Estudo | Uma carreira sólida é cada vez mais uma realidade para designers de moda locais 

Ana Cardoso, estilista e investigadora da Universidade de São José, publicou recentemente o estudo “Macau Fashion Industry in a Globalized Era: An Educational background Perspective”, onde se conclui que os designers locais têm cada vez mais a possibilidade de construir uma carreira com a sua marca, produzindo em Macau e na China e vendendo as suas colecções lá fora. Os apoios do Governo e a aposta em cursos universitários também ajudam ao fomento do sector

 

[dropcap]V[/dropcap]iver exclusivamente do mundo da moda em Macau e construir uma carreira nesta área é cada vez mais uma possibilidade para jovens designers. No estudo “Macau Fashion Industry in a Globalized Era: An Educational background Perspective” [A Indústria da Moda em Macau na Era da Globalização: Uma Perspectiva Educacional], Ana Cardoso, estilista e investigadora da Universidade de São José (USJ), conclui que o sector da moda em Macau está a conhecer grandes desenvolvimentos ao ponto de permitir a construção de novas carreiras e um mercado de vendas além-fronteiras.

“Hoje em dia os designers locais têm a sua profissão reconhecida enquanto carreira. Os designers trabalham a tempo inteiro nas suas próprias marcas para desenvolver uma produção em larga escala em fábricas situadas na China e com uma produção de pequena dimensão nos seus próprios ateliers a nível local”, lê-se no estudo recentemente publicado, ao qual o HM teve acesso.

Ana Cardoso destaca ainda o facto de, no passado, Macau ser um território onde as fábricas têxteis tinham um grande peso na economia, algo que mudou nos últimos anos, sobretudo desde a liberalização do jogo. Hoje em dia, a tecnologia está cada vez mais presente neste sector.

“Existe uma procura pela tecnologia, além de que atravessar fronteiras é uma questão importante, uma vez que as marcas locais, além de venderem os seus produtos em Macau, também começaram a vendê-los em Hong Kong e na China”, pode ler-se no estudo.

Outra das conclusões do estudo, levado a cabo por Ana Cardoso, é que o Governo tem um papel dinamizador desta área, ao promover eventos onde os designers podem mostrar as suas colecções, além dos subsídios concedidos.

“As várias plataformas criadas pelo Governo visam ajudar os designers a melhorar a sua criatividade e as suas estratégias de marketing e vendas”, aponta a autora. “Nos últimos anos, o Instituto Cultural (IC) promoveu de forma activa a indústria criativa local em parceria com o CPTTM [Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau] através de desfiles de moda, exposições, eventos e outro tipo de iniciativas em cooperação com o sector do turismo de Macau, bem como com o sector do cinema e empresas privadas. [Tudo] para levar os designers a confeccionarem uniformes, acessórios ou outros itens promocionais.”

Além desta ajuda na produção de roupa e acessórios, o IC também tem levado designers a participarem em exposições fora de Macau. Desta forma, estes podem ter “mais oportunidades para expandirem a sua marca e adquirirem mais experiência”.

“O IC também dá apoio às instituições locais para atrair estudantes locais e orientar jovens designers para adquirirem maior conhecimento na área da moda”, conclui o estudo.

A indústria da moda tem-se tornado, nos últimos anos, um dos vectores que pode contribuir para a diversificação económica, inserida na área das indústrias culturais e criativas. A fim de atingir este objectivo, o Executivo de Macau “criou um veículo que promove a moda local ao organizar diferentes tipos de eventos relacionados com a arte e moda”, além de ter desenvolvido o conceito de lojas pop-up, entre outras, “onde os designers locais e criadores podem colocar os seus artigos à venda”, destaca Ana Cardoso.

Relativamente ao trabalho criativo, os designers locais são fortemente influenciados pelo panorama multicultural de Macau, aponta a investigadora. “A realidade multicultural de Macau teve um profundo impacto no sector de moda local. As criações dos designers locais, até um certo ponto, são uma influência do panorama cultural e isso pode ser uma vantagem para a inspiração no processo criativo.”

