Raquel Moz SociedadePJ | Rusga desmantela rede de prostituição e jogo Uma rede criminosa transfronteiriça foi apanhada pelas autoridades policiais de Macau e da China, com 55 pessoas envolvidas e uso de equipamentos de comunicações ilegais. O negócio de prostituição e jogo clandestino, através da Internet, já funcionava há cerca de um ano [dropcap]A[/dropcap] Polícia Judiciária (PJ) interceptou uma rede criminosa que operava entre a RAEM e a RPC promovendo serviços de prostituição e agiotagem online, na passada terça-feira, foi ontem revelado em conferência de imprensa. Foram detidos 32 indivíduos no interior da China e 23 em Macau. Segundo o porta-voz He Zhennan, sub-inspector da PJ, em Junho de 2018 a instituição teve conhecimento de que um conjunto de suspeitos alugara residências para instalar estações-base de emissão de mensagens na Internet, com o propósito de atrair clientes de prostituição, jogo e empréstimos de dinheiro ilegais. A actividade funcionava entre a China e Macau, o que levou as autoridades locais a solicitar a cooperação das autoridades do continente para uma investigação conjunta da associação criminosa transfronteiriça, como acabou por acontecer anteontem. Pelas 17h00 de terça-feira, a polícia de Zhuhai iniciou uma rusga, composta por 100 agentes, que se distribuíram pelas províncias de Hunan e Hubei, a norte da província de Guangdong, também envolvida, entre outras cidades e regiões. Foram detidos do lado de lá da fronteira 32 indivíduos ligados a esta rede criminosa, e apreendidas 15 estações-base de informações, 12 computadores, 3 veículos, mais de uma centena de telemóveis e mais de meio milhão de renminbis. O recrutamento de prostitutas foi feito maioritariamente pelo interior da China, mas chegou também à Rússia, onde o preço do serviço cobrado aos clientes, segundo as forças policiais, se estima entre os 1500 e os 2000 renminbis. A angariação de prostitutos masculinos demonstrou ser outro negócio rentável, com preços cobrados entre os 3 mil e os 5 mil renminbis. A associação criminosa ficava com 50 por cento do valor acordado. À mesma hora de terça-feira, a Polícia Judiciária iniciou uma rusga pelo território, com uma força de 90 agentes, que inspeccionou 19 residências nas zonas de Macau e Taipa, conseguindo deter 23 suspeitos de envolvimento com a mesma rede, entre os quais 6 mulheres, todos residentes chineses com idades compreendidas entre 28 e 59 anos. Operação Macau Foram apreendidos nestas buscas vários equipamentos, entre os quais 3 estações-base de comunicações, 18 computadores, 1 tablet, 16 antenas, um grande número de routers e telemóveis, muitos preservativos e o equivalente a cerca de 20 mil patacas (em RMB e HK dólares), já que grande parte dos pagamentos eram efectuados através de aplicações online. O destaque destas apreensões foi a sofisticação das estações-base de comunicações, compostas por novos modelos, autónomos e indetectáveis, que não precisam de instalação física e aluguer residencial, já que se podem movimentar e transmitir informações a partir de qualquer local, disfarçados dentro de pequenas malas de cabine com rodas. Estes emissores serviam para enviar sms – mensagens de texto curtas – com vista à promoção de serviços e ao estabelecimento de ligações entre potenciais clientes e prostitutas ou agiotas, através de plataformas como o whatsapp ou o wechat. É de salientar ainda que a divisão de competências estava bem organizada entre os elementos da associação, que se distribuíam pela promoção online dos serviços prestados, a angariação de prostitutas por todo o continente chinês, a gestão das plataformas sociais de contacto, a contabilidade e distribuição dos pagamentos e dos lucros, ou a entrega física de panfletos perto de hotéis e casinos. A rede agora desmantelada, que se suspeita esteja a operar há cerca de um ano, terá conseguido lucrar o equivalente a 30 milhões de patacas com o negócio durante este período, segundo estimativas da PJ. Também é possível que alguns elementos da rede ainda não tenham sido detidos. Os arguidos, ontem entregues ao Ministério Público, foram acusados de associação criminosa, lenocínio e usura relacionada com o jogo ilegal, além da obtenção de sistemas, dispositivos e dados informáticos, destinados à prática de crime.
Raquel Moz EventosPALOP | Associações lusófonas organizam “Semana de África 2019” As associações africanas de língua portuguesa em Macau voltam a organizar a “Semana de África”, que enquadra os festejos do Dia Internacional de África, celebrado a 25 de Maio. Os convidados deste ano vêm de Cabo Verde, Guiné e Moçambique [dropcap]A[/dropcap] “Semana de África 2019” vai animar Macau entre os dias 21 e 28 de Maio, com um programa recheado de eventos e actividades, para celebrar a diversidade cultural do continente africano que fala português. Este ano conta com a presença de três convidados de referência no mundo lusófono, e não só, como a cineasta cabo-verdiana Samira Vera-Cruz, o pintor guineense Sidney Cerqueira e a estilista moçambicana Patrícia Vasco. A abertura é no dia 21, terça-feira, às 18h30, com uma conversa de apresentação dos participantes ao público, no Club C&C da Avenida da Praia Grande, antes da exibição da curta-metragem “Hora di Bai” (2017), de Samira Vera-Cruz, um documentário de 26 minutos que explora os rituais de despedida na hora da morte, na ilha de Santiago, em Cabo Verde. O título crioulo significa “hora da partida” e leva o espectador ao universo da superstição e das tradições locais no derradeiro adeus. O filme passou já por festivais de cinema em Portugal, Brasil, Guiné, Moçambique, São Tomé, Timor, Madagáscar, Canadá, Estados Unidos, Bélgica e Polónia. Entre 22 e 26 de Maio é a vez da “Exposição de Pintura e Artesanato” de Sidney Cerqueira e Patrícia Vasco, que vai ser inaugurada às 18h30 na galeria ArtGarden. O pintor e artista plástico da Guiné Bissau mostra os seus trabalhos de realismo espontâneo, estilo criado pelo conceituado austríaco Voka, tendo no currículo mais de 40 exposições individuais e colectivas e uma reconhecida carreira dividida entre a Europa e a África Ocidental. A estilista Patrícia Vasco, criadora da marca “Amorambique”, chega de Moçambique para dar a conhecer tecidos e materiais tradicionais que se transformam em novas peças de moda contemporânea. No mesmo dia 22, pelas 17h30, Patrícia Vasco vai realizar o “Workshop – Tecidos Africanos” na Universidade de São José (Ilha Verde), organizada pela Faculdade das Indústrias Criativas e moderada pela docente Maria João Nunes. A 23 de Maio a Universidade de São José recebe a realizadora Samira Vera Cruz para uma conversa sobre o “Desenvolvimento do Cinema em Cabo Verde”, às 18h30, onde a também produtora falará sobre o processo criativo para realizar qualquer projecto cinematográfico, mesmo quando não se tem financiamento. Dias de festa No Dia Internacional de África, que se celebra a 25 de Maio, está previsto o Jantar de Gala, no Restaurante Varandas do Roosevelt Hotel da Taipa, às 19h30, antecedido por um Desfile de Moda, com as colecções de Patrícia Vasco, às 17h30, na mesma unidade hoteleira. Ao longo de toda a semana, entre os dias 22 e 28 de Maio, vai decorrer um Ciclo de Cinema Africano na Fundação Rui Cunha, onde vão estar representadas películas de Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Mas as associações também estendem a festa ao exterior, com a Exibição Cultural “Mãe África” no dia 26, pelas 16h, no Largo de Camões, na Taipa, onde haverá música, dança e pintura ao vivo.
Raquel Moz EventosCinema | Turismo de Macau deu prémios no IndieLisboa 2019 Os prémios do Festival de Cinema IndieLisboa 2019, em cartaz de 2 a 12 de Maio, foram anunciados no domingo passado, após mais de 250 filmes exibidos. O Turismo de Macau também atribuiu prémios para as melhores curtas de documentário, ficção e animação [dropcap]A[/dropcap] 16ª edição do Festival de Cinema Independente de Lisboa – IndieLisboa 2019 –, que decorreu entre 2 e 12 de Maio na capital portuguesa, anunciou no passado domingo os vencedores das categorias em competição, entre 250 películas de géneros, formatos e origens diversos. “De Los Nombres De Las Cabras”, de Silvia Navarro e Miguel G. Morales, foi o vencedor do Grande Prémio de Longa Metragem Cidade de Lisboa, um documentário espanhol de 2019, “pela sua rica e intrincada investigação do recente passado colonial, pela interacção com tempos antigos e tradições das ilhas das Canárias, através de imagens de arquivo escolhidas e montadas com perícia, do som de entrevistas e de uma paisagem sonora imersiva”, segundo a avaliação do júri internacional. Os mesmos jurados atribuíram ao filme português “Past Perfect, de Jorge Jácome, o Grande Prémio de Curta Metragem, depois de ter passado em Fevereiro pelo Festival de Cinema de Berlim e em Março pelo Festival New Directors / New Films de Nova Iorque. A fita do jovem realizador, que nasceu em Viana do Castelo em 1988 e cresceu em Macau até 1999, é um documentário ficcional e experimental de 23 minutos que partiu da peça de teatro “Antes”, de Pedro Penim, para ser reescrita e visualmente readaptada às suas interrogações pessoais no contexto cinematográfico. O júri considerou que “o filme fala da nostalgia e da emoção, perguntando-se se os sentimentos eram mais imediatos e autênticos no passado. Com várias camadas formais e com momentos sempre surpreendentes, parcialmente com humor, parcialmente mordaz mas frequentemente muito emotivo, o filme deixou um forte rastro em nós.” A mais recente película de Jorge Jácome segue-se a trabalhos também premiados, que fizeram o seu circuito em vários festivais, como “Flores” de 2017, “A Guest + A Host = A Ghost” de 2015 ou “Plutão” de 2013. Honras locais O Turismo de Macau, que é responsável pela exibição de filmes realizados por autores do território numa secção paralela do IndieLisboa, tem também o mérito de atribuir três prémios especiais