Hoje Macau Grande PlanoIgreja | Vítimas de abuso sexual querem que Leão XIV assuma tema Um dos porta-vozes do movimento que representa vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica pediu ontem que o Papa Leão XIV ponha o tema como uma prioridade e definas regras globais para lidar com os casos. “Agora que temos um novo papa latino-americano deve ser dado um exemplo em todos os episcopados latino-americanos que, ‘por decisão e por ordem do Papa, não pode existir um duplo padrão’ entre as várias hierarquias católicas espalhadas pelo mundo”, afirmou o argentino Sebastián Cuattromo, do colectivo Adultos pelos Direitos da Criança. No dia em que o Papa fez a primeira saudação dominical na Praça de São Pedro, rezando o Regina Caeli, um grupo de vítimas juntou-se na Praça para pedir que o Vaticano imponha regras comuns a toda a Igreja. Cuattromo, de 42 anos, deu o exemplo do que se passa “nas sociedades do primeiro mundo e a América Latina que funciona como um quintal do Vaticano, onde as mesmas exigências [de reparação] não são sentidas como, por exemplo, são sentidas perante a opinião pública europeia”. “Como sobrevivente de abusos sexuais na infância no seio da Igreja Católica, com outros companheiros sobreviventes deste crime, esperamos que o Papa faça uma menção explícita a esta questão e uma referência explícita ao que tenciona fazer a este respeito para saldar as dívidas muito grandes que, na nossa opinião, a Igreja Católica ainda tem para com as vítimas”, afirmou Cuattromo. “Nós, vítimas, quebrámos o tabu, o silêncio, a negação, a ocultação, com as nossas lutas, com um enorme sacrifício, e alcançámos um nível de visibilidade na opinião pública”, que obrigou a Igreja a encarar o problema. Por isso, o grupo global de vítimas subscreveu uma petição já entregue, em que exigem “uma verdadeira lei de tolerância zero que seja estabelecida como direito canónico”, o que “implicaria a expulsão imediata da vida religiosa de qualquer pessoa que estivesse envolvida nestes actos”. Além disso, propõem uma “comissão da verdade que não deve ser dirigida pelo Vaticano, mas por organizações internacionais de direitos humanos com padrões das Nações Unidas e com as quais o Vaticano teria de cooperar plenamente, libertando todos os arquivos que possui sobre o assunto”. Finalmente, as vítimas pretendem um “processo de justiça para as vítimas, onde, entre outras coisas, haja acções concretas de reparação e justiça para os sobreviventes em todo o mundo”, com os custos suportados pelos próprios bens da Igreja. Na primeira pessoa No seu caso particular, Sebastian Cuattromo moveu uma acção contra um religioso de uma escola católica de Buenos Aires por abusos sexuais e ganhou o processo em 2012, ainda antes da eleição para Papa do então cardeal Bergoglio, arcebispo da capital argentina. “Então, a hierarquia católica da cidade pôs-se contra as vítimas e apoiaram a escola, que pretendia silenciar as vítimas desse delito através de um acordo económico privado”, recordou. “Fizeram-nos sentir uma profunda subestimação da gravidade do crime de que estávamos falando”, até porque, naquele momento, “eu era um jovem que estava a lutar em solidão, com muitas dúvidas, com muitos menos, com muita angústia e senti uma absoluta falta de empatia e, em vez disso, profunda arrogância”, explicou. Depois da eleição de Francisco, “convidei-o publicamente e privadamente para se reunir com as vítimas do seu país, especialmente os que tiveram más experiências”, mas o Papa “nunca teve a coragem nem a sensibilidade de nos convocar”. Para o novo Papa, que é também acusado de ter ignorado queixas de abusos quando era prior geral dos Agostinhos, Cuattromo espera que Leão XIV “assuma este tema pessoalmente” e que demonstre estar disposto “a ir às últimas consequências”. O cardeal Robert Francis Prevost, de 69 anos, foi eleito na quinta-feira Papa, após dois dias de conclave, na Cidade do Vaticano, e assumiu o nome de Leão XIV.
Hoje Macau Grande PlanoOsaka 2025 | Arquitecto japonês Kengo Kuma considera IA amiga da arquitectura O arquitecto japonês Kengo Kuma afirma em entrevista à Lusa que quis mostrar a singularidade entre Portugal e o Japão no projecto do Pavilhão de Portugal na Expo 2025 Osaka e considera a IA (inteligência artificial) amiga da arquitectura. Questionado sobre se a inteligência artificial (IA) é amiga ou inimiga da arquitetura, Kengo Kuma opta pela primeira opção. “Sim, é uma amiga”, até porque na verdade no processo de design “estamos a trabalhar com a IA”. A inteligência artificial “é uma equipa muito forte entre nós” e “gostamos de trabalhar” com esta tecnologia, refere. “Quisemos mostrar a relação com o oceano em Portugal”, diz Kengo Kuma, quando questionado qual foi a inspiração do projecto. Portugal participa na Expo Osaka com o tema “Oceano, Diálogo Azul” e está situado na zona “Empowering Lives”, num lote com 1.836,75 metros quadrados, ficando perto do Pavilhão do Japão. O projecto de Kengo Kuma expressa a dinâmica do momento oceânico, utilizando 9.972 cabos suspensos que pesam mais de 60 toneladas, e redes recicladas para criar um efeito perene e exposto aos elementos naturais como o sol e o vento, de acordo com a organização. Ligações ao mar A vida de Portugal e do Japão está “muito ligada com o oceano”, no sentido em que “comemos peixe, viajamos muito pelos oceanos e a história e a vida estão intimamente ligadas ao oceano”, acrescenta o arquitecto. Há esta “singularidade de Portugal e do Japão e queremos mostrar” essa semelhança entre os dois países. O volume do Pavilhão de Portugal é caracterizado por uma instalação cénica que simboliza a praça superior suspensa como uma onda. “Este design é muito, muito novo para a história da arte. Há muito tempo tentamos usar linhas como um recurso para a navegação. Com essas linhas, tentamos mostrar a beleza dos fenómenos naturais”, no mar “vemos a luz natural e a brisa”, explica. “Tentámos trazer esse tipo de fenómeno natural para a Expo, talvez seja a primeira tentativa na história da Expo de trazer a própria natureza para o pavilhão”, sublinha o arquitecto. Sobre o que vai acontecer ao pavilhão depois de terminar a Expo, o arquitecto diz querer levar a diversidade do projecto (que inclui cabos de diversos diâmetros e comprimentos) para diferentes lugares. “Quero levar essa diversidade para diferentes lugares” e “agora estamos a planear trabalhar com alguns artistas” sobre isso. Kengo Kuma adianta que o projecto do Matadouro, no Porto, está a concluir-se e que tem mais dois projectos em Portugal. O arquitecto diz adorar o lado das grandes cidades em Portugal, mas também o lado montanhoso e o oceano do país. “Queremos desfrutar da diversidade de Portugal”, sublinha. Criar memórias Questionado como é que se pode tornar actualmente a arquitectura mais sustentável, Kengo Kuma considera que “o mais importante para a sustentabilidade é deixar a memória da arquitectura para sempre”. Ou seja, “a arquitectura, a vida, basicamente, não são tão permanentes”. Contudo, “podemos deixar a memória da arquitectura para sempre, que é a conexão entre arquitectura e humanidade” e isso “é o mais importante para a sustentabilidade”, remata. Instado a comentar a polémica à volta da sua escolha para projectar o Pavilhão Português, o arquitecto salienta que tem um escritório internacional que trabalha em Portugal. “Talvez seja por isso que fomos convidados”, conclui. Sobre os desafios que a arquitectura enfrenta actualmente, Kengo Kuma refere que o seu custo está a aumentar “drasticamente” e que todos querem reduzi-lo. “Mas, ao mesmo tempo, as pessoas querem criar um novo monumento” para este pilar. “E o custo e a monumentalidade devem andar juntos” na actualidade. A Expo 2025 decorre desde 13 de Abril e vai até 13 de Outubro na ilha artificial de Yumeshima, localizada na orla de Osaka, Kansai, no Japão.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteStartups | Portugal interessado no fundo sino-lusófono de tecnologia Uma delegação de Macau, com representantes do Governo e de startups locais, está em Portugal para reunir com líderes de empresas portuguesas e participar na Conferência SIM, que termina hoje no Porto. Durante a visita foi assinado um protocolo que firma o interesse português no novo fundo sino-lusófono de tecnologia, gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group Diversas startups de Macau estão representadas numa viagem a Portugal esta semana, e cuja comitiva integra também representantes da Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento de Turismo (DSEDT) e a Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau, China e Países de Língua Portuguesa (AEIMCP). O objectivo passa por estreitar laços com os ecossistemas de empreendedorismo de Lisboa e Porto e reforçar o interesse de Portugal no novo fundo sino-lusófono de tecnologia destinado a apoiar startups, e que será gerido pela empresa estatal de Zhuhai Da Heng Qin Group. Neste sentido, foi assinado na segunda-feira, em Lisboa, um protocolo entre a AEIMCP e a Nascente Value, “empresa portuguesa com vasta experiência na captação de investidores” e também em “aceleração do crescimento de pequenas e médias empresas (PME) e startups em Portugal e nos países de língua portuguesa, com foco em inovação e tecnologia de ponta”, é destacado num comunicado conjunto da AEIMCP e Nascente Value enviado ao HM. O protocolo assinado na segunda-feira firma o maior acesso português ao novo fundo sino-lusófono de tecnologia. O documento foi assinado no âmbito de uma visita do grupo de Macau à Lispolis – Pólo Tecnológico de Lisboa. A Nascente Value passa, assim, a ser “agente exclusivo para serviços de captação de investidores em Portugal, com foco no envolvimento de investidores no fundo” sino-lusófono, cujo nome oficial é “Da Heng Qin Sino-Luso Technology and Innovation Investment LPF”. Este “promove investimentos em empresas de inovação em ciência e tecnologia de alta qualidade nos países de língua portuguesa”, explica a mesma nota. Assim, este protocolo vai permitir que a AEIMCP, enquanto entidade conectora entre Portugal e o fundo via Macau, e a Nascente Value, “reforcem o compromisso de apoiar startups, promover o investimento transfronteiriço e criar novas oportunidades de colaboração entre Macau, Portugal e outros países de língua portuguesa”. Citado pela mesma nota, Marco Duarte Rizzolio, da AEIMCP, disse que este novo acordo mostra como a entidade, que também organiza o concurso “929 Challenge”, se compromete a “criar pontes para o crescimento global das startups, facilitando a entrada de startups portuguesas no mercado chinês através de Macau, bem como a expansão de startups chinesas para Portugal e para a Europa”. Por sua vez, Rui Ferreira disse que “a assinatura deste protocolo é um marco importante para conectar ecossistemas de inovação e promover sinergias entre startups de Macau e investidores portugueses”. “Estamos confiantes de que esta parceria trará resultados significativos para ambos os lados”, acrescentou. Ao HM, Rui Ferreira explicou que a assinatura do protocolo representa o culminar de um trabalho de cerca de um ano. “Queremos promover um modelo de acolhimento de startups e empresas de Macau que pretendam entrar na Europa através de Portugal, e também nos países de expressão portuguesa, e vice-versa, ou seja, colocar, através de Macau, empresas destes territórios, mas sempre através de Portugal, no Oriente, a fim de obterem ligações mais facilitadas com o mercado chinês.” Visitas mil O grupo de Macau visitou vários pontos essenciais do sector de empreendedorismo português. Além da visita à Lispolis, considerada o “momento-chave para fomentar diálogos entre startups de deep tech e potenciais investidores, consolidando a visão de Macau como um hub de inovação e empreendedorismo com alcance global”, a comitiva passou pela Fábrica de Unicórnios, em Lisboa, e ainda pela consultora PwC. Marco Duarte Rizzolio explicou ao HM os benefícios para Macau do périplo por Portugal. “Além do interesse no fundo sino-lusófono e na sua preparação, uma vez que vai ser lançado em breve, o nosso foco tem sido também as startups. Na visita à Lispolis os representantes das startups de Macau fizeram um ‘pitch’ [tentativa de angariação de investimento], apresentaram os seus produtos e tiveram uma sessão de networking com outras startups. A ideia é que as startups de tecnologia de Macau façam uma imersão no ecossistema de empreendedorismo em Portugal.” Segundo Marco Duarte Rizzolio, a comitiva de Macau levou apenas a Portugal as startups com uma fase de negócio mais avançada, nomeadamente a Zence Object, fundada por Calvin Sio e que obteve um financiamento de 2,5 milhões de dólares do Fundo de Empreendedores do grupo Alibaba para a zona da Grande Baía. A Zence Object usa tecnologia patenteada para transformar resíduos orgânicos, nomeadamente folhas de chá, em produtos alternativos ao plástico e ao papel. A ideia é que estes produtos reciclados e transformados possam ser usados no dia-a-dia, como utensílios para a casa ou de decoração. “Há startups em Macau que estão muito avançadas em termos de negócio e foram essas que trouxemos a Portugal. Queremos explorar novas oportunidades de internacionalização, para que explorem outros mercados, uma vez que estas startups já têm algum desenvolvimento. Queremos criar parcerias, para que estes representantes percebam como é o mercado e explorar possíveis clientes”, adiantou o representante da AEIMCP. Por caminhos invictos A comitiva de Macau está hoje no Porto para participar na “SIM Conference” [Startups & Investment Matching], onde “terá um stand próprio para apresentar projectos e conectar-se com investidores e possíveis clientes”. Este evento foi organizado pela entidade Startup Portugal, que convidou a RAEM a estar presente. Também hoje será assinado um outro protocolo, desta vez entre a associação que organiza o concurso “929 Challenge” e a Startup Portugal. A ideia é, segundo Marco Duarte Rizzolio, “estimular a conexão do ecossistema de Portugal com Macau e ajudar no processo de internacionalização das startups dos dois lados, quer as portuguesas que se destinam à Grande Baía, através de Macau, quer as startups de Macau que vão para Portugal”. O responsável não tem dúvidas de que o que falta em conhecimento, sobra em interesse. “Há um interesse muito grande na China, mas ao mesmo tempo há um grande desconhecimento. O ecossistema de startups em Portugal está muito mais ligado à Europa. Quando falamos com a Fábrica de Unicórnios, há meses, foi-nos dito que havia um grande interesse no mercado de Macau e da China, mas que faltava mais conhecimento. Por isso estas visitas a Portugal visam reforçar conexões e parcerias, porque o interesse é muito grande. Eles [Portugal] sabem que a China está a crescer imenso na área da tecnologia e da inteligência artificial, com o lançamento da DeepSeek, por exemplo”. Segundo Rui Ferreira, a presença da comitiva de Macau na “SIM Conference” permitirá o acesso a “contactos privilegiados e mais alargados”, por se tratar de um evento de âmbito nacional. “Com esta visita conseguimos fazer duas coisas: iniciar a relação com a AEIMCP de forma mais formal e ajudar as empresas de Macau a ter conhecimento de parceiros e investidores. Queremos ainda apostar no trabalho para o futuro fundo sino-luso, no sentido de prepararmos as empresas com potencial de investimento”, disse. Para Rui Ferreira, o mercado de Macau tem potencial “para ser usado como plataforma de intercâmbio de empresas, graças à ligação linguística, existindo no território condições para estabelecer toda a parte de acolhimento, apoio e intercâmbio com as entidades da China e criar um ecossistema”. Além disso, “será interessante Macau tornar num hub de inovação especializado nas áreas estratégicas”, que neste caso é a tecnologia. Destaque para o facto de a visita ter contado também com a organização da Associação Plataforma Sino-Lusófona de Macau para o Desenvolvimento Sustentável.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | O interesse do linguista Hugo Schuchardt no patuá de Macau Hugo Schuchardt teve um genuíno interesse pelas línguas crioulas luso-asiáticas, com particular destaque para o patuá, falado pela comunidade macaense. O linguista, que nasceu em 1842, foi tema de uma palestra conduzida pelo investigador Hugo Cardoso, ligado à Universidade de Lisboa Porto, 1883. José Leite de Vasconcelos escreve uma carta ao linguista alemão Hugo Schuchardt que vinha desenvolvendo estudos, ainda que à distância, sobre as línguas faladas na Ásia com origem no português, os chamados crioulos. A carta, escrita segundo o acordo ortográfico da época, entretanto digitalizada e hoje à guarda do arquivo da Universidade de Graz, na Áustria, surge no contexto de pedidos do próprio Schuchardt a Leite de Vasconcelos a propósito do crioulo que se falava então em Macau, conhecido como patuá. “Meu respeitável amigo: Só hoje posso responder à V. Exa. Aqui no Porto não há os livros que diz, mas escrevi para Lisboa ao meu amigo Vianna e ele respondeu-me que o de Balsemão não aparece, e que na Hist. de Macau não vem nada sobre o dialecto port. de Macau. Se aqui no Porto os houvesse, eu de certo lhes daria uma olhada (V. Exa. queria dizer umlancedeolhos, umavistadeolhos, que é o usual. Desculpe V. Exa. esta reflexão, que V. Exa. de certo estimará). Já tenho pedido informações sobre os crioulos, mas ainda não obtive nada; este estudo também me interessa pelo que respeita ao portug. Aguardo com interesse os 2 novos opúsculos que me promete. (…) Sem mais sou amigo obrigado, J. Leite de Vasconcelos, Porto, S. Victor, 25”. O interesse de Hugo Schuchardt sobre os crioulos luso-asiáticos tem sido estudado por Hugo Cardoso, investigador e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), especialista em crioulos e que desenvolveu investigação na Universidade de Macau. O académico conduziu recentemente uma palestra na Biblioteca Nacional, em Lisboa, sobre o linguista nascido em Gotha, na Alemanha, em 1842 e falecido em Graz, Áustria, em 1927, sendo considerado um dos mais importantes linguistas dos finais do século XIX e primórdios do século XX. A sessão teve como designação “Hugo Schuchardt e a busca pelos crioulos luso-asiáticos”. Apesar do interesse de Schuchardt sobre o crioulo de Macau, não chegou a publicar nenhum trabalho académico sobre o assunto, conforme disse ao HM Hugo Cardoso. “Schuchardt não publicou nenhum trabalho sobre Macau. Contudo, ao percorrer a sua correspondência, percebe-se que Macau também estava no seu radar, uma vez que ele discute o crioulo de Macau com diversos dos seus correspondentes, incluindo Leite de Vasconcelos e Gonçalves Viana”, adiantou. Depois do linguista alemão, destaca Hugo Cardoso, “houve efectivamente várias pessoas que se debruçaram sobre o crioulo de Macau, incluindo Danilo Barreiros, José dos Santos Ferreira (Adé), Graciete Batalha, Ana Maria Amaro e, mais recentemente, o Prof. Raúl Gaião e o Prof. Mário Pinharanda Nunes”. Destaque ainda para o estudo de Marie Arana-Ward “sobre o crioulo falado pelos descendentes de macaenses em Hong Kong”. Eis outra troca de correspondência com Leite de Vasconcelos, datada de 28 de Dezembro de 1889, em que são mencionados livros e dicionários sobre português e chinês. “Exmo. Amigo: Apresso-me a responder ao seu bilhete, visto que tem pressa. O que conheço de china-português é o seguinte: J. A. Gonçalves, − Diccionario portuguez-china e china-portuguez. Macau 1831; – Arte china, constante de alphabeto e grammatica. Macau 1829. Há mais trabalhos portugueses, mas são em latim, e um é ms. (…) Estimo que tivesse boas-festas. Amigo obrigado, José Leite de Vasconcellos”. O papel de Coelho Hugo Cardoso, cuja tese de doutoramento se intitula “A língua Indo-Portuguesa de Diu”, antigo território da chamada Índia portuguesa juntamente com Goa e Damão, falou na Biblioteca Nacional dos estudos de Hugo Schuchardt em torno deste crioulo e também do linguajar de Batávia/Tugu, na Indonésia. Para o docente da FLUL, pioneirismo no estudo dos crioulos é expressão que rima com Schuchardt. O linguista alemão foi “absolutamente pioneiro neste domínio, não só no estudo dos crioulos luso-asiáticos ou sequer dos crioulos de base lexical portuguesa globalmente, mas no estudo das línguas crioulas em geral” e, por essa razão, é “uma figura maior da história da linguística”. Hugo Cardoso destaca ainda que “no que diz respeito aos crioulos de base lexical portuguesa, antes dele, tinha havido alguma actividade, especialmente por parte de Adolfo Coelho, que, em 1881, publicara ‘Os dialectos românicos ou neo-latinos na África, Ásia e América’, em que fazia um apanhado de diversos crioulos de base portuguesa”. Porém, nesta obra, Adolfo Coelho refere apenas três crioulos luso-asiáticos: “o de Ceilão (no Sri Lanka), o de Malaca e o de Macau -, dando alguns exemplos que conseguira obter a partir de publicações prévias (tais como a revista ‘Ta-Ssi-Yang-Kuo’ de Macau)”. O académico não tem dúvidas de que “Hugo Schuchardt foi seguramente inspirado pelo trabalho de Coelho, mas os seus esforços para obter dados primários de muitos outros locais asiáticos ampliaram grandemente a cartografia dos crioulos luso-asiáticos e resultaram nas primeiras notícias publicadas e primeiras descrições gramaticais de muitos deles (como os de Diu, Cananor, Mahé, Cochim, Mangalor, etc.)”. Inspirações futuras Segundo Hugo Cardoso, o linguista alemão deixou trabalhos que inspiraram académicos futuros e muitos materiais do arquivo pessoal. “Um efeito do seu trabalho foi o de inspirar outros agentes a desenvolverem trabalho semelhante: aí destaca-se a figura de Sebastião Rodolfo Dalgado, que conduziu as suas próprias pesquisas e fez as suas próprias publicações sobre os crioulos indo-portugueses que Schuchardt não tinha abordado, sobre Damão, Bombaim, Ceilão e Negapatão”. No caso de José de Leite Vasconcelos, que escreveu a carta citada no início deste texto, “também se correspondeu com Schuchardt e revela, nos seus estudos linguísticos, o impacto do trabalho de Schuchardt”. Questionado pelo HM sobre as possíveis interligações entre os crioulos de Diu, Batávia e de Macau, Hugo Cardoso refere que existem “continuidades entre os diversos crioulos luso-asiáticos, mas também muitas diferenças”. “O crioulo de Batávia/Tugu é o que mais se assemelha ao crioulo de Macau, por exemplo, a nível do léxico. Mas isso é compreensível porque já foi demonstrando que o crioulo de Macau tem uma ligação histórica importante com os crioulos que se desenvolveram no sudeste asiático, em particular o de Malaca”. Segundo um artigo académico do próprio Hugo Cardoso escrito em parceria com Tjerk Hagemeijer e Nélia Alexandre, intitulado “Crioulos de base lexical portuguesa”, estes “foram, na maioria dos casos, línguas orais até ao século XIX, quando começaram a surgir as primeiras recolhas de tradições orais, textos e traduções”, estando ligados “à expansão marítima em África e em Ásia, resultado do contacto entre o português e diferentes línguas africanas e asiáticas”. Ainda segundo o mesmo artigo, “alguns destes crioulos, nomeadamente na Ásia, extinguiram-se, tendo ficado apenas registos da transição do século XIX para o século XX. À excepção dos crioulos da Alta Guiné, a vitalidade dos crioulos portugueses vivos está, de uma forma geral, a diminuir”. No caso dos crioulos de origem portuguesa na zona da Ásia Meridional, surgiram a partir da chegada de Vasco da Gama a Calecute, Índia, em 1498, sobretudo a partir da fase em que toda a base do império português a Oriente se centra em Goa. Segundo o mesmo artigo académico, desenvolveram-se vários crioulos, o chamado “Indo-Português”, em zonas costeiras da Índia, Sri Lanka, Bangladesh e Birmânia. “Actualmente, a sua presença é bem mais reduzida: sobrevivem os de Diu, Damão, Korlai, Cananor e Sri Lanka (Ceilão) – o qual, apesar de ter, em tempos, sido usado um pouco por toda a ilha, actualmente se restringe às cidades de Batticaloa e Trincomalee”, é destacado no artigo. O autor chama a atenção para a extinção, em 2010, do crioulo de Vaipim, em Cochim, devido ao “falecimento do que parece ter sido o último falante fluente nessa região”. Existem depois os crioulos do sudeste asiático e da Ásia oriental, onde se inclui Macau. O patuá é actualmente “falado com fluência nativa apenas por algumas pessoas em Macau e na diáspora macaense”, é referido.
