Hoje Macau Manchete SociedadeMUST | Cientista quer procurar vida em Marte a partir de salinas lusófonas André Antunes, chefe de astrobiologia da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau, está à frente de um projecto de investigação que visa perceber se há, de facto, vida no planeta Marte com recurso a salinas em Portugal e Cabo Verde. Esperam-se resultados em 2026 Projectos de investigação em salinas em Portugal e em Cabo Verde podem ajudar a China a descobrir vida em Marte, disse à Lusa um cientista português que lidera uma unidade de astrobiologia em Macau. André Antunes esteve, no final de Abril, na primeira Conferência Internacional de Ciências de Exploração do Espaço Profundo, organizada em Hefei, capital da província de Anhui, no leste da China, que tem uma zona especial dedicada à indústria aeroespacial. Um dos temas em discussão, explicou o investigador natural de Coimbra, foi a recolha de amostras do solo de Marte no âmbito da próxima missão espacial chinesa, a Tianwen-3, cujo lançamento está previsto para 2030. Até 2026 a China quer decidir a localização exacta onde irá procurar “sinais de vida”, explicou o responsável pela unidade de astrobiologia do Laboratório de Referência do Estado para a Ciência Lunar e Planetária da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST). André Antunes esteve entre os cientistas que defendeu em Hefei a aposta na recolha de cristais de sal, porque “têm uma excelente capacidade de preservar água e matéria orgânica, micro-organismos, no seu interior, como uma espécie de cápsula do tempo”. “É por isso que os estudos de ambientes salinos são uma prioridade tão grande para a astrobiologia”, para formar “uma melhor noção dos limites da vida” em condições extremas, sublinhou o português. Apesar de atrasos causados pela pandemia, André Antunes revelou que trabalhos de campo, feitos com a Universidade do Minho, permitiram isolar novas espécies de micróbios que “sobrevivem e prosperam” em salinas em Aveiro e na ilha do Sal, em Cabo Verde. “Tijolos espaciais” Um dos aspectos que mais interesse tem despertado na equipa da MUST é a possível utilização de micro-organismos para transformar a poeira que assola o planeta vermelho em “tijolos espaciais”, referiu o investigador. “Uma das coisas que encarece e que complica bastante a vida em relação à exploração espacial em missões é que tem que ser tudo enviado” a partir da Terra, recordou André Antunes. A agência espacial chinesa quer recolher 500 gramas do solo de Marte e trazê-lo de volta para a Terra numa missão única, “o que pode parecer à partida uma estratégia um bocadinho mais arriscada”, admitiu André Antunes. Mas o cientista lembrou que as missões da China a Marte, que incluem uma nave orbital, um módulo de pouso e o robô Zhurong, a explorar o planeta vermelho desde 2021, têm tido “um sucesso tremendo”. Na semana passada, investigadores chineses revelaram que o Zhurong descobriu indícios da existência de água líquida, incluindo crostas, rachaduras, granulações e outras marcas criadas pela água na superfície de Marte.
Pedro Arede PolíticaCiência | Governo chinês acha que laboratório de referência toma rumo confuso Após avaliação de dois dias, o Ministério da Ciência e Tecnologia da China considera que o Laboratório de Referência dedicado à cidade inteligente obteve “resultados notáveis”, embora considere o rumo de desenvolvimento “um pouco confuso”. Sobre o Laboratório de Ciências Lunares e Planetárias, o único do género em toda a China, o desafio é a internacionalização Juntamente com o Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia (FDCT), os representantes do Departamento de Investigação Básica do Ministério da Ciência e Tecnologia da China, vieram a Macau avaliar o trabalho dos laboratórios de referência estatal dedicados à internet das coisas da cidade inteligente (UM) e às ciências lunares e planetárias (MUST). Ontem, durante a apresentação dos relatórios de avaliação, Guan Xiaohong, chefe do grupo de especialistas responsável pela avaliação do Laboratório de Referência do Estado da Internet das Coisas da Cidade Inteligente, apontou que o organismo “obteve resultados notáveis” na resolução dos “problemas” gerados pelo desenvolvimento de Macau, nomeadamente ao nível da implementação de “novas tecnologias” de rede electrónica e padrões de transporte. No entanto, ficaram também algumas críticas e sugestões. “Consideramos que o laboratório tem um posicionamento muito claro, mas que as direcções de desenvolvimento são um pouco confusas. O laboratório já obteve algum sucesso e vai avançar para a industrialização, mas, neste momento, ainda não sabe de que forma será integrada. A escala do laboratório não é suficiente e precisa de se expandir”, transmitiu o responsável, acrescentado ainda que deve procurar capitalizar com vantagens oferecidas pela Grande Baía, a internacionalização de Macau e o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Segundo Guan Xiaohong o azimute passa por concretizar a investigação desenvolvida e reforçar a formação de profissionais especializados. Em resposta, Song Yonghua, chefe do Laboratório de Referência assumiu que será feito “um melhor trabalho de ligação interdisciplinar nas áreas de pesquisa científica”, reafirmando que a cidade inteligente faz parte, não só da estratégia nacional, mas também do desenvolvimento de Macau. Foi ainda referido que o laboratório contribuiu para a elaboração do Plano Director e que no futuro, será feita uma maior aposta ao nível do fornecimento de “energia limpa”, sobretudo na eólica. De Macau para o Universo Acerca do Laboratório de Referência de Estado para a Ciência Lunar e Planetária, Hong Xiaoyu, Chefe do grupo de especialistas responsável pela avaliação frisou a importância do laboratório localizado na MUST para o projecto de exploração espacial da China, enaltecendo as suas características “únicas” a nível nacional, o trabalho de desenvolvido e ainda as vantagens que Macau oferece para “abrir janelas” a nível internacional. Como principais metas, o relatório aponta a “necessidade de formar quadros qualificados e atrair talentos”, o apetrechamento de equipamento de ponta e a criação de planos a médio e longo prazo para que as investigações tenham um maior alcance. À margem do evento, o Chefe do Laboratório de Referência de Estado para a Ciência Lunar e Planetária, Zhang Keke, mostrou-se satisfeito com os resultados da avaliação, embora considere que atrair talentos de topo ou produzi-los localmente “não é fácil”. “Se queremos ter um centro de pesquisa de topo a nível internacional precisamos de cientistas de topo mundial. Para atrair estes cientistas é preciso dar os incentivos necessários, mesmo a nível financeiro”, referiu. Por seu turno, o investigador português que lidera a equipa de astrobiologia do laboratório, André Antunes, sublinhou que “é muito importante ter superado a prova da avaliação”, que foi “muito positiva”. Sobre o artigo destacado em 2020 pela revista Nature do qual é co-autor, e que vem referido no relatório, o investigador considerou que é “muito importante para colocar Macau como ponto focal das actividades da astrobiologia para toda a China e como referência a nível global”. Acerca da contratação de quadros altamente qualificados, André Antunes lamentou a burocracia processual que não facilita a entrada mais célere de talentos em Macau.