Desta forma, “pode ser vista uma partilha cultural, impulsionada pela globalização e pelo contexto histórico da ligação entre a Ásia e a Europa existente em Macau”, acrescenta a autora.

Passagem criativa

Para realizar este estudo, Ana Cardoso realizou entrevistas a docentes e a entidades de ensino e organismos institucionais, como é o caso do Instituto Cultural (IC), USJ e Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM). De frisar que estas duas instituições de ensino são as únicas que, em Macau, disponibilizam cursos de licenciatura na área da moda.

Patrick Ho Hong Pan, chefe do departamento de promoção cultural e indústrias criativas do IC, falou do desenvolvimento que a indústria da moda teve nos últimos anos. “Macau, no passado, com a influência da cultura ocidental, teve um grande desenvolvimento na indústria de importação e exportação. Na década de 80, Macau era a base para uma economia manufactureira, onde a indústria funcionava com as encomendas da China, Europa e América. Nessa altura, Macau tinha muita produção de têxteis, jeans e malhas.”

No entanto, ao longo dos anos, “a indústria da moda sofreu uma significativa reorganização devido aos novos desafios económicos, em particular com a competição dos baixos custos laborais e o aumento dos custos de produção num território pequeno com recursos industriais limitados”, descreve Patrick Ho Hong Pan.

Com a saída das fábricas para a China, Macau deixou de ter uma indústria manufactureira para passar a ter um sector de moda ligado à criatividade. “Esperamos que esta área continue a expandir-se”, apontou o responsável do IC.

“Os designers vão produzir a uma larga escala ao invés de produzirem apenas uma ou duas peças, com estratégias de marketing focadas na procura de mercado. O comércio é também uma questão importante. Muitas marcas locais, além de venderem em Macau, também vendem em Hong Kong, Zhuhai e Pequim. Ao colaborarem com o mercado internacional, [os designers] vão crescer profissionalmente”, frisou.

Rita Tam, designer e professora no CPTTM, também considerou, em entrevista, que “o actual desenvolvimento da indústria da moda é crescente, e a grande mudança em Macau é que finalmente o território tem licenciaturas nesta área”.

Nesse sentido, “alguns jovens designers formados no CPTTM, em cursos de design e produção de moda, já fundaram as suas próprias marcas, com os seus próprios ateliers e negócios que já se estendem a outros mercados, como é o caso de Hong Kong e da China”, conclui Rita Tam.

A passagem de uma indústria têxtil e demasiado técnica para um sector criativo em permanente expansão não se fez sem a vertente educacional, aponta Ana Cardoso.

“O Governo de Macau e as instituições de ensino locais constituem um caminho importante para alimentar os novos designers e encorajar mais entradas nesta área. Ao longo dos anos, os cursos universitários têm vindo a adaptar-se às necessidades do mercado.”

O estudo de Ana Cardoso dá conta que estas mudanças passam “por especializações em design de moda” do ponto de vista da manufactura até à “gestão de negócio, técnicas de produção e o campo mais vasto de cursos criativos”, o que permite aos estudantes acederem ao mercado “com um potencial mais completo”.

Apostar no exclusivo

O estudo de Ana Cardoso deixa ainda uma sugestão para os designers de Macau, uma vez que estes “necessitam de encontrar formas de produzir produtos únicos e personalizados”.

“Esta é a grande mudança na indústria de moda nos dias de hoje. O pequeno mercado local busca por qualidade e itens únicos feitos à mão. É importante que os designers encontrem um equilíbrio entre a criatividade e o mercado. Essencialmente o mercado comanda as vendas e limita a criatividade”, denota a investigadora.

Ana Cardoso não termina o trabalho sem relembrar a cada vez maior ligação que a indústria da moda, inserida no sector das indústrias criativas, tem com o selo “Made in Macau”. “As Indústrias Criativas estão a fomentar a marca local ‘Made in Macau’, o que pode levar o território a construir uma identidade única e a promover uma enorme memória nos negócios do turismo”, lê-se.

