Secretário do Tesouro americano pondera ir à China para aliviar tensões

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] secretário de Estado do Tesouro dos Estados Unidos da América, Steven Mnuchin, afirmou no fim-de-semana que está a considerar fazer uma viagem à China para aliviar as tensões comerciais entre as duas maiores economias mundiais. Mnuchin falava numa conferência de imprensa em Washington, após participar nos Encontros da Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), na qual se mostrou “prudentemente optimista” em alcançar um acordo entre os dois países.

“Uma viagem está a ser considerada. Não vou fazer um comentário sobre quando, nem tenho nada confirmado”, disse Mnuchin, acrescentando que teve um encontro com Yi Gang, governador do Banco Popular de China, à margem da assembleia daquela instituição financeira internacional. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já criticou várias vezes o avultado défice comercial com a China, como causa da perda de emprego no país, e ameaçou impor taxas no valor de 150.000 milhões de dólares sobre numerosos produtos chineses, às quais Pequim respondeu com medidas semelhantes.

As tensões entre os Estados Unidos e a China, e a possibilidade de se desencadear uma guerra comercial internacional, centrou as discussões durante a assembleia do organismo dirigido por Christine Lagarde, que terminou ontem, com a participação de representantes dos seus 189 países membros.

“Houve algum progresso em direcção ao diálogo” disse Christine Lagarde, na conferência de imprensa, sublinhando a necessidade de evitar a todo o custo uma guerra comercial.

Por seu turno, Guangyao Zhu, vice-ministro chinês das Finanças, disse: “Múltiplos riscos e incertezas consideráveis revelam sentimentos anti-mundialização, unilateralismo, e proteccionismo no comércio”, enquanto Yi Gang estimou, igualmente que “a escalada das fricções comerciais causadas pelas medidas unilaterais são uma das ameaças à economia mundial”.

23 Abr 2018

Diplomacia | Coreia do Norte anuncia suspensão de testes nucleares e de mísseis

A Coreia do Norte anunciou durante o fim-de-semana que suspendeu os testes nucleares e o lançamento de mísseis de longo alcance e que tem planos para encerrar as suas instalações de testes nucleares, adiantou a Associated Press

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] agência de notícias oficial da Coreia do Norte adiantou que a suspensão dos testes nucleares tem efeito a partir de sábado, 21 de abril, na Coreia do Norte. O país disse estar a mudar o foco da sua política nacional e concentrado em melhorar a sua economia.

O anúncio acontece dias antes de o líder norte-coreano Kim Jong-un se encontrar com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in numa localidade fronteiriça para uma rara cimeira entre os dois países que tem por objectivo resolver a disputa nuclear com Pyongyang. A decisão da Coreia do Norte foi tomada numa reunião do Comité Central do partido no poder, que acordou discutir “um novo período” de políticas no país.

A Coreia do Sul felicitou a decisão de Kim Jong-Un, líder norte-coreano, de suspender os testes nucleares, salientando tratar-se de um “passo significativo” para a desnuclearização da península coreana. “A decisão da Coreia do Norte representa um passo significativo para a desnuclearização da península coreana, que o mundo aguarda”, afirmou a presidência da Coreia do Sul, em comunicado, elogiando o “ambiente muito positivo para as próximas cimeiras entre as duas Coreias e entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, que a decisão de Pyongyang “irá criar”.

Resposta de Tóquio

O ministro da Defesa japonês considerou insatisfatória a decisão da Coreia do Norte em suspender os testes nucleares, já que Pyongyang não mencionou “o abandono dos mísseis balísticos de curto e médio alcance”. “Não podemos ficar satisfeitos”, afirmou Itsunori Onodera aos jornalistas, adiantando que Pyongyang não fez qualquer referência “ao abandono dos mísseis balísticos de curto e médio alcance”, pelo que Tóquio irá manter pressão sobre a Coreia do Norte.

Ainda assim, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, celebrou a decisão da Coreia do Norte de suspender os testes nucleares e expressou a esperança que esta sirva para o desarmamento “completo, verificável e irreversível” do país vizinho. O chefe do Executivo japonês considerou a decisão como um “movimento positivo”, mas manifestou cautela, afirmando que “a única coisa importante (agora) é ver se esta acção levará a uma eliminação completa, verificável e irreversível das armas nucleares e mísseis” do país vizinho, de acordo com declarações divulgadas pela emissora pública NHK.

Abe adiantou que o seu Governo “estará atento” ao assunto e deixou claro que o Japão e os Estados Unidos coordenaram a sua actuação perante os vários cenários possíveis com a Coreia do Norte, durante a cimeira que teve com o Presidente norte-americano, Donald Trump, esta semana na Florida.

A cautela do primeiro-ministro japonês foi partilhada por outros membros do seu gabinete, como o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Taro Aso, que de Washington, onde está a participar numa reunião ministerial do G20, disse que ainda é cedo para saber se a Coreia do Norte irá abandonar as armas. Taro Aso disse que em outras ocasiões foram feitas concessões económicas e de outra índole para que Pyongyang abandonasse o seu programa nuclear, “mas os testes continuaram”, de acordo com a agência Kyodo.

Já o ministro da Defesa japonês, Itsunori Onodera, qualificou a decisão da Coreia do Norte “insuficiente” e afirmou que “este não é o momento para relaxar a pressão sobre o país”.

“Não podemos ficar satisfeitos”, afirmou Itsunori Onodera aos jornalistas, adiantando que Pyongyang não fez qualquer referência “ao abandono dos mísseis balísticos de curto e médio alcance”, pelo que Tóquio irá manter pressão sobre a Coreia do Norte.

Xi & Trump

O Presidente norte-americano, Donald Trump, também já reagiu a este anúncio, tendo considerado uma “muito boa notícia” a decisão da Coreia do Norte, e manifestou-se desejoso de se encontrar com o líder norte-coreano, o que poderá acontecer em Maio ou Junho.

A China, principal aliado da Coreia do Norte, saudou o anúncio de Pyongyang de que irá suspender os seus ensaios nucleares e de mísseis intercontinentais, afirmando que isso contribuirá para a desnuclearização da península coreana.

“A China pensa que a decisão de suspender os ensaios nucleares e de se concentrar no desenvolvimento económico e na melhoria das condições de vida vai ajudar a apaziguar a situação na península coreana e fará avançar o processo de desnuclearização, assim como os esforços no sentido de uma solução política”, disse Lu Kang, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, em comunicado.

23 Abr 2018

Geopolítica | Um novo tipo de “Guerra Fria” com Estados Unidos, Rússia e China

Os Estados Unidos estão a impor o regresso a um novo género de Guerra Fria por considerarem a Rússia e a China como adversários, e actuam como elemento que valida as actuais ambições de Moscovo, alertam investigadores em temas geopolíticos

[dropcap style≠‘circle’]”E[/dropcap]stamos a regressar a uma nova Guerra Fria, pelo facto de os Estados Unidos encararem agora Rússia e China como adversários, e não como nações pouco amistosas, mas não necessariamente hostis”, considerou Michael Klare, professor de Estudos de segurança e paz no Hampshire College em Amherst, Massachusetts, Estados Unidos, em declarações à agência Lusa.

Na sua análise, o académico sublinha que desde o final da Guerra Fria, no início da década de 1990, até recentemente, os presidentes norte-americanos ambicionavam “integrar a Rússia na ordem liberal internacional”, mas a Casa Branca, após a eleição de Donald Trump em 2016, deixou de acreditar que Rússia e China possam integrar essa ordem.

“A actual liderança dos EUA não acredita que a Rússia e a China possam integrar essa ordem, antes considera que estão empenhados em desmantelá-la. Por isso, acredita que os dois países devem ser isolados e delimitados”, sublinha o académico, autor de diversas publicações, onde se inclui The Race for What’s Left: The Global Scramble for the World’s Last Resources” (2012).

Este género de pensamento, especifica o investigador, já justificava a estratégia de contenção prosseguida pelas potências ocidentais face à URSS no decurso da Guerra fria “original”.

Na Rússia, e em particular após a subida ao poder de Vladimir Putin em 2000, o país também registou uma evolução na sua abordagem geoestratégica, e diversos analistas têm considerado o reconhecimento, pela maioria dos países ocidentais e aliados, da independência do Kosovo em 2008 à revelia das instâncias internacionais, como o elemento que conduziu a Rússia a alterar as suas políticas sobre integridade territorial e intangibilidade das fronteiras dos Estados na sua esfera de influência.