Hoje Macau Grande Plano ManchetePME | Eventos promovidos pela Melco geraram 1 milhão de dólares A Melco Resorts afirma ter gerado cerca de 1 milhão de dólares para pequenas e médias empresas locais através de eventos promovidos no ano passado. No relatório de sustentabilidade de 2024, a operadora de jogo destaca ainda os resultados em termos de gestão de resíduos e gastos de energia Acaba de ser publicado o relatório de sustentabilidade da Melco Resorts & Entertainment relativo ao ano passado que dá destaque aos ganhos obtidos por pequenas e médias empresas (PME) locais com os eventos promovidos pela operadora. No que diz respeito à parte “Engajamento e investimento na comunidade”, lê-se que foram gerados “mais de 1,02 milhões de dólares para empresas locais e [ONG] organizações não governamentais em Macau através de 21 eventos para PME, com 603 PME e ONG participantes”. Além disso, na área do voluntariado, a Melco destaca que “cerca de 3.600 participantes ofereceram o seu tempo e esforço em mais de 359 iniciativas de voluntariado”, tendo sido obtidos “mais de 17,42 milhões de dólares que foram doados para causas dignas nas nossas comunidades”. Citado pelo relatório, Lawrence Ho, presidente e director-executivo da Melco, refere que “21 iniciativas ‘Heart of House’ e eventos comunitários geraram mais de 1 milhão de dólares americanos para as empresas locais em Macau, proporcionando a 603 PME e ONG oportunidades para se ligarem, expandirem e crescerem”. Segundo o responsável, no ano passado foram “aprofundadas as parcerias com PME e ONG”. No que diz respeito ao relacionamento com as PME locais, a Melco destaca ainda a ligação com a cadeia de fornecimento, pois “86 por cento das aquisições surgiram de empresas locais em Macau”, sendo que, desse total, “59 por cento foram aquisições de PME locais”. Cenário semelhante ocorreu nas restantes operadoras que a Melco detém no Chipre e Manila, com aquisições locais a rondar os 40 e 76 por cento, respectivamente. No tocante às acções de formação na empresa, a Melco diz ter investido, em média, “582 dólares americanos por trabalhador a tempo inteiro em actividades de aprendizagem e desenvolvimento, o que equivale a uma média de 38 horas de formação”. Neste contexto, “100 por cento dos colegas participaram em acções de formação”, pode ler-se. Além disso, “mais de 758 mil participantes assistiram a mais de 1.400 cursos oferecidos pela ‘Melco Learning Academy’, o que equivale a mais de 870.000 horas de aprendizagem ministradas”. Destaque ainda para o facto de, em todos os empreendimentos da Melco, “as mulheres representarem 23 por cento dos conselhos de administração e 32 por cento dos quadros superiores”. O relatório dá também conta que “63 por cento das posições ao nível da vice-presidência, ou acima desse posto, foram preenchidas a partir de comunidades locais, aumentando para 70 por cento em Macau”, pode ler-se. Tudo pelo ambiente Outra das áreas destacadas no relatório de sustentabilidade da Melco diz respeito às políticas amigas do ambiente. Uma das áreas que está “em progresso” é o consumo de energia, no sentido de se obter mais razoabilidade de consumo. “Em 2024, apesar de um aumento de 39 por cento em termos do número de visitantes e da subida de 19 por cento na taxa de ocupação dos quartos de hotel, juntamente com a adição de uma propriedade e um novo resort integrado ao nosso portefólio, a intensidade energética aumentou 10 por cento em relação a 2023, mas foi 19 por cento inferior ao nosso ano de referência de 2019”. Um dos objectivos “alcançados” prende-se com as medidas de eficiência energética, que “desde 2018 resultaram numa poupança anualizada de mais de 62,5 milhões de kWh, um aumento de 9 por cento em relação a 2023”. Outra meta “alcançada” diz respeito à instalação de “mais de 25.000 painéis fotovoltaicos em todas as propriedades em Macau, Manila e Chipre, gerando cerca de 10.000 kWh anualmente”. Assim, nas propriedades da Melco “o consumo de electricidade proveniente de fontes renováveis aumentou 72 por cento em relação a 2023”. No tocante aos meios de transporte do grupo, “os autocarros, veículos eléctricos e híbridos representam 55 por cento da nossa frota combinada, com estações de carregamento, um aumento de 25 por cento em relação a 2023”. Em termos de gestão de materiais e resíduos, a Melco diz ter evitado o gasto de plástico na ordem de 13,2 milhões de garrafas, graças à instalação “do sistema de filtragem de água NORDAQ que serve quase todos os quartos de hotel nos resorts integrados da Melco”. Além disso, é apresentado o exemplo do empreendimento City of Dreams, em Manila, onde foi estabelecido “um sistema de economia circular em que os resíduos alimentares são decompostos no local, e o excesso doado a uma quinta local para cultivar alguns dos vegetais servidos aos hóspedes”. Em termos de consumo de água, o relatório indica que “apesar do aumento do número de visitantes e da taxa de ocupação hoteleira”, o “consumo total de água e a intensidade da água aumentaram apenas 6 e 2 por cento em comparação com 2023, respectivamente, e foram 6 e 30 por cento inferiores, respectivamente, ao ano de referência de 2019”. Contudo, esta é uma meta que, segundo a empresa, está ainda “em progresso”. Outro objectivo realçado no relatório foi a “economia anual de mais de 510.820 metros cúbicos de água por meio de medidas de eficiência hídrica, um aumento de 10 por cento em relação a 2023″. “Tal como investimos nas pessoas e nas comunidades, continuamos a desenvolver esforços ambientais com a mesma determinação. (…) A intensidade do consumo de energia e água, bem como as emissões de gases com efeitos de estufa, permaneceram de forma significativa abaixo da nossa linha base de 2019, mesmo adicionando uma nova propriedade e um resort integrado”, salienta Lawrence Ho. O empresário referiu também o aumento “da quantidade de materiais valiosos desviados através da reciclagem e compostagem nas operações globais – 58 por cento em relação ao ano passado”. “Nos nossos espaços de restauração também combatemos o desperdício alimentar, com o ‘Desafio do Prato Limpo’ a contribuir para uma redução de 9 por cento do desperdício nas áreas de restauração de Macau e Manila”. “Mudança de mentalidade” Para Lawrence Ho, maior sustentabilidade na Melco requer “uma mudança de mentalidade” verificada em “pequenas acções que, em escala, podem ter um impacto significativo”. Em relação à cadeia de fornecimento dos hotéis e resorts integrados do grupo, destacam-se também bons resultados. “Embora os números nem sempre mostrem saltos exponenciais, o nosso foco no fornecimento responsável permanece inabalável, com 18 por cento de todos os frutos do mar comprados por peso a serem de fontes sustentáveis, e 100 por cento dos nossos pontos de venda de alimentos e bebidas em Macau e Manila servirem ovos de galinhas criadas ao ar livre”, lê-se. Há, assim, “um esforço que reflecte uma ambição mais profunda de incorporar a sustentabilidade nas aquisições”, disse Lawrence Ho, que acrescentou que “mais do que um serviço, a hospitalidade tem a ver com a experiência que cria, com as pessoas que apoia e com o impacto que deixa”. “Todos os anos, a Melco desafia-se a ir mais longe, acreditando que o luxo e a responsabilidade não são forças opostas, mas sim parceiros no progresso, o que se reflecte na forma como defendemos uma governação forte, gerimos o nosso impacto ambiental, apoiamos as nossas pessoas e comunidades e lideramos o jogo responsável. Esse compromisso com o progresso moldou nossa abordagem em 2024, como um ano de recalibração no qual continuamos a fortalecer as operações, reacender o ímpeto e garantir que nossos resorts integrados permaneçam na vanguarda da excelência”, concluiu.
Hoje Macau Grande Plano MancheteSismos | Macau vai ter estação de monitorização em parceria nacional O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raymond Tam, apresentou na quarta-feira o relatório das Linhas de Acção Governativa 2025 para a sua tutela, e adiantou aos deputados que será criada uma estação de monitorização de sismos em parceria com autoridades do Interior da China O Governo de Macau anunciou na quarta-feira a criação, em conjunto com as autoridades do Interior da China, de uma estação de monitorização sísmica, como parte dos planos das autoridades para reforçar a prevenção de desastres. “Será optimizada a rede de monitorização meteorológica e sísmica, estando prevista, em colaboração com os serviços competentes do Interior da China, a construção de uma estação de monitorização sísmica”, declarou o secretário para as Obras Públicas e Transportes, ao apresentar, na Assembleia Legislativa (AL), as Linhas de Acção Governativa (LAG) para a tutela, para 2025. Raymond Tam Vai Man justificou a nova estação com a intenção de “aumentar a capacidade de análise e avaliação no âmbito de catástrofes naturais”. O espaço, concretizou na AL a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), vai estar localizado em Hengqin. “A área terrestre de Macau é pequena e a densidade populacional é muito alta, por isso é difícil encontrar espaço para a criação de estações de monitorização e agora com as políticas favoráveis com a província de Guangdong, conseguimos construir uma estação de monitorização conjunta na Zona de Cooperação [Aprofundada entre Guangdong e Macau]”, respondeu aos deputados o director dos SMG, Leong Weng Kun. O responsável notou que o espaço deverá contribuir para “aumentar a capacidade de prevenção e o conhecimento do público sobre informações meteorológicas”. Estar de acordo Macau e Zhuhai assinaram a 20 de Março o “Projecto de Cooperação Abrangente e Aprofundada no Âmbito de Meteorologia”, para reforçar a cooperação e partilha de equipamento de detecção meteorológica, programas informáticos e partilha de dados, de acordo com um comunicado divulgado pelos SMG nessa altura. Com a cooperação espera-se também reforçar a “prevenção conjunta de sistemas de alerta de catástrofes meteorológicas, promover a investigação científica e tecnológica e o desenvolvimento da inteligência artificial aplicada à actividade meteorológica”. Macau costuma ser afectado entre Maio e Novembro pela passagem de tufões, sendo Julho a Setembro o período em que se regista maior incidência de tempestades tropicais. Este ano, o território deverá ser afectado por entre cinco a oito tempestades tropicais, anunciaram em Março os SMG. Metro Ligeiro | Secretário admite lacunas de funcionamento O secretário para os Transportes e Obras Públicas Raymond Tam disse na quarta-feira que o Metro Ligeiro está ainda aquém das expectativas da população. “Tenho de confessar que os serviços do Metro Ligeiro, nomeadamente os serviços de pagamento electrónico, estão ainda aquém das expectativas da população de Macau”, referiu, prometendo medidas para que o meio de transporte melhore “de forma gradual”. Ambiente | Planeamento de políticas será estudado este ano O secretário para os Transportes e Obras Públicas Raymond Tam anunciou na quarta-feira que este ano será “iniciado o estudo para o próximo planeamento da protecção ambiental”, para sustentar novas “políticas ambientais alicerçadas numa visão científica e prospectiva”. Ainda na área do ambiente, o governante prometeu medidas para atingir o objectivo nacional da “Dupla Meta de Carbono”. Como tal, serão “impulsionadas acções concretas de redução de emissões, incluindo a elaboração legislativa para o controlo das emissões provenientes de fontes móveis de poluição não rodoviárias, o abate de veículos altamente poluentes, o aperfeiçoamento da rede de carregamento de veículos eléctricos, a exploração do potencial de aplicação de energia fotovoltaica em espaços públicos e a optimização da estrutura energética”, concluiu o relatório. Habitação | Governo admite rever toda a política Com a redução da procura por habitação económica, o Governo admite rever toda a política habitacional. “Estamos a rever a nossa política neste momento, tendo em conta as alterações registadas. Vamos avaliar se há necessidade de rever a política de cinco classes de habitação, mas é um assunto que está ainda a ser estudado”, disse Raymond Tam, secretário para os Transportes e Obras Públicas no debate sobre as Linhas de Acção Governativa para este ano. O governante referiu que “serão revistas e aperfeiçoadas as políticas da habitação pública, promovendo a construção de habitações social e económica e garantindo uma disponibilização racional, de modo a satisfazer as necessidades habitacionais dos residentes com diferentes níveis de rendimento”. Os lotes da Zona A dos Novos Aterros deverão estar concluídos entre 2026 e 2028.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteApagão | Normalidade retomada ontem, causa ainda por apurar A semana arrancou de forma atípica na Península Ibérica. Passavam poucos minutos das 11h30 de segunda-feira, quando uma falha generalizada de electricidade paralisou Portugal e Espanha. Só perto das 23h a luz voltou à casa dos portugueses, mas a conta-gotas Era uma segunda-feira aparente normal, mas essa normalidade dissipou-se ao final da manhã com a falha de electricidade que, gradualmente, levou a falhas de comunicação e impossibilidade de utilização de dados móveis. Portugal e Espanha estiveram sem electricidade durante demasiadas horas na segunda-feira, num episódio sem precedentes em termos de falhas de energia. No caso de Lisboa, a luz começou a falhar poucos minutos depois das 11h30, seguindo-se a impossibilidade de comunicação via dados móveis. O trânsito no centro da capital portuguesa tornou-se caótico, sem semáforos em funcionamento, gerando alguns acidentes rodoviários. Os supermercados, cafés e restaurantes, sem possibilidade de manter o normal funcionamento e os alimentos devidamente refrigerados, fecharam portas. Muitas pessoas, assustadas com a possibilidade de ficarem vários dias sem luz, correram aos supermercados, açambarcando alimentos enlatados, garrafões de água, velas e pilhas. Além dos constrangimentos pouco habituais no dia-a-dia das pessoas, com o Metro subitamente fechado e transportes congestionados, houve voos suspensos e aeroportos encerrados. O restabelecimento de energia aconteceu de forma gradual ao longo de segunda-feira, começando pela zona centro de Portugal. A circulação no Metropolitano de Lisboa (ML) foi retomada na totalidade às 08h38, hora de Lisboa, primeiro nas Linhas Azul e Vermelha às 08h, na Amarela às 08h15 e na Verde às 08h38. “O Metropolitano de Lisboa teve uma vasta equipa a trabalhar durante a noite de ontem [segunda-feira] e a madrugada de hoje [terça-feira] para assegurar a reposição dos sistemas operacionais afectados pela falha generalizada de energia ontem ocorrida”, informou o ML em comunicado. Palavras do Governo Numa nota emitida pelo Governo português nas primeiras horas da manhã de ontem, foi referido que já estavam “praticamente todos os serviços, incluindo o fornecimento de energia, restabelecidos”, disse à Lusa o ministro da Presidência, António Leitão Amaro. Segundo o ministro, todos os 6,4 milhões de clientes tinham já acesso a electricidade às primeiras horas da manhã de terça-feira, com excepção de 800 que tinham avarias não relacionada com o apagão. Leitão Amaro referiu ainda que o abastecimento de água está a funcionar em praticamente todo o país, registando-se apenas algumas dificuldades de pressão em “dois ou três concelhos” que serão “resolvidas rapidamente”. Relativamente aos transportes, o ministro avançou que os “comboios estão a funcionar”, sendo ainda necessário estabilizar alguns pontos da operação, mas devido aos efeitos de greve de 24 horas que decorreu na segunda-feira. Sobre os aeroportos, “estão operacionais”, referiu Leitão Amaro, reconhecendo que, no caso do Aeroporto de Lisboa, que foi o mais afectado pela falha de energia, devendo demorar dois dias [até hoje] a ter os fluxos estabilizados, embora os sistemas estejam todos operacionais. Escolas e saúde normalizados O governante português adiantou ainda que, relativamente às escolas, a orientação emitida durante a madrugada a todos os directores foi para abrirem e funcionarem normalmente, com excepção dos casos em que pode, eventualmente, verificar-se alguma razão de segurança específica. “O fornecimento de combustíveis está normalizado e não se registaram, durante a noite, ocorrências relevantes de segurança ou de protecção civil” no país, avançou Leitão Amaro, salientando ainda que a situação está estabilizada também nos serviços de saúde. “Os hospitais e centros de saúde estão com condições, em termos de fornecimento e abastecimento, para funcionarem normalmente”, assegurou. “Neste momento, o que podemos dizer é que os sistemas [energéticos] estão estabilizados, quer no transporte, quer no abastecimento aos consumidores”, realçou o ministro da Presidência. Em Espanha também houve vários constrangimentos, sobretudo ao nível dos transportes. Pedro Sánchez, primeiro-ministro espanhol, disse na segunda-feira, citado pela Lusa, que este episódio foi inédito no país. O governante falou ao país após a segunda reunião do dia do Conselho Nacional de Segurança de Espanha. “Estão a analisar-se todas as causas potenciais sem descartar qualquer hipótese”, acrescentou. Perda de gigawatts O líder do Governo espanhol revelou que, segundo explicaram os técnicos e peritos da rede eléctrica espanhola, 15 gigawatts de geração “perderam-se subitamente do sistema, em apenas cinco segundos, algo que nunca tinha acontecido”. Segundo explicou, para dar uma dimensão do ocorrido, 15 quilowatts de geração correspondem aproximadamente à procura de electricidade total no país à hora do apagão (12h33 em Espanha, 11h33 em Lisboa). “O que provocou este desaparecimento súbito do abastecimento” é algo que os especialistas ainda não conseguem explicar, acrescentou. Nas primeiras horas após o apagão começaram a circular informações sobre um possível ciberataque, que nunca se confirmaram. Poucas horas depois do apagão, Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, referiu na rede social Linkedin que tinha falado com os primeiros-ministros Pedro Sánchez e Luís Montenegro sobre o acompanhamento do caso. “Reafirmei que a Comissão Europeia tem apoiado e monitorizado a situação com as autoridades nacionais e europeias e juntamente com o nosso Grupo de Coordenação de Electricidade. Vamos reunir esforços e partilhar informações para ajudar a restaurar o sistema de fornecimento de electricidade, concordando em mantermos um contacto estreito”, pode ler-se numa das publicações. Eduardo Prieto, chefe de operações da espanhola Red Eletrica, disse à Associated Press que a situação não tinha precedentes, tratando-se de algo “excepcional e extraordinário”. Uma das possíveis causas apontadas para o apagão é um fenómeno atmosférico raro, referido como “vibração atmosférica induzida”, que pode ter originado “oscilações anómalas” nas linhas de alta tensão da rede de energia espanhola. “Estas oscilações provocaram falhas de sincronização entre os sistemas eléctricos, levando a perturbações sucessivas nas redes europeias interligadas”, disse a empresa portuguesa de energia REN à BBC na tarde de segunda-feira. Porém, mais tarde a REN desmentiu estas informações. Muitas questões Outra das causas poderá ter sido problemas técnicos na própria rede eléctrica. Onyema Nduka, professor catedrático de sustentabilidade energética na Universidade de Londres, afirmou que as redes eléctricas estão normalmente interligadas porque as centrais de produção que as alimentam estão localizadas longe das cidades. Isto significa que um corte de energia numa parte da rede pode “levar a um efeito de cascata noutras áreas”. “Idealmente, as redundâncias são incorporadas no sistema, como ter vários pontos de abastecimento, geradores de reserva situados em diferentes locais, fios e cabos interligados, etc.”, afirmou. A solução passa por as empresas de energia restabelecerem a electricidade aos clientes afectados o mais rapidamente possível, mas o procedimento para o fazer “ainda não foi revelado”, acrescentou Nduka. As autoridades portuguesas, citadas pela AP e pelos meios de comunicação social locais, atribuíram até agora a falha de energia a problemas técnicos não especificados, com origem no exterior do país, mas referiram que a investigação ainda está em curso. A possibilidade de um ciberataque está, para já, afastada. “Espanha tem mecanismos para lidar com este tipo de situações. Mais uma vez, apelo aos cidadãos para que colaborem com todas as autoridades e actuarem de forma responsável e civilizada, como sempre fizemos”, escreveu Pedro Sánchez nas redes sociais. O Centro Nacional de Cibersegurança português também afirmou, em comunicado, não existirem indícios de que a falha tenha sido causada por um ataque informático. Em declarações à Euronews, Taco Engelaar, director-geral da Neara, especialista em infra-estruturas energéticas, afirmou que a interconectividade das redes nacionais e dos seus sistemas significaria que uma falha ou um ataque teria o mesmo resultado líquido. “Uma falha tão generalizada da rede é extremamente invulgar e pode ser causada por uma série de factores: uma falha física na rede que provoque o corte de energia, um ciberataque coordenado ou um desequilíbrio dramático entre a procura e a oferta que tenha feito o sistema da rede ultrapassar os limites”, afirmou. “Se for uma falha do sistema, então a interconectividade entre as diferentes redes regionais e nacionais pode levar à grande quantidade de cortes de energia a que estamos a assistir hoje [segunda-feira]”, acrescentou. “O mesmo se aplica a um ciberataque – muitos destes sistemas estão ligados e partilham activos – derrubar um pode derrubar muitos”, rematou. Com agências
