CCCM | Revista “Via do Meio” apresentada em Lisboa

Nascida das páginas do HM e já lançada em Macau, a revista “Via do Meio” teve na segunda-feira a sua apresentação em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau. Carlos Morais José, director da publicação, falou da importância de traduzir para português os textos clássicos das grandes civilizações, como a chinesa

 

Foi lançado na segunda-feira em Lisboa, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), o primeiro número da revista “Via do Meio”, com textos sobre poesia, arte e pensamento chinês traduzidos por sinólogos e académicos dedicados à cultura chinesa. De frisar que a publicação, dirigida por Carlos Morais José, teve origem nas páginas do HM, que começou por publicar alguns textos de autores como Paulo Maia e Carmo, Ana Cristina Alves, Cláudia Ribeiro ou as traduções de Rui Cascais, entre outros, algo que se mantém nas edições diárias.

Durante a apresentação, Carlos Morais José realçou a importância de divulgar mais “uma cultura que, para nós europeus, apresenta muitas vezes aspectos difíceis de compreender”, falando dos primórdios deste projecto editorial.

“Somos um órgão de comunicação social em língua portuguesa da RAEM, e entendemos que é importante ter esse papel de transmissor da cultura chinesa. Então, desde o princípio, investimos nisso e há algum tempo que propomos a alguns autores que escrevam sobre a China e que traduzam textos clássicos chineses que ainda não estavam disponíveis em português.”

Em Macau, a “Via do Meio” já vai o seu terceiro número. Mas a transposição para o mercado português faz sentido “porque o mercado de Macau em língua portuguesa é muito limitado”, disse. “Faz sentido publicar [em Macau], mas é uma pena gastarmos tantos recursos e ficarmos apenas naquele mercado limitado. Podemos falar da Internet, mas este não é um tipo de leitura para [formato online], esta revista, se quiserem, é para coleccionar, para guardar em casa, para ir lendo.”

Traduzir é preciso

Carlos Morais José deixou ainda o repto para se continuar a traduzir os textos clássicos das grandes civilizações, como é o caso da chinesa, uma civilização milenar. “[Traduzir] é um trabalho de defesa da nossa língua. Nós temos de ter os grandes textos traduzidos em português e esse é um trabalho fundamental, nosso, dos portugueses e de todos os países que falam a língua portuguesa. Não podemos dizer que vamos ler Confúcio e lermo-lo em inglês. É preciso que os grandes textos das grandes civilizações estejam traduzidos para língua portuguesa.”

A apresentação da revista foi acompanhada de uma pequena palestra sobre confucionismo, também protagonizada por Carlos Morais José, que recordou o facto de a “via do meio” ser um caminho que se percorre constantemente, nunca finalizado. “Confúcio diz que é impossível estar constantemente na via do meio, que é difícil criá-la”, disse, referindo-se a esta ideia como uma “utopia confuciana”.

“Não perceber a importância que esta civilização já teve na história, fundamental, [não é correcto] e penso que temos de a estudar. Estamos todos juntos no mesmo planeta e há conceitos chineses interessantes para pensar exactamente o planeta em que vivemos. Por exemplo, o conceito que Xi Jinping criou de uma comunidade global partilhada é algo incontornável. Essa comunidade já existe. Mas há outros conceitos igualmente importantes”, rematou.

Ontem foi ainda apresentado o projecto pioneiro de uma nova editora de Carlos Morais José em Portugal, a “Grão-Falar”, focada na publicação de clássicos chineses em português, e que já tem pensadas edições como “As Leis da Guerra”, de Sun Bin, com tradução e notas de Rui Cascais, ou “Textos Clássicos sobre Pintura”, de Paulo Maia e Carmo.

Destaque ainda para a apresentação da mesma publicação na passada quinta-feira em Braga, na Universidade do Minho, que tem o curso de Línguas e Culturas Orientais. Nessa sessão, Carlos Morais José fez também uma breve abordagem ao panorama do jornalismo em Macau.

27 Set 2023

A Via do Meio chega hoje a Portugal

Hoje, dia 25 de Setembro, pelas 18,30 horas, será apresentado no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, o número 1 da nossa revista trimestral Via do Meio, uma publicação em língua portuguesa totalmente dedicada à cultura chinesa, ao que se seguirá a sua distribuição por todo o país. Também hoje, ao mesmo tempo, na RAEM, será distribuído o número 3.

Raramente de Macau algo de regular chegou a Portugal, por isso sentimo-nos também pioneiros, nesta viagem de regresso, que muito tem para contar. Nos porões desta nau, a que chamamos revista, trazemos partes de uma civilização milenar, da sua História, da sua Literatura, dos seus costumes, da língua e das suas crenças, enfim, de uma cultura cujas raízes se estendem vastamente pelo tempo e cuja diversidade ultrapassa quaisquer expectativas.