Sozinhos em Moscovo

Em artigo recente publicado na revista Russia in Global Affairs, Vladislav Surkov, conselheiro do Presidente Vladimir Putin e muito influente nos corredores do Kremlin, considerou que a Rússia abandonou as aspirações seculares de integração no ocidente, e regressa a uma nova era de “solidão geopolítica”.

“O lugar que o ocidente tem ocupado na política externa da Rússia pós-soviética é simultaneamente o de barómetro da ambição russa de ser reconhecida como uma grande potência e de elemento constitutivo da identidade russa, mesmo que por oposição directa, como parece ser o actual cenário”, assinalou em declarações à Lusa, Licínia Simão, professora de Relações Internacionais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Investigadora do Centro de Estudos Sociais.

“Mais do que a União Europeia [UE] ou as suas principais potências, são os Estados Unidos que têm actuado como o elemento que valida as ambições de Moscovo ser um interlocutor necessário à resolução das grandes questões da política internacional”, sustentou. Na perspectiva da investigadora, o “caminho épico da Rússia rumo ao ocidente”, que agora parece comprometido, teria expressão numa ambicionada parceria, mas que não passaria pela integração do grande país euro-asiático nas instituições ocidentais, como a UE ou NATO.

“Este caminho rumo ao ocidente era pautado pelo reconhecimento formal de Moscovo como o parceiro mais significativo da superpotência Estados Unidos na resolução dos problemas internacionais, em jeito de concerto das grandes potências, ainda que articulado no quadro de organizações multilaterais como a ONU e o seu Conselho de Segurança”, prosseguiu a académica.

A intenção de a Rússia se preparar para actuar de forma mais isolada no contexto internacional constituirá, no actual cenário, a “validação de uma estratégia em vigor há algum tempo, na medida em que ela tem efectivamente sido marginalizada pelos seus parceiros ocidentais e tem procurado sempre avançar os seus interesses particulares”, indicou ainda.

No entanto, para Licínia Simão, o impacto desta abordagem nos ‘dossiês’ em que a Rússia é efectivamente um parceiro negocial não é claro, especialmente no actual contexto da política norte-americana e europeia. “Mas será, sem dúvida, um momento de reapreciação das prioridades russas e uma oportunidade de reforçar as tendências autoritárias, conservadoras e nacionalistas do país, com importantes impactos negativos na sociedade russa e potencialmente na estabilidade regional, como é já visível na Ucrânia.”

Em clima de “nova “Guerra fria”, o sentimento de “cerco” ocidental, não será apenas perceptível na Rússia, mas também pela China, e contido na mais recente revisão estratégica do Pentágono (NPR) que assinala a entrada dos EUA numa nova era de “competição de grande potência” com Moscovo e Pequim, e que esta competição está a assumir uma forma militar, precisou ainda Michael Klare.

O académico norte-americano recordou que o NPR também assinala, “sem fornecer qualquer prova”, que a Rússia encara a utilização inicial de armas nucleares num qualquer futuro conflito com a NATO, devendo deste modo os EUA munirem-se de um vasto espectro de armas nucleares para dissuadir essa utilização, e se necessário responder em conformidade.

“O resultado poderá ser uma escalada da corrida às armas nucleares e um maior risco de utilização de armas nucleares em situação de combate”, alertou.

“E enquanto os Estados Unidos e aliados continuarem a instalar as suas forças ao longo do perímetro da Rússia e China, podemos esperar que estes países respondam através do reforço das suas próprias forças e procurarem contrariar a estratégia de cerco norte-americana. Esta situação aumentará o risco de confrontação e de escalada em todos os pontos onde forças dos dois lados se encontrem numa situação de proximidade, incluindo na Europa”.

23 Abr 2018

Pequim começa a aplicar sistema na aviação civil

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] controverso sistema de “crédito social” implementado pela China, que classifica cada cidadão, vai começar a ser aplicado na aviação civil, ao proibir pessoas com baixa pontuação de voar até um período de um ano.

Parte daquele sistema, que recorre a novas técnicas de análise de dados, começará a ser aplicado no próximo mês, informou ontem a Administração de Aviação Civil da China e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, num comunicado conjunto.

As autoridades detalham nove comportamentos que contribuirão para que o passageiro tenha um baixo crédito social, incluindo a difusão de falsos alarmes em aeroportos ou aviões, uso de identidades falsas, transporte de objectos proibidos ou “comportamento ameaçador ou problemático”.

A Aviação Civil da China elaborará mensalmente uma “lista negra” de passageiros e o tempo de interdição de voar, que poderão ser consultados no portal CreditChina.gov.cn.

O Governo chinês tem desenvolvido nos últimos anos um sistema de “crédito social”, que atribui pontos a cada cidadão segundo o seu comportamento, situação financeira, desempenho profissional e académico ou opiniões nas redes sociais. O sistema suscitou críticas, por se temer que resulte numa evasão de privacidade e em descriminação, ao impedir pessoas com baixa pontuação de aceder a melhores empregos e universidades ou migrar para cidades mais prósperas.

20 Abr 2018

Accionista da TAP vende participação em banco chinês para enfrentar dívida

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] grupo chinês HNA, accionista da TAP através do Consórcio Atlantic Gateway, vendeu uma participação num banco comercial chinês, informou a imprensa local, numa altura em que enfrenta graves problemas de liquidez

Segundo o portal chinês de informação financeira Caixin, a Aerial Wonder, subsidiária do grupo HNA, vendeu a participação de 3,1 por cento que tinha no Banco Rural Comercial de Cantão, que está cotado na bolsa de Hong Kong, por 1.500 milhões de dólares de Hong Kong. A operação faz parte do plano do grupo de vender activos próprios e das suas subsidiárias, visando enfrentar uma grave crise de liquidez.

Desde o ano passado, quando as autoridades chinesas decretaram regras mais restritivas no financiamento das empresas, visando reduzir riscos financeiros, que a empresa enfrenta dificuldades em saldar as suas dívidas.

O grupo planeia ainda vender parte da sua participação de 25 por cento na cadeia de hotéis Hilton, por 973 milhões de euros. Uma subsidiária do grupo vendeu já um edifício de escritórios em Manhattan, Nova Iorque, por 246 milhões de euros. Outra subsidiária vendeu um edifício de escritórios em Sydney, por 130 milhões de euros. Um arranha-céus detido pelo grupo na West Madison Street, em Chicago, está também à venda.

O grupo tem ainda importantes participações em firmas como Swissport ou Deutsche Bank.

Em Portugal, a empresa detém uma participação na Atlantic Gateway, consórcio que detém 45 por cento da TAP. O Estado português é dono de 50 por cento da TAP, estando os restantes 5 por cento do capital nas mãos dos trabalhadores”.

Uma das suas subsidiárias, a Capital Airlines, inaugurou em Julho passado o primeiro voo directo entre a China e Portugal.

20 Abr 2018

Pequim envia 395 forças da paz para missão da ONU no Mali

A China vai enviar no próximo mês quase 400 efetivos militares e médicos para o Mali, parte de uma missão de paz das Nações Unidas, noticiou ontem a agência oficial chinesa Xinhua

 

[dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]rata-se do sexto batalhão que a China destaca para aquele país africano, em conflito desde 2012. O grupo é constituído por 170 tropas, 155 sapadores e uma unidade médica de 70 profissionais.

A unidade vai reconstruir vias públicas, pontes e pistas de aterragem, assim como proteger bases militares em zonas de conflito e tratamento médico de doentes e feridos, entre outras funções. Entre os 395 efectivos conta-se uma brigada de protecção contra armas químicas, que já esteve destacada no Sudão do Sul por cinco ocasiões, e cerca de 100 soldados, que já participaram em missões da paz, indicou a Xinhua.

O Mali atravessa um período de grande instabilidade, desde o golpe de estado de 2012, quando grupos rebeldes aliados a organizações extremistas tomaram o controlo do norte do país, durante dez meses.

Aquela forças foram expulsas em 2013, após uma intervenção militar liderada pela França, mas extensas áreas do país, sobretudo no norte e no centro, escapam ainda ao controlo do Estado.

No domingo, o primeiro-ministro do país, Soumeylou Boubèye Maïga, ordenou o desarmamento de todos os portadores de armas, registadas ou ilegais, em todo o território do Mali.

Segundo a agência da ONU para os refugiados, a violência no centro do Mali causou nas últimas semanas a fuga de três mil cidadãos do país para o Burkina Faso.

 

Exercício no estreito

A China realizou exercícios militares com fogo real na costa sudeste, noticiou ontem a imprensa oficial, num período de renovadas tensões entre Pequim e Taipé devido ao apoio dos Estados Unidos ao governo da ilha. O Exército de Libertação Popular indicou que os exercícios envolveram a coordenação de vários tipos de helicópteros militares, que detectaram e atacaram alvos marítimos.

Segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, os exercícios terminaram às 22h de Macau. Não é claro se os exercícios são os mesmos que a China anunciou na semana passada para o estreito de Taiwan. No entanto, a televisão estatal chinesa CCTV informou que os exercícios anteriormente anunciados são dirigidos às forças independentistas de Taiwan, com a seguinte manchete no seu portal: “Não digam que não foram avisados!”.

O porta-voz do Ministério da Defesa de Taiwan, Chen Chung-chi, desvalorizou os exercícios, e afirmou que a China está a exagerar a escala das suas actividades para criar ansiedade entre a população da ilha. “O Partido Comunista Chinês jogou com intimidação verbal barata e fanfarronice através da imprensa estatal para criar pânico e mal-estar”, afirmou Chen, descrevendo os exercícios como regulares.

20 Abr 2018

Analistas vêm com optimismo possível acordo na península coreana

Os preparativos já estão a ser feitos. No próximo dia 27 pode ter início um acordo histórico entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul que pode trazer a paz à península depois de mais de 60 anos de relações tensas. Mas, para que seja bem sucedido, há que ter em conta o papel da China e dos Estados Unidos. Analistas consideram que se trata do momento certo e que todos têm a ganhar com negociações de paz

 

 

[dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]stá a ser preparado o trajecto na fronteira entre as Coreias que será percorrido pelo líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, no próximo dia 27. Se Kim o fizer, está dado o primeiro passo, desde a assinatura do Acordo de Armistício Coreano em 1953, para um entendimento na península. Desde então, nenhum líder norte-coreano atravessou a Linha de Demarcação Militar.

O caminho tem como destino um encontro com o seu homólogo da Coreia do Sul, Moon Jae-in, para se dar início a negociações para o processo de desnuclearização da Coeria do Norte. Além disso, a reunião abre portas a uma nova relação entre aqueles dois países.

Ao mesmo tempo, está já agendada uma reunião entre o líder norte coreano e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Mais um acontecimento sem precedentes na soberania dos “grandes líderes”. Este encontro continua sem data concreta, mas tudo indica que terá lugar entre Maio e Junho em local ainda por definir.

Segundo o New York Times, não se pode falar de acordo entre as Coreias sem falar dos países a que estão ligadas. Neste caso, a China e os Estados Unidos, até porque assim está previsto no Armistício de 53. No entanto, o encontro da próxima semana é já um avanço para o entendimento, considera o especialista em relações internacionais, Arnaldo Gonçalves.

“O interesse é das duas Coreias, e o interesse é que aprofundem os entendimentos ou o conhecimento das posições de cada uma”, começa por dizer ao HM. A reunião da semana que vem “é uma forma de quebrar o gelo e perceber o que se pode fazer”. Por outro lado, “as duas Coreias têm, objectivamente, do ponto de vista legal, um conflito de 60 anos. Tecnicamente tem de ser resolvido e não tem de ser com capitulação, pode haver uma alternativa”, aponta.

Wang Jianwei, especialista em relações internacionais da Universidade de Macau também vê com bons olhos o início das negociações. “Neste momento, parece que as Coreias vão chegar a um acordo para haver reconciliação. Talvez haja mesmo um acordo de paz, que depois poderia ser apoiado pelos EUA e China”, disse ao HM.

De acordo com o académico, tudo indica que o entendimento pode ir a bom porto, aliás, um dos indicadores optimistas é a relativa restrição das críticas por parte de Pyongyang a Washington, dos últimos tempos, depois de terem sido lançadas ameaças exterminadoras.

 

 

Dos peões aos reis

Falar das Coreias e do seu entendimento só pode ter efeito se se tiver em consideração os países que apoiam cada uma delas. Estados Unidos e China são centrais e com a reunião anunciada entre Trump e Kim, está aberto o caminho para que a península asiática possa efectivar um tratado.

“Isto é uma plataforma, como se fosse um xadrez. O regime da Coreia do Sul é aliado dos Estados Unidos, têm um tratado de defesa e assistência mútua. Por isso não pode, do ponto de vista do tratado, avançar com qualquer posição sem consultar os americanos ou mantê-los informados”, aponta Gonçalves.

Para já, parece que os indicadores são positivos, até porque se está a assistir a uma acção sem precedentes. “Trump surpreendeu todo o mundo, como costuma fazer, e decidiu anunciar que tem interesse em finalmente promover negociações entre os Estados Unidos e o regime da Coreia do Norte”, explica o especialista.

No entanto, falar da Coreia do Norte e dos Estados Unidos não dá certezas de sucesso das negociações, por muito optimismo que a situação suscite.

De acordo com Arnaldo Gonçalves, “não nos podemos esquecer que estamos perante actores internacionais que são imprevisíveis”, refere ao HM. Não se tratam de líderes em que pode antever comportamentos. “São impulsivos, egocêntricos, megalómanos, têm uma visão da política muito pessoal. Podem entrar na sala de reunião com uma disposição e mudarem rapidamente, ao ponto de abandonarem as negociações, porque alguém teve um comentário mais intempestivo”, explica.

No entanto, se o encontro ocorrer é bom sinal, até porque é um primeiro contacto entre o Ocidente e o regime de Kim Jong-un.

 

Ordens na sombra

No que respeita ao papel da China, Wang Jianwei considera que tem tido uma influência aparentemente mais discreta, o que não invalida o seu papel decisor em todo o processo. Exemplo disso foi o encontro recente em Pequim entre o presidente chinês, Xi Jinping, e o norte coreano Kim Jong-un. “A China quer manter a iniciativa no destino da Coreia do Norte. Não é difícil de acreditar que estão a actuar por trás do palco, colocando pressão na Coreia do Norte. No passado, mesmo quando a ONU impunha sanções à Coreia do Norte, a China continuava a deixar a porta aberta para eles sobreviverem”, aponta.

No entanto, há quem defenda que Pequim tem ficado marginalizada porque é um assunto, por um lado entre as Coreias, e por outro entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos.

Mas, para o académico, “a China assumiu um papel fundamental para que a Coreia do Norte estivesse disposta a falar com os Estados Unidos através do apoio da China às sanções aprovadas no seio da ONU à Coreia do Norte, que os deixaram sem alternativas económicas”.

Para Arnaldo Gonçalves, a China “será sempre um actor central nestas negociações”. Em causa está a dependência da Coreia do Norte da ajuda que tem tido do seu aliado. “Se a China não vir com boa vontade as negociações, não haverá avanços porque o regime na Coreia do Norte é absolutamente dependente do regime chinês, em termos de conselheiros militares, económicos, assistência alimentar, transportes e comunicação”, explica.

 

Quid pro quo

Apesar da “guerra comercial” entre a China e os Estados Unidos, os analistas consideram esse factor em nada interferirá nas negociações entre as Coreias.

“Não creio que a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos tenha um impacto adverso para os diálogos entre as Coreias, e entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos”, refere Wang.

Porém, há ainda questões de reciprocidade a ter em conta. De acordo com Wang, “um bom resultado das reuniões também depende da sinceridade dos EUA e se têm incentivos suficientes para oferecer. Não acredito que a Coreia do Norte vai estar disposta para abdicar das armas nucleares e da segurança do regime, se não houver ofertas suficientes em cima da mesa”, refere. O académico considera que é possível que as pessoas tenham subestimado Kim Jong-un. A razão, aponta, tem que ver com o facto se ter achado que o responsável norte-coreano nunca ia abdicar das armas nucleares. “Ele até poderá ser mais inteligente e razoável do que se espera”, remata.

As negociações diplomáticas não são gratuitas, aponta Arnaldo Gonçalves.  “Se a China sentir que os Estados Unidos não estão a ser justos nas relações comerciais, pode sempre interferir e não apoiar as negociações”. Mas, destaca, “Pequim considera que a eliminação do armamento nuclear nas Coreias é do seu interesse nacional”.

Apesar dos atritos comerciais entre Trump e Xi nas últimas semanas, para Gonçalves “felizmente, existem boas relações entre os presidentes da China e dos EUA”.

 

O momento é agora

De acordo com os analistas, o momento para avançar para o acordo entre as Coreias chegou. “Tanto a Coreia do Norte como os Estados Unidos chegaram à conclusão que estão esgotados os outros meios para ultrapassar as dificuldades nas relações bilaterais”, explica Wang Jianwei.