Hoje Macau Grande Plano MancheteCorte de electricidade afecta Portugal, Espanha e partes do sul de França Uma falha de electricidade afectou, pelas 11h33 (18h33 em Macau), Portugal, Espanha e algumas zonas do Sul de França. Nos primeiros instantes, disseminaram-se informações e especulação sobre a causa do apagão, nomeadamente em relação a um possível ciberataque de larga escala, hipótese que não foi excluída numa primeira instância pela Secretaria-Geral da Administração Interna. Até ao fecho desta emissão, a causa ainda não era clara, nem havia uma estimativa para o retorno da electricidade, mas o primeiro-ministro Luís Montenegro afirmava que tinha esperanças de que o abastecimento de luz fosse retomado ainda durante o dia de ontem, de acordo com a hora da Lisboa (menos 7 em relação a Macau). Porém, havia notícias em meios de comunicação social portugueses que apontavam para o retorno da electricidade em vários pontos do país, assim como em Espanha. O jornal Expresso citava dados recolhidos pelos operadores da rede eléctrica na Península Ibérica que apontavam para desequilíbrios de tensão como explicação para o “apagão”, em vez de um ciberataque destinado a afectar as infra-estruturas energéticas. Até ao fecho desta edição, o Governo português não afastava qualquer explicação para o incidente. A E-Redes alertou que a previsão de reposição da electricidade se mantinha indefinida e que poderia ser prolongada, sem adiantar uma estimativa. “Face aos problemas da rede que persistem a previsão de reposição da energia mantém-se indefinida e poderá ser prolongada”, informou a operadora da rede de distribuição de energia eléctrica em Portugal continental, em comunicado. A E-Redes reiterou que o fornecimento de electricidade em Portugal estava a ser afectado por constrangimentos a montante da rede de distribuição, na rede de muito alta tensão em Espanha. De acordo com a REN – Rede Elétrica Nacional, o apagão de ontem pode ter sido provocado por oscilações anormais de temperatura em Espanha. A notícia foi avançada pela BBC, que menciona um fenómeno atmosférico. Cenário de pandemónio O incidente causou o caos no país. Nos aeroportos, os check-ins passaram a ser manuais e começaram a ser anunciados atrasos em voos num primeiro momento, mas acabaram por ser cancelados. A TAP divulgou um comunicado a apelar aos passageiros para não se dirigirem aos aeroportos, visto funcionamento estar temporariamente condicionado devido ao apagão. Também o tráfego ferroviário foi totalmente interrompido em toda a Península Ibérica. Nos hospitais foram accionados geradores de emergência e os serviços de urgências e cirurgias foram priorizados para dar resposta a casos urgentes. Além da reunião da emergência do Conselho de Ministros, o Centro de Coordenação Operacional Nacional, que integra as entidades no âmbito das operações de protecção e socorro, reuniu-se para a acompanhar a situação e adoptar os procedimentos necessários devido à falta de energia em Portugal Continental. Os sistemas telefónico e informático do Instituto Nacional de Emergência Médica estava a funcionar até ao fecho desta edição com recurso a geradores e os postos de abastecimento de combustíveis interromperam os serviços. Por outro lado, o grupo Águas de Portugal (AdP) apelou ao consumo de água apenas para usos essenciais, de forma “muito moderada”, e disse que existiam apenas “falhas pontuais”. Ouvida pela Lusa a propósito do corte generalizado de electricidade e de uma possível falha de água, fonte oficial da empresa alertou que poderá haver constrangimentos de consumo, embora sem avançar dados mais concretos. A AdP, que junta mais de uma dezena de fornecedores de água no continente, “apela ao uso de água apenas para o essencial” . “A AdP está a acompanhar a situação em todas as empresas”, disse a fonte. A empresa, acrescentou, pretende garantir que os serviços essenciais têm água e recordou que os reservatórios têm água mas que é preciso energia para a transportar, e que mesmo os próprios prédios precisam de energia para fazer chegar a água às torneiras dos consumidores.
Hoje Macau Grande Plano MancheteLAG 2025 | Facilitada passagem automática de visitantes estrangeiros Na apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa deste ano para a área da Segurança, Wong Sio Chak referiu a ideia de facilitar a entrada em Macau a visitantes estrangeiros, com a criação de mais pontos de passagem automática O secretário para a Segurança anunciou, na sexta-feira, planos para acelerar o controlo fronteiriço de visitantes estrangeiros através da utilização de canais electrónicos automáticos. Durante a apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2025 na área da segurança, Wong Sio Chak afirmou que o território irá alargar a utilização de pontos de passagem automática a cidadãos estrangeiros sem estatuto de residente ou autorização de trabalho. Para facilitar os “intercâmbios com o exterior”, as autoridades irão expandir os equipamentos de autosserviço para o Sistema de Recolha de Dados Biométricos, que passará a aplicar-se a todos os visitantes estrangeiros, explicou o dirigente. Aos deputados na Assembleia Legislativa, o secretário acrescentou que o Governo continuará a optimizar a tecnologia de reconhecimento por íris nos controlos fronteiriços e a estudar a sua extensão a não-residentes este ano. “Estamos também a estudar formas de alargar o número de utilizadores elegíveis para os canais de passagem automática, permitindo que mais turistas estrangeiros beneficiem de processos de imigração mais rápidos e de uma circulação mais fluida na Grande Baía”, declarou Wong. Discurso e companhia No seu discurso, o secretário declarou que “relativamente à criação de uma plataforma com um nível mais elevado de abertura ao exterior, continuarão a ser optimizados os serviços de entrada e de saída e as medidas de facilitação da passagem fronteiriça, para garantir uma passagem segura, eficaz, eficiente e confortável”. Assim, “com vista a promover o intercâmbio com o exterior, os canais de passagem automática passarão, também, a ter como utilizadores os estrangeiros, para que estes tratem das formalidades de inspecção de entrada e de saída através destes canais”. De acordo com dados oficiais, Macau recebeu, em 2024, 34,9 milhões de visitantes, mais 23,8 por cento do que no ano anterior, mas apenas 2,42 milhões foram turistas internacionais. Em Outubro do ano passado, o ministério dos Negócios Estrangeiros chinês alargou a política de isenção de vistos a portugueses, inserindo assim Portugal numa lista que abrangia já outros 16 países europeus. A medida, que permite aos portugueses permanecer na China para turismo, negócios ou trânsito durante um máximo de 15 dias, vigora pelo menos até 31 de Dezembro de 2025. No mesmo mês, a China continental tinha anunciado o alargamento, de 90 para 180 dias, do período de permanência para residentes estrangeiros de Macau em vistos de entradas múltiplas no país. A medida inclui residentes estrangeiros permanentes e não-permanentes de Macau que se desloquem “ao Interior da China para turismo de curta duração, comércio, visita a familiares, visitas e outras actividades”. A partir de Julho, a Administração Nacional de Imigração (NIA, na sigla em inglês) chinesa já tinha permitido aos residentes permanentes estrangeiros de Macau e Hong Kong requerer uma autorização para entrar no Interior da China, válida por um máximo de cinco anos. A medida abrange membros da comunidade portuguesa que sejam residentes permanentes em Macau e que, até então, estavam obrigados a pedir um visto para viajar até ao outro lado da fronteira.
Andreia Sofia Silva Grande Plano Manchete25 de Abril | A Revolução dos Cravos vista pela imprensa chinesa A queda do Estado Novo a 25 de Abril de 1974 foi noticiada pela imprensa de língua chinesa em Macau. Revelaram-se preocupações da comunidade, nomeadamente quanto à permanência do Governador Nobre de Carvalho em prol da estabilidade e bom ambiente de negócios, assim como o “status quo” de Macau no contexto da descolonização Os ecos da revolução do 25 de Abril de 1974 chegaram com atraso a Macau, mas isso não significou ausência de notícias nos dias seguintes, inclusivamente na imprensa chinesa local. O HM consultou algumas das notícias dos jornais chineses da época sobre este período, traduzidas para português por funcionários da Comissão de Censura à Imprensa (CCI), o organismo público que funcionou em Macau durante o regime ditatorial português. Este material está hoje à guarda do Arquivo Histórico-Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa. A sua leitura permite não só perceber alguns dos acontecimentos que se sucederam à revolução, mas também as percepções e preocupações que a comunidade chinesa teve face ao que se passou em Portugal. Os chineses queriam manter a estabilidade e a continuação dos negócios. E se o Governador Nobre de Carvalho, no poder desde 1966, passava a estar, para muitos, conotado com o regime fascista, e, por isso, tinha de sair, a verdade é que muitos desejavam a sua permanência para garantir a paz social. Conforme se lê no livro “Macau nos anos da revolução portuguesa 1974-1979”, de Garcia Leandro, ex-Governador português, “os chineses de Macau procuravam, acima de tudo, estabilidade para poder dar continuidade tranquila aos seus negócios, e não desejavam conflitos ou desentendimentos com Pequim ou com Cantão”. A Administração era “fraca, muito mal apoiada tecnicamente e com fama de ser facilmente corrompida”, pelo que havia, no território, “fortes razões para o MFA [Movimento das Forças Armadas] local e para o CDM [Centro Democrático de Macau] quererem mudanças, principalmente pela corrupção permanente e pela sensação de excessiva fraqueza da Administração portuguesa, que parecia nada decidir sem consulta prévia aos representantes chineses”. As explicações do MFA Logo a seguir ao 25 de Abril, Macau recebeu a visita de dois representantes do MFA, nomeadamente o Major Rebelo Gonçalves e o próprio Garcia Leandro, para explicar a revolução e objectivos do MFA para Portugal e as colónias, não apenas à população como aos jornalistas. Um dos encontros, com os jornalistas locais, foi descrito pelo jornal Tai Chung Pou a 6 de Maio de 1974. “Rebelo Gonçalves recebeu os repórteres e narrou-lhes pormenorizadamente o golpe de Estado. No dia (do acontecimento), a canção ‘Quem manda é o Povo’ serviu de sinal de acção”. O tradutor da CCI atribuiu à canção “Grândola, Vila Morena”, de José Afonso, escolhida para ser a segunda senha da revolução na rádio, o nome “Quem manda é o Povo”, numa referência ao verso da letra “O povo é quem mais ordena”. A notícia prosseguia, citando Rebelo Gonçalves: este disse “que o golpe de Estado foi desejo do povo, pelo que alcançou êxito no período de um só dia”. Apoio a Nobre de Carvalho Caído o regime em Lisboa, e exilado Marcelo Caetano, depressa se colocou a questão sobre a permanência do Governador à frente dos destinos de Macau. Porém, Nobre de Carvalho recebeu apoio popular para continuar, como descreve uma notícia do jornal Si Man de 4 de Outubro de 1974. “Portugal não tenciona modificar o ‘status quo’ de Macau, disse um delegado português a comerciantes chineses. O referido delegado manifesta-se contente com a campanha pela recondução do Governador, promovida por diversos sectores sociais. No entanto, o senhor general Nobre de Carvalho já pedira a exoneração do cargo de Governador por motivos de saúde.” Além disso, criou-se um grupo “para a recolha de assinaturas a favor da recondução do senhor general Nobre de Carvalho no cargo de Governador de Macau”, e que foram entregues a Garcia Leandro, ainda na qualidade de oficial do MFA. Este recebeu “duas caixas contendo livros-cadernos com assinaturas”. Foram transmitidos “pareceres de entidades dos círculos industrial e comercial, na esperança de o senhor Governador poder permanecer em Macau, o qual dadas as suas largas experiências e conhecimentos dos condicionalismos, possa vencer as dificuldades resultantes do declínio económico que ora se verifica em todo o mundo”. Mas se era desejo de muitos a continuidade de Nobre de Carvalho, a saída de muitos funcionários públicos passou a ser conotada com a mudança de regime. Como é referido numa notícia do jornal Si Man de 11 de Maio de 1974. “O chefe dos Serviços de Saúde e Assistência, dr. António Joaquim Paulino, regressará no dia 27 do corrente mês a Portugal Continental, o que segundo consta, está relacionado com a queda do Governo de Marcelo Caetano. As autoridades competentes recusaram-se a fazer comentários sobre a partida do dr. Paulino.” O jornal acrescentava ainda: “Contudo, uma notícia de fonte fidedigna informou: Crê-se que o regresso inopinado para Lisboa do dr. Paulino, cuja comissão de serviço nesta província ainda não terminou, está relacionada com o golpe de Estado ultimamente registado em Portugal (continental). Segundo se diz, o dr. Paulino tem sido um simpatizante entusiástico do deposto Governo de Marcelo Caetano.” Ainda no início de Maio, permaneciam ainda muitas perguntas sem resposta, e o jornal Si Man associava a partida de Vasco Rocha Vieira do território, à época Chefe do Estado-Maior do Comando Militar, com a ausência de explicações para a situação política. “Já se passou uma quinzena após a ocorrência do golpe de Estado em Portugal sem que fosse completamente esclarecida a situação política daquele país. Apesar de Macau ser pouco afectada pelo referido acontecimento, o Chefe do Estado-Maior das Tropas Portuguesas estacionadas em Macau, Major Rocha Vieira, afastou-se ontem silenciosamente desta província, facto que levou muita gente a conjecturar e suspeitar que a Junta de Salvação Nacional que tomou conta do Governo português já tivesse começado a actuar em Macau.” As explicações de Ho Yin O jornal Tai Chung Pou noticiou, a 22 de Maio de 1974, que “alguns portugueses declararam em Hong Kong que estavam descontentes com as medidas tomadas pelo Governador e com o Governo de Macau”, tendo seguido “para a metrópole a fim de pedirem a concessão de liberdade aos portugueses de Macau”. Ho Yin, empresário e figura marcante da comunidade chinesa local, que dialogava directamente com o Governador em representação das autoridades chinesas, deu explicações numa sessão com “repórteres estrangeiros, assim como os de Hong Kong e Macau” sobre os acontecimentos de Abril. Estes “visitaram o sr. Ho Yin, pedindo-lhe opinião”, descreve o Tai Chung Pou. E, mais uma vez, Ho Yin apaziguou os ânimos, referindo que Nobre de Carvalho tinha toda a legitimidade para continuar como Governador. “Desde o golpe de Estado português, registado a 25 de Abril, Macau, dadas as suas circunstâncias especiais, tem-se sentido, até à presente data, muito tranquila, não sofrendo qualquer alteração. O sr. Governador, General Nobre de Carvalho, que se encontra em Macau há mais de sete anos, tem profundo conhecimento dos condicionalismos desta cidade, tendo resolvido muitos assuntos através de conversações e envidado grandes esforços para esta cidade”, disse Ho Yin aos jornalistas, segundo o relato do jornal. No mesmo encontro, questionou-se a possibilidade de dissolução da Assembleia Legislativa, proposta do CDM. Mas Ho Yin afastou qualquer mudança política brusca. “Sabe-se que o Centro Democrático de Macau, constituído por alguns portugueses, pediu a dissolução da Assembleia Legislativa e da Vereação Municipal [Leal Senado], assim como a remodelação de alguns serviços públicos. Alguns habitantes julgaram que as asserções do referido Centro afectariam a ordem social, mas vieram a saber que as mesmas se tratavam apenas de opiniões de um reduzido número de portugueses, quando a cidade se encontra ainda tranquila, decorridos alguns dias.” O jornal acrescenta que Nobre de Carvalho explicou publicamente “que a AL não seria dissolvida, pelo que a população de Macau se tornou despreocupada e confiou na prosperidade desta cidade”. Além disso, “os turistas provenientes de Hong Kong, assim como do estrangeiro, também acham que Macau se encontra tranquila e não está de modo nenhum afectada”, lia-se no Tai Chung Pou. O jornal Seng Pou noticiou também este encontro entre Ho Yin e os jornalistas, em que o líder da comunidade chinesa comentou os benefícios de um regime democrático. “Dadas as suas circunstâncias peculiares e devido ao facto de os portugueses e chineses se respeitarem reciprocamente e viverem em paz desde há muito, Macau não sofreu nenhumas repercussões resultantes do referido golpe de Estado português”, disse Ho Yin, frisando que “quanto à liberdade da palavra, a mesma tem existido sempre em Macau”. Porém, o empresário apelava a alguma contenção nas críticas políticas feitas. “A democracia e a liberdade que ora se verificam em Portugal Continental são felicidades para o povo português. E os portugueses e chineses têm vivido no passado em paz, esperando-se que tal continue a suceder no futuro. No então, as críticas sobre pessoas particulares ou sobre repartições públicas devem ser fundadas, visto que qualquer ataque irreflectido faria sobrevir complicações à questão, além de afectar a tranquilidade e prosperidade desta.” Macau sem descolonização Uma das questões emanadas do 25 de Abril de 1974 foi o processo de descolonização, mais urgente na chamada África portuguesa onde decorria a Guerra Colonial desde 1961. Desde logo, as autoridades esclareceram que Macau ficaria de fora desse processo, até porque “a República Popular da China teve o cuidado de, em 1972, no Comité de Descolonização da ONU, deixar bem claro que o futuro destas duas possessões europeias [Macau e Hong Kong] não faria parte da agenda das actividades daquele organismo, sendo o assunto tratado bilateralmente”, lê-se no livro de Garcia Leandro. Na edição de 11 de Setembro de 1974, o jornal Tai Chung Pou escreveu que “o Chefe da Repartição do Gabinete do Governo de Macau, Tenente Coronel Henrique Manuel Lages Ribeiro, apontou que uma notícia emanada da agência noticiosa Reuters fora mal interpretada, e que Macau tem uma posição peculiar”, pois “a maneira de resolver o seu futuro é diferente em relação a outros territórios ultramarinos portugueses.” Citam-se palavras de Almeida Santos, à data ministro português da Coordenação Interterritorial, que referiu “que seria permitido a todos os territórios ultramarinos portugueses escolher a forma de independência como meio para solucionar o seu próprio problema, com a excepção de Macau que, sendo um território muito especial, requer uma maneira também especial para solucionar o seu problema”. Na tradução desta notícia, acrescenta-se também uma nota escrita pelo próprio redactor da peça: “Isto quer dizer que não existe o problema da independência em Macau”. As visitas de Rebelo Gonçalves e Garcia Leandro a Macau decorreram em “finais de Maio, princípios de Junho” de 1974. Almeida Santos esteve em Macau em Setembro desse ano e foi nessa fase que Garcia Leandro foi escolhido Governador de Macau, tomando posse a 13 de Novembro desse ano.