A investigadora salienta o facto de o próprio Governo necessitar de estabelecer uma ligação entre o que é produzido localmente, a fim de criar uma diferenciação entre as marcas internacionais que invadiram o território. O segmento de luxo em Macau, desenvolvido lado a lado com a indústria do jogo e que se alimenta essencialmente dos turistas vindos da China, pode ser benéfico para aumentar a competitividade dos designers de Macau.

“Com a abertura de mais lojas de luxo, Macau vai trazer mais marcas internacionais, o que ajuda a construir uma maior competição em todo o mercado da moda. Este investimento beneficia os compradores locais e promove novos mercados de turismo oriundos de Taiwan, sudeste asiático, Índia, Indonésia e o Médio Oriente, e que podem promover as marcas de Macau”, lê-se no estudo.

19 Ago 2020

Tese | Indústria da moda profissionalizou-se e está a crescer

Chama-se “A indústria da moda de Macau no século XXI: uma perspectiva global do intercâmbio cultural entre a Ásia e a Europa” e é a tese de doutoramento da estilista Ana Cardoso. Nela é traçado um retrato sociológico dos designers locais e analisam-se perspectivas de mercado, sem esquecer a influência de um mundo multicultural nas colecções

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão, na maioria, mulheres. Fizeram a sua formação em Macau e, em segundo lugar, no Reino Unido. Trabalham sozinhos e poucos têm empregados, apostando tudo na sua própria marca. É este o retrato sociológico que a estilista Ana Cardoso traça dos designers locais e que consta na sua tese de doutoramento, entregue à Universidade de São José.

Intitulado “A indústria da moda de Macau no século XXI: uma perspectiva global do intercâmbio cultural entre a Ásia e a Europa”, o trabalho faz uma análise da indústria de moda local, da influência que as várias culturas trouxeram ao processo criativo e quais as estratégias de mercado a adoptar.

Os números apresentados por Ana Cardoso são fruto de um inquérito online realizado entre Maio e Junho de 2015, que tentou abranger os 35 estilistas ou marcas com registo no território. Com base nas 13 respostas válidas recebidas, a doutoranda pôde concluir que 77 por cento dos estilistas locais são mulheres. A maioria, 61 por cento, tem entre 26 e 30 anos, sendo que 46 por cento dos inquiridos fizeram a sua formação superior em Macau. Com 31 por cento, o Reino Unido surge como a segunda opção de formação nesta área.

Os dados mostram que, apesar de estarmos perante uma indústria em crescimento, as marcas não têm ainda uma solidez financeira que lhes permita empregar pessoas, uma vez que apenas 15 por cento dos inquiridos disseram ter empregados. A maioria, 39 por cento, trabalha sozinho nas suas produções ou com amigos e familiares.

As conclusões da tese de doutoramento mostram que os estilistas locais têm hoje mais capacidade para viver do seu trabalho. “Descobrimos que os designers locais estão mais envolvidos no seu trabalho criativo do que esperávamos. Isso mostra que estes têm laços com a indústria, seja através de cursos de moda ou do apoio familiar. A maior parte dos estilistas locais trabalha a tempo inteiro nas suas próprias marcas”, lê-se no documento.

Ana Cardoso conclui que “a indústria de moda local tem uma base forte e tem vindo a expandir-se”, sendo que os estilistas locais utilizam Macau “como um ponto de partida para promover o seu trabalho nos desfiles de moda e websites”.

Tendo a maioria dos inquiridos feito a formação no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), as vendas das suas colecções fazem-se “nas suas próprias lojas, em showrooms e também em lojas com diversas marcas”.

O mercado online é, segundo a doutoranda, muito importante para a obtenção de receitas. “Outra descoberta importante foi a importância das plataformas online. Os designers locais vendem os seus produtos no comércio electrónico, além de manterem as lojas tradicionais, ateliers, showrooms ou lojas pop-up. Esta estratégia é inteligente, simples, barata e rápida”, lê-se.

Enquanto a produção de grandes peças se faz na China, os acessórios e outro tipo de produtos de menor dimensão são feitos em Macau.

Uma indústria a crescer

Findo o boom das indústrias têxteis a partir da década de 1980, o mundo da moda em Macau tem vindo a mudar. A tese de doutoramento de Ana Cardoso fala numa expansão e na existência de um momento de viragem do sector. “A maior parte dos designers locais acredita que a indústria da moda está a crescer lentamente e a tornar-se maior”, observa.

