Semana da Cultura Chinesa trouxe primeira tradução de “As Leis da Guerra”, de Sun Bin

Uma obra que vai além da guerra e se cruza com filosofia, convivência social, postura ética e a moral. Foi desta forma que o orador Frederico Rato descreveu As Leis da Guerra, livro que foi ontem apresentado na Semana da Cultura Chinesa

 

[dropcap]S[/dropcap]un Bin escreveu As Leis da Guerra no século IV antes de Cristo e durante mais de dois milénios a obra esteve perdida. Foi preciso esperar até 1972 para que o livro, que muitos acreditavam ser um mito, fosse finalmente redescoberto, através de um trabalho de escavações na Província de Shandong.

Ontem, também Macau entrou para esta história, ao ser o local do lançamento da primeira tradução para a língua portuguesa de “As Leis da Guerra” no âmbito da Semana da Cultura Chinesa. A iniciativa decorre até sexta-feira na Fundação Rui Cunha, numa organização conjunta entre o jornal Hoje Macau e a editora Livros do Meio.

Mas, mais do que um livro que se limita apontar estratégias militares, esta é uma forma de pensar sobre vários aspectos da vida. É essa a opinião do advogado Frederico Rato, que apresentou a obra do familiar de Sun Zi, traduzida por Rui Cascais Parada.

“É um livro que dá gosto de ler e é pioneiro relativamente à guerra, porque aborda as questões tácticas e estratégicas, mas que vai mais além”, considerou Frederico Rato. “É um livro que alcança as regras da filosofia, da convivência social e a postura ética e moral face às sociedades que usam a guerra e que também sofrem com essa guerra”, acrescentou.

A continuação da arte
A abrangência para lá da guerra foi também um dos motivos que levou Carlos Morais José, proprietário do Hoje Macau e da editora Livros do Meio, a optar pela tradução desta obra.

“É um livro que nunca tinha sido traduzido para português e é muito curioso porque é de um descendente do Sun Zi, que escreveu a “Arte da Guerra”. Viveu dois séculos depois, mas tem o mesmo nome e é da mesma família, e escreveu também um livro sobre a guerra, é quase uma continuação do outro”, começou por justificar.

“É também um livro interessante porque os preceitos que lá estão escritos não se aplicam só à guerra, mas também a coisas do dia-a-dia. Era um homem extremamente inteligente com tácticas fantásticas e conselhos muito interessantes”, considerou.

Aproximar de culturas

Entre os presentes na planteia de ontem esteve Anabela Ritchie, antiga presidente da Assembleia Legislativa, que elogiou a iniciativa pela oportunidade das culturas portuguesa e chinesa se aproximarem.

“É uma iniciativa muito louvável e com muito para ensinar a todos os que somos ou vivemos em Macau. É um evento muito interessante porque é dedicado a temas como o pensamento chinês, a cultura, a arte temas imensos e muito ricos e profundos”, afirmou Anabela Ritchie, ao HM.

Esta aproximação foi igualmente elogiada pelo orador Frederico Rato: “É uma iniciativa altamente dignificante e simpática e um bom indicador da recuperação cultural que sempre houve relativamente a esta coexistência entre portugueses e chineses há mais de 450 anos”, considerou. “A atracção recíproca dos portugueses pela cultura chinesa e dos chineses pela cultura portuguesa cada vez está a aumentar e a estender e esta iniciativa enquadra-se nesta expectativa”, sublinhou.

A Semana da Cultura Chinesa continua esta tarde, às 18h30, na Fundação Rui Cunha, com a apresentação de dois volumes de ensaios fundamentais sobre pintura clássica chinesa, do século VI ao século XVIII. As traduções ficaram a cargo de Paulo Maia e Carmo e a apresentação vai ser feita por Leong Iok Fai, presidente da Associação de Pintura e Caligrafia de Macau.

17 Jun 2020