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteÓbito | Comunidade recorda capacidade de diálogo de Papa Francisco Foram 12 anos à frente dos destinos da Igreja Católica. O Papa Francisco morreu na segunda-feira de manhã aos 88 anos. Ainda participou nas celebrações do domingo de Páscoa no Vaticano, já bastante debilitado. A comunidade católica local recorda o seu legado de diálogo e capacidade de gestão de várias crises na Igreja Jorge Mario Bergoglio ficará para sempre conhecido como Papa Francisco. Faleceu esta segunda-feira aos 88 anos, horas depois de celebrar a sua última Páscoa perante uma multidão no Vaticano. O Papa Francisco não conseguiu sobreviver às complicações de uma pneumonia bilateral, que obrigou a um prolongado internamento há semanas. A notícia da morta do Papa Francisco correu o mundo e as mensagens de condolências e homenagem multiplicaram-se globalmente. A comunidade católica local não foi excepção. “Sem dúvida que a comunidade católica de Macau acarinhava muito o Papa Francisco, graças ao seu sorriso, sem dúvida que foi de um grande ensinamento para a comunidade local. As pessoas sempre demonstraram um grande carinho pelo Papa”, disse ao HM o padre Daniel Carvalho. O sacerdote destacou o facto de Francisco ter sido o primeiro Papa oriundo da América Latina, mais precisamente da Argentina, o que foi “uma grande novidade para a Igreja”. Contrariando a imagem austera do seu antecessor, Jorge Mario Bergoglio rapidamente conquistou a simpatia de crentes e não-crentes pela simplicidade e capacidade de diálogo com vários grupos sociais e minorias. “Foi um Papa que não se destacava pela sua intelectualidade, mas pelo trabalho pastoral. Demonstrou ser uma pessoa de muito diálogo, alguém misericordioso, e muito próximo das pessoas mais simples, sofredoras. Foi um Papa extremamente acessível, mostrando um lado da Igreja que a humanidade talvez não estivesse acostumada a ver. Uma Igreja mais próxima, missionária, aberta ao diálogo.” Questionado sobre o futuro líder da Igreja Católica, o padre Daniel Carvalho diz ser difícil apontar, para já, um possível nome. “A Igreja Católica tem hoje cerca de 120 cardeais, então quando acontece o conclave há sempre uma eleição, e o candidato que obtém dois terços dos votos é eleito Papa. É muito difícil acertar na figura que será o próximo Papa. Existem sempre várias possibilidades. É muito provável que seja alguém da linha do Papa Francisco, pois muitos dos cardeais actuais foram escolhidos por ele. Pode haver uma tendência de continuidade pelo mesmo pensamento”, frisou. Religião “para todos” Stephen Morgan, reitor da Universidade de São José (USJ), recordou as palavras do Papa Francisco em Lisboa, no ano passado, durante as Jornadas Mundiais da Juventude, quanto ao facto de “o catolicismo ser para todos, todos”. “Ele tinha capacidade de comunicar isso, e penso que também estava preocupado em assegurar que, aos mais altos níveis de governação, a Igreja fosse representativa e com alcance global.” Para Stephen Morgan, o Papa Francisco “tinha uma capacidade de comunicação e de ligação com as pessoas”, além de ter criado raízes entre a Igreja Católica em países da zona sul do globo. “Foram ordenados muitos cardeais em lugares como o Myanmar, Timor-Leste ou até Mongólia, numa espécie de reconhecimento da natureza global do catolicismo, e talvez seja algo que só alguém da América Latina, do sul global, poderia promover.” Ao longo de 12 anos de pontificado, o Papa Francisco fez uma aproximação à comunidade LGBT e teve de lidar com o escândalo dos abusos sexuais no seio da Igreja. O posicionamento de Francisco nesse campo é outro ponto destacado por Stephen Morgan. “Ele fez um enorme número de coisas em termos de governação interna da Igreja, criando mecanismos de responsabilização. Não tenho a certeza se a responsabilização já terá acontecido, mas esses mecanismos, na crise dos abusos sexuais ou de gestão dos bens da Igreja, foram realmente muito importantes. Ele tinha uma capacidade de se relacionar com pessoas ‘modernas’, devido ao seu estilo informal”, destacou o reitor da USJ. Quanto à futura liderança da Igreja Católica, também Stephen Morgan diz que há ainda muitas possibilidades em aberto, tendo em conta o elevado número de eleitores papais. Além disso, “uma das características do pontificado deste Papa foi o facto de não se ter reunido com os cardeais muitas vezes, sendo que os seus antecessores tinham tendência para reunir com os cardeais com muito mais frequência”. “O Papa Francisco não o fez, por isso não se conhecem verdadeiramente. Pode ser um conclave muito curto, com a maioria a dizer: ‘Não conheço ninguém, mas conheço esta pessoa’. Pode ser o Tolentino Mendonça, por exemplo. Pode levar muito tempo a que se conheçam”, explicou. Segundo a Al Jazeera, em Janeiro deste ano existiam 252 cardeais, sendo que 138 têm poder de eleição do novo líder da Igreja Católica. O novo Papa irá cumprir o 267º pontificado. Fala-se de vários nomes que poderão suceder a Francisco: além do português Tolentino Mendonça, há os cardeais Peter Erdo, Pietro Parolin, cardeal secretário de Estado; Peter Turkson, do Gana; Luís Tagle, das Filipinas; Mário Grech e Matteo Zuppi. “Vale a pena referir que cerca de 50 por cento dos actuais cardeais vêm do sul global. Por isso, a ideia de que o novo Papa possa ser um asiático ou africano, e não um latino-americano, é elevada. Mas quem sabe?”, deixa no ar Stephen Morgan. Próxima jornada O funeral do Papa Francisco será realizado dentro de nove dias e o conclave para eleger o seu sucessor dentro de um mês, anunciou ontem o Vaticano após a morte do pontífice. Este domingo, Francisco conseguiu falar, sentado numa cadeira de rodas, no âmbito da cerimónia de benção “Urbi et Orbi”: “Urbi”, por ser dirigida a Roma, e “Orbi”, por também se direccionar ao mundo inteiro. Na sua mensagem, lida por um assessor, denunciou-se a “desprezível situação humanitária” em Gaza, e foi feito um apelo ao cessar-fogo. O Papa Francisco alertou também para “o clima de crescente antissemitismo que se está a espalhar pelo mundo”. “Apelo aos beligerantes para que cessem o fogo, libertem os reféns e prestem uma ajuda preciosa às pessoas famintas que anseiam por um futuro de paz”, afirmou Francisco na mensagem. “A missão autodeterminada do Papa Francisco era transformar a Igreja Católica num ‘hospital de campanha’, no sentido de ir ao encontro das pessoas onde elas estão, sem as julgar, curando-as com remédios de graça. Por isso, muitos católicos amavam-no profundamente”, rematou Stephen Morgan. A Diocese de Macau emitiu ontem uma nota oficial sobre o falecimento do Papa, recordando que este “foi chamado à Casa do Pai no Vaticano, em Roma, aos 88 anos de idade”. “Ao longo de seu ministério terreno, o Papa Francisco proclamou ardentemente a infinita misericórdia de Deus, semeou esperança entre os fiéis, percorreu muitas terras e cuidou com ternura dos mais frágeis, tornando-se um modelo exemplar de liderança pastoral”, é referido na nota, a que se segue um comentário do Bispo Stephen Lee. “Neste tempo sagrado da Oitava de Páscoa, Dom Stephen Lee, Bispo de Macau, juntamente com todos os irmãos e irmãs em Cristo, eleva preces fervorosas pelo eterno descanso da alma do Papa Francisco e para que ele seja recebido na glória do Reino Celestial. Expressamos igualmente a nossa sincera gratidão pelas numerosas mensagens de condolências recebidas de todos aqueles que, com bom coração, partilham deste momento de luto”, é referido. A Diocese diz que vai anunciar as cerimónias memoriais do falecimento de Francisco. A nota dá ainda conta da cronologia da vida de Francisco, nomeadamente o nascimento, a 17 de Dezembro de 1936, em Buenos Aires, com o nome de Jorge Mario Bergoglio; e a entrada nos jesuítas em 1958, tendo sido ordenado sacerdote em 1969. Em 2001 foi ordenado cardeal, e cerca de 12 anos depois foi escolhido como Papa. Condolências de Pequim A China apresentou ontem condolências pela morte do Papa Francisco, aos 88 anos, e afirmou que pretende continuar a desenvolver as suas relações com o Vaticano. Francisco foi o primeiro papa sul-americano e jesuíta da história. “A China apresenta as suas condolências pela morte do Papa Francisco”, disse Guo Jiakun, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa. A Santa Sé e a China não mantêm relações diplomáticas oficiais, uma vez que o Vaticano é um dos cerca de dez países que reconhecem Taiwan. No entanto, em 2018, o pontificado de Francisco assinou um acordo histórico com o Governo chinês sobre a complexa questão da nomeação de bispos católicos na China. “Nos últimos anos, a China e o Vaticano mantiveram contactos construtivos e intercâmbios amigáveis”, afirmou Guo Jiakun. “A China está disposta a fazer esforços conjuntos com o Vaticano para promover a melhoria contínua das relações”, declarou.
Hoje Macau Grande PlanoPaíses reagem à morte do Papa Francisco, aos 88 anos O Papa Francisco morreu ontem às 7h35, hora europeia, na residência na Casa de Santa Marta, no Vaticano. O líder da Igreja Católica, de 88 anos, tinha estado recentemente internado, em estado grave, por complicações de uma pneumonia bilateral, mas recuperou a tempo de estar presente nas celebrações de domingo de Páscoa no Vaticano. Entretanto, vários líderes de países reagiram à morte de Francisco, um deles o Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta. Citado pela Lusa, Ramos-Horta referiu que não foram apenas os católicos que perderam com a morte do Papa Francisco, mas todas as religiões e a humanidade. “Todas as religiões, toda a humanidade, perdeu alguém de grande importância”, disse o Presidente timorense, numa mensagem de vídeo em tétum, a partir de Sofia, Bulgária, onde se encontra em visita oficial. Na mensagem, o também prémio Nobel da Paz, considera que o “Papa Francisco foi um dos papas com maior impacto na história do mundo”, que “abraçou os pobres, os frágeis”. “Um Papa que não hesitou em falar contra os poderes mundiais que promovem a guerra em vez da paz”, disse Ramos-Horta, lembrando que Francisco denunciou também os poderes que ignoram os pobres e exploram os mais fracos. O chefe de Estado timorense recordou também as palavras do Papa Francisco, quando terminou a visita a Díli, em Setembro de 2024. “Segurou na minha mão e disse para cuidarmos bem deste povo querido”, lembrou. Uma das últimas viagens feitas pelo Papa Francisco foi a Timor-Leste durante a qual esteve reunido com o Presidente timorense com as autoridades religiosas, sociedade civil e corpo diplomático acreditado no país. Aos timorenses pediu para continuarem a construir e a consolidar as instituições do país para que “estejam completamente aptas a servir o povo de Timor-Leste” e para que os “cidadãos se sintam efetivamente representados”. “A fé que vos iluminou e susteve no passado continue a inspirar o vosso presente e o vosso futuro”, disse o Papa, lembrando que agora Timor-Leste tem um “novo horizonte, com céu limpo, mas com novos desafios a enfrentar e novos problemas a resolver”. Índia reagiu Outro líder político que reagiu à morte do Papa foi o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, que apontou Francisco como “exemplo de compaixão, humildade e coragem”. “Profundamente triste com o falecimento de Sua Santidade, o Papa Francisco. Neste momento de dor e recordação, transmito as minhas sinceras condolências à comunidade católica mundial”, afirmou Narendra Modi nas redes sociais. “O Papa Francisco será sempre recordado como um exemplo de compaixão, humildade e coragem espiritual por milhões de pessoas em todo o mundo. Desde muito jovem, dedicou-se a concretizar os ideais de Cristo. Serviu diligentemente os pobres e os oprimidos”, acrescentou. Modi acompanhou a sua mensagem com várias fotografias tiradas durante um encontro com Francisco, mostrando os dois abraçados, e agradeceu-lhe o “afecto pelo povo da Índia”, onde residem cerca de 26 milhões de cristãos. O líder indiano teve vários encontros com o Papa, o último dos quais em Junho passado, à margem da cimeira do G7 em Itália. Num encontro anterior, em 2021, o primeiro-ministro indiano convidou o pontífice argentino a visitar a Índia. Entretanto, nos EUA, houve também uma reacção à morte por parte do vice-presidente norte-americano, JD Vance. “O meu coração está com os milhões de cristãos de todo o mundo que o amavam”, escreveu Vance, que está actualmente de visita à Índia, nas redes sociais. “Fiquei feliz por o ver ontem [domingo], apesar de estar obviamente muito doente”, acrescentou, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP). O Presidente das Filipinas, o país com mais católicos na Ásia, lamentou hoje a morte do Papa Francisco e disse que os filipinos se juntavam ao luto pela perda do chefe da Igreja Católica. “Um homem de profunda fé e humildade, o Papa Francisco liderou não apenas com sabedoria, mas também com um coração aberto a todos, especialmente os pobres e esquecidos”, disse Ferdinand Marcos Jr. numa mensagem nas redes sociais. Com mais de 118 milhões de habitantes, as Filipinas têm mais de 78% de católicos e ainda muitos fiéis de outras confissões cristãs. “O Papa Francisco ensinou-nos que ser um bom cristão significa dar bondade e cuidado mútuo. A sua humildade trouxe muitos de volta ao seio da Igreja”, disse Marcos na mensagem de condolências citada pela agência de notícias espanhola EFE. “Ao lamentarmos o seu falecimento, honramos uma vida que trouxe esperança e compaixão a tantos e que nos inspirou a amarmo-nos uns aos outros como Cristo nos amou. É um dia profundamente triste”, acrescentou. A Catedral de Manila vai celebrar uma missa na terça-feira, às 09:00 locais, presidida pelo cardeal José Advincula, em honra de Francisco, que se tornou chefe da Igreja Católica em 2013.
Hoje Macau Grande Plano MancheteLAG 2025 | Hengqin terá um centro para comércio lusófono e hispânico Hengqin vai ter um centro para promover as relações comerciais com os países de língua portuguesa e espanhola. A novidade foi anunciada pelo secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, na apresentação do relatório das Linhas de Acção Governativa para este ano O Governo anunciou, na sexta-feira, o estabelecimento de um centro para promover os serviços económicos entre a China e os países de línguas portuguesa e espanhola na vizinha zona económica especial de Hengqin. A ideia é proporcionar às empresas destes países serviços no “âmbito linguístico, jurídico, fiscal, de verificação da observância das normas, de formação, de arbitragem e de mediação”, referiu, na Assembleia Legislativa, o secretário para a Administração e Justiça de Macau, André Cheong Weng Chon. As palavras de André Cheong, no âmbito da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano relativas à pasta da Administração e Justiça, vão ao encontro do que o líder do Governo, Sam Hou Fai, anunciou na segunda-feira, ao declarar a intenção de “promover o intercâmbio e a cooperação”, através de Macau, entre a China e o universo de países de língua espanhola. O Fórum Macau foi criado em 2003 e, mais de duas décadas depois, o Chefe do Executivo decide alargar o foco aos países que falam castelhano. A cooperação deve incidir, como indicou na apresentação geral das LAG, entre outros sectores, nas áreas das finanças, cultura, turismo e comércio electrónico transfronteiriço. “São países próximos em termos de cultura e de língua, que fazem parte do mundo latino. E temos em conta as experiências do passado, a cultura, todo o sistema político, social desses países”, referiu André Cheong. Como uma tosta Notando que o novo espaço tem gestão mista, de Macau e da Zona de Cooperação Aprofundada, o responsável disse ainda que o “centro de apoio comercial não se sobrepõe ao Fórum [de Macau]”. Na semana passada, Sam Hou Fai, o primeiro líder de Macau a dominar a língua portuguesa, sugeriu também que ia aproveitar uma visita a Portugal, prevista para depois das eleições legislativas portuguesas de 18 de Maio, para se deslocar a Espanha e “iniciar contactos”. A Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin é um projecto lançado por Pequim, em 2021, gerido conjuntamente pela província de Guangdong e por Macau, com uma área de cerca de 106 quilómetros quadrados. Persistem, porém, uma série de problemas nesta área especial, notou André Cheong, referindo “a insuficiência no desenvolvimento da economia real, a alta taxa de desocupação dos edifícios comerciais, bem como a falta de circulação de pessoas e de actividade comercial”. Na segunda fase da construção desta zona, disse o secretário, Macau e a província de Guangdong vão reforçar “a interligação de infraestruturas”, “a articulação das regras e mecanismos” e a “aproximação dos residentes de Macau e Hengqin”. IAM | Reforma pretende simplificar estrutura orgânica Depois das mudanças no conselho de administração do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), nomeadamente a saída de José Tavares do cargo de presidente, eis que vêm aí novas mudanças. Na sexta-feira, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, disse que “a actual organização institucional [do IAM] não satisfaz as necessidades de trabalho do próprio instituto nem corresponde às expectativas dos cidadãos”, pelo que a partir deste ano serão feitos “os trabalhos de reestruturação de forma faseada”. O objectivo é “racionalizar e simplificar a estrutura orgânica interna, ajustando as funções com base nos princípios da gestão centralizada, do reforço da coordenação e da simplificação dos procedimentos, no sentido de evitar a gestão por camadas e para aumentar a eficiência da gestão municipal do IAM”. Função Pública | Subsídio de nascimento passa a 6.580 patacas O secretário André Cheong anunciou na sexta-feira que o subsídio de nascimento para trabalhadores da Função Pública irá passar do índice 60 para 70, o que significa que passa a ser de 6.580 patacas. “A RAEM ajustou o subsídio de nascimento, mas não para a Função Pública, que se mantém no índice 60. Sugerimos que esse subsídio seja ajustado para 70, equivalente a cerca de 6.580 patacas”, disse. Recorde-se que o Governo anunciou também, nestas Linhas de Acção Governativa, a criação do subsídio para a infância, que deverá chegar a 15 mil crianças até três anos de idade. Estas crianças irão receber 1.500 patacas mensais, ou seja, 18 mil patacas por ano.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLAG 2025 | Governo quer criar plataforma integrada de formação profissional No debate sobre as Linhas de Acção Governativa para este ano, o Chefe do Executivo destacou a iniciativa de criar uma “plataforma integrada de formação profissional” para os jovens que têm dificuldade em encontrar o primeiro emprego. Dos 7.100 desempregados, cerca de 4.000 são jovens, destacou o governante Há desemprego estrutural em Macau e isso é “notório”. O deputado Ngan Iek Hang levantou a questão no debate de ontem sobre o relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) e exigiu medidas concretas ao Governo. “Muitos jovens têm dificuldades em encontrar trabalho na sua área de especialização, e muitos residentes apertaram o cinto e passaram a ser mais prudentes nos gastos. Como vai aperfeiçoar as medidas de apoio ao emprego com uma abordagem multidimensional, assegurando o emprego dos residentes?”, questionou. Sam Hou Fai, na sua estreita como Chefe do Executivo a apresentar as LAG e a debatê-las com os deputados, anunciou a criação de uma “plataforma integrada de formação profissional” que inclua secretarias do Governo, associações locais e empresas para disponibilizar cursos específicos consoante as necessidades do meio empresarial. “Actualmente, a taxa de desemprego está nos 2,4 por cento, são cerca de 7.100 desempregados, e quatro mil são jovens. Trata-se de um desemprego estrutural e é uma situação que surgiu nos últimos dois anos. Há muitos finalistas de cursos específicos, tal como medicina, que não conseguem encontrar emprego. Queremos contar com as empresas para que haja uma conjugação e uma plataforma integrada de formação profissional e desenvolvimento contínuo, para ver se é possível resolver esse desemprego estrutural por áreas”, disse. Sam Hou Fai acrescentou também que a proposta partiu do secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip. “Temos também de contar com a tutela da secretária O Lam [Assuntos Sociais e Cultura], porque também tem a ver com a educação. Quanto à acreditação e certificação profissional, há que contar com a participação do Governo, associações e empresas, e a próxima etapa é criar essa plataforma integrada tendo em conta as experiências dos territórios vizinhos”, salientou. Atenção aos casinos-satélite Sam Hou Fai lembrou também o desemprego resultante do possível encerramento de casinos-satélite como exemplo da necessidade de cursos específicos consoante as necessidades da economia local. “Em relação aos casinos-satélite, teremos de ver em dois ou três meses para saber quais as necessidades dos desempregados e depois poderemos organizar acções específicas para determinadas áreas”, explicou. O objectivo da futura plataforma integrada de formação é “resolver o problema dos recursos humanos”, tendo em conta que a contratação de trabalhadores não-residentes “é só uma medida de apoio suplementar que vai ser alterada tendo em conta a transformação de Macau e a sua situação concreta”. O Chefe do Executivo lembrou as acções de formação que já existem entre o centro de formação da Federação das Associações dos Operários de Macau e a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, e também com as operadoras de jogo. “Temos de ter em conta a estratégia de diversificação 1+4 e criar cursos que dão diplomas. Temos de contar com as empresas para que haja uma conjugação de esforços”, concluiu.