No que respeita à Pyongyang, depois dos vários testes nucleares que o país levou a cabo, Kim terá concluído que o país está prevenido contra invasões e por isso não há necessidade de continuar nessa trajectória. Além disso, o líder norte-coreano também saberá que se o fizer se arrisca a motivar uma guerra com os norte-americanos, refere.

Por seu lado, nos Estados Unidos, apesar das opiniões se dividirem entre a intervenção militar e as negociações, a solução diplomática para ser a mais viável. “Há pessoas em Washington que preferiam utilizar a força militar. Mas os riscos da operação são demasiado elevados, por isso ninguém quer ter o ónus dessa decisão. As consequências de uma guerra entre os Estado Unidos e a Coreia do Norte seriam imprevisíveis”, diz Wang. “Por isso, Washington aproveitou a oportunidade e estendeu o ramo de oliveira à Coreia do Norte”, aponta o académico.

Entretanto, a China já se mostrou a favor das negociações. De acordo com o New York Times, o porta voz do Ministro dos negócios estrangeiros chinês, Hua Chunying, referiu que “a atitude da China é de abertura e apoio a qualquer solução pacífica para resolver os conflitos da península Coreana”.

20 Abr 2018

Internet | Relatório da Kaspersky mostra Ásia na mira de hackers

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] mais recente relatório de inteligência de ameaças da Kaspersky Lab, empresa russa de antivírus e segurança online, trouxe entre as tendências vistas nos três primeiros meses do ano uma nova onda de actividade de ameaças persistentes avançadas no continente asiático.

Mais de 30 por cento das ameaças no primeiro trimestre de 2018 foram registadas na região. Além da Ásia, outro dos pico de actividade de piratas informáticos foi observado no Oriente Médio, nomeadamente, através do uso de novas técnicas.

Os pesquisadores continuaram a detectar actividades de grupos de ameaças persistentes avançadas (APTs) em russo, chinês, inglês e coreano. E, embora alguns agentes conhecidos não tenham agido de maneira expressiva, um número crescente de APTs e de novos agentes foi detectado na região asiática. A alta é explicada, em parte, pelo ataque Olympic Destroyer nos Jogos Olímpicos de Pyeongchang.

Os destaques do primeiro trimestre de 2018 incluem um crescimento contínuo de actividades em chinês, que mira entidades governamentais (Taiwan e Malásia), registos de actividades de APTs no sul da Ásia (entidades militares paquistanesas), a APT IronHusky deixou de atacar agentes militares russos e transferiu todo seu empenho para a Mongólia, a península coreana permanece na mira da APT Kimsuky (espionagem de pensadores e políticos sul-coreanos) e um subconjunto do grupo Lazarus, o Bluenoroff, voltou-se para novos alvos, que incluem empresas de criptomoeda e pontos de vendas.

 

Homem do meio

A Kaspersky Lab também detectou um pico de actividade no Oriente Médio: a APT StrongPity lançou vários ataques “man-in-the-middle” sobre redes de provedores de serviços de Internet (ISPs). Outro grupo de criminosos virtuais muito habilidoso, o Desert Falcons, voltou a atacar dispositivos Android com um malware usado em 2014.

No primeiro trimestre, os pesquisadores da Kaspersky Lab também descobriram vários grupos que miram suas campanhas em routers e hardware de rede, uma abordagem adoptada anos atrás por Regin e CloudAtlas. Segundo os especialistas, os routers continuarão sendo um alvo dos invasores de infraestrutura contra as vítimas.

“Durante os três primeiros meses do ano, observamos vários grupos de ameaças novos com níveis de sofisticação diferentes. Mas, no geral, eles usavam as ferramentas de malware mais comuns disponíveis. Ao mesmo tempo, não vimos qualquer actividade significativa de alguns agentes conhecidos. Isso nos faz acreditar que estejam repensando suas estratégias e reorganizando as suas equipas para ataques futuros”, disse Vicente Diaz, pesquisador-chefe de segurança da Kaspersky Lab.

 

19 Abr 2018

Estudo | Nova Rota da Seda chinesa expande influência de Pequim

[dropcap style=’circle’] U [/dropcap] ma organização não-governamental afirmou ontem que o projecto chinês de infraestruturas “uma Faixa, uma Rota” visa expandir a influência política e presença militar de Pequim, apesar de a China garantir que o objectivo é a cooperação económica.

O relatório, da organização não-governamental C4ADS, com sede nos Estados Unidos, concluiu que os projectos da iniciativa chinesa “uma Faixa, uma Rota” não visam beneficiar os países receptores, como anunciado pela China, mas antes expandir a influência de Pequim além-fronteiras.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês rejeita já as conclusões do relatório e reiterou que a iniciativa visa “sobretudo a cooperação económica” e a promoção do desenvolvimento comum através de infraestruturas. “A China não está a jogar jogos de geopolítica”, sublinhou, em comunicado.

Anunciado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecido como “uma Faixa, uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares, e visa reactivar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Redes ferroviárias intercontinentais, portos, aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre estão a ser construídos em mais de 60 países, abrangendo 65 por cento da população mundial.

“Os investimentos parecem gerar influência política, expandir dissimuladamente a presença militar da China e criar um ambiente estratégico vantajoso na região”, afirmou a C4ADS, que analisa 15 portos financiados pela China no Bangladesh, no Sri Lanka, no Camboja, na Austrália, em Omã, na Malásia, na Indonésia e no Djibuti.

 

Rota bélica

A organização, especializada na análise de dados e questões de segurança, examinou documentos oficiais da China e relatórios de analistas chineses sobre a iniciativa, também conhecida como “Nova Rota da Seda”.

Apesar de não existir nenhum documento oficial que relacione a “Nova Rota da Seda” a interesses de segurança da China, analistas chineses escreveram já que ambos estão “intimamente ligados”, afirmou o relatório.

“Muitos destes observadores reconheceram que uma rede de centros logísticos marítimos, através da região do Indo-Pacífico, tem potencial para mudar o cenário estratégico da região, e muitos descreveram explicitamente o papel do investimento em infraestruturas na estratégia chinesa”, indicou.

Os projectos portuários incluem uso duplo, para fins militares e civis, aumentam a influência do Partido Comunista Chinês, através do envolvimento de firmas estatais chinesas ou o controlo através de participações ou empréstimos a longo prazo, de acordo com o documento.

Lisboa tem insistido na inclusão de uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria a Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

 

19 Abr 2018

Birmânia | Presidente anuncia amnistia que liberta mais de 8000 presos

O novo presidente da Birmânia, Win Myint, anunciou ontem uma amnistia geral que permitirá a libertação de mais de 8.000 prisioneiros, mais de trinta dos quais condenados por razões políticas

[dropcap style =’circle’]O[/dropcap] presidente justificou o perdão, que resultará na libertação de prisioneiros, com razões humanitárias. “Para dar paz aos corações das pessoas e pelo apoio humanitário, 8.490 prisioneiros de várias prisões receberão um perdão”, disse o gabinete presidencial, em comunicado.

Trata-se da primeira amnistia concedida desde que Win Myint assumiu o cargo, em 31 de Março, e coincide com a celebração do Ano Novo de Thingyan (Novo Ano Budista). A medida foi estendida a 51 outros prisioneiros estrangeiros, que serão deportados para os seus países, acrescentou o gabinete presidencial, num outro comunicado.

A maior parte (6.362) dos amnistiados estava a cumprir sentenças por crimes relacionados com o tráfico de drogas. Os restantes (2021) são membros das forças armadas e da polícia, acrescentou o porta-voz do gabinete, Zaw Htay, na sua página no Facebook.

Entre os amnistiados estão 36 pessoas presas por motivos políticos, segundo revelou a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP) nas redes sociais. A organização disse que nas prisões do país há 18 presos políticos com condenação final e 74 presos preventivamente, a aguardar julgamento.

Perdão no feriado

A concessão de amnistias é habitual na Birmânia, em datas especiais como a de Thingyan, celebrada em meados de Abril.

A libertação de todos os presos políticos foi uma das promessas eleitorais da líder de facto do governo, Aung San Suu Kyi, que passou 15 anos em prisão domiciliária durante a última junta militar.

A Liga Nacional pela Democracia, uma formação liderada por Suu Kyi, formou Governo há dois anos, vencendo em Novembro de 2015 as primeiras eleições democráticas no país, depois de quase cinco décadas de ditaduras militares.