“Entendemos que hoje em dia o processo criativo dos estilistas locais é reconhecido como profissão. Os designers trabalham a tempo inteiro nas suas próprias marcas para desenvolverem produção em larga escala na China ou uma pequena produção nos seus ateliers”, lê-se na tese.

O trabalho académico de Ana Cardoso chama também a atenção para uma maior formação dos estilistas. “Ao longo dos anos, os cursos superiores têm vindo a adaptar-se às necessidades do mercado. A mudança foca-se sobretudo na especialização do design de moda. Hoje em dia, os cursos estão mais focados nas tecnologias ligadas ao processo criativo do design de moda, o que dá um maior potencial aos alunos na entrada do mercado.”

Sendo Macau um mercado pequeno, Ana Cardoso conclui que é importante que os estilistas olhem lá para fora. “Este estudo mostra que os designers locais necessitam de uma vasta flexibilidade e diversidade para se adaptarem aos mercados asiático, de Macau e ocidental. O mercado de Macau é pequeno, e a Ásia pode ser um mercado potencial, liderando o processo criativo”, diz.

“Made in Macau” precisa-se

O inquérito revela ainda que 54 por cento dos inquiridos acreditam que a presença de produtos de luxo no mercado local afecta os produtos locais. Neste sentido, Ana Cardoso conclui que é necessário fazer uma maior ligação entre o que tem a etiqueta “Made in Macau” e o que vem de fora e que é vendido a preços elevados.

“O Governo precisa de ligar as marcas locais para criar produtos únicos em Macau, que possam garantir uma diferenciação face a outros produtos internacionais. Tal irá ajudar a expandir as lojas de diferentes marcas em Macau, numa mistura de marcas de luxo e produtos locais, para garantir que Macau possa ser um destino de compras no futuro.”

Ana Cardoso lembra ainda que o facto de Macau ser um território multicultural desde o século XVI trouxe influência à moda que se faz nos dias de hoje, sem esquecer as referências históricas do vestido de casamento tipicamente macaense.

Os estilistas locais “acreditam que Macau é um local de misturas culturais e que a indústria da moda é também um mercado com várias misturas, sendo que muitos dos cidadãos locais são influenciados pelos estilos do Japão, Coreia do Sul e Europa”.

“A realidade multicultural também influencia as criações dos estilistas e este panorama multicultural pode ser uma vantagem enquanto inspiração no processo criativo. Os estilistas mencionaram que ‘Macau é um lugar multicultural’ e que ‘Macau é território chinês e português, e as roupas reflectem estas duas culturas’.”

O trabalho académico faz ainda menção ao grande apoio que o Governo tem dado à indústria da moda, não só através da concessão de subsídios, como da criação de eventos que mostram as colecções que por cá são feitas.

