Música | Achun lança Keep Da Vibez Goin’ e prepara concertos em Macau

Keep Da Vibez Goin’ é o mais recente disco de Achun, o músico local que na ausência de uma comunidade alternativa em Macau centrou a carreira em Hong Kong. Numa altura em que a ansiedade e o negativismo ganham terreno, os sons de Achun são o elixir da boa disposição, descontração e ritmo à vida

 

Apesar de tudo, a boa onda prevalece. “Keep Da Vibez Goin’”, o disco de Achun lançado recentemente, é o equivalente a abrir todas as janelas numa casa fechada há demasiado tempo, a aragem que rompe com o mofo que se expandiu na inactividade.

Situado no campo da música electrónica, distante dos marasmos barulhentos das discotecas, “Keep Da Vibez Goin’” resulta da colagem de muitos estilos que influenciam o músico de Macau, como hip hop, drum and bass, big beat e soul. “Neste último disco, muitas faixas nasceram de samples de antigas músicas de pop japonês dos anos 80, sons 8-bit e de velhos jogos de Nintendo”, conta ao HM. As melodias simples e difíceis de tirar da cabeça que servem de banda sonora de videojogos, o ambiente dos jogos de arcada e o universo digital japonês são fontes de inspiração para Achun.

Com a pandemia a congelar a vida e a remeter a carreira para a internet, sem concertos marcados e com as viagens entre Hong Kong e Macau entremeadas com quarentenas, o músico local acabou por ficar grande parte do ano passado na região vizinha. Pelo meio, o seu filho nasceu e lançou em Julho de 2020 “Unending Journey”, um disco que acabou por não ter suporte físico, apesar dos planos para o editar em vinil. O álbum encontra-se à venda em formato digital no bandcamp e Spotify do artista.

No final do ano passado, o DJ que comanda a XXX Records, editora de Achun, desafiou o artista a trabalhar no próximo registo. Foi neste cenário que nasceu “Keep Da Vibez Goin’”, o disco que soa como um grito cool de resistência ao cenário negativo que se estabeleceu.

A faixa de abertura, “Groovin’ In Da Midnite” dá algumas pistas sobre a mente criativa de Achun, com a melodia a ser entregue pela via digital 8-bit a remeter o ouvinte para um universo de videojogos. A música seguinte, “Say Goodbye”, é uma festa, plena de groove e batida drum and bass que reclama visibilidade de um artista criativo e com uma noção muito particular de melodia, longe dos produtos comerciais que geraram fenómenos como os Mirror, outras boybands semelhantes e artistas que esticam a corda do cantopop até ao infinito.

Um ninho no nicho

Apesar de somar dezenas de milhares de streamings no Spotify, Macau não acarinha nichos culturais que fujam às tendências mais convencionais de criação, em particular na música. Motivo pelo qual a carreira de Achun tenha passado mais por Hong Kong, Zhuhai e outros locais no Interior, como Xangai.

Em Hong Kong, Achun encontrou uma pequena comunidade alternativa, que foge às regras da arte mercantil ditada ainda por meios antigos como a televisão. “A maioria do meu público é de Hong Kong, antes da pandemia passava muito tempo lá e tocava muito ao vivo. Quando regressei este ano a Macau percebi que ninguém me conhece, continua tudo muito parado, a maioria das pessoas não sai, não vai a festas ou concertos”, contextualizou o músico ao HM.

Apadrinhado pela editora XXX, que nasceu de um club nocturno em Kowloon com o mesmo nome, Achun encontrou artistas com visões semelhantes com quem colaborou. Luna is a Bep, artista em ascensão na cena hip hop de Hong Kong, foi uma das colaboradoras recentes do músico de Macau. A primeira parceria aconteceu há dois anos, com um tema inspirado nos protestos em Hong Kong e nas questões identitárias das gerações mais novas.

A segunda colaboração é uma das faixas de destaque do disco do ano passado de Achun. “Tree Poisons”, tema inspirado no conceito budista dos três venenos (ignorância, apego e aversão), que fala das angústias dos mais novos na região vizinha. Disparidade entre ricos e pobres, habitação e elevado custo de vida são questões sociais fortes que estão no epicentro de uma melodia calma, com toques de soul e uma linha de baixo que faz mexer as ancas.

O gosto musical de Achun é bem representado nesta faixa. Batidas ténues, que embalam mais do que agitam, longe dos tempos de rocker, quando os sons do pop-rock britânico dominavam a discografia, com Oasis, Blur, Radiohead e Suede entre os discos predilectos. Porém, já a electrónica se infiltrava no seu gosto, através de nomes incontornáveis como The Chemical Bothers, The Prodigy e Daft Punk.

Hoje, com 37 anos, o músico de Macau evoluiu enquanto compositor, aprimorando ecletismo e múltiplas influências em melodias e ritmos que transportam o ouvinte para cenários mais optimistas do que os que vivemos.

Achun tem no calendário duas actuações em Macau. No próximo dia 30 de Outubro irá servir o prato principal da ementa da noite de Halloween no DD3 e em Novembro actua no Festival Hush!, ainda sem data marcada.

27 Set 2021