18 Abr 2018

Diplomacia | Kim Jong Un quer “desenvolver a amizade da RPDC com a China”

[dropcap style =’circle’]O[/dropcap] líder da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Jong Un, anunciou esforços no sentido de ampliar a integração de seu país com a China. As declarações foram proferidas durante um encontro com o chefe do departamento internacional do Partido Comunista Chinês, Song Tao, no passado domingo

Ao relatar o encontro entre Kim e Song Tao, a agência de notícias do governo coreano, a KCNA, afirmou que a delegação chinesa foi recebida pelo líder coreano no sábado. Na reunião Tao transmitiu às autoridades coreanas as “mais calorosas saudações” do povo chinês. Após receber a autoridade chinesa, a agência afirmou que houve “uma ampla troca de opiniões sobre questões importantes e de interesse mútuo”.

Ainda segundo a agência, Kim “declarou que trabalhará positivamente no sentido de desenvolver a amizade entre a RPDC e a China, a fim de conduzir o país a uma nova fase, conforme exigido pela nova era”. Por sua vez, Song Tao manifestou a disposição de seu país no sentido de “contribuir para a promoção das relações duráveis e prolongadas” entre ambos os países.

Soprar velas

O encontro foi celebrado durante o festival anual da Primavera, realizado tradicionalmente em Pyongyang, e que, desde 1986, conta com a presença das autoridades chinesas, bem como da participação de diversos artistas do país. A data é uma comemoração nacional, já que durante o festival também é festejado o aniversario de Kim Il-Sung, o principal líder da revolução coreana.

A reunião entre ambas as autoridades deu-se algumas semanas depois da visita diplomática do líder norte-coreano a Pequim, ocasião de seu encontro com o presidente chinês, Xi Jinping.

Dando sequência aos esforços de aproximação entre as regiões norte e sul da Coreia, Kim Jong Un deve se encontrar com o presidente sul-coreano, Moon Jae-In, no próximo dia 27 de Abril.

18 Abr 2018

Japão | Popularidade de Shinzo Abe cai para mínimo devido a caso de corrupção

O índice de popularidade do primeiro-ministro japonês caiu mais de dez pontos, para o nível mais baixo desde que chegou ao poder em 2012, devido à sua implicação num caso de corrupção, indicam várias sondagens publicadas ontem

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] popularidade de Shinzo Abe caiu para 26,7 por cento, de acordo com a sondagem da televisão Nippon TV.

O diário Asahi situa a aprovação do Governo nos 31 por cento, o pior nível registado em mais de cinco anos de mandato de Abe, muito abaixo do nível histórico de 65,7 por cento, alcançado em Abril de 2013.

Em Março passado, o ministro das Finanças japonês admitiu a manipulação de documentos relacionados com a venda de um terreno do Estado, a um preço quase dez vezes inferior ao do mercado, a favor de uma instituição educativa privada com ligações a Abe e à mulher, Akie.

No fim-de-semana, cerca de 50 mil pessoas manifestaram-se em Tóquio contra o Governo de Abe e exigiram a demissão do primeiro-ministro, que apelidaram de “mentiroso”. O número de participantes no protesto foi avançado pela organização.

O caso, conhecido em Fevereiro do ano passado, manteve-se em segundo plano até à divulgação, no mês seguinte, de documentos falsificados, forçando o primeiro-ministro japonês a comparecer perante o parlamento, onde negou qualquer envolvimento seu e da sua mulher, quer na venda, quer na falsificação de documentos.

Elo mais fraco

A alegada venda à Moritomo Gakuen, instituição que gerou polémica por promover ideias ultranacionalistas, transformou-se na pior crise para Abe e poderá pôr em perigo a reeleição, em Setembro, para um terceiro mandato à frente do Partido Liberal Democrático (PDL).

Nesta situação de debilidade, Abe vai na terça-feira aos Estados Unidos para uma reunião de dois dias com o Presidente norte-americano, Donald Trump, sobre a política comum em relação à Coreia do Norte, antes das cimeiras previstas entre Pyongyang, Seul e Washington. Observadores afirmaram esperar que Abe e Trump abordem a questão das taxas alfandegárias norte-americanas sobre o aço e o alumínio.

17 Abr 2018

Economia | Pequim divulga prognósticos positivos de crescimento

A China divulga na terça-feira o ritmo de crescimento da sua economia durante o primeiro trimestre do ano, que analistas preveem irá fixar-se em 6,8 por cento, superando a meta estabelecida pelo Governo

[dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]aso se cumpra a previsão, a China mantém o ritmo de crescimento registado no segundo semestre de 2017, ilustrando a capacidade do país em manter uma das mais altas taxas de crescimento económico do mundo.

Aquele valor fica, no entanto, uma décima abaixo do ritmo de 6,9 por cento, alcançado no conjunto de 2017. Pequim estabeleceu como meta para este ano um crescimento de “6,5 por cento ou acima”.

O Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês anunciará os dados numa conferência de imprensa, na sede do Conselho de Estado, em Pequim, e dará a conhecer outros indicadores económicos, incluindo a produção industrial, emprego, investimento ou retalho.

Segundo analistas, o crescimento chinês no primeiro trimestre do ano foi sobretudo impulsionado pela forte procura mundial por produtos do país, e não reflecte ainda as crescentes disputas comerciais com os Estados Unidos.

Washington impôs este mês um aumento das taxas alfandegárias sobre as importações de aço e alumínio da China. Aquelas medidas poderão ter um impacto de 0,1 por cento no Produto Interno Bruto (PIB) chinês, segundo os analistas.

No entanto, caso se confirme a decisão do Presidente norte-americano, Donald Trump, de subir as taxas alfandegárias sobre uma lista de produtos que, no ano passado, representaram 50.000 milhões de dólares nas exportações chinesas, o impacto será maior.

“Caso os EUA aprovem a proposta de Trump (…), a China deverá retaliar e é provável que responda com um aumento dos impostos. Nesse caso, estimamos que o efeito na economia chinesa subirá, de uma desaceleração de 0,1 por cento, para 0,5 por cento do PIB”, alerta a consultora britânica Capital Economics, num relatório.

Análise por sector

Entre os argumentos utilizados por Trump para justificar a subida das taxas alfandegárias está o elevado défice de Washington nas trocas comerciais com Pequim, que no primeiro trimestre se fixou nos 98.150 milhões de yuan (12.650 milhões de euros).

A actividade industrial do país subiu, em Março, fixando-se nos 51,5 pontos, acima dos 50,3 pontos alcançados no mês anterior, depois de o país ter levantado as restrições impostas ao sector manufatureiro durante o Inverno, e que visaram combater a poluição.

O sector dos serviços expandiu-se também, de 54,4 pontos, em Fevereiro, para 54,6 pontos, em Março.

Outro indicador positivo no primeiro trimestre do ano foi o crescimento homólogo de 0,5 por cento no investimento directo estrangeiro no país, para 227.540 milhões de yuan (29.315 milhões de euros).

17 Abr 2018

Síria | Pequim diz que ataque viola carta da ONU e dificulta solução para a guerra

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] China criticou no fim-de-semana o ataque conjunto dos Estados Unidos, França e Reino Unido contra a Síria, por considerar que viola a Carta das Nações Unidas e complica as negociações de uma solução para o conflito

“Qualquer acção militar unilateral sem o aval do Conselho de Segurança é contrária aos propósitos e princípios da Carta da ONU e viola os princípios e normas básicas do direito internacional”, afirmou em comunicado uma porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Hua Chunying. Este ataque “também acrescenta factores novos e complicados para a solução da questão síria”, acrescentou a porta-voz. “Nós opomo-nos ao uso da força nas relações internacionais e apoiamos o respeito pela soberania, a independência e a integridade territorial de todos os países”, disse.

A China “apela a todas as partes para que ajam no quadro do direito internacional e para que resolvam a crise através do diálogo e da negociação”, referiu a porta-voz.

Os Estados Unidos, a França e o Reino Unido realizaram uma série de ataques com mísseis contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas na cidade de Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo de Bashar al-Assad.

A ofensiva consistiu em três ataques, com uma centena de mísseis, contra instalações utilizadas para produzir e armazenar armas químicas, informou o Pentágono.

 

Última Ghouta

O Presidente dos EUA justificou o ataque como uma resposta à “acção monstruosa” realizada pelo regime de Damasco contra a oposição e prometeu que a operação irá durar “o tempo que for necessário”.

A Rússia anunciou, entretanto, que vai pedir uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU após os ataques ocidentais contra alvos na Síria. “A Rússia convoca uma reunião de urgência do Conselho de Segurança da ONU para discutir as acções agressivas dos Estados Unidos e seus aliados”, refere Moscovo em comunicado.

Peritos da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) tinham previsto iniciar uma investigação sobre o alegado ataque com armas químicas. A missão recebeu um convite do Governo sírio, sob pressão da comunidade internacional.