Esta viagem não começou ontem, nem surge por acaso, ao sabor de um capricho ou de uma disposição momentânea. Pelo contrário,
ela nasceu com o Hoje Macau, logo nos seus alvores, e com o nosso entendimento de que um jornal não deve apenas informar, mas também proporcionar formação aos seus leitores. Sendo um media em língua portuguesa, pareceu-nos desde o primeiro momento importante servir de intermediário entre os que se expressam em português e a cultura chinesa, dando a conhecer a esta comunidade linguística que por aqui vive, as tessituras da cultura daqueles que os rodeiam, permitindo assim um melhor entendimento do que por vezes parece obscuro, além do prazer estético que o contacto com a poesia, a pintura e o pensamento chineses proporcionam.

Sabem os nossos leitores que há duas décadas publicamos regularmente traduções, ensaios, crónicas, entrevistas, etc., no âmbito da cultura chinesa, o que nos proporcionou um excelente acervo que a editora Livros do Meio, também parte do grupo Hoje Macau, tem publicado em livros. Editámos poetas, pensadores, memórias, sobretudo, textos que não se encontravam traduzidos, mas que entendemos como fundamentais para o conhecimento da China. E, como é óbvio, o nosso trabalho não acabou, nem se fica por aqui.

Desde o ano passado que Macau já conhece a Via do Meio. Trata-se de uma revista trimestral que reúne os artigos dos sinólogos que
colaboram connosco. Alguns há mais de uma década, outros companheiros recentes desta viagem de regresso, em que, pela Via do Meio, a língua portuguesa leva os valores orientais para Ocidente, como um dia trouxe os valores ocidentais para Oriente. E, finalmente, agora que chegámos a Portugal, é a todos esses companheiros de viagem que tenho de agradecer terem embarcado nesta nau onde se fala a China em português e realizado esta aventura sem procelas.

Ao que se diz, mais do que a viagem, mais do que chegar ao destino, o que importa é quem vem connosco.

PS: Antes do Natal, começaremos a publicar livros sobre cultura chinesa em Portugal, através da editora Grão-Falar. Alguns são grandes novidades. Hão-de ouvir falar disso.

25 Set 2023

Via do Meio | Revista dedicada à cultura chinesa a partir de Setembro em Portugal

Uma aposta em conteúdos em português sobre a cultura clássica chinesa é o mote da “Via do Meio”, a primeira revista em língua portuguesa totalmente dedicada a este tema, lançada pelo HM, e que estará disponível em Portugal a partir de Setembro. O lançamento oficial acontece esta quarta-feira na Fundação Rui Cunha

 

A primeira revista em língua portuguesa totalmente dedicada à cultura chinesa, a Via do Meio, lançada pelo jornal diário Hoje Macau (HM), vai estar disponível a partir de Setembro em Portugal, disse à Lusa o responsável pela publicação.

“Como estamos num mundo global e a China é um dos principais parceiros desse mundo global, e uma das principais potências também, acho que é importante que nós conheçamos a cultura chinesa, além de ser esteticamente muito gratificante e teoricamente também muito gratificante conhecer uma cultura com esta vastidão e diversidade”, disse o director do HM, Carlos Morais José.

Ainda persiste a ideia de que “a cultura chinesa é monolítica”, continuou Morais José desde Macau, defendendo que existe “uma gigantesca diversidade de textos, opiniões, maneiras de ver”.

A Via do Meio, com periodicidade trimestral, vai ser distribuída em “universidades que têm cursos de chinês ou universidades com estudos humanísticos”, além de se encontrar à venda em livrarias, avançou Morais José, adiantando que a iniciativa tem o apoio logístico do Centro Científico e Cultural de Macau.

Primeiro no jornal

O projecto nasceu em Outubro do ano passado, inicialmente apenas como uma nova secção do jornal, em substituição do “H”, onde diariamente são publicados artigos e traduções de sinólogos de diferentes partes do mundo, que se expressam em língua portuguesa e abordam temas que vão do “pensamento à história, passando pela literatura, pela ciência e pela própria sociedade”.

“A ideia é todos os dias ir publicando no Hoje Macau e depois, de três em três meses, fazer uma recolha desses textos e fazer então a revista”, salientou o responsável, lembrando que o primeiro número já saiu em Fevereiro no território.

Nomes do estudo da China, como os portugueses António Graça de Abreu, Ana Cristina Alves e Rui Cascais, o alemão Roderick Ptak e o brasileiro Leandro Durazzo são alguns dos colaboradores.

