“Toda a beleza tem algo em comum: a absoluta necessidade de ser vista!”

Um ponto de situação com Michael Xincheng Du, coleccionador de arte e de antiguidades chinesas, especialista na cultura pré-histórica Hongshan, aproximadamente 10.000-5.000 aec.

 

Quando era jovem, dirigia um bem-sucedido negócio de consultoria em Shenzhen, que, na altura, era a cidade modelo da China do futuro. Por uma curiosa reviravolta do destino, Michael instalou-se no Canadá e entregou-se de corpo e alma ao ainda mais curioso mundo da arte e do coleccionismo de antiguidades, conquistando um grande número de admiradores em todo o mundo. O que é que o move? A Beleza!

A arte e cultura são tesouros através dos quais a humanidade se expressa. Por isso, na sua opinião, a Beleza é o legado derradeiro?

Beleza é poder. A Beleza espoleta a inigualável paixão humana pela criação e estimula o melhor do nosso intelecto e força espiritual, patenteados em artefactos soberbos. A beleza transcende o prazer estético: é o único instrumento humano eficaz para a auto-descoberta!

A Beleza é um assunto sério. Foi a sua auto-descoberta após três anos de hiato devido à pandemia?

Conhece Oscar Wilde… O esteta dizia que ser belo é melhor do que ser bom. Eu diria que o belo é mais inteligente do que o inteligente. Tenho dificuldade de falar da pandemia. Como sabe, tive de suspender a actividade do meu espaço de leilões de arte, que tinha inaugurado pouco antes do surto da doença. A Baozhen International Art Auction House está localizada na Península de Shandong, a província natal de Confúcio, e abrange no total uma área de aproximadamente 32.000 metros quadrados, dos quais 2.000 são dedicados a exposições permanentes. Além disso, temos espaços educativos e de entretenimento e lazer. Estava ansioso para fazer algo que verdadeiramente me apaixonasse. Temia não vir a cumprir a minha missão nesta vida.

Encontrou a sua paixão em algo mais ancestral do que antigo — a misteriosa cultura Hongshan, situada entre os anos 10.000 e 5.000 AC.

Tenho de admitir que é um assunto muito controverso. Os historiadores tradicionais não sabem como lidar com este período. Tudo na Cultura Hongshan contradiz a cronologia oficial, não só da História chinesa como da História mundial! A Cultura Hongshan parece sugerir que a história humana fez planos que não nos atrevemos a sondar. Neste momento, estou a trabalhar em conjunto com o Museu Hanjiangxue, o maior museu privado da China. O seu fundador, Qiu Jiduan, possui uma colecção impressionante que transcende a Cultura Hongshan. O museu clama por explicações que exijam o menor número de conjecturas. Estou, em conjunto com Qiu Jiduan, a planear a realização de uma série de televisão com 30 episódios que funcionará como uma janela única para audiências internacionais. Eu e minha equipa estamos a trabalhar numa proposta ousada para explanar os ciclos da civilização chinesa. É algo que nunca foi feito a uma escala tão ambiciosa e que eu simplesmente adoro!

Vai provar que a mitologia chinesa é inventada a partir de eventos reais?

A mitologia é um símbolo do sistema. Mas eu quero ver para além disso. A mitologia chinesa contém códigos cósmicos que revelam a criatividade humana na aurora da civilização, quando a humanidade experienciava o conhecimento científico do real bem como quando tentava entender a ciência da natureza de uma forma mais profunda. Ao designá-los simplesmente por mitos criamos um obstáculo que não permite tomá-los a sério. Aparentemente, são significativamente mais do que apenas histórias repletas de simbolismo e de metáforas. Há mais de 25 anos, descobri a Cultura Hongshan e senti-me muito atraído pela sua excentricidade. Os fantásticos enigmas que talvez um dia venham a rescrever toda a história da humanidade. Todos sabemos que a história é um local pouco seguro, mas agora pode tornar-se ainda mais perturbador.

Estou muito entusiasmada com a série de que falou. Pode falar um pouco mais sobre o assunto?

Os antigos egípcios tinham Nefertiti. Alguém conhece a Deusa da Criação Chinesa e a sua fulgurante e inteligente história de criação? Mas desta vez a minha abordagem é diferente. Quero fazer uma série de televisão épica: para mostrar pela primeira vez ao mundo a sua Beleza! Quanto mais me embrenho no mundo ancestral, mais me sinto inspirado e intrigado pela interrogativa que colocavam na origem da civilização! Estou empenhado em recuperar a beleza grandiosa da Deusa do Templo que representa a mais alta escala, o nível mais elevado e a expressão mais proeminente de crenças que podem mesmo não ser deste planeta.

Acredita que a Deusa do Templo da Cultura Hongshan é dedicada a visitantes extraterrestres que criaram a Humanidade com a sua tecnologia?