Mais de 40 pessoas morreram e 500 foram afectadas no ataque de 7 de Abril contra a cidade rebelde de Douma, em Ghouta Oriental, que, segundo organizações não-governamentais no terreno, foi realizado com armas químicas.

A oposição síria e vários países acusam o regime de Al-Assad da autoria do ataque, mas Damasco nega e o seu principal aliado, a Rússia, afirmou que o ataque foi encenado com a ajuda de serviços especiais estrangeiros.

16 Abr 2018

Fé | Católicos chineses ignoram possível acordo entre Pequim e a Santa Sé

[dropcap style =’circle’] O [/dropcap] bservadores garantem estar para breve um acordo entre a China e o Vaticano, que poria fim a mais de 70 anos de antagonismo, mas numa das principais comunidades católicas da China ninguém sabe de nada.

“Nós aqui fazemos o melhor que podemos para praticar a fé”, diz Lu Zhizhong, padre na aldeia de Donglu. “O resto são questões para os nossos líderes”.

Donglu é um dos lugares mais sagrados para os católicos chineses, local de uma alegada aparição de Nossa Senhora, em 1900, para proteger os locais de uma rebelião nacionalista. Entre os crentes locais questionados pela Lusa sobre o referido acordo, a resposta não variou: “Bu Zhidao” (‘Não sei de nada’, em chinês).

Com cerca de dez mil habitantes, a aldeia fica em Hebei, província do norte da China que concentra grande parte da indústria pesada chinesa, produzindo mais aço do que qualquer país no mundo – com excepção da própria China.

Uma igreja do tamanho de um quarteirão, com paredes e colunas brancas, ergue-se no centro de Donglu, entre casas de tijolo cru, estradas poeirentas e plantações de melancia.

Lu Zhizhong vive nas traseiras da igreja, construída no início dos anos 1990, num cubículo com cerca de quinze metros quadrados. Aos visitantes, oferece a única bebida que tem: água quente. “Eu desde criança que sou católico, mas a fé é algo estranho à nossa cultura”, explica. “Temos que a conhecer, estudar, compreender. Não é como em Portugal, onde é parte natural da sociedade”, diz.

O que distingue a igreja católica na China face a outras partes do mundo não é, contudo, apenas cultural. China e Vaticano romperam os laços diplomáticos em 1951, depois de Pio XII excomungar os bispos designados pelo Governo chinês. Os católicos chineses dividiram-se então entre duas igrejas: a Associação Católica Patriótica Chinesa, aprovada por Pequim, e a clandestina, que continuou fiel ao Vaticano.

 

Novo dia

Segundo o acordo que deverá ser anunciado em breve, o Vaticano reconhecerá sete bispos nomeados por Pequim, enquanto dois bispos da igreja clandestina terão que se afastar. Em troca, a Santa Sé terá uma palavra na nomeação de futuros bispos chineses. As autoridades chinesas, no entanto, já reafirmaram a sua posição. “A Constituição chinesa dita claramente que os grupos e assuntos religiosos não podem ser controlados por forças estrangeiras, e que estas não devem interferir de forma alguma”, disse, na semana passada, Chen Zongron, vice-diretor da Administração de Assuntos Religiosos da China. “Não existe religião na sociedade humana que esteja acima do Estado”, afirmou.

Porém, a religião na China estará numa fase de grande expansão, preenchendo “o vazio moral” e o “excessivo materialismo” provocados pela alegada crise da ideologia comunista e o trepidante desenvolvimento das últimas quatro décadas de “Reforma Económica e Abertura ao Exterior”.

Num domingo de páscoa em Donglu, a igreja, com capacidade para cerca de mil pessoas, está a abarrotar. Nas ruas, lançam-se petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos”, uma tradição reservada no país para a passagem do Ano Novo Lunar, a mais importante festa para os chineses.

Entre os crentes, trocam-se ovos com a inscrição “Deus ama-te” e, em frente à igreja, vende-se algodão doce – outra novidade no país. “A religião é algo positivo para as pessoas, as famílias, a sociedade e o país”, diz Lu Zhizhong, ressalvando logo a seguir: “Desde que seja praticada sem extremismos ou que não leve ao isolamento face aos outros”.

16 Abr 2018

Abertura do sector financeiro a investimento estrangeiro maioritário

Investidores estrangeiros poderão “dentro de meses” adquirir participações maioritárias em seguradoras, fundos de investimento, futuros e companhias de seguros de vida da China, anunciou ontem o banco central chinês

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] anúncio surge um dia depois de o Presidente chinês, Xi Jinping, ter prometido acelerar a abertura do mercado financeiro do país e reduzir as barreiras ao investimento estrangeiro nos sectores automóvel, construção naval e aviação.

Em Novembro passado, o Ministério das Finanças chinês avançou que o país iria permitir a empresas estrangeiras adquirirem participações maioritárias em seguradoras ou fundos de investimento, mas não detalhou uma data.

Os novos detalhes sobre a abertura do sistema financeiro chinês ao capital estrangeiro surgem num período de tensão com os Estados Unidos em torno de questões comerciais.

A China é também alvo de frequentes críticas de Bruxelas e Washington, devido às barreiras que impõe ao investimento estrangeiro em vários sectores, enquanto as empresas chinesas têm acesso sem restrições aos mercados externos.

 

Sem limites

No comunicado do Banco do Povo Chinês (banco central) afirma-se ainda que o país irá abrir ao investimento estrangeiro as empresas de leasing e crédito ao consumo ou compra de automóvel.

A mesma nota avança que irá abolir os limites à participação estrangeira em activos de investimento de bancos comerciais e operações de gestão de riqueza.

Na semana passada, os EUA divulgaram uma lista de importações chinesas avaliadas, no conjunto, em 40.700 milhões de euros, e às quais propõem aplicar taxas alfandegárias, como retaliação pela “transferência forçada de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana”.

Em reacção, Pequim ameaçou subir os impostos sobre um conjunto de produtos norte-americanos, que em 2017 valeram o mesmo valor nas importações chinesas.

No fim-de-semana passada, Trump ameaçou subir as taxas alfandegárias para produtos chineses num valor adicional de 81.000 milhões de euros.

12 Abr 2018

Casa de Portugal registada com apoio de Ramos-Horta

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m grupo de portugueses e luso-timorenses, incluindo o ex-Presidente José Ramos-Horta, registou ontem, em Díli, a Casa de Portugal, associação que nasce para “defender e promover os interesses da comunidade portuguesa” em Timor-Leste.

Sem fins lucrativos e criada por um grupo inicial de 21 pessoas, a nova associação surge, segundo os estatutos, para zelar pela “preservação da identidade da comunidade e do seu património cultural, nomeadamente da língua e cultura portuguesas” e também para contribuir para o desenvolvimento de Timor-Leste.

Outro dos objectivos é que a associação possa tornar-se num “interlocutor privilegiado” na procura de soluções para problemas específicos que afectem a comunidade portuguesa em Timor-Leste”.

Promover a solidariedade na comunidade portuguesa e fomentar as relações com as demais comunidades são outros objectivos da associação, que pretende criar núcleos de acção cultural e de formação.

Fernando Figueiredo, principal mentor do projecto, disse que a Casa de Portugal traduz a vontade manifestada por muitos portugueses e luso-timorenses de ter um espaço onde “partilhar anseios, expectativas, dificuldades e formas de estar na sociedade timorense”.

No passado, recordou, já tinham sido feitas outras tentativas para criar uma associação idêntica que acabaram por não progredir, em parte, devido à complicada burocracia.

Neste caso, o processo começou há vários meses e ainda não está concluído, faltando, depois do registo público, aspectos como a publicação no Jornal da República.

Com o apoio do ex-Presidente timorense José Ramos-Horta e da embaixada de Portugal em Díli, a Casa de Portugal, cuja sede provisória ficará no Centro Cultural da missão diplomática, vai começar a angariar associados. Em paralelo, explicou, serão feitos esforços junto das autoridades timorenses para a obtenção de uma sede.

12 Abr 2018

FMI rejeita proteccionismo em todas as formas

A directora-geral do FMI elencou ontem a rejeição do proteccionismo, a prevenção dos riscos financeiro e orçamental e a defesa do crescimento de longo prazo como as três principais mensagens dos Encontros da Primavera

 

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]um discurso proferido na Universidade de Hong Kong, a líder do Fundo Monetário Internacional (FMI) vincou que estas são as três principais mensagens que serão sublinhadas no relatório sobre as Perspectivas Económicas Mundiais, a lançar na próxima semana em Washington.