João Santos Filipe Grande Plano MancheteAL | Sam Hou Fai lança apoio à natalidade, mas alerta para receitas orçamentais Nas suas primeiras Linhas de Acção Governativa, Sam Hou Fai anunciou a criação de um novo “subsídio de infância” que vai atribuir até 18 mil patacas por ano a residentes permanentes com menos de três anos. No entanto, alertou para dificuldades económicas Nas primeira Linhas e Acção Governativa que apresentou à população de Macau, Sam Hou Fai anunciou a criação de um novo subsídio de infância que vai atribuir um máximo e 18 mil patacas por ano a crianças com menos de três anos. Na Assembleia Legislativa, o Chefe do Executivo revelou a criação de um novo apoio social e a actualização de outros, sublinhado que o Governo coloca o bem-estar da população como a grande prioridade. Apesar de apenas ter mencionado a “mitigação das preocupações da população” como a terceira prioridade das políticas deste Governo, atrás de outros aspectos como a diversificação da economia e da eficiência da governação na RAEM, Sam garantiu que a população é a primeira prioridade: “O bem-estar da população é fundamental. Este Governo persistirá em colocar os interesses da população em primeiro lugar e, tendo em conta os assuntos ligados ao seu dia-a-dia, empenhar-se-á em resolver os problemas reais mais prementes que a preocupam, com vista a responder às suas aspirações por uma vida de qualidade”, prometeu. Como parte desta política, Sam Hou Fai anunciou as alterações dos apoios que se destinam principalmente a promover o aumento da taxa de natalidade e a apoiar a população mais idosa ou com necessidades especiais. A nível da natalidade, a grande novidade foi a criação do “subsídio de assistência na infância” que vai atribuir a cada criança residente permanente com idade até aos três anos um montante de 1.500 patacas por mês, que pode chegar, no máximo a 18 mil patacas por ano. A este incentivo junta-se um aumento de 1.082 patacas do subsídio de nascimento, que sobe das actuais 5.418 patacas para 6.500 patacas. Também o subsídio de casamento sofre um aumento de 78 patacas, de 2.122 patacas para 2.220 patacas. Para os idosos Ao nível dos apoios para os idosos, o subsídio para idosos é aumentado em 1.000 patacas, subido do valor anual máximo de 9.000 para 10.000 patacas. Ao mesmo tempo, a pensão para idosos é actualizada de um valor mensal de 3.740 por mês para 3.900 patacas por mês, uma diferença de 160 patacas por mês. Como esta pensão é paga treze vezes ao longo do ano, o valor total máximo sobe 2.080 patacas, das actuais 48.620 patacas para 50.700 patacas. Em relação aos residentes com invalidez, o subsídio normal vai ser aumentado para 10 mil patacas por ano, face às actuais 9.000 patacas. O subsídio de invalidez especial tem um aumento maior, das actuais 18 mil patacas para 20 mil patacas, uma diferença de 2.000 patacas. Outra das novidades é uma actualização dos vales de saúde, que vai subir para 700 patacas, quando actualmente são de 600 patacas. Avisos à economia A nível da economia, embora sem nunca mencionar a nova guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, o Chefe do Executivo avisou que a economia da RAEM não vai passar incólume, embora possa contar com o mercado do Interior. “Temos testemunhado, nos últimos anos, o agravamento do unilateralismo e do proteccionismo, a insuficiência de dinâmicas propensas ao crescimento económico mundial, bem como o aumento de imprevistos e incertezas” afirmou. “As mudanças profundas e complexas no ambiente interno e externo já se manifestaram e persistirão, pelo que Macau, como uma microeconomia fortemente virada para o exterior, não podia estar imune aos decorrentes impactos”, acrescentou. “Por tudo isto, não devemos subestimar as eventuais ameaças e desafios, antes, devemos ter sempre consciência dos riscos e um sentido de alerta, de modo a estarmos preparados para agir contra todas as potenciais ameaças”, alertou. Sam Hou Fai também reconheceu que as receitas correntes estão abaixo do previsto e que poderá haver necessidade de apresentar uma reformulação do orçamento da RAEM em vigor. Em termos do apoio à economia, o líder do Governo anunciou um plano de bonificação de juros de crédito bancário para pequenas e médias empresas, que vai permitir aos empresários obter o pagamento de até 4 por cento dos juros dos empréstimo, durante três anos, num valor máximo de 5 milhões de patacas. O máximos dos empréstimos totais bonificados não pode ultrapassar os 10 mil milhões de patacas. Cheques com “requisitos” Na apresentação de ontem, Sam Hou Fai referiu que os valores pagos nos cheques pecuniários vão manter-se, garantindo que o programa de comparticipação pecuniária deverá ser alvo de alterações, sem que tenham sido anunciadas quais. “Após a auscultação das opiniões de todos os sectores da sociedade, proceder-se-á atempadamente ao aperfeiçoamento de regime de comparticipação pecuniária, utilizando as poupanças nas despesas para incrementar o bem-estar dos residentes e promover o desenvolvimento da economia comunitária.” Na mesma sessão foi referido que o dinheiro é atribuído aos residentes “que preenchem os requisitos”, pelo que resta saber quais serão esses requisitos. Foco no terrorismo Nas LAG apresentadas ontem por Sam Hou Fai a segurança nacional teve um destaque menor face aos discursos de Ho Iat Seng. Ainda assim, foi indicado que para este ano vai ser estudada a reformulação da Comissão de Defesa de Segurança do Estado e vão ser pensadas novas leis, para combater o terrorismo. No âmbito do nacionalismo, enquadrado no capítulo da segurança nacional, foi explicado que o Governo vai apoiar ainda mais as associações tidas como patrióticas, ao mesmo tempo que se organizarão eventos para celebrar o 80º aniversário da vitória da guerra contra o Japão. Reforma à vista A nível da Administração Pública, o Chefe do Executivo anunciou que vai apresentar uma proposta para reformular o Instituto para os Assuntos Municipais. A proposta de lei deverá entrar na Assembleia Legislativa até ao final do ano. As mudanças não foram detalhadas, mas o grande objectivo passa por “simplificar a estrutura orgânica do Governo e elevar a eficiência do seu funcionamento”. Também a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública será reformulada este ano. Além disso, Sam Hou Fai prometeu que os funcionários públicos vão começar a fazer o juramento de lealdade à RAEM. PRINCIPAIS APOIOS SOCIAIS COMPARTICIPAÇÃO SOCIAL (Sem Alterações) 10.000 patacas para residentes permanentes 6.000 patacas para residentes não-permanentes . VALES DE SAÚDE (Aumento de 100 patacas) 700 patacas para residentes permanentes SUBSÍDIO DE NASCIMENTO (Aumento de 1.082 patacas) 6.500 patacas SUBSÍDIO DE CASAMENTO (Aumento de 78 patacas) 2.220 patacas REGIME DE PREVIDÊNCIA CENTRAL (SEM ALTERAÇÕES) 10.000 patacas (activação da conta para residentes qualificados) 7.000 patacas (nova medida: injecção especial para residentes qualificados) PAGAMENTO DA CONTA DA ELECTRICIDADE (SEM ALTERAÇÕES) 200 patacas por mês IDOSOS SUBSÍDIO PARA IDOSOS (aumento de 1.000 patacas) 10.000 patacas PENSÃO PARA IDOSOS (aumento de 160 patacas por mês) 3.900 patacas por mês (13 meses) FAMÍLIAS CARENCIADAS ÍNDICE MÍNIMO DE SUBSISTÊNCIA (SEM ALTERAÇÕES) 4.350 patacas por agregado por ano familiar com uma pessoa APOIO PARA ACTIVIDADES DE APRENDIZAGEM (SEM ALTERAÇÕES) Entre 300 e 750 patacas por mês APOIO PARA CUIDADOS MEDICOS (sem alterações) entre 1.000 e 1.200 patacas por mês PORTADORES DE DEFICIÊNCIA SUBSÍDIO DE INVALIDEZ (aumento de 1.000 e 2.000 patacas) 10.000 ou 20.000 patacas SUBSÍDIO PARA CUIDADORES (torna-se apoio permanente) (SEM ALTERAÇÕES) 2.175 patacas por mês. ESTUDANTES SUBSÍDIO DE AQUISIÇÃO DE MANUAIS (SEM ALTERAÇÕES) 3.500 patacas (ensino secundário) 3.000 patacas (ensino primário) 2.400 patacas ensino infantil) SUBSÍDIO DE PROPINAS PARA ESTUDANTES CARENCIADOS (SEM ALTERAÇÕES) 9.000 patacas (ensino secundário) 6.000 patacas (ensino primário), 4.000 patacas ensino infantil) SUBSÍDIO PARA A AQUISIÇÃO DE MATERIAL ESCOLAR (SEM ALTERAÇÕES) 3.300 patacas por estudante do ensino superior NOVOS APOIOS FINANCEIROS SUBSÍDIO DE ASSISTÊNCIA NA INFÂNCIA 1.500 patacas por mês, total de 18.000 patacas por ano SUBSÍDIO AO EMPREGO NA GRANDE BAÍA 5.000 patacas por mês, para residentes com menos de 35 anos empregados no Interior ESTÁGIOS NO INTERIOR DA CHINA 5.000 patacas por mês após conclusão de estágio
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLiteratura | Dora Nunes Gago fecha trilogia de Macau com “Flores de Cinza” Dora Nunes Gago, escritora e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau, acaba de lançar um novo livro de poesia. “Flores de Cinza” encerra a trilogia de obras dedicadas a Macau, composta por “Floriram por engano as rosas bravas” e “Palavras Nómadas” Foram dez anos que se traduziram em muitas palavras. Tantas, que deram três livros, “Floriram por engano as rosas bravas”, com clara referência a Camilo Pessanha; “Palavras Nómadas” e, agora, “Flores de Cinza”. O novo livro de poesia de Dora Nunes Gago, docente e ex-directora do departamento de português da Universidade de Macau (UM), remete ainda para a Macau que perdura na sua memória e que, por isso, se traduz em palavras. Com a chancela da Húmus, o livro acaba de sair em Portugal, resultando dos “muitos poemas” escritos por Dora Nunes Gago no período em que esteve em Macau, experiência que a transformou numa autora publicada e premiada. Escrever poesia nesses anos de docência e vivência a Oriente acabou por ser a forma encontrada para lidar com rebuliços de Macau e as suas dinâmicas. “Talvez por ser um registo mais breve, uma forma de captar instantes, de os cristalizar, no meio de todo o bulício e surpresas de que Macau se veste. A Maria Ondina Braga referia na obra “Estátua de Sal”, escrita em Macau, por volta de 1963, que Macau é ‘terra de sono e poesia’. De sono não sei bem, sendo uma cidade que não dorme, mas de poesia, penso que será”, contou ao HM. “Flores de Cinza” chama-se assim porque foi buscar inspiração a um poema de Natália Correia: “(…) Jovens alheios à pulcritude do corpo em festa / Passam por mim como alamedas de ciprestes / E a flor de cinza da juventude é uma aresta / Que me golpeia abrindo vácuos de flores silvestres (…) / a galope num sonho com espuma nos dentes.” Dora Nunes Gago seleccionou os “poemas sobreviventes” dos restantes dois títulos da trilogia. “Houve os que se perderam, entre mudanças, viagens, blocos e cadernos perdidos.” Tal como todo o rebuliço próprio de Macau. Em “Flores de Cinza”, o território “é representado pelos rituais, as épocas simbólicas como o Ano Novo Chinês, que é aquele tempo festivo em que parece que o mundo renasce e se inventa”. Há também elementos que se transformam em poesia como os dumplings, os templos, a ilha de Hengqin, onde a autora viveu nos tempos em que deu aulas na UM. “O território está presente nas imagens, mas também na solidão e no silêncio que habita os poemas, todos eles curtíssimos. Neste livro, a minha obsessão pela síntese culminou”, descreve. Cada livro, uma mensagem Há poemas que falam por si só, outros que necessitam de ser explicados. E falando da trilogia que escreveu nos últimos anos, Dora Nunes Gago remete para o primeiro, onde se vai buscar o Simbolismo de Pessanha e onde se denota “o primeiro olhar sobre a Ásia e sobre Macau”. Aqui, não existe poesia, mas sim 24 contos, “muitos deles inspirados em histórias presenciadas, ouvidas ou lidas em jornais”. Já o premiado “Palavras Nómadas”, vencedor do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, no ano passado, contém 50 crónicas. “Foi o modo de achar um fio condutor para unir várias experiências e aprendizagens que teceram um fio condutor para a minha vida.” Eis que, no último livro da trilogia, se reúnem 55 poemas, organizados em três partes, nomeadamente “exílios, permanências e regressos”. São “uma síntese de todo o meu percurso”, destaca. “Flores de Cinza” é “talvez o livro mais autobiográfico dos três, pois enraíza-se em múltiplos sentimentos, numa espécie de instantâneos que configuraram os meus dias”, destaca a autora. Do prefácio, da autoria de Maria João Cantinho, lê-se que o primeiro da trilogia, “Floriram por engano as rosas bravas” é “um livro de contos breves, cujo título foi tomado de empréstimo a um belíssimo verso (e um poema) do melancólico Camilo Pessanha, em Clepsidra”. Enquanto “Palavras Nómadas” reúne crónicas que nascem “da sua vivência em Macau, bem como da sua vertente de viajante e aventureira, como precisou Onésimo Teotónio Almeida, de forma muito elogiosa”. Por sua vez, no terceiro, Dora Gago “muda o registo e encontramo-nos diante de uma escrita poética e sensível, construída por poemas breves”, lê-se. Maria João Cantinho entende ainda que o poema “Destino” é um dos mais belos em “Flores de Cinza”: “Na louca corrida / do galgo abandonado / solitário de existir, lamber as feridas da morte / na pele do poema.” Aqui, descreve-se “a escrita poética é apresentada como vertigem (‘na louca corrida’) movida por um impulso alegórico, em que a presença da morte emerge”, onde “o destino é certamente essa corrida desvairada em que a morte ronda os vivos e só o poema pode salvar ou redimir aqueles”, considera Maria João Cantinho. Para esta, “a escrita de Dora Nunes Gago contém uma dimensão reflexiva, abordando temas como a criação ou a passagem do tempo, entre muitos outros, e recorrendo a uma linguagem rica, tanto vocabular, como ao nível prosódico, na busca de efeitos que acentuem a tensão do poema”. “Exílios”, a primeira parte da obra, arranca com “Início”, nome simples para um poema curto: “Sigo as pegadas da memória / inscritas na areia do tempo / e sou navio / ancorado sem leme / nem alento”. Talvez marcado pela saudade e pela distância, encontramos “Ausência”: “Dançam cinzas solenes / silvando sopros de saudade, / céus / soletrados / no sangue / da solidão.” E como este livro é feito de idas e vindas, a obra termina com “Retorno”, como se de uma linha do tempo se tratasse: “Regressar a casa / tatuar montes e vales / na retina, / regar as flores de cinza / renascidas / nas frestas pedregosas / da esperança.” Dora Nunes Gago é natural de São Brás de Alportel e actualmente é docente no Instituto Politécnico de Setúbal. Sobre “Palavras Nómadas”, o júri do Grande Prémio de Literatura de Viagens Maria Ondina Braga, concedido pela Associação Portuguesa de Escritores (APE), considerou tratar-se de uma “obra de variadas e ricas observações concernentes aos lugares por onde transcorrem as viagens relatadas, com descrições de grande vivacidade sensorial, a que não falta o olhar íntimo sobre os lugares e as gentes, bem como a capacidade de captação do que se tem vindo a designar como ‘génie du lieu’”. “Numa prosa de grande fluidez, eivada de reflexões onde se cruzam percepções, memórias, cultura, literatura e história, a autora logra suscitar uma leitura aderente desde as primeiras páginas, cujo ritmo e interesse sabe manter ao longo da considerável extensão da obra”, referiu o mesmo júri.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLAG 2025 | Cheques, economia e Grande Baía devem ser apostas de Sam Hou Fai As Linhas de Acção Governativa para este ano são apresentadas na segunda-feira, marcando a estreia de Sam Hou Fai num dos mais aguardados momentos do calendário político local. As receitas do jogo e previsões económicas devem estar em cima da mesa, segundo José Sales Marques e Lou Shenghua. O futuro dos cheques pecuniários poderá ser outro assunto a ter em atenção Sam Hou Fai está há quase cinco meses no Governo e prepara-se para apresentar, na próxima segunda-feira, o seu primeiro relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para este ano. As grandes expectativas costumam residir nos montantes dos cheques pecuniários, os valores atribuídos em apoios sociais e demais previsões orçamentais, sobretudo depois de o território atravessou um duro período económico com a covid-19. As LAG 2025 deverão centrar-se nesses temas, e na integração de Macau nos vários projectos de cooperação a nível regional, como a ilha de Hengqin ou a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Cumprindo a tradição anual da política local, Sam Hou Fai fez a habitual ronda de auscultações às associações locais, a fim de saber as suas opiniões sobre as principais medidas a tomar. Ouvido pelo HM, o economista José Sales Marques espera clareza nas políticas anunciadas a nível económico. “Gostaria de ver estas LAG trazerem maior claridade quanto a políticas económicas e a visão para o futuro da RAEM. Falo de medidas de carácter estrutural, que estimulem a confiança do investidor privado, e que concretizem também as tais reformas da administração pública para aumentar a eficiência e eficácia”, destacou. Sales Marques disse ainda que “gostaria de ver claramente formuladas as posições e prioridades de Macau no seu relacionamento com países e regiões do mundo, incluindo medidas que levem a aprofundar o papel de Plataforma Sino-Lusófona e de base de diálogo multicultural”. Lou Shenghua, analista político e docente da Universidade Politécnica de Macau (UPM), disse que as principais ideias apresentadas estarão de acordo com aquilo que Sam Hou Fai apresentou no programa eleitoral. “A tónica poderá ser colocada na melhoria da eficácia da governação, na diversificação económica moderada, na construção da Zona de Cooperação de Hengqin e nas questões relacionadas com os meios de subsistência das pessoas”, disse o analista, frisando que “os cidadãos poderão estar mais preocupados com as questões relacionadas com os meios de subsistência”. E que programa apresentou Sam Hou Fai em Setembro do ano passado, quando se vislumbrou que seria o único candidato ao cargo de Chefe do Executivo? Um programa que tem como “objectivo máximo satisfazer as expectativas dos cidadãos por uma vida melhor” e a “orientação fundamental de implementar o princípio ‘um país, dois sistemas’ de forma plena, correcta e firme”. Não foi esquecida a importância da segurança nacional, referindo-se a necessidade de defesa “da soberania, segurança e interesses do desenvolvimento do país”. Sobre a RAEM, Sam Hou Fai disse querer erguer um “Macau alicerçado no Estado de Direito, dinâmico, cultural e feliz”. O então candidato único a chefiar o Governo prometeu melhorar a capacidade governativa da administração local. “Empenhar-nos-emos na elevação da capacidade e do nível de governação da RAEM, na mudança dos conceitos de governação, na optimização da forma de governação, na persistência de governação de Macau em conformidade com a lei, e no aprofundamento da reforma da Administração Pública e do sistema jurídico”. Assim, disse “optimizar as formas de governação, dar maior importância ao papel dos órgãos consultivos, dos especialistas e académicos, e das associações de amor à pátria e a Macau, auscultar amplamente as opiniões e sugestões dos diversos sectores, dos