As reações “têm sido excelentes”, notou Carlos Morais José. “Como costumo dizer, os portugueses têm a tradição de ser os primeiros sempre a fazer as coisas”, referiu ainda o jornalista, lembrando que Portugal teve “uma grande importância em termos da sinologia europeia”.

“Porque fomos nós os primeiros a fazer livros sobre a China, se bem que fossem em latim – estamos a falar dos padres jesuítas – , mas foram livros muito importantes para a Europa da altura, porque davam descrições da China que não havia. Mas a nossa sinologia, a partir do século XIX, talvez com o fim dos jesuítas, de algum modo entrou em pousio”, disse.

Carlos Morais José lamenta que Portugal não tenha dado aos estudos nesta área a “importância que eles merecem”, notando, porém, que, nos últimos anos, com a criação de novos cursos de chinês e de cultura chinesa, a situação está a mudar.

“Parece-me que agora estamos a voltar ao bom caminho. Até porque temos de ver que nós temos uma relação secular com a China e, portanto, temos obrigação de ter algum interesse por esta cultura e por este povo”, disse.

Os dois primeiros números da Via do Meio, ambos com 148 páginas, vão ser lançados oficialmente em Macau esta quarta-feira, às 18:30 na Fundação Rui Cunha.

13 Jun 2023

A Via do Meio

A partir do século XVI, podemos afirmar que foi através dos portugueses, nomeadamente padres jesuítas, que a China foi sendo cada vez mais conhecida e discutida na Europa. O “Tratado das Cousas da China”, escrito por Frei Gaspar da Cruz (1520-1570) e publicado em Évora por André de Burgos em 1569 “é, tanto quanto hoje se sabe, o primeiro texto impresso integralmente dedicado ao Celeste Império”, lê-se na introdução de uma edição portuguesa de 2019, efectuada pela Universidade do Porto.

Muitos outros textos se seguiram, como os curiosos diálogos que constituem o “Excelente Tratado” (1590), de Duarte Sande e Alessandro Valignano, e também as cartas originárias da própria China, escritas por esses sacerdotes missionários. Lembramos também aqui, a título de exemplo, as importantes “Relação da Grande Monarquia da China” (1637), de Álvaro Semedo, SJ, seguida pela “Nova Relação da China” (1668), de Gabriel de Magalhães, SJ. Se a primeira é, no dizer de António Aresta, “uma das obras magnas do amanhecer da sinologia europeia”; a segunda foi admirada por toda a Europa culta pela sua minúcia e extensão.

Resumindo, foi em grandíssima parte pela mão de portugueses, ainda que grande parte deles escrevesse em latim, que a China foi aos poucos ocupando um lugar importante no imaginário intelectual europeu. Infelizmente, a partir de finais do século XVIII a sinologia em língua portuguesa conheceu um longo período de pousio, cujas razões não vamos aqui dissecar.

Em Macau, durante o século XX, assistimos à republicação das referidas obras, feita graças aos esforços solitários de Luís Gonzaga Gomes e, na década de 90, sob a égide do Instituto Cultural de Macau. Contudo, se estas obras fundamentais foram de novo impressas, algumas delas pela primeira vez em língua portuguesa, pouco ou nada foi feito para estimular os estudos sinológicos. Tem sido, sobretudo, no Brasil que têm surgido estudos sobre a China em língua portuguesa, estando agora, no século XXI, a academia portuguesa a despertar de décadas de apatia e desinteresse por esta área de estudos.

Sem pretensões excessivas, desde o seu aparecimento em 2001, que o Hoje Macau tem divulgado nas suas páginas temas relacionados com a Cultura Chinesa em língua portuguesa. Publicámos traduções de poemas, de textos fundamentais do pensamento chinês, cuja tradução estimulamos e que vamos vertendo em livros através da editora Livros do Meio, estudos de Macau (que consideramos integrantes da sinologia em português), artigos sobre mitologia, antropologia, história, etc..

Porém, entendemos que chegou a altura de intensificar este nosso propósito. Para isso criámos esta nova secção, intitulada “Via do Meio”, que diariamente apresentará aos nossos leitores artigos e traduções pela pena de alguns dos sinólogos que se expressam em língua portuguesa, bem como entrevistas com estes especialistas, a propósito dos seus trabalhos.

Aproveitando estes textos, será publicada bimensalmente uma revista com o mesmo título, “Via do Meio” (em formato digital) que, ao que sabemos, será a primeira do género na língua de Camões.

Esperamos que os nossos leitores sigam estes trabalhos com o interesse que merecem, pois acreditamos que é através do conhecimento mútuo que os povos criam laços mais duradouros e se evitam muitos dos mal-entendidos que, naturalmente, surgem quando diferentes civilizações se encontram, sobretudo hoje, neste espaço, partilhado e cada vez mais exíguo, a que chamamos Terra.

6 Out 2022