As três mensagens, assim, começam pela rejeição do proteccionismo: “Os governos precisam de rejeitar o proteccionismo em todas as suas formas; a história mostra que as restrições à importação prejudicam toda a gente, especialmente os consumidores mais pobres”, vincou Lagarde.

A declaração acontece numa altura em que a maior economia do mundo, os Estados Unidos, lançou um forte aumento dos impostos alfandegários sobre o alumínio e o aço, originando por parte da China, a segunda maior economia mundial, uma resposta semelhante, o que poderá desencadear uma guerra comercial mais alargada.

O sistema de comércio multilateral, acrescentou, “transformou o nosso mundo na última geração” e seria “um falhanço político colectivo” se este sistema de regras e responsabilidade partilhada fosse posto em perigo.

 

Janela aberta

A segunda mensagem que vai ser enfatizada para a semana em Washington é o perigo que decorre do aumento da dívida pública e privada, que chegou ao nível mais alto de sempre: 164 biliões de dólares.

“Novas análises do FMI mostram que, depois de uma década de condições financeiras fáceis, a dívida global chegou ao maior valor de sempre; a dívida pública nas economias avançadas está a níveis inéditos desde a Segunda Guerra Mundial, e se as tendências recentes continuam, muitos países de baixo rendimento vão enfrentar um peso da dívida insustentável”, acrescentou a diretora-geral do FMI no discurso proferido em Hong Kong.

Como um peso da dívida elevado deixou os governos, as empresas e as famílias mais vulneráveis a condições financeiras mais restritivas, a construção de almofadas orçamentais é fundamental.

“Isto significa criar mais espaço de manobra para agir quando o próximo ciclo económico descendente inevitavelmente surgir”, concluiu Lagarde sobre a segunda mensagem do FMI.

Sobre a criação de riqueza inclusiva a longo prazo, a directora-geral do Fundo salientou que “mais de 40 países emergentes e em desenvolvimento devem crescer mais devagar, em termos per capita, que as economias avançadas”, o que significa uma importância acrescida de os sectores dos serviços aumentarem a produtividade.

“O governo digital pode garantir serviços públicos mais eficazmente, o que ajuda a melhorar a vida das pessoas”, disse, concluindo que “ao usar novas ferramentas, como análise de grandes dados, os governos conseguem reduzir as fugas, que estão muitas vezes diretamente relacionadas com a corrupção e a evasão fiscal”.

“O mundo está a viver um forte crescimento… e como vão ver nas nossas perspectivas na próxima semana, continuamos a estar optimistas”, disse Christine Lagarde no discurso de lançamento dos Encontros da Primavera, que decorrem durante a próxima semana em conjunto com o Banco Mundial.

Para Lagarde, este momento de crescimento sustentado é ideal para os governos apostarem em reformas políticas, já que “a janela de oportunidade está aberta”. No entanto, acrescentou a antiga ministra das Finanças de França, “há um novo sentido de urgência porque as incertezas aumentaram significativamente, desde as tensões comerciais, ao aumento dos riscos financeiro e orçamental, até à geopolítica mais incerta”.

12 Abr 2018

Estudo revela que vagas de calor no mar aumentam há um século

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s vagas de calor no mar aumentaram em número e em intensidade ao longo do século passado, resultado directo do aquecimento global, revela um estudo ontem divulgado. Publicado pela revista Nature Communications, o estudo foi feito por investigadores do ARC – Centro de Excelência para os Extremos Climatéricos, um consórcio que junta cinco universidades australianas e uma rede de organizações da Austrália e de outros países, e o Instituto de Estudos Marinhos e Antárticos, um centro de investigação da Universidade da Tasmânia, também na Austrália.

Segundo o estudo, entre 1926 e 2016 a frequência de vagas de aquecimento da água do mar aumentou 34 por cento e a duração de cada onda de calor aumentou 17 por cento, o que se traduz num aumento de 54 por cento do número de dias de temperaturas acima do normal no mar em cada ano.

“A nossa investigação também descobriu que desde 1982 houve um assinalável aumento da tendência de vagas de calor marinhas“, disse o principal autor do estudo, Eric Oliver, da Universidade de Dalhousie, Canadá.

“Se bem que podemos desfrutar das águas quentes quando vamos à praia, essas ondas de calor têm impactos significativos nos ecossistemas, biodiversidade, pesca, turismo e aquacultura. Há muitas consequências económicas profundas que andam de mão dada com esses eventos”, disse o responsável.

Uma onda de calor na Austrália Ocidental em 2011 mudou por completo o ecossistema, que deixou de ser dominado por florestas de laminárias (algas de grandes dimensões) para passar a ser dominado por algas rasteiras. No ano seguinte, no Golfo do Maine (costa nordeste dos Estados Unidos) uma onda de calor levou a um aumento da população de lagostas que fez os preços caírem e o sector foi seriamente prejudicado. E entre 2014 e 2016 uma vaga de calor no Pacífico Norte levou ao encerramento de estruturas de aquacultura e à proliferação de algas nocivas ao longo das costas.

Para as conclusões do estudo os investigadores usaram diversos dados, combinando os fornecidos por satélite com outros que ao longo do século foram recolhidos por navios e estações de medição terrestre, descontando no final as oscilações naturais.

“Houve uma relação clara entre o aumento da temperatura média da superfície do mar e o aumento das vagas marinhas de calor”, disse Neil Holbrook, da Universidade da Tasmânia, acrescentando ser provável que essas vagas de calor continuem a aumentar.

11 Abr 2018

Coreias | ONGs querem discussão sobre direitos humanos

Quarenta organizações não-governamentais, entre a quais a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, apelaram ontem ao Presidente sul-coreano para dar prioridade aos direitos humanos durante a reunião com a Coreia do Norte

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]uma carta enviada a Moon Jae-in, as organizações consideraram que a Coreia do Sul “não deve ceder às ameaças aos direitos humanos por parte da Coreia do Norte” e sublinharam a necessidade dos sul-coreanos pressionarem o líder norte-coreano, Kim Jong-un, para que os direitos humanos façam parte das negociações entre os dois países.

As ONG pediram ainda a Kim Jong-un para seguir as recomendações sobre direitos humanos da ONU, e que permita encontros entre famílias coreanas, separadas desde o início da Guerra da Coreia (1950-53).

As organizações estimaram que cerca de um milhão de coreanos foram separados das famílias, vítimas de desaparecimentos forçados ou de sequestros. “Os abusos na Coreia do Norte são incomparáveis no mundo contemporâneo e incluem extermínio, assassínio, escravidão, tortura, prisão, violação, aborto forçado e outras formas de violência sexual”, de acordo com a carta.

As ONG congratularam-se ainda com o refreamento das animosidades na península, mas avisaram que isso não melhora a qualidade de vida do povo norte-coreano. “Saudamos o renovado diálogo entre os coreanos, mas isso não será significativo para o povo da Coreia do Norte se não levar a uma melhoria da terrível situação dos direitos humanos no país”, disse o director da Human Rights Watch da Ásia, Brad Adams.

Olimpíadas da paz

Após cerca de dois anos de uma escalada de tensão, devido à realização de testes nucleares e balísticos por parte do regime de Pyongyang, a comunidade internacional está a assistir a um período de apaziguamento entre os dois vizinhos. Os Jogos Olímpicos de Inverno, que decorreram em Fevereiro na Coreia do Sul, desempenharam um papel importante no actual processo.

No próximo dia 27 de Abril, está previsto um encontro entre o líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in. Será a primeira cimeira entre as duas Coreias em 11 anos.

Kim vai ser o primeiro dirigente norte-coreano a pisar solo da Coreia do Sul desde o fim da Guerra da Coreia (1950-53). As duas anteriores cimeiras, em 2000 e 2007, decorreram em Pyonyang. A reunião dos líderes da península coreana vai anteceder o encontro histórico entre Kim e Trump, em Maio.

Diplomacia | Kim menciona pela primeira vez a existência de diálogo com EUA

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] dirigente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, mencionou pela primeira vez um “diálogo” com os Estados Unidos, quando se define uma cimeira entre ele e o seu homólogo norte-americano, noticiou ontem a agência noticiosa oficial norte-coreana, KCNA.

Kim Jong-un apresentou um relatório, perante os principais dirigentes do partido único, “sobre a situação na península coreana”, incluindo “a perspectiva do diálogo entre os EUA e a RPDC (República Popular Democrática da Coreia), segundo a KCNA. Esta foi a primeira vez que a agência norte-coreana fez alusão a uma cimeira com os EUA, o que acontece pouco depois de o Presidente norte-americano, Donald Trump, ter anunciado, na segunda-feira, que a sua reunião histórica com o líder coreano se realizaria “em Maio ou início de Junho”.