17 Ago 2017

Programa de apoio a designers de moda anuncia vencedores da primeira fase

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]na e Nair Cardoso e Nuno Lopes de Oliveira venceram a primeira fase do “Programa de Subsídios à Criação de Amostras de Design de Moda 2016”. Os designers locais passam, assim, a ter a possibilidade de ir mais além no programa, organizado pelo Instituto Cultural (IC).
Os candidatos foram avaliados com base em vários critérios que passaram pela criatividade e originalidade, potencial de mercado, qualidade, viabilidade e grau de perfeição do plano de participação em exposições e desfiles da moda bem como a viabilidade do plano de marketing, entre outras. O júri – composto por cinco nomes todos ligados à indústria da moda – seleccionou 15 finalistas de uma lista de 24 candidatos.
Ana e Nair Cardoso formam uma das equipas seleccionadas para passar à segunda fase, com a marca Anna Noir, com a qual concorreram pela segunda vez a este concurso. Apresentaram uma colecção cujo tema foi “amor incondicional” e foi com “muito entusiasmo” que souberam ter passado à fase seguinte.
“Apresentámos 12 coordenados em catálogo e desses temos de preparar um para ser apresentado na fase seguinte”, disse Ana Cardoso ao HM. “Todos os prémios são bem-vindos e [este concurso] ajuda a impulsionar e a afirmar a marca no mercado.”
Quanto à inspiração, a estilista explica. “Ambas fomos mães recentemente, ambas gostamos do que fazemos e foi uma maneira de mostrar o que sentimos. São vários amores incondicionais”, frisa, justificando o tema da colecção.
Já Nuno Lopes de Oliveira admitiu ao HM que chegar a esta fase “significou muito”, uma vez que o estilista diz ter “muito mais para mostrar”, além de que o significado é ainda maior quando o prémio chega do lugar onde nasceu, frisa. “Este prémio encoraja designers como eu, que vivem fora de Macau, a regressarem.”
O “Programa de Subsídios à Criação de Amostras e Design de Moda” existe desde 2013 e tem na sua génese a promoção do desenvolvimento da indústria da moda de Macau. Este ano recebeu mais de 40% de candidaturas provenientes da chamada nova geração de designers.
Os nomes que passaram à segunda fase terão ainda de dar provas do seu trabalho. Assim, foram incumbidos da tarefa de “produzir um traje amostra com base no trabalho seleccionado, o qual deverá ser exibido por um modelo, com maquilhagem e penteado apropriados, de forma a realçar o efeito estilístico global”, diz um comunicado do IC.
Segue-se depois uma entrevista com os jurados. Após a segunda análise, os candidatos seleccionados recebem, cada um, um subsídio no montante máximo de 11 mil patacas “como compensação para a execução e apresentação das amostras”.
Já durante a “segunda análise serão escolhidos, no máximo, oito vencedores, os quais terão direito a um subsídio até um máximo de 160 mil patacas cada, para a execução de amostras e de materiais promocionais”. A segunda análise ainda não tem nem data nem local marcado.

29 Set 2016

Moda | Ana Cardoso aborda traje macaense de casamento em palestra

A designer Ana Cardoso vai participar numa palestra numa universidade do Canadá em Julho onde irá abordar o traje de casamento na cultura macaense durante o tempo colonial. “Vou falar sobre a indústria da moda no século XXI e também das fusões interculturais que houve em Macau e em Portugal. Na época colonial os portugueses casavam com as chinesas, e foi aí que surgiu a ideia”, contou a doutoranda da Universidade de São José (USJ) ao HM, que está a abordar este tema na sua tese.
Segundo Ana Cardoso, não foi fácil a fusão de trajes nos casamentos ocorridos em Macau naquela época. “Em Macau sempre existiu a parte chinesa e os portugueses que vinham de fora. Primeiro aos portugueses que chegavam era difícil o acesso aos chineses porque eles não tinham a parte católica, e só muito depois é que houve uma influência. Inicialmente os portugueses casavam com malaios e filipinos, era mais fácil em termos de casamento. Ao nível do traje de cerimónia, em Macau começou a fazer-se o duplo casamento, em que havia a cerimónia portuguesa e chinesa. O noivo e a noiva usavam dois tipos de traje, entre o século XVI até ao século XIX e XX. No inicio foi um bocado complicada (a adaptação), porque ou se casava de uma maneira ou outra. A partir de 1900 o noivo casava com o fato e a noiva tinha um fato branco, com rendas, e gola asiática e botões chineses. Mas isso quase a entrar no século XX”, contou a estilista.
Ana Cardoso considera que cada vez mais os noivos em Macau optam por casar de ambas as formas. “Essa tradição não se tem vindo a perder, e usa-se cada vez mais. No inicio havia muita aceitação do lado asiático casar com a moda europeia e ficar por aí. Só depois é que a parte asiática começou a fazer uma maior ligação. Começou a surgir uma espécie de mistura, com dois tipos de cerimónia. Antes não havia o duplo casamento. Antes os macaenses faziam tudo à moda europeia.”
Para a estilista, que também é formadora no Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau (CPTTM), são necessários mais trabalhos sobre a moda dos antepassados. “Em termos do traje temos muito pouca informação e fazem falta mais estudos”, rematou.

1 Fev 2016