Tive longas trocas de ideias com o americano futurista Nova Spivack sobre este assunto. Estamos ambos convencidos que compreendemos mal o nosso passado — assim como no futuro nos irão compreender mal a nós. A série de televisão é uma boa forma de alargar a dança criativa das possibilidades. Também quero que cada vez mais pessoas adquiram conhecimentos sobre arte e cultura chinesa, que é imensamente desconhecida lá fora. Deve dizer-se mais vezes às pessoas que, apesar de tudo, o passado está vivo. O nosso passado civilizacional contém elementos secretos direccionados para o progresso e para o futuro. A energia da Beleza, que tem um poder nutritivo em todos nós.

Concordo consigo. A grandiosidade não vem de tentar alcançar o possível.

Admiro o alcance da visão de Qiu Jiduan pelas actividades que desenvolve há décadas e pela majestade da colecção exibida no seu museu privado. Tenho pena que o Museu Hanjiangxue não seja tão famoso como o British Museum ou o Louvre. Penso que é um erro. A civilização chinesa é requintada, refinada é seguramente “não aborrecida”. 30 episódios é o começo. Se eu apenas tentar trabalhar arduamente e me mantiver fiel a mim próprio, vou ser capaz de desvendar cada item do tesouro que é esta colecção de tirar o fôlego. Vou devolver o poder ilimitado do passado! Toda a beleza tem algo em comum: a absoluta necessidade de ser vista!

17 Ago 2023

Mar do Sul | Lançada investigação sobre antigos naufrágios

Foi lançada no sábado uma investigação arqueológica sobre dois antigos naufrágios descobertos no Mar do Sul da China, abrindo um novo capítulo na arqueologia do mar profundo da China, de acordo com uma conferência de imprensa realizada no domingo em Sanya, Província de Hainan.
Durante a pesquisa arqueológica sobre o primeiro naufrágio, localizado perto do talude continental noroeste do Mar do Sul da China, os investigadores estabeleceram com sucesso uma fundação permanente de mapeamento subaquático no canto sudoeste do local do naufrágio. A busca e a investigação preliminar, bem como o registo de imagens, foram realizados, de acordo com a Administração Nacional do Património Cultural (NCHA, na sigla em inglês), informa a agência Xinhua.
Em Outubro de 2022, dois antigos naufrágios foram descobertos a uma profundidade subaquática de cerca de 1.500 metros perto da costa continental noroeste do Mar do Sul da China. Um deles consiste principalmente em relíquias de porcelana, estima-se que contenha mais de 100 mil peças que remontam ao reinado do imperador Zhengde da dinastia Ming (1506-1521).
O outro naufrágio contém principalmente um grande número de troncos de madeira. Através de um estudo preliminar, foi determinado que o navio em questão estava carregado de carga e tinha navegado do exterior para a China antiga. Remonta ao reinado do imperador Hongzhi da dinastia Ming (1488-1505).
Com a aprovação da NCHA, esforços conjuntos entre institutos de pesquisa e um museu local serão feitos para realizar novas investigações arqueológicas envolvendo os dois naufrágios em três fases durante cerca de um ano.

22 Mai 2023

Arqueologia | Mostra “Rota Marítima da Seda e Macau” abre ao público sexta-feira

É já esta sexta-feira que é inaugurada a exposição permanente “Rota Marítima da Seda e Macau” na área de conservação e exposição dos vestígios arqueológicos do fosso do Colégio de S. Paulo, situada na Rua D. Belchior Carneiro, atrás das Ruínas de São Paulo.

Esta exposição, coordenada pelo Instituto Cultural (IC), tem como objectivo “dar a conhecer ao público a importância de Macau como um dos patos de trânsito da Rota Marítima da Seda”, bem como “divulgar e promover o valor patrimonial da própria Rota Marítima da Seda entre a sociedade local”.

Através de textos e imagens, o público poderá saber mais sobre os locais históricos de Macau que integraram esta rota. No passado, o território era um dos importantes portos de trânsito para o comércio entre a China e o estrangeiro, tendo assumido durante o auge da Rota Marítima da Seda um papel relevante na exportação de vários produtos Chineses, tais como a seda e a porcelana, que chegavam à Europa, Japão ou América, entre outros destinos, a partir dos portos de Macau.

Foi neste contexto que a região deu um contributo histórico fundamental, viabilizando não só a maximização do alcance do comércio mundial no contexto da Rota Marítima da Seda, mas também a promoção do diálogo e do intercâmbio entre diferentes civilizações. Nos itinerários de Ocidente para Oriente, a Rota Marítima da Seda contribuiu também para o desenvolvimento das características urbanas da cidade e para a consolidação da identidade multicultural de Macau. Ainda hoje, é possível reconhecer claros indícios do contexto da Rota Marítima da Seda no próprio tecido urbano, nos vestígios arquitectónicos e na dimensão cultural e espiritual da cidade, descreve o IC.