“Espero que possamos fazer um acordo sobre a desnuclearização”, disse o chefe de Estado norte-americano, em declarações à comunicação social na Casa Branca, por ocasião de uma reunião com os membros da administração norte-americana. “Vamos encontrar-nos [com a Coreia do Norte] em Maio ou no início de Junho”, declarou.

Após vários meses marcados pela escalada de uma retórica bélica entre Washington e Pyongyang, por causa do programa nuclear norte-coreano, os dois países manifestaram uma abertura para eventuais negociações e para a realização de uma cimeira inédita.

No domingo, o jornal The Wall Street Journal noticiou que a Coreia do Norte terá confirmado directamente junto dos Estados Unidos que estava pronta a negociar a desnuclearização.

11 Abr 2018

Fórum Boao | António Guterres lembra na China benefícios da globalização

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou ontem que a globalização “trouxe vários benefícios”, durante um fórum económico no sul da China, apelando contra o isolacionismo, proteccionismo e exclusão.

“Estou profundamente convencido de que a globalização é universal e que trouxe vários benefícios, como a integração económica e o comércio”, afirmou Guterres. O secretário-geral da ONU, que falava na abertura do fórum Boao, lembrou que a globalização ajudou a reduzir a pobreza, mas que muitas pessoas foram deixadas para trás. Ainda assim, Guterres apelou a uma distribuição mais justa dos recursos.

Fundado em 2001, o fórum celebra-se na ilha de Hainan, extremo sul da China, e tem nesta edição o tema “uma Ásia aberta e inovadora para um mundo próspero”. O evento conta ainda com a presença do Presidente chinês, Xi Jinping, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, e os Presidentes das Filipinas e da Áustria, Rodrigo Duterte e Alexander van der Bellen.

Portugal, que em 2017 esteve representado pelo então ministro da Economia Manuel Caldeira Cabral, não teve este ano participação a nível ministerial.

11 Abr 2018

FMI | Lagarde recomenda à China que termine divisões digitais e regulatórias

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, enalteceu ontem o desejo da China em se continuar a abrir, mas recomendou que o país termine com a divisão digital e regulatória. O Presidente chinês, Xi Jinping, “foi muito especifico: falou da abertura de sectores como a banca, seguros, automóveis, redução das taxas alfandegárias e barreiras, e um ambiente mais atrativo para as empresas estrangeiras”, destacou Lagarde.

A directora-geral do FMI falava na abertura do fórum Boao. Lagarde elogiou ainda a vontade expressa por Xi em melhorar a protecção dos direitos de propriedade intelectual, destacando que isso contribuirá para o progresso do país.

Há várias décadas que firmas estrangeiras acusam empresas chinesas de pirataria e roubo de tecnologia. A responsável do FMI apelou ainda ao país que termine com a divisão digital e regulatória. “Na Ásia, assistimos a um florescimento da ‘fintech’ [o uso de novas tecnologias por empresas do sector financeiro]. Isso revela a existência de ‘gaps’ regulatórios, que se não forem resolvidos nos níveis domésticos e transfronteiriço, podem causar riscos sistémicos”, afirmou.

Lagarde referiu ainda o que designa de “divisão na inovação”. A responsável explicou que o FMI publicou recentemente um documento que “identifica como o comércio facilita a transferência de tecnologia”.

A directora lembrou que a inovação e novas tecnologia não pertencem mais apenas a um pequeno número de países, notando que dois terços dos ‘robots’ no mundo encontram-se agora no Japão, Coreia do Sul e China. “Devemos continuar assim e é através do comércio que a inovação continuará a ser compartida. Além de ser um importador de tecnologia, a Ásia converter-se-á num exportador de tecnologia”, afirmou.

11 Abr 2018

Economia | Xi promete abertura e melhores condições para firmas estrangeiras

O Presidente chinês prometeu ontem reduzir os impostos sobre a importação de automóveis, abrir mais o mercado chinês e melhorar as condições para as firmas estrangeiras, numa altura de intensas disputas comerciais com Washington

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o discurso inaugural do fórum Boao, conhecido como o “Davos asiático”, Xi Jinping não mencionou o Presidente norte-americano, Donald Trump, mas mencionou pontos que são chave na crescente tensão com os Estados Unidos em torno do comércio e partilha de tecnologia.

Xi prometeu que a China irá abrir os seus sistemas financeiro e bancário à participação estrangeira e proteger melhor os direitos de propriedade intelectual. “A China não se fechará e irá abrir-se ainda mais”, afirmou Xi, na abertura do fórum Boao, que se realiza em Hainan, extremo sul do país, reafirmando a posição pró-globalização de Pequim, numa altura em que Trump avança com uma agenda protecionista.

Pequim vai “baixar significativamente” as taxas sobre as importações de automóveis este ano e reduzir as restrições à participação de empresas estrangeiras naquele sector “o mais rápido possível”, disse o líder chinês. É de salientar, neste aspecto, que a China é o maior mercado automóvel do mundo.

Dito nas entrelinhas

No mesmo discurso, Xi Jinping não referiu directamente a disputa, mas prometeu encorajar “o intercâmbio regular de tecnologia” e “proteger os direitos legais de propriedade intelectual das firmas estrangeiras”. Na semana passada, os Estados Unidos divulgaram uma lista de importações chinesas avaliadas, no conjunto, em 40.700 milhões de euros, e às quais propõem aplicar taxas alfandegárias, como retaliação pela “transferência forçada de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana”.

Em reacção, Pequim ameaçou subir os impostos sobre um conjunto de produtos norte-americanos, que em 2017 valeram o mesmo valor nas importações chinesas.

No fim de semana passado, Trump ameaçou subir as taxas alfandegárias para produtos chineses num valor adicional de 81.000 milhões de euros.

11 Abr 2018

OPAQ anuncia inquérito ao alegado ataque químico na cidade síria de Douma

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) anunciou ontem que está a investigar informações sobre um ataque químico à cidade de Douma, última bolsa rebelde na região de Ghouta oriental, na Síria.

A OPAQ “realizou uma análise preliminar das informações” e uma equipa de investigadores está a reunir mais elementos “para determinar se foram utilizadas armas químicas”, disse o director-geral da organização, Ahmet Uzumcu. Adiantou que os especialistas analisam dados “de todas as fontes disponíveis” e que darão conta das suas conclusões aos 192 países signatários da Convenção sobre a proibição das armas químicas de 1993, à qual a Síria aderiu em 2013.

Um presumível ataque químico a Douma causou no sábado 48 mortos, segundo os “Capacetes Brancos”, uma organização dedicada ao resgate de vítimas das zonas sob controlo dos rebeldes. Os “Capacetes Brancos” e a organização Sociedade Médica Síria-Americana atribuíram no domingo a responsabilidade pelo ataque às forças leais ao presidente Baschar al-Assad.

A Rússia, aliada de Damasco, disse ontem que não encontrou “nenhum vestígio” de produtos químicos em Douma. “Os nossos especialistas militares já se deslocaram ao local (…) Não descobriram nenhum vestígio de cloro ou de qualquer substância química utilizada contra os civis”, declarou o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, numa conferência de imprensa.

Os Estados Unidos e a França ameaçaram com ataques na Síria, tendo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, advertido o regime e os seus aliados de que poderiam “pagar o alto preço” pelo presumível ataque químico. Trump classificou ainda Assad de “animal”.

Ontem de madrugada, o regime sírio revelou um bombardeamento contra o aeroporto militar de Al Taifur, na província síria de Homs, que disse ser uma acção militar de represália na sequência das acusações da coligação internacional contra Damasco pelo uso de armas químicas em Douma. Damasco e Moscovo acusaram Israel de ter realizado o ataque à base síria.

“Trata-se de um desenvolvimento muito perigoso da situação. Espero que pelo menos os militares norte-americanos e os dos países que participam na coligação dirigida pelos Estados Unidos o compreendam”, disse Lavrov.

Nove países pediram uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para analisar a questão.

A China, um dos membros permanentes do Conselho de Segurança, defendeu hoje um inquérito às suspeitas de utilização de armas químicas na Síria no ataque à Douma. Geng Shuang, porta-voz da diplomacia chinesa, declarou que Pequim se opõe à utilização de armas químicas “em qualquer circunstância” e que “é a favor de um inquérito exaustivo, obcjetivo e justo em relação ao caso em questão”. O Conselho de Segurança da ONU e a OPAQ devem permanecer “os principais canais” para acompanhar o caso, considerou Shuang.

10 Abr 2018