diferentes ramos de indústria e das diversas camadas sociais”. Resta saber o se as LAG vão trazer estes aspectos latos para o campo das acções e medidas concretas. Cheque mate Na segunda-feira, a agenda prossegue como habitual na apresentação de um relatório das LAG. Primeiro Sam Hou Fai irá à Assembleia Legislativa, a partir das 15h, fazer uma apresentação geral aos deputados das questões políticas e orçamentais essenciais para este ano, seguindo-se uma conferência de imprensa. No dia seguinte, é dia de debate no hemiciclo sobre o mesmo relatório, seguindo-se depois os debates sectoriais com todos os secretários até ao dia 30 deste mês. Um dos temas políticos que têm estado na ordem dia é o valor dos cheques pecuniários e se estes deixam, ou não, de ser atribuídos a residentes que vivem fora de Macau. Há analistas a defender a reformulação do programa, mas Sales Marques recorda que “o valor previsto para os cheques pecuniários na discussão do orçamento para 2025 é de 10 mil patacas para residentes permanentes”. “As receitas orçamentais previstas tiveram por base de cálculo uma previsão de receita bruta de jogo de 240 mil milhões de patacas à média de 20 mil milhões por mês. Acontece que as receitas efectivas obtidas até ao fim do primeiro trimestre do corrente ano ficaram aquém das previstas, com um desvio de menos cerca de quatro mil milhões de patacas. O Governo da RAEM já anunciou pela voz do secretário para a Economia que as receitas fiscais inscritas no orçamento em vigor podem não ser atingidas.” Tendo em conta estas previsões menos optimistas, referidas, aliás, pelo próprio secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, na última semana, Sales Marques acredita que, a haver ajustamentos nos cheques, serão “pequenos”. “Quanto ao método de distribuição, prevejo que continue a ser o mesmo”, rematou. Já Lou Shenghua acredita que “o plano de comparticipação pecuniária pode sofrer alterações”. “Em termos de montante, é provável que se mantenha o valor de dez mil patacas por residente, mas quanto à forma, poderá ser atribuído em vales de consumo”, referiu. No passado dia 1, o secretário Tai Kin Ip afirmou que as contas orçamentais estão ainda aquém do esperado. “Reparámos que nos primeiros três meses de 2025 as receitas brutas dos jogos atingiram 57,66 mil milhões de patacas, permanecendo o valor praticamente inalterado em termos anuais, não alcançando ainda a esperada média mensal de 20 mil milhões de patacas”. Assim, foi deixado o alerta de que “as receitas financeiras do corrente ano poderão não ser tão optimistas como o previsto”, sendo necessário “estudar seriamente a futura situação económica e persistir na gestão dos recursos financeiros com prudência”. Jogo e outras histórias Relativamente ao sector do jogo, que continua a ter um peso predominante na economia, Sam Hou Fai confirmou há sensivelmente um mês que as concessionárias e os casinos-satélite têm até ao final do ano que preparar a transição para um modelo de exploração sem subconcessões. Ficará nas “mãos” das concessionárias decidir se vão ou não explorar estes casinos directamente. Para Sales Marques, esse dossier “preocupa diversos sectores da sociedade, não só pela questão do emprego dos seus trabalhadores, mas também pela repercussão que terá o seu encerramento nas zonas da cidade onde se encontram, sobretudo no comércio a retalho e na restauração, pequeno comércio em geral”. Assim, “será prudente evitar grandes choques na conjuntura actual”. “Tudo se fará para regularizar essas unidades nos termos da lei em vigor, sem provocar o seu encerramento imediato”, acrescentou. Já Lou Shenghua espera “haver espaço para negociação sobre a distribuição das receitas entre os casinos-satélite e as concessionárias”. Apesar das preocupações que residem no desemprego destas pessoas, Sam Hou Fai adiantou em Março, à TDM, que podem ser afastados esses receios. “Sei que os trabalhadores dos casinos-satélite estão distribuídos pelas empresas de jogo, portanto as operadoras têm a responsabilidade de os absorver ou de ter planos para estes trabalhadores”, frisou. Leis para que te quero Tendo em conta o historial de Sam Hou Fai na justiça, pois presidiu ao Tribunal de Última Instância desde o estabelecimento da RAEM, podem esperar-se algumas medidas novas na área do Direito. Sales Marques deposita a expectativas na criação de novos regulamentos “que sejam mais facilitadores ao funcionamento da economia”, bem “mais favoráveis ao ambiente competitivo de negócios desta região da Grande Baía, nomeadamente quanto à contratação de recursos humanos qualificados, condições oferecidas à sua estadia e o das suas famílias e regulamentos administrativos menos burocráticos”. Lou Shenghua acredita que este poderá, de facto, “prestar mais atenção à reforma jurídica”, embora esta “deva estar em conformidade com as políticas governamentais e acompanhar o ritmo dos tempos, não devendo ser reformada só porque sim”, salientou.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteLivro | Mark O’Neill conta a história dos europeus nos primórdios de Hong Kong “Europeans in Hong Kong” é o 18º e novo livro do escritor e jornalista britânico Mark O’Neill, que vive na região vizinha. Ao HM, confessa que começou por escrever a história dos irlandeses, mas o projecto acabou por se expandir. Como tal, focou-se nas histórias de europeus que deixaram a sua marca em Hong Kong, incluindo portugueses Hong Kong, a cidade da banca, das finanças e do comércio, um entreposto mundial durante séculos e uma porta de entrada para a China. Tem sido assim a região vizinha ao longo dos tempos, desde a sua instituição, em 1841. Desde sempre, Hong Kong foi um território internacional povoado por europeus de várias nacionalidades, muito mais do que os britânicos que administraram o território até 1997. Faltava contar a sua história, e Mark O’Neill, autor e jornalista britânico, a residir em Hong Kong desde finais dos anos 70, fá-lo agora com “Europeans in Hong Kong” [Europeus em Hong Kong], que inclui inclusivamente um capítulo sobre os portugueses. Em mais uma obra que acaba de sair para as bancas, o autor confessa ao HM que começou por escrever a história dos irlandeses em Hong Kong, cuja contribuição para o território “foi enorme”. Essa obra não chegou a ser publicada, nascendo depois a ideia de fazer algo maior. “Escolhi as figuras que deram os maiores contributos, especialmente a nível religioso, ou professores, escritores, grandes figuras do mundo dos negócios e aqueles cujos legados ainda perduram”, confessou. Mark O’Neill destaca que o grande contributo dos europeus na região vizinha deu-se na área educativa, mas não só. “O contributo mais duradouro foi dado pelas escolas, universidades, hospitais, lares de idosos, instituições de assistência social e algumas empresas. Embora se tratem de entidades que, actualmente, são geridas, em grande parte, por pessoas de Hong Kong, foram fundadas e alimentadas por europeus.” O autor explica que a história mais impressionante associada ao legado dos franceses surge na capa do livro. “No século XIX, as freiras francesas adoptaram dezenas de milhares de raparigas chinesas que tinham sido abandonadas e deram-lhes uma boa vida. Sem elas, as raparigas teriam morrido ou trabalhado como mão-de-obra infantil, empregadas domésticas ou prostitutas”, disse. Uma outra casa Questionado sobre as novas percepções que o livro pode trazer para o público em geral, Mark O’Neill entende que este está hoje “familiarizado com a história dos britânicos em Hong Kong, mas não com a história da Europa continental”. Assim, o autir diz esperar que “o livro os ajude a compreender a sua história, especialmente o seu contributo”. Em termos gerais, “nas primeiras décadas [da fundação de Hong Kong], os europeus eram, sobretudo, homens de negócios e missionários, tanto católicos como protestantes”. Depois, a região cresceu “como grande cidade asiática e, a partir dos anos 50, a comunidade expandiu-se”. “Actualmente, temos arquitectos, engenheiros, músicos, professores, donos de restaurantes, médicos, advogados, especialistas em arte e pessoas em todos os domínios da vida”, disse o autor. Outra figura de destaque em “Europeans in Hong Kong” é o padre jesuíta húngaro Laszlo Ladany, tido como o “maior observador da China em todo o mundo durante trinta anos”, e Anders Nelsson, “o cantor sueco e residente de longa data em Hong Kong, bem conhecido dos habitantes locais”, descreve-se na introdução da obra. “A maioria das pessoas pensa que Hong Kong foi construída pelos chineses durante os 150 anos de domínio britânico, o que não é inteiramente exacto. Como o leitor descobrirá, muitas das escolas, hospitais, instituições de assistência social, edifícios e empresas da cidade foram fundados e geridos por pessoas da Europa (definida aqui como ‘a leste de Calais’). Muitos viveram aqui toda a sua vida adulta e só regressaram ‘a casa’ quando a guerra ou a doença o obrigaram”, é descrito na mesma introdução. Mark O’Neill descreve também que os cemitérios de Hong Kong contêm vestígios dessa presença, pois “os europeus ficaram a gostar mais da cidade e das suas gentes do que da sua terra natal”. A presença europeia aumentou na região vizinha a partir de 1949, quando é fundada a República Popular da China, pois “o novo Governo chinês fechou as portas a estrangeiros, com a excepção de um pequeno número de pessoas provenientes de outros países socialistas”. Assim, “desejosos de permanecer na China e no mundo chinês, muitos europeus mudaram-se da China continental para Hong Kong”, é referido. O legado macaense O quarto capítulo é inteiramente dedicado à comunidade portuguesa e macaense de Hong Kong, tida como “pilar da sociedade” durante muitos anos. “Durante 150 anos, os portugueses foram, depois dos britânicos, a maior comunidade não chinesa em Hong Kong”, lê-se na obra, que traça o perfil de cinco personalidades e descreve dois clubes sociais, onde a comunidade se encontrava. No tocante às personalidades, é referido o exemplo de José Pedro Braga, o primeiro português a fazer parte do Conselho Legislativo, entre os anos de 1927 e 1937; Sir Roger Lobo, membro do Conselho Executivo entre 1967 e 1985; e o Comendador Arnaldo de Oliveira Sales, primeiro presidente do Conselho Urbano entre 1973 e 1981. “Os portugueses desempenharam um papel fundamental no Governo, nos bancos, nas profissões liberais e nas empresas comerciais. Viveram aqui durante muitas gerações. A maior parte dos expatriados ficava apenas o tempo da sua missão; quando se reformavam, partiam e regressavam à Grã-Bretanha ou a outro país da Europa. Os portugueses, por outro lado, tinham as suas próprias escolas, igrejas, clubes sociais e desportivos e a sua própria língua”, refere-se no livro. Relativamente à origem desta comunidade, descreve-se como uma “raça mista”, ou macaenses, mas também portugueses com origens asiáticas. “A sua história remonta a centenas de anos, aos primeiros tempos do comércio e da exploração portugueses. No século XVI, Portugal estabeleceu entrepostos comerciais e missões religiosas em Goa, Malaca, Macau e Nagasaki. Os colonos portugueses casaram com mulheres locais, criando uma população mista com raízes na Índia, na Malásia, na China e no Japão. Em 1639, o Governo japonês expulsou todos os estrangeiros e isolou o país do resto do mundo.” Macau surge intimamente ligado a esta comunidade, pois tornou-se, em meados do século XVI, “a base de Portugal na Ásia Oriental”, depois dos holandeses terem bloqueado Goa e conquistado Malaca. “Os macaenses começaram a formar-se como uma comunidade coesa – partilhando laços com Portugal, a religião católica, uma língua e uma cozinha comuns e um sentimento de distinção em relação aos portugueses coloniais e aos seus vizinhos chineses. Eram as únicas pessoas em Macau que falavam português e cantonês, o que lhes conferia um papel de intermediários essenciais para o bom funcionamento do Governo e dos negócios”, é explicado. O facto de “a fundação de Hong Kong ter devastado a economia de Macau” fez com que muitos macaenses tenham começado a mudar-se de armas e bagagens para uma zona com uma economia bem mais fulgurante. Afinal de contas, “a apenas 66 quilómetros de distância [Hong Kong] era o melhor porto de águas profundas a sul da China dentro das leis, administração e protecção militar no maior império do mundo”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEPM | Paulo Rangel garante aumento de apoio financeiro, após 11 anos de cortes Numa visita relâmpago a Macau, o ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal defendeu que a posição que o país mantém na União Europeia em nada afecta a relação com a China. Durante a visita de Paulo Rangel foi também anunciado que Sam Hou Fai deverá visitar Portugal durante o Verão Reuniu com Sam Hou Fai, com conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Foi assim a visita de Paulo Rangel, ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, na curta visita à RAEM, que decorreu na sexta-feira. Não faltaram ainda passagens pela Escola Portuguesa de Macau (EPM) e o Consulado-geral de Portugal no território. No final da tarde, Paulo Rangel deslocou-se ainda a Hong Kong para visitar a exposição “Estórias Lusas”, dedicada à comunidade portuguesa do território, patente no Museu de História de Hong Kong. Na China, Paulo Rangel marcou presença no Fórum Boao, em Hainão. Numa entrevista à TDM, o ministro assegurou que as relações de Portugal com a China mantêm-se boas, negando que o posicionamento do país nas tomadas de posição da União Europeia (UE) possa representar alguma espécie de entrave. “Quem achar que a presença de Portugal na UE é prejudicial para a relação de Portugal com a China, não percebe a relação de Portugal com a China e não percebe o papel de Portugal no quadro internacional. Percebo que algumas pessoas não compreendam, mas sinceramente temos de ver isso como mais valia. E isso é visto assim”, defendeu. Uma das vozes que criticou o posicionamento de Portugal em relação a matérias como a questão da Huawei e rede 5G foi Amélia António, advogada e presidente da Casa de Portugal em Macau. “A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da UE, de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista”, disse ao HM antes da chegada de Paulo Rangel a Macau. A questão EPM Na entrevista concedida à TDM, Paulo Rangel comentou ainda a questão da EPM, frisando os pontos que não estiveram na agenda, nomeadamente as obras de ampliação das instalações. “Esta questão ainda não foi abordada. Há, aliás, várias questões que têm de ser detalhadas e resolvidas, e uma ou outra que não foram ainda postas em cima da mesa. Sabemos que há procura por isso, mas, e estou a ser totalmente transparente, é uma questão que não está ainda posta em cima da mesa.” Segundo a Lusa, Paulo Rangel anunciou também que o Governo aumentou o apoio financeiro à EPM, regressando ao nível previsto legalmente, após 11 anos de cortes. “Acabámos de fazer a reposição da contribuição portuguesa para a Escola Portuguesa de Macau, que (…) tinha sofrido um corte enorme”, disse Rangel na sexta-feira. O Estado português detém a maioria (51 por cento) do capital da fundação da EPM, mas desde 2014 que Lisboa apenas contribuía com 10 por cento das despesas da escola, uma decisão tomada no âmbito do programa de resgate financeiro de Portugal. O financiamento da EPM “está agora nos níveis legais outra vez e é a primeira vez ao fim de 11 anos”, anunciou. Pouco depois, o chefe da diplomacia portuguesa disse aos jornalistas que “já não havia razão nenhuma, sinceramente, para haver esse corte e ele manteve-se”. “Aumentámos cinco vezes esse valor [do financiamento da EPM], portanto isso é algo que é altamente significativo do empenho que nós temos”. “Há governos que realmente dão importância a Macau e à China e há outros que não dão, isto é uma coisa que tem que ser dita”, lamentou o ministro, apontando o dedo ao anterior executivo do Partido Socialista. A reposição do financiamento “é sem dúvida uma ajuda importante” para a EPM, que Rangel descreveu como tendo um papel fundamental para Portugal em Macau. “Também registamos com agrado (…) que nunca houve tantos alunos de português – e agora falo de alunos da comunidade chinesa – como há hoje em múltiplas escolas”, acrescentou o dirigente. “Significa que também a Região Administrativa Especial [de Macau] tem incentivado o ensino de português e o conhecimento de português, e isso é algo que só pode trazer boas relações entre os dois lados”, acrescentou Rangel. Sam em Portugal Do encontro com Sam Hou Fai, que decorreu também na sexta-feira, saíram algumas ideias e opiniões sobre “o intercâmbio e cooperação bilateral nas áreas judicial, económico-comercial, educação, entre outras”, aponta uma nota oficial do Gabinete de Comunicação Social. Sam Hou Fai levou para o encontro temas como “o desenvolvimento mais actual da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Henqing”, além de ter lembrado que “Paulo Rangel é o primeiro responsável ministerial estrangeiro que ele recebe após a tomada de posse como Chefe do Executivo, facto que reflecte as boas relações entre Macau e Portugal com uma história de longa data”. O Chefe do Executivo destacou ainda que depois de 20 de Dezembro de 1999, Macau, “com o forte apoio do Governo Central, tem insistido em manter o princípio de ‘Um País, Dois Sistemas’, preservando o sistema jurídico continental, a cultura e costumes tradicionais, bem como manter, activamente, a ligação e fomentar as relações com Portugal”. O governante disse ainda que “Macau tem aprofundado o papel de ponte e plataforma entre a China e os países lusófonos, impulsionando, de forma contínua, o estabelecimento de relações amigáveis nas diversas áreas de cooperação bilateral”. Outra novidade deste encontro foi a informação, avançada pelo próprio Sam Hou Fai, que “espera visitar Portugal num futuro próximo” sem que, no entanto, tenha sido anunciada uma data concreta. Rangel anunciou que o Chefe do Executivo de Macau deverá visitar Portugal “imediatamente antes de Agosto ou em Setembro”. “Há aqui claramente também um alinhamento das prioridades que é altamente simbólico”, disse o diplomata, à margem de um encontro com a comunidade portuguesa em Macau. Questionado sobre as restrições a portugueses no acesso ao estaturo de residente, Rangel disse que falou com Sam Hou Fai “sobre todas as questões que são relevantes para a relação entre Portugal e a RAEM”. “Mas, como se trata de um diálogo que está em curso, tenho o dever de dar a oportunidade a que possamos, com as questões que foram levantadas de uma parte e da outra, termos agora espaço e tempo para construirmos soluções”, acrescentou. Rangel disse que o “seguimento do diálogo” com Sam Hou Fai acontecerá numa reunião da Comissão Mista Portugal–RAEM, “que será organizada, em princípio, no segundo semestre aqui em Macau”. Paulo Rangel disse ainda, em entrevista à TDM, que a visita de Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, “vai acontecer um pouco mais tarde”, precisamente devido à marcação de novas eleições no país. Inicialmente, o objectivo era que Marcelo Rebelo de Sousa viesse a Macau em Junho para comemorar o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portugueses. A visita deverá acontecer nos meses seguintes de Verão, previu Paulo Rangel. Encontros e desencontros Paulo Rangel teve ainda um encontro com representantes associativos locais, incluindo com o conselheiro das comunidades portuguesas. Francisco Manhão, presidente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), aproveitou para falar da burocracia que ainda existe no relacionamento com a Caixa Geral de Aposentações (CGA). “Para despachar um processo de pensões de sobrevivência leva seis meses e depois a correspondência anda para a frente e para trás. Os bancos de Macau não têm IBAN, e isso, por exemplo, atrasa todo o processo. Sempre que um processo vai para a CGA, voltam a insistir que não tem o número de IBAN e o NIF [Número de Identificação Fiscal], que a maioria das viúvas receptoras das pensões de sobrevivência, chinesas, não têm em Portugal”, exemplificou. Manhão deixou ainda elogios ao político português. “Por pouco tempo que esteve aqui, mostrou preocupação. Gostei da presença do ministro”. Além disso, Francisco Manhão frisou que “em boa hora o Governo português nomeou Alexandre Leitão para cônsul”, lembrando também o bom trabalho do anterior cônsul português, Vítor Sereno. “O Consulado nunca esteve a funcionar tão bem como agora. As críticas feitas ao nosso cônsul são injustas. Houve associados nossos que me disseram ter ficado admirados por terem feito uma marcação e sido atendidos no dia seguinte”, salientou. Mais aposta na língua Outro ponto importante da visita de Rangel foi a promessa do reforço do ensino do mandarim em Portugal. “Com as autoridades chinesas fiz questão de dizer que nos vamos empenhar muito no ensino do chinês em Portugal”. Na capital chinesa, Rangel encontrou-se com o homólogo chinês, Wang Yi, antes de se reunir com o vice-primeiro-ministro chinês, Ding Xuexiang, na ilha de Hainão, onde decorreu o Fórum Boao. “A situação hoje é muito melhor do que era há 20 anos (…). Já temos, de facto, uma capacidade de formação que não tínhamos de todo”, disse Paulo Rangel. A formação de pessoas fluentes em mandarim “é decisivo também para o nosso futuro”, mas “não é suficiente para os desafios que temos pela frente”, alertou. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteMNE| BIR de portugueses e EPM são temas a discutir com Paulo Rangel Durante a visita a Macau do ministro dos Negócios Estrangeiros português, Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem discutir o fim da preferência de acesso ao BIR por portugueses. A presidente da Casa de Portugal em Macau associa essa matéria à posição de Lisboa na questão do 5G É mais uma visita de um governante português a Macau, mas a primeira de Paulo Rangel enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros do Executivo de Luís Montenegro, numa altura em que o país se prepara para ir a votos em Maio, após a dissolução da Assembleia da República. Depois de um périplo pelo Interior da China, Paulo Rangel vai reunir com dirigentes associativos locais, no sentido de perceber problemáticas existentes relacionadas com a comunidade portuguesa. Ao HM, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), defende que as dificuldades de obtenção de residência por parte de portugueses deve ser um dos assuntos prementes. “A minha expectativa não é grande. Gostaria que o senhor ministro, depois de visitar a China, dissesse alguma coisa simpática, na medida em que as relações têm estado muito frouxas. Gostava de ver essa relação ser retomada da forma como era habitual e também que não fôssemos tão seguidores das posições da União Europeia (UE), de forma tão feroz, pois temos aqui interesses muito especiais e temos uma comunidade portuguesa muito grande. A situação é diferente em relação a outros países da UE, e isso não deve ser perdido de vista.” Amélia António destaca o posicionamento que Portugal adoptou no caso da rede 5G e da Huawei, mas também “o desenvolvimento que houve em relação à vinda de portugueses para Macau, sujeitos ao blue card”. “Tenho a sensação que vem tudo na sequência desta política da UE face à China. Portugal deve ter uma posição no sentido de salvaguardar esses interesses.” Em declarações à Lusa, a responsável fez queixas semelhantes. “Estamos aqui, sofremos as consequências dessas relações [entre Portugal e China], boas ou más. Tivemos relações muito próximas durante muito tempo, o que se alterou com a covid. Ainda não vi as coisas voltarem a ser como eram, e penso que era importante o senhor ministro explicar qual é a posição”, declarou, referindo que Portugal não tem de “alinhar fielmente com tudo o que se diz na Europa e, sobretudo, nos Estados Unidos”, salientou. Antes da pandemia, lembrou a responsável, existia “comunicação permanente” e “muito intercâmbio” entre as autoridades portuguesas e chinesas. Hoje é perceptível um “endurecimento relativamente aos portugueses” em matéria de imigração em Macau, declarou Maria Amélia António, sublinhando, porém, não poder afirmar categoricamente se a posição está relacionada com “esse afastamento” entre a China e o Ocidente. As autoridades de Macau não aceitam desde o ano passado novos pedidos de residência no território para portugueses, para o “exercício de funções técnicas especializadas”, permitindo apenas justificações de reunião familiar ou anterior ligação ao território. Também Miguel de Senna Fernandes, advogado e presidente da Associação dos Macaenses, lamenta a situação da atribuição dos BIR. “Gostaria que o Governo da República portuguesa tivesse em conta a comunidade portuguesa no território, que enfrenta algumas dificuldades em relação à possibilidade de obtenção da residência. É um tópico que talvez possa ser abordado entre o Estado português e a RAEM, para haver uma maior flexibilidade para permitir que a comunidade portuguesa tenha maior acessibilidade ao direito de residência, como existia antes.” Para o causídico, “a RAEM não tem de, aleatoriamente, atribuir mais residências, mas é algo que corresponde apenas a um desejo meu”. “Naturalmente, que a RAEM tem as suas razões e Macau está diferente, e há outras comunidades que têm interesse em ficar no território. A comunidade portuguesa, por maior ligação histórica que tenha ao território, não deixa de ser mais uma comunidade, entre outras. Como portugueses que somos, gostaríamos que houvesse maior flexibilidade”, admitiu. O caso EPM Outro ponto que Amélia António e Miguel de Senna Fernandes querem ver abordado na visita de Paulo Rangel é a situação na Escola Portuguesa de Macau (EPM) e a falta de docentes. “Penso que deve ver a escola e tomar um pouco mais de consciência em relação à situação, embora a EPM não seja da área dele. Como membro do Governo é importante que perceba que esta situação tem sido mal conduzida, pois em Portugal tem-se ido atrás de algumas conversas que têm pouco a ver com a realidade e que só prejudicam. Se ele percebesse um pouco mais da situação, não seria mau”, disse Amélia António. Já Miguel de Senna Fernandes diz que é altura de o Executivo português deixar de olhar para a escola como mais uma instituição de ensino português no estrangeiro. “A EPM é sempre uma questão recorrente, e tudo depende de como o Estado português olha para a escola: se olhar como para qualquer escola portuguesa espalhada pelo mundo, isso é um erro. Não há comparação possível, pois a EPM surgiu num contexto muito especial.” Porém, à agência Lusa, Jorge Neto Valente, presidente da Fundação da EPM, foi categórico: a escola “não tem nada para pedinchar” a Paulo Rangel. “Não há choradeira, não temos nada para pedinchar, não temos nada para exigir, está tudo normal”, garantiu. O advogado e presidente da Fundação da EPM disse esperar que Rangel “leve uma correcta percepção da escola, para que serve, os objectivos que tem”. “É sempre bom ter conhecimento directo, é muito melhor que nos papéis”, sublinhou Neto Valente. “Temos de dar contas de que a escola está a cumprir o papel que se espera que desempenhe”, acrescentou o dirigente, recordando que o Estado português detém a maioria do capital da fundação da EPM. Ainda sobre o universo da EPM, Miguel de Senna Fernandes, que também lidera a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), sugeriu um olhar atento sobre o ensino do chinês na EPM. “Sempre advoguei que o cantonês deve ter estatuto. Porque os alunos, quando saem da escola, estão num mundo cantonês. Isto com todo o mérito que pode ter o ensino em mandarim”, referiu. “É uma questão que se deve colocar. É uma questão delicada, porque estamos a falar de uma língua oficial”, completou, referindo-se ao mandarim, língua oficial na China. O responsável, também vice-presidente da Fundação da EPM, admite que esta não é uma questão que gere consenso – “muitos pais não concordam com esta visão” -, mas sublinha que a aprendizagem do cantonês “é um veículo de integração”, já que se trata da língua dominante no território. Sim ao voto electrónico Também à Lusa vários líderes associativos defenderam a transição para o voto electrónico, salientando constrangimentos nas opções correntes para a emigração. “Desde que não se avance sem ser testado, estou integralmente de acordo. O futuro é esse e temos que apontar para aí”, sublinhou a presidente da CPM. Nas eleições legislativas, os portugueses no estrangeiro têm a possibilidade de exercer o direito de voto de forma presencial ou por via postal, enquanto nas presidenciais e europeias, a votação é presencial. Na opção por correspondência, o Governo envia para a morada indicada no caderno de recenseamento o boletim de voto e dois envelopes, um de cor verde e outro branco, que devem ser devolvidos ao Ministério da Administração Interna após preenchimento. A opção electrónica “pode oferecer maior segurança”, defendeu Maria Amélia António. “Com os consulados a funcionarem mal, no sentido de terem poucos funcionários, com o trabalho que têm, e em países onde estão muito longe dos sítios onde as pessoas moram, é muito difícil as pessoas irem votar pessoalmente. Também se tem provado que há muitas falhas nas garantias de receberem voto [via correio]”, acrescentou. A escolha electrónica é uma reivindicação de longa data do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP). Rui Marcelo, presidente do Conselho Regional das Comunidades Portuguesas da Ásia e Oceânia, que tem um encontro agendado com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, disse que o “tema já faz parte da agenda” do CCP “há alguns anos e já foi abordado várias vezes e com vários governos”. “Com o avanço da tecnologia e a possibilidade de implementação de sistemas de segurança que possam garantir a segurança do voto – o que acontece hoje através da prestação de serviços noutras áreas também do Governo – estão criadas as condições para que possamos eventualmente evoluir para uma situação onde ele possa ser obviamente um complemento, mas não um substituto”, notou. Em Fevereiro, o Parlamento português aprovou uma resolução proposta pelo PSD para testar o voto electrónico na emigração. O Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, sugeriu, em Dezembro, uma experiência piloto de voto electrónico nos círculos da emigração. O chefe da diplomacia portuguesa chega hoje a Macau depois de passar por Pequim e por Haikou, na província de Hainão, onde marcou presença no Fórum Boao. Em Macau, Paulo Rangel tem agendados encontros com o chefe de Governo local, Sam Hou Fai, bem como com os conselheiros das comunidades portuguesas, representantes associativos, instituições de ensino e empresários portugueses. Visita ainda a EPM e o Consulado-geral de Portugal no território. No final da tarde, o MNE segue para Hong Kong, para visitar “Estórias Lusas”, uma exposição dedicada à comunidade portuguesa, no Museu de História de Hong Kong. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande PlanoAPOMAC | Jorge Fão lamenta falta de pessoas para gerir associação A APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau vai novamente a eleições amanhã com uma lista única. Francisco Manhão concorre novamente para presidente, Jorge Fão para a assembleia-geral e Daniel Mendonça para o conselho fiscal. Manhão sugere a criação de uma “cidade satélite” só para idosos e pede actualização de pensões Aumentar as pensões de idosos seria “ouro sobre azul”. Enquanto isso não acontece, Francisco Manhão continua a lutar por essa e outras bandeiras destinadas a melhorar a vida dos residentes com mais idade, liderando novamente a lista candidata às eleições para a gestão da APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, que decorrem amanhã. A lista é única e os rostos pouco ou nada divergem dos anos anteriores: Jorge Fão continua a liderar a assembleia-geral, enquanto Daniel Mendonça concorre pelo conselho fiscal. Há apenas um novo nome no cargo de vogal do conselho fiscal. “É muito difícil encontrar pessoas disponíveis para fazer este trabalho voluntário. Eu e o Jorge gostaríamos de encontrar alguém que nos pudesse substituir, porque estamos há bastante tempo nesta associação. Somos idosos, mas temos energia. Enquanto tivermos força nas pernas para andar, vamos andando e tentar fazer o melhor possível pela APOMAC”, disse Francisco Manhão ao HM. Jorge Fão destaca o facto de a APOMAC estar prestes a comemorar 25 anos desde a fundação, salientando que existe, de facto, um problema de liderança, que se não for resolvido pode culminar no desaparecimento da associação. “Não estamos a ver o surgimento de outra lista com pessoas mais novas e capazes, de modo que oferecemos os nossos préstimos por mais um mandato e por aí fora, até onde for possível. Há um problema de liderança na APOMAC e noutras associações. A questão da APOMAC é mais séria, pois estamos de pé há 24 anos, aniversário que celebraremos em Maio.” Cidade satélite e pensões Numa lista que irá liderar a associação até 2028, o lema é “Somos Idosos, mas Enérgicos”, lê-se no programa de acção. No primeiro ponto, é indicado que o objectivo da equipa é “acompanhar a política do Governo e da Fundação Macau, com vista a ajustar as necessidades do nosso programa de acção ao longo deste mandato de três anos”. Além disso, pretendem “prestar os apoios necessários aos associados para que possam usufruir dos benefícios atribuídos pelo Governo da RAEM e outras entidades oficiais”. Um dos pedidos da lista ao Governo liderado por Sam Hou Fai é o aumento das pensões, que actualmente é de 3.740 patacas. O seria para a associação seria a actualização para quatro mil patacas mensais. “Seria bom que o Governo da RAEM pagasse mensalmente em média a pensão para idosos, a compensação pecuniária e o subsídio de velhice, ao invés de termos de esperar de três em três meses para receber a pensão para idosos, sete meses para receber a compensação pecuniária e dez meses para receber o subsídio de velhice. A média seria de 5.323 patacas, dinheiro que faz muita falta aos idosos”, disse ao HM. Outra ideia deixada por Francisco Manhão é da construção de uma cidade satélite só para habitações de idosos, no que seria um projecto de maior dimensão face à residência para idosos já construída pelo Executivo, na zona da Areia Preta. “Gostava que um dia o Governo da RAEM construísse uma cidade satélite para os idosos. Preocupo-me muito porque há muitos a viverem sozinhos, e com a construção dessa cidade satélite deixavam de ter problemas de solidão, podendo conviver entre si, além de se poderem disponibilizar serviços comuns a todos. A construção de edifícios altos é algo bom, mas para os idosos não é tão bom assim”, defendeu. Ainda assim, Manhão assegura que ser idoso em Macau é bem mais fácil do que em Hong Kong. “Hoje em dia, em Macau, os idosos vivem bastante bem, porque há muitos apoios sociais atribuídos a esse grupo de pessoas. Recursos suficientes Questionado sobre os pontos essenciais para tornar a APOMAC uma associação de maior dimensão, Francisco Manhão diz que “têm o suficiente”, lamentando, porém, o encerramento da clínica onde eram prestados aos idosos cuidados de saúde mais básicos. “Naturalmente que tínhamos o plano de poder desenvolver mais a nossa sede, mas pela falta do subsídio tivemos de encerrar a nossa clínica. Nesse contexto, tínhamos um programa para desenvolver essa área que teve de ser abandonado, e que teria beneficiado os nossos associados. Procuramos organizar mais palestras sobre saúde, porque o grupo da terceira idade precisa de saber mais sobre doenças e questões de saúde no geral, algo que pode gerar grandes preocupações.” Em termos políticos, Francisco Manhão, que até já foi candidato a deputado à Assembleia Legislativa, diz que a APOMAC é uma defensora do princípio de “Um País, Dois Sistemas”, pensado por Pequim para as regiões de Macau e Hong Kong. “Concordamos com a política nacional de ‘Um País, Dois Sistemas’, para que Macau possa ser um paraíso para nós. Até agora temos estado bastante bem em Macau, não temos problemas, mas gostaríamos que esse princípio continuasse.” Muita burocracia Um dos serviços prestados pela APOMAC passa pelo apoio burocrático a idosos na comunicação com a Caixa Geral de Aposentações (CGA), no caso dos antigos funcionários públicos que recebem a reforma de Portugal, ou o Fundo de Pensões de Macau. “Melhorou um pouco a comunicação com a CGA, mas a parte burocrática continua a ser muito difícil de lidar por parte dos nossos associados. Ainda há pouco tempo um dos nossos associados esperou mais de três anos por um reembolso de um montante que foi cobrado indevidamente”, exemplificou Francisco Manhão. Jorge Fão, por sua vez, salientou que a APOMAC é também bastante procurada por pessoas que não são sócias, incluindo da comunidade chinesa, para o tratamento de vários assuntos, como pedidos de subsídios ou papelada relacionada com funerais. Olhando ainda o programa de acção, a lista da APOMAC pretende também “organizar mais passeios turísticos à China continental, dando a conhecer a sua cultura e o sucesso do país”, bem como a promoção de “mais convívios, para que os associados se juntem periodicamente”. Bastante procurada pelo serviço de refeições, uma vez que na APOMAC pode comer-se alguns pratos de gastronomia macaense, a lista quer “melhorar, sempre que possível, a gestão da cantina”. Questionado se muitos idosos de Macau desejam, um dia, passar a reforma na China, numa altura em que a integração regional é, cada vez mais, uma realidade, Francisco Manhão admite que sim, embora muitos “prefiram ficar no território, por já terem aqui a sua vida enraizada, estando habituados aos usos e costumes de Macau”. “O Governo da RAEM tem feito muito trabalho para que se possam integrar na Grande Baía”, rematou.
