempos. De outra forma, talvez não tivessem começado.” Em relação ao futuro e à integração regional do território na Grande Baía, Jorge Valente considera que “a comunidade macaense adapta-se e sobrevive”. “É uma questão de fazer ajustamentos e seguir em frente”, frisou. A associação “começou do nada” há oito anos, mas conseguiu “firmar a sua presença”. “Hoje temos uma maior participação, embora ainda seja longe do que queríamos atingir na altura. Mas o balanço que faço é positivo. Ao longo destes anos tivemos de ser de tudo um pouco, para toda a gente. Temos uma vertente de desporto, fazemos viagens de intercâmbio, actividades relacionadas com música, palestras com vários temas”, defendeu. Relativamente ao futuro, Jorge Valente quer que a associação se mantenha eclética e não apenas virada para a vertente comercial.