Leocardo VozesAnónimo? Não Leocardo! [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje gostaria de aproveitar este espaço que o Hoje Macau me concede graciosamente há mais de quatro anos para me debruçar sobre questões de um foro mais pessoal. Passaram-se dez anos em Março último que criei a personagem do Leocardo, quando criei o entretanto extinto blogue “Leocardo em Macau”, e no próximo dia 1 de Dezembro o seu sucessor, o “Bairro do Oriente” assinala o 9º aniversário. Mas se não escolhi nenhuma destas efemérides para tratar deste tema, é porque qualquer dia é dia para que certas coisas sejam ditas e fiquem esclarecidas. Como deveis saber, vivemos tempos conturbados no que toca ao confronto de correntes ideológicas – possivelmente o pior período dos últimos 80 anos – e numa era que as gerações vindouras bem poderão chamar “da contra-informação”. De tudo o que o evento da internet, cada vez mais concorrido – por letrados e outros que nem por isso – nos permite saber, há aquilo que tomamos por factos, e há todo o resto, a “ficção”. Ultimamente surgiu pelo meio uma espécie de “faça você mesmo as suas notícias”, na forma de páginas onde o cibernauta pode ir ler não a verdade verdadinha, mas a sua verdade – são entrepostos de validação de opiniões e convicções, por assim dizer. O pior é que os ávidos consumidores da realidade paralela onde decidiram ir morar não se ficam por aí, e acham seu dever partilhar com o resto do mundo a sua visão muito única do mesmo. Infelizmente esta é uma visão nada recomendável, todos sabemos, já passámos por isso, e dessa forma quem nos quiser convencer do contrário recorre normalmente a expedientes nada ortodoxos. O que nos vai valendo é o bom senso que ainda prevalece, e por um lado é bom que vá escasseando, pois desta forma é valorizado, torna-se mais apetecível e volta a estar na moda qualquer dia – assim espero, pelo menos. Por enquanto há quem vá tentando combater a contra-informação, e sendo esta propagada por agentes que alegam defender valores mais tradicionais, ou “conservadores”, a retaliação é feita na forma de ataques “ad hominem”. Quem ousa interferir no carnaval da infâmia e do degredo arrisca-se a ser referenciado, ver a sua vida privada devassada, mais à da sua família, é ameaçado, e se for necessário difamado, podendo-se mesmo ir buscar episódios irrelevantes do passado com a intenção de se minar a sua credibilidade. Lembram-se da PIDE? Mais ou menos assim, “and then some”. Sendo que o meu único compromisso é com a verdade, doa a quem doer (e a verdade normalmente dói), abstenho-me completamente de falar do que desconheço, ou se há verdades de que não me apetece falar, opto por não o fazer. Quais? Isso é lá comigo, e penso que todos sem excepção transportam consigo uma pequena arca dos tabus. Os meus cabem no porta-moedas da carteira, ou no bolso da frente da camisa. Talvez por este motivo, e graças à minha queda para a libertinagem moral e intelectual, até se pode dizer que me safo relativamente bem dos tais ataques “ad hominem” dirigidos por pessoas que pensam ser boa ideia atacar o carácter em vez dos argumentos. O que tenho visto de quem encontro na liça argumentativa e imediatamente se recolhe à defesa é a acusação, ou insinuação, de que “cometi ataques pessoais a cobro do anonimato”. Em primeiro lugar, se aquilo que entendeis por “ataques” é aquela chuva que mando para cima da parada da mentira, preconceito, fraude e cabotinismo que teimais em desfilar sem pudor, obrigado, e hoje são mais do que no tempo em que permanecia “a cobro a anonimato”. Podem crer que enquanto andar por cá e não me faltar arte, o meu Boletim Meteorológico vai anunciar sempre um temporal. A própria oração pronunciada em tom acusatório, denotando também um elevado grau de desespero, peca por ser completamente falsa: não sou nem nunca fui anónimo. Se agora o caro leitor ficou com os olhos abertos de espanto, e/ou soltou uma gargalhada cínica seguida de um comentário do tipo “ah, não foste o (introduzir obscenidade da sua preferência)”, recomendo-lhe antes de continuar que vá consultar no dicionário as definições de “anonimato” e “pseudónimo”. Vai ver que isso lhe passa logo, e ainda fica com mais saúde. E agora vamos então colocar os pontos nos outros “ii”, visto que nestes dois não é necessário: ninguém sabia quem era o Leocardo, até ao dia em que o próprio resolveu revelar a sua identidade. Pois é, mas também ninguém me perguntou; podem procurar onde quiserem, de alto a baixo, que não vão encontrar em parte alguma uma questão dirigida à minha pessoa nestes termos, ou semelhantes: “Quem é você?”, “Quem é o Leocardo?”, “Qual o seu nome de registo?” (volto a recordar que não sou baptizado). O que me chegava eram palpites sobre onde trabalho, os lugares que frequento ou em que estive determinado dia, e claro que pelo meio não faltava o “bluff” de quem garantia ter conhecimento da minha identidade, bem como ameaças, provocações e insultos, vindos na sua quase totalidade de…anónimos. Quando se quer saber o nome de alguém, não se desata a recitar todos os nomes próprios que nos vêm à cabeça, nem coagimos a pessoa a identificar-se “caso contrário fica sem dentes”. O Leocardo permanceu ali, indiferente, sem que ninguém lhe perguntasse quem coabitava na sua pele, até ao dia em que ele próprio tomou a iniciativa de vos dizer. Se eu responderia caso a pergunta me fosse colocada de forma directa, inteligível e civilizada? Claro que sim! E mesmo que duvidem, nunca vão poder ficar a saber ao certo, pois não? É o mundo que temos, este, um mundo cão. Ainda bem que sou um felino. PS: Como deve ser do conhecimento geral, participei na semana passada de uma tertúlia consagrada ao tema “Fórum Macau: Quo Vadis”, levada a cabo por um media da concorrência. Queria agradecer aos meus companheiros do painel, e colegas de blogosfera, Pedro Coimbra e Arnaldo Gonçalves, por se terem aprestado a conferir substância ao debate, recorrendo para tal aos seus conhecimentos técnicos. Sobretudo obrigado por não me terem deixado ficar ali sozinho a dizer disparates. Bem hajam!