Andreia Sofia Silva Grande PlanoFórum Boao | IA, globalização e sustentabilidade em discussão Começou mais uma edição do Fórum Boao, em Hainão, onde serão discutidos temas como inteligência artificial, globalização, questões económicas actuais e desenvolvimento sustentável. O Chefe do Executivo da RAEM parte hoje para o evento, que tem como tema “Ásia no Mundo em Transformação: Rumo a um Futuro Compartilhado” Os cartazes a anunciar mais uma edição do Fórum Boao podem ser vistos um pouco por todo o lado em Hainão, a ilha chinesa que todos os anos acolhe o fórum internacional promovido por Pequim para discutir, com outros países, questões de natureza económica, comercial e de cooperação a vários níveis. A RAEM será representada por uma delegação oficial liderada por Sam Hou Fai, Chefe do Executivo, que estará na ilha entre hoje e amanhã. Liu Xianfa, comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na RAEM, continua a integrar a delegação da RAEM como assessor convidado. A delegação oficial da RAEM é composta ainda pelo secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, e pela chefe do Gabinete do Chefe do Executivo, Chan Kak. Durante a ausência de Sam Hou Fai, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, exercerá, interinamente, as funções de Chefe do Executivo. O Fórum Boao para a Ásia 2025 termina na sexta-feira e tem como tema “Ásia no Mundo em Transformação: Rumo a um Futuro Compartilhado” [Asia in the changing World: Towards a Shared Future], e, segundo uma nota divulgada pelo gabinete do Chefe do Executivo, foca-se em quatro áreas essenciais, sendo uma delas “reconstruir a confiança e promover a cooperação num mundo em rápida transformação”. Seguem-se objectivos como “incentivar o crescimento e reequilibrar a globalização para um desenvolvimento inclusivo” ou “modelar o futuro e implementar aceleradamente os objectivos do desenvolvimento sustentável para responder de forma mais eficaz aos desafios globais”. Por sua vez, o quarto objectivo diz respeito a uma área bastante actual: a inteligência artificial (IA). Pretende-se, assim, “explorar as potencialidades e intensificar a aplicação e a governança da IA para um desenvolvimento motivado pela inovação”. Segundo o jornal nacional Diário do Povo, são esperados para este ano mais de dois mil participantes oriundos de 60 países e regiões, realizando-se 50 fóruns, ou grupos de discussão, em torno dos objectivos acima enunciados. Espera-se ainda 1.140 jornalistas para a cobertura do evento. As previsões de um Fórum As principais conferências do Fórum Boao incluem discussões sobre a economia chinesa e mundial, nomeadamente em “Diálogo de Alto-Nível: A Reforma da China e Previsões Económicas” e “Construção de uma Economia Mundial Aberta: Desafios e Soluções”. Segue-se “Melhoria da Construção da Capacidade Digital & Colmatar o Fosso entre o Digital”, bem como “Desbloquear o Grande Potencial dos Acordos Regionais de Comércio Livre”. Entre os restantes painéis constam também conversas sobre as potencialidades da IA em “IA: Como Garantir um Balanço entre a Aplicação e a Governança”. Os países irão também abordar a questão da governança global na relação com a Organização das Nações Unidas (ONU), em “Diálogo de Alto-Nível: Governança Global depois da Cimeira da ONU do Futuro”. Mas os fóruns de discussão arrancam com algumas previsões feitas no relatório lançado no contexto do Fórum Boao, intitulado “Asian Economic Outlook and Integration Progress”. Uma das previsões é de que o Produto Interno Bruto (PIB) do continente asiático deverá crescer 4,5 por cento este ano, reportou a Xinhua. “Apesar da crescente incerteza económica global, a Ásia continua a ser um motor de crescimento fundamental para a economia mundial”, afirma o relatório. Além disso, em termos de paridade do poder de compra, o rácio do PIB da Ásia, dentro do total mundial, deverá aumentar do registo de 48,1 por cento no ano passado para 48,6 por cento este ano. Por sua vez, o relatório descreve que a situação geral do emprego e salários “está a melhorar na Ásia”, prevendo-se uma taxa de desemprego de 4,39 por cento para este ano, inferior à taxa global de 4,96 por cento. O “Asian Economic Outlook and Integration Progress” também destaca os investimentos estrangeiros na Ásia, descrevendo-se que a China e a ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático “são as economias mais apelativas da Ásia”. Além disso, refere-se que a dependência do investimento directo estrangeiro (IDE) interno e externo das economias asiáticas na própria região atingiu 49,15 por cento em 2023. Do ponto de vista da dependência bidirecional do IDE na Ásia, a China continuou a ser a economia mais dependente dos fluxos de IDE asiáticos, seguida pela Indonésia, com as suas taxas de dependência superiores a 80 por cento e 75 por cento, respectivamente. O relatório também apontou que a China continua a ser o centro das cadeias globais de valor de produção, descrevendo-se que, desde 2017, o comércio global de bens intermédios tem estado mais dependente da China do que da América do Norte. Em 2023, a dependência global da China para bens intermédios era de 16 por cento, em comparação com 15 por cento para a América do Norte. As fricções comerciais provocadas pelos Estados Unidos em 2018 não elevaram a sua posição nas cadeias de valor globais da indústria transformadora, acrescentou o relatório. Desta forma, descreve-se também o avanço da Ásia ao nível das tecnologias verdes emergentes, uma vez que tal é “impulsionado por fortes capacidades industriais e apoio político”. Assim, o continente parece estar a posicionar-se “como um líder potencial em materiais avançados relacionados com baterias ou produção de plásticos biodegradáveis”. A China, o Japão e a República da Coreia dominam a cadeia de abastecimento global de tecnologia de baterias de lítio, um factor considerado crucial para a electrificação dos transportes, sublinha o relatório. Entretanto, a China está na vanguarda da indústria de hidrogénio verde em expansão na Ásia, sendo a região responsável por quase 70 por cento da capacidade mundial de electrolisadores de hidrogénio, revela também o mesmo relatório. Uma ilha ecológica Segundo uma reportagem da Xinhua, a ilha de Hainão, que acolhe o Fórum Boao, é “pioneira no desenvolvimento com baixas emissões de carbono”, nomeadamente pelo recurso a energia fotovoltaica. “Na ilha de Dongyu, na província de Hainan, no sul da China, a zona de demonstração de emissões quase nulas de carbono está a redefinir a harmonia entre a humanidade e a natureza – remodelando a vida moderna através da integração de tecnologia de ponta com o desenvolvimento sustentável”, descreve-se. Mas há mais novidades tecnológicas, como o uso de “um simples código QR que desbloqueia uma experiência de café com zero emissões de carbono, e onde um braço robotizado prepara café com recurso a energias limpas”. Há também a aposta na reciclagem, pois “um avançado cubo de reciclagem separa os materiais, convertendo-os em ‘pontos de carbono’, que podem ser trocados por prémios ecológicos”. A zona que acolhe o Fórum Boao tem uma área total de 190 hectares, onde foi feita uma aposta em “três estratégias-chave”, nomeadamente a “renovação de edifícios ecológicos, utilização de energias renováveis e transportes ecológicos”. A renovação da zona em prol de apostas mais sustentáveis terá começado em 2022, sendo Boao a prova de “como a inovação tecnológica e a renovação urbana podem moldar um futuro com baixas emissões de carbono, abrindo caminho para o desenvolvimento sustentável, particularmente nas regiões tropicais de todo o mundo”, descreve a Xinhua. Ainda segundo a mesma reportagem, “um dos principais pontos fortes da zona reside na capacidade de produção de energia”, produzindo-se actualmente “cerca de 32 milhões de kWh de eletricidade verde, quase o dobro da sua procura de 17 milhões de kWh”. Por sua vez, “a energia excedente é introduzida na rede, contribuindo para uma poupança anual de 7 720 toneladas de recursos de carbono negativo”, segundo disse à Xinhua Ouyang Qinglun, director-adjunto do departamento de engenharia da COSCO SHIPPING Boao Co.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteHistória | Lara Reis, professor do Liceu de Macau, recordado em Lisboa O antigo professor do Liceu de Macau Fernando Lara Reis foi recordado nas “Conferências da Primavera”, do Centro Científico e Cultural de Macau, pela historiadora Celina Veiga de Oliveira. Natural de Leiria, Lara Reis lutou na I Grande Guerra Mundial e viveu na Avenida da República, na vivenda que hoje alberga a casa da Cruz Vermelha de Macau Fernando Lara Reis nasceu em 1892 e faleceu em 1950. Ao longo de uma vida recheada de acontecimentos e testemunhos históricos, o homem natural de Leiria foi militar e professor no Liceu de Macau, acabando por fazer do território a sua casa. A vida de Lara Reis foi recordada recentemente nas “Conferências da Primavera” do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) pela historiadora Celina Veiga de Oliveira, ela própria antiga docente no território. Na sessão, a historiadora, que venceu o Prémio Identidade do Instituto Internacional de Macau (IIM) de 2024, recordou o “professor, benemérito, impulsionador das artes”, e dono de “um conhecimento invulgar”. “Era natural de Leiria e viveu em Macau até à sua morte. Frequentou o liceu de Leiria, o Colégio Militar, ingressando depois na Escola do Exército. Na I Grande Guerra Mundial esteve em Elvas, tendo partido depois para Angola, em 1915, quando se enfrentava a ameaça alemã sobre as colónias portuguesas em África. Em 1917 embarcou para França, integrando o Corpo Expedicionário Português, como observador-aviador.” Lara Reis nunca foi piloto como desejava, tendo dedicado grande parte da sua vida ao ensino e a Macau. “Em 1919, Lara Reis foi dar aulas para o liceu de Macau. Aproveitou para fazer uma longa viagem de circum-navegação, saindo de Portugal, de Lisboa, indo até aos Estados Unidos da América, atravessou todo o território e depois foi para o Japão, descendo para Hong Kong e até Macau. Foi professor, em Macau, de desenho, trabalhos manuais e ginástica até ao fim da vida”, destacou Celina Veiga de Oliveira. A historiadora levou para a sessão alguns testemunhos escritos deixados por outras figuras de Macau que escreveram sobre Lara Reis, nomeadamente Monsenhor Manuel Teixeira no livro “Liceu de Macau”. Este referiu nunca ter encontrado “nenhum professor que tivesse servido o liceu com maior dedicação”. “Era um professor metódico, rigoroso, cuja formação militar não foi alheia certamente a estas características. O que verdadeiramente sobressaía era a sua veia artística, pois Lara Reis preocupava-se sempre em apurar o sentido estético dos alunos e abrir os seus horizontes mentais. Isto no tempo em que Macau era uma pequena cidade. Sempre que era possível, fazia excursões culturais com os alunos a Hong Kong, e em Macau levava-o a visitar exposições que ele organizava e também exposições de artistas portugueses e estrangeiros que ele patrocinava”, recordou. Celina Veiga de Oliveira destacou ainda as palavras deixadas pelo escritor Henrique de Senna Fernandes numa entrevista, sobre “uma das maiores qualidades de Lara Reis”, que “além do rigor e da disciplina, era a consideração pelos alunos, não distinguindo ricos dos pobres”. O professor Lara Reis foi “um entusiasta promotor de festas que serviam para a obtenção de propinas destinadas a alunos carenciados”, e a “ele se deve a iniciativa da criação da Associação Escolar do Liceu, de que foi o primeiro presidente”. Esta associação organizou no antigo Canídromo “festas desportivas do fim do ano em que os alunos executavam os mais difíceis exercícios”. Obra feita em Macau A historiadora destacou também “outro aspecto da dedicação ao território” por parte de Lara Reis. O leiriense “participou na I Grande Guerra Mundial e tal levou-o a interessar-se por todos os que foram incorporados nesse conflito, tendo fundado a Liga dos Combatentes da Grande Guerra e mandado construir no Cemitério de S. Miguel Arcanjo o monumento onde repousam os corpos dos combatentes”. Além disso, “outra faceta da sua personalidade era o gosto pelas viagens, pois não tinha família e, assim, partiu para o mundo”. “Visitava museus, escolas de arte e fotografava tudo o que via, tendo criado um espólio com 32 volumes que é hoje património de Leiria”. Celina Veiga de Oliveira não esqueceu a antiga vivenda “Sol Poente”, localizada na zona da meia-laranja, nomeadamente a Avenida da República, e que foi a casa de Lara Reis, mais tarde doada à Santa Casa da Misericórdia de Macau para ali “ser instalada uma clínica anti-cancerosa que foi a primeira instituição do género no espaço colonial português”. Hoje essa vivenda serve de casa à Cruz Vermelha de Macau, sendo que nas suas paredes pode encontrar-se uma pedra com a seguinte mensagem: “Neste edifício legado pelo rotário Fernando Lara Reis à Santa Casa da Misericórdia de Macau, foi instalada por iniciativa do Rotary Clube de Macau o primeiro centro de luta anti-cancerosa desta cidade no dia 15 de Abril de 1951.” “Mudança de ares” Quando Fernando Lara Reis vai para Macau, os tempos políticos são conturbados, com a agitação política que se vive na China depois da queda do império e a revolução republicana de 1911. “Nos anos 20 viveram-se no território as ondas de choque nacionalistas vividas em Cantão que, por vezes, assombravam o pacato enclave português, mas que nunca mexeram com o quotidiano. A Administração portuguesa garantia uma aparência de normalidade, e eram habituais as festas no Natal, Ano Novo Chinês, as festividades religiosas da comunidade católica e da população chinesa.” Celina Veiga de Oliveira lembrou que, no final da década de 20, Lara Reis decidiu transferir-se para Goa, uma viagem que só iria acentuar a sua pertença a Macau. “No fim dos anos 20, ele sentiu que estava na altura de mudar de ares e pediu para ser transferido para o Liceu Afonso de Albuquerque, em Pangim, e esteve lá entre 1941 e 1945, aproveitando para conhecer a Índia, e conheceu todo o país. Este interregno goês serviu para reforçar as saudades de Macau, para onde regressou em 1945 retomando a actividade liceal. Em 1948 foi a Portugal pela última vez, com licença graciosa e já doente, escolhendo Macau para ser a sua última morada”, recordou. Celina Veiga de Oliveira recordou também as palavras de Orlando Cardoso, que no artigo “Macau e o Oriente na vida de Lara Reis” falou do homem que se deslumbrou com Macau “a partir do momento em que, às 8 horas da noite de 23 de Outubro de 1919, avistou pela primeira vez o Farol da Guia, um pouco antes de se instalar no ‘New Macao Hotel’ e sorver de sentidos atentos os sons, os cheiros e as luzes desta porta de uma imensurável e fantástica Ásia que ele iria descrever até à exaustão”. Esses testemunhos de Lara Reis constam “num notável conjunto de livros de viagens que jazem praticamente inexplorados em todas as suas potencialidades de investigação nas prateleiras do Arquivo Distrital de Leiria”, e que foram investigados pelo próprio Orlando Cardoso. No mesmo artigo, este refere um texto do jornal “Notícias de Macau” de 17 de Janeiro de 1950, sobre Lara Reis: “O professor austero e adorado; o turista tenaz e minucioso; o militar que combateu e consagrou a memória dos que a seu lado tombaram no campo da luta; o amigo sincero e firme; o companheiro amável e bem humorado; o cavaqueador que, por si só, era pessoa para sustentar, durante horas, a animação da conversa em qualquer meio social; o celibatário ferrenho que, apesar disso, não desdenhava toda e qualquer oportunidade de desferir os seus galanteios, sempre gentis e inconsequentes a qualquer palminho de cara que lhe desse no goto”. Tendo em conta os poucos estudos que existem sobre Lara Reis e o espólio que deixou, Celina Veiga de Oliveira deixou uma sugestão: “que o CCCM obtenha o índice detalhado do arquivo de Leiria, de modo a que seja possível a pesquisa para eventuais investigadores interessados”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteContratação pública | Novo regime “está no bom caminho”, diz advogado Marco Caldeira, advogado e professor auxiliar convidado da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, defende que a proposta de lei de contratação pública, em análise na especialidade no hemiciclo, está “no bom caminho”, no que diz respeito à tentativa de “promover a transparência e concorrência e apostar na digitalização”. O tema foi discutido na última semana no Centro Científico e Cultural de Macau A proposta de lei de contratação pública, actualmente em análise na especialidade na primeira comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL), foi um dos temas abordados nas “Conferências da Primavera”, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), na última semana. O autor da palestra, o advogado e docente Marco Caldeira, teceu elogios ao diploma pela sua tentativa de reforma e inovação em vários aspectos. “Embora não sendo perfeita, a proposta de lei em discussão justifica-se pela necessidade de actualizar legislação que foi aprovada há quatro décadas. Trata-se de uma proposta que parece apontar no bom caminho, havendo um esforço de codificar o regime, promover a transparência e a concorrência e apostar na digitalização”, defendeu o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) ao HM. Além disso, Marco Caldeira entende que o diploma, e o conteúdo proposto pelo Governo, visa “seguir aquilo que são as boas práticas adoptadas na Europa e no Ocidente, em geral”. “É também muito louvável o facto de a proposta ter sido elaborada na sequência de um procedimento sério e participado de consulta pública, que deu oportunidade aos operadores económicos e entidades contratantes de identificarem deficiências na legislação vigente e apresentarem sugestões”, acrescentou Marco Caldeira. Na sessão do CCCM, o docente da FDUL apontou ainda ser “louvável a preocupação [demonstrada, no diploma] com a concorrência e transparência dos procedimentos”, e também “o foco na formação na utilização de bases de dados, bem como a aposta na centralização”. O docente entendeu ainda que, nesta proposta de lei, o regime português “pode ajudar, pois a prática seguida em Portugal, e as evoluções legislativas, têm ensinamentos úteis que, com as devidas adaptações, podem ser transpostos para Macau”. Pontos positivos Na apresentação no CCCM, Marco Caldeira destacou vários aspectos positivos da actual proposta de lei, nomeadamente “a determinação expressa da inaplicabilidade a certos contratos”, ou o facto de estarem estabelecidos “princípios fundamentais da contratação pública”. Exige-se, ainda, com a nova lei, “qualificações aos candidatos e concorrentes” de concursos públicos, existindo também “a clarificação e uniformização dos tipos procedimentos de contratação pública”. Cria-se, assim, um “regime de contratação centralizada”, além de se regulamentarem “critérios de adjudicação” nos concursos, prevendo-se ainda a criação de um website exclusivo para a área da contratação pública. Marco Caldeira chamou ainda a atenção para a real necessidade deste diploma, pois a contratação pública estava legislada com diplomas variados, incluindo dois decretos-leis de 1984 e 1985, que estabeleciam, respectivamente, o regime de despesas com obras e aquisições de serviços, e o processo de aquisição de bens e serviços. Tais diplomas estavam “desfasados da realidade” de Macau, mesmo que o decreto-lei de 1984 tenha sido revisto em 2021, considerou o docente. Marco Caldeira considerou também que o processo de revisão deste diploma tem sido “moroso”, pois a consulta pública realizou-se entre 6 de Novembro de 2018 e 4 de Janeiro de 2019, tendo sido elaborado um relatório posterior, mas a verdade é que a proposta de lei está em análise na especialidade desde Dezembro de 2023, tendo sido votada na generalidade a 11 de Janeiro do ano passado. O que tem de mudar Na mesma sessão, o causídico e professor universitário realçou ainda os pontos já abordados pela primeira comissão permanente da AL quanto às mudanças necessárias para legislar na área da contratação pública. Impunha-se “consagrar expressamente os princípios jurídicos fundamentais, como a economia, eficiência e eficácia, bem como a publicidade e transparência”, existindo ainda “uma falta de regulação das políticas de contratação pública”. Havia ainda a “necessidade de promover a transparência nos procedimentos de contratação pública” e assegurar “uma maior protecção da concorrência leal”. Verificava-se também “a falta de regulamentação rigorosa e explícita sobre a composição e funcionamento das comissões de avaliação das propostas” submetidas a concurso público, além de haver “falta de exigências explícitas sobre as qualificações e capacidades dos candidatos e concorrentes nos procedimentos de contratação”. Outras lacunas apontam para a “insuficiência de regulamentação e transparência nos procedimentos de avaliação e adjudicação”, ou “falta de regulamentação explícita sobre situações de apresentação de propostas com um preço anormalmente baixo”. Era ainda necessário “aperfeiçoar o regime sancionatório e de fiscalização”, bem como apostar na “regulamentação que promova o desenvolvimento da contratação electrónica”. Diz o Executivo Olhando para a nota justificativa sobre a proposta de lei, submetida pelo Executivo à AL, lê-se que um dos grandes motivos para a sua apresentação foi mesmo a dispersão legislativa que se verificava e o desajustamento face à actual realidade. “A parte nuclear desses diplomas foi elaborada em meados dos anos 80 do século passado, encontrando-se em vigor há mais de 30 anos. Uma parte significativa do disposto nos outros diplomas legais já apresenta uma evidente divergência relativamente às necessidades do desenvolvimento socioeconómico actual de Macau, à eficiência da gestão da Administração pública e ao reforço da transparência e fiscalização”, lê-se. Segundo o Executivo, “dado que a contratação pública envolve a utilização do erário público, torna-se essencial rever esses regimes, a fim de ir ao encontro das necessidades da sociedade dos nossos dias”. Assim, nesta proposta de lei, “regulamenta-se, de forma integrada, o processo e regime de despesas com obras e aquisições de bens e serviços”, mantendo-se algumas disposições de uma lei de 1999, por se entender que “as disposições relativas ao regime de empreitadas de obras públicas têm um elevado grau de especialização e se apresentam ainda eficazes”. Pretende-se, com a nova lei da contratação pública, “garantir a justiça, imparcialidade na avaliação das propostas”, definindo-se “expressamente critérios de ajudicação e determinando-se de forma rigorosa as normas de conduta dos trabalhadores e membros das comissões de abertura e avaliação de propostas” submetidas a concurso, para que “excerçam as suas funções de forma imparcial e íntegra”. Prevê-se, assim, “que as entidades contratantes devem publicitar, de forma adequada, os elementos informativos relativos aos procedimentos de contratação pública”. São eles “os que estão relacionados com o concurso público, os esclarecimentos prestados, a rectificação de documentos, a prorrogação do prazo para a apresentação de propostas, as causas para a não adjudicação, a decisão de anulação do procedimento e a decisão de adjudicação”. A fim de garantir a concorrência leal, o Governo quer garantir que todas as entidades interessadas em participar num concurso tenham “o mais amplo acesso” a todos os procedimentos, proibindo “todos os actos, acordos ou práticas susceptíveis de impedir, falsear ou restringir a concorrência”. Além disso, existe o “princípio da imparcialidade”, que determina que “o programa de procedimentos, caderno de encargos ou outros documentos, elaborados pela parte contratante, não podem conter qualquer cláusula destinada a favorecer ou prejudicar um determinado interessado”.