18 Jan 2022

Arte rupestre descoberta no Rio Guadiana

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]inco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

Cinco gravuras que especialistas acreditam ser de arte rupestre foram descobertas nas margens do rio Guadiana, em Elvas, após a descida das águas provocada pela seca, achado que vai ser analisado pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo. Fonte dos serviços regionais do Ministério da Cultura disse à agência Lusa que está já prevista uma deslocação de técnicos ao local para estudar as gravuras, encontradas na semana passada, que os arqueólogos admitem ser da época pós-paleolítica. “Eu diria que há uma forte probabilidade de serem figuras pré-históricas e que, estando emersas, deverá aproveitar-se a oportunidade para destacar uma equipa de especialistas de arte rupestre”, defendeu, por seu turno, o presidente da Associação dos Arqueólogos Portugueses, José Morais Arnaud, em declarações à Lusa.

Os painéis foram encontrados na semana passada, na margem portuguesa do Guadiana, por um antigo militar espanhol, Joaquin Larios Cuello, na zona da ponte da Ajuda, perto da cidade raiana de Elvas, no distrito de Portalegre. O historiador Luís Lobato de Faria, que tem acompanhado no terreno a descoberta, adiantou que as gravuras aparentam ter “milhares de anos” e lembram a forma de serpentes e de figuras humanas através de picotados em rochas. Devido à descida das águas, em consequência da seca, segundo Luís Lobato de Faria, estão também a surgir gravuras na margem espanhola do rio. “Já desenhámos parte das gravuras para que fiquem salvaguardadas”, disse o historiador, recordando que, em 2001, foi feito um levantamento de gravuras de arte rupestre na mesma zona.

A descoberta das gravuras, que vão ser estudadas por especialistas, tem sido debatida nos últimos dias na página de Internet “Archport”, considerada o mais antigo fórum de discussão dedicado à arqueologia em Portugal.

20 Fev 2018

As listas

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ra o século XV. Jacques Coeur, rico mercador da corte de Carlos VII, explorava, entre muitas outras actividades proveitosas, a mineração de prata de Pampailly, perto de Lyon.

Em inícios dos anos 90, era eu um jovem adulto, candidatei-me a participar nas escavações arqueológicas desse complexo mineiro, dirigidas por um professor da Sorbonne, de longas barbas brancas, arquétipo do soixante-huitard.

Recordo-me de que, quando nos encontrámos pela primeira vez, brindou-me com esta tirada, seguida de um abraço:

— Portugal? Otelo Saraiva de Carvalho!

Creio que trabalhei nessas escavações cerca de dois meses, de que guardo hoje, apenas, uma meia-dúzia de imagens e sensações, coadas pelo tempo: o cheiro da terra húmida, repleta de minhocas que o nosso trabalho repetidamente amputava; a bondade das refeições, em que aprendi a apreciar esses pequenos pepinos em vinagre chamados cornichons; uma breve aventura sexual com uma jovem franco-cabo-verdiana, de volumosíssimos cabelos loiros, encarapinhados, quase sempre contidos por um lenço, mas esplendorosos quando soltos; um par de visitas a um château próximo, propriedade de um casal de velhos anacoretas, que, quando estavam de feição a receber visitas, içavam uma bandeira branca num mastro, e que, a propósito da sua assumida xenofobia, me afirmaram: “Sabe, nós detestamos estrangeiros, em teoria. Mas temos tido o azar de gostarmos de todos os que conhecemos”; uma breve viagem a Belfort, quase na fronteira com a Suíça e a Alemanha, cidade em que os caracteres franceses e germânicos se confundem; um fim-de-semana em Paris para visitar uma namorada colombiana, que trabalhava na UNESCO e morava na recatada Rue Serpente, no Quartier Latin, e com quem continuo a contactar de vez em quando, embora não nos vejamos há anos.

Dessa viagem tinha, ainda há algum tempo, uma recordação física: uma cassete de Archie Shepp, saxofonista de jazz, comprada no Quai des bouquinistes.

Ora, há alguns anos, não tendo como aceder-lhes ao som, deitei para o lixo um saco cheio de cassetes, incluindo a dita. Suponho que esse desprendimento, extensivo a todo o tipo de bens materiais, signifique que compreendi que os objectos não fazem falta à memória.

Pelo contrário, creio que a limitam no que tem de mais estimulante – a capacidade de se desconstruir ou destruir, de se reconstruir ou reinventar.

De facto, nos últimos anos, tenho dado ou vendido quase tudo o que tinha, a começar pelos livros, a maior parte deles imediatamente a seguir a uma única leitura. Faço-o não tanto por necessidade mas por ter a noção clara de quais os que me voltarão a interessar no futuro, que são, percentualmente, bem poucos, até porque, se, por um lado, tenho este desapego à propriedade, por outro, gosto de ler quase tudo, mesmo coisas que sei serem muito pouco valerosas ou das quais tenho consciência de ter pouca capacidade de entendimento.

Assim, de alguns milhares de livros que cheguei a possuir em dados momentos, e dos muitos milhares de que, ao longo do tempo, fui proprietário, guardo, agora, poucas centenas.

Muito menos, ainda, são os discos.

Fotografias, por razões que não importa precisar, fiquei com pouquíssimas (a minha infância, por exemplo, ficou, para mim, quase indocumentada).

Tenho, também, alguns desenhos e fotografias de autoria de artistas amigos.

E, quanto a outros objectos, se excluirmos a roupa, em que também não sou pródigo, não ocuparia muito espaço a lista exaustiva de quanto possuo!

Voltando aos livros, gosto muito mais dos que partilham a vida vivida do que dos que têm o despudor de impor aos demais a entropia do escritor, isto é, a quantidade de energia deste que não é convertida em trabalho mecânico. Ou seja: desconfio daquilo a que se costuma chamar Literatura.

Um dramaturgo que conheço desde que éramos crianças, isto é, há mais de quarenta anos, escreve, a dado passo, no seu único livro de poemas: “estou já demasiado anglo-saxónico para escrever coisas que não sejam listas”.

Às vezes, também eu sinto que as listas – sem acréscimo de comentários – bastam a cumprir a função do texto, tanto junto do próprio escritor como junto dos leitores: fixar a memória sem recurso a objectos.

10 Out 2017

Coloane | Achados arqueológicos mostram actividade humana há 4000 anos

Pedaços do Bronze, do Neolítico e de dinastias anteriores ao período em que se pensava que Macau começou a existir. Achados arqueológicos em Coloane abrem a porta a um território onde a actividade humana e industrial começou há milhares de anos

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau descende de uma indústria diversa de panchões, fósforos e tinturia. A hipótese já era conhecida, mas agora as escavações arqueológicas que estão a ser feitas na Rua dos Estaleiros, em Coloane, podem prová-lo. O Conselho do Património Cultural apresentou resultados dos achados arqueológicos, que indicam actividade humana e até industrial em Macau desde há quatro mil anos. E uma presença que passa por várias dinastias.
“Encontrámos em Macau quatro períodos históricos. [Isto] é único, foi só agora. Vestígios de há quatro mil anos e diferentes camadas culturais e períodos históricos”, começou por dizer Cheng, técnica superior do Instituto Cultural (IC). “Encontrámos tanques para guardar água e uma substância química, que não sabíamos o que era. Enviámos para a Universidade de Zhongshan para determinarem. Havia uma substância 30% acima da água natural, o que mostra actividade humana e até industrial e que pode ajudar a desvendar o desenvolvimento [fabril]”, explicou, dizendo que ter como referência as regiões vizinhas ajudou a entender os achados.
Além de fragmentos do Neolítico (3000/4000 anos) e do Bronze (2500/3000 anos), também se encontraram objectos da Dinastia Qing e de outras.

Rica herança

“Os arqueólogos encontraram quartzo, que data de três a quatro mil anos, que deve ser do período em que o homem começou a utilizar e fabricar acessórios. Encontraram potes e fragmentos da idade do Bronze. Lareiras da dinastia Tang e Song. Macau começou em meados da dinastia Ming, mas isto mostra que já antes havia actividades humanas, o que é uma descoberta de grande relevância.”
Foram dois anos de escavações, investigações e estratégias de preservação em 680 metros quadrados de terreno que não está totalmente escavado. Divididas em três fases, as escavações passaram a pente fino o campo de futebol, basquetebol e o parque de estacionamento da Rua dos Estaleiros. Especialistas dizem que “não se pode fazer as escavações todas de uma vez”, frisou o IC, e a protecção vai ser feita em “local adequado”, mas também no próprio sítio.
“Não vamos agora fazer profundas escavações, porque acreditamos na mesma zona ainda há artefactos”, frisou Cheng.
Os achados que foram encontrados e puderam ser movidos, foram-no, mas tanques e lareiras, por exemplo, vão ficar tapados com um “enchimento leve” e, por isso, não vão estar expostos ao público.
Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura e presidente do Conselho do Património, frisou que a ideia é que as próximas gerações possam fazer um trabalho melhor de preservação.
“É uma descoberta muito importante para o Governo, ter uma civilização muito antiga [aqui] e uma herança cultural muito rica”, frisou Alexis Tam, acrescentando que vieram especialistas portugueses e da Holanda ajudar nas investigações. “Mostra que havia actividade humana em Macau e a preservação é o foco. Temos de saber como preservar e, por isso, não vamos recomendar qualquer actividade comercial nesta zona.”

18 Jul 2016