Pedro Arede Manchete SociedadeArtigo de investigador português sobre luas geladas em destaque na Nature O artigo sobre exploração dos oceanos das luas geladas do sistema solar, assinado pelo investigador português que lidera a equipa de astrobiologia da MUST, André Antunes, foi uma das publicações destacadas em 2020 pela revista Nature, na Área da Astronomia. Com as atenções viradas para Marte, o investigador não tem dúvidas que as luas geladas “são o próximo passo da exploração espacial” Com os holofotes apontados para as três missões a Marte que estão actualmente a decorrer em simultâneo, a diferentes velocidades, há quem prepare terreno para materializar as próximas paragens da exploração espacial. O artigo intitulado “Experimental and Simulation Efforts in the Astrobiological Exploration of Exooceans”, com co-autoria do investigador português que lidera a equipa de astrobiologia da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), André Antunes, foi seleccionado pela revista Nature como uma das seis publicações que mais contribuíram para a área da Astronomia em 2020. Originalmente publicado na revista Space Science Reviews, o artigo traduz o trabalho desenvolvido por uma equipa multidisciplinar e internacional, que colectou estudos experimentais e de modelação de várias áreas científicas ligadas à exploração dos oceanos das luas geladas do Sistema Solar. “O foco do artigo acaba por se reflectir nos esforços de replicação em laboratório ou por via computacional, das condições que existem nestas luas e, esse tipo de trabalho, (…) é muito importante para conseguirmos planear devidamente futuras missões e interpretar os dados que iremos obter destas missões”, explicou André Antunes ao HM. Do ponto de vista científico, apontou o investigador da MUST, o trabalho destacado na publicação, assume uma importância acrescida, dado que “as luas geladas do Sistema Solar são o próximo passo da exploração espacial”, até porque são locais onde existe água em estado líquido e isso pode significar a possibilidade de encontrar vida. “Tendo em conta a experiência que temos na Terra, pois não conhecemos nenhum outro ponto do Sistema Solar ou do Universo que tenha vida, a existência da água em estado líquido é essencial. Por isso, o facto de encontrarmos sítios no nosso Sistema Solar em que há enormes quantidades de água líquida, gera grande expectativa, numa perspectiva de ser possível existir vida nestes locais”, elucidou o académico. Além disso, explica, investigar as luas geladas é uma tarefa “difícil”, pois, como estão mais afastadas da Terra, “implica toda uma série de condicionantes do ponto de vista técnico” para a sua exploração. Macau no mapa André Antunes destaca ainda a visibilidade que a distinção da Nature permite atingir a um nível maior, pois considera que a investigação, por si, “só faz sentido se, de facto, alcançar um número elevado de pessoas e investigadores e for utilizada para alguma coisa”. “Marte está na moda agora, mas são artigos como este que vão marcar o próximo passo da exploração espacial”, acrescentou, frisando que a publicação tem o condão, não só de agrupar contribuições de diferentes instituições como a NASA, a Agência Espacial Alemã e colaboradores de outras partes do mundo, como do Japão, mas também de compilar diferentes abordagens importantes para “estimular o diálogo entre disciplinas que geralmente não têm tendência a comunicar muito”. O investigador, também membro do Laboratório de Referência Estatal Chinês para as Ciências Lunares e Planetárias da Universidade Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), vinca ainda a relevância que o artigo tem para “colocar Macau no mapa”. “Do ponto de vista da MUST e do Laboratório de Referência Estatal Chinês para as Ciências Lunares e Planetárias, este tipo de reconhecimento é muito importante, pois acaba por contribuir e validar o caminho que temos vindo a traçar, que é o de colocar Macau como ponto de referência para a área da Astrobiologia, não só na China, como a nível global”, vincou André Antunes. Questionado sobre a missão chinesa a Marte, Tianwen-1, que se encontra na órbita do planeta vermelho, o investigador referiu que “as expectativas continuam muito altas”, embora a operação esteja a ser gerida de forma “mais cautelosa”, por se tratar da primeira missão chinesa em Marte. Já sobre os moldes como está a decorrer o trabalho de investigação nas plataformas experimentais de Astrobiologia e Cosmoquímica inauguradas em Dezembro de 2020 na MUST, André Antunes revela que devido à pandemia o laboratório está “semi-funcional”. A situação deve-se ao facto de membros estrangeiros da equipa não terem hipótese de vir para Macau. “Obviamente que não baixamos os braços, continuamos a trabalhar e a dar o litro e a fazer tudo por tudo para avançar com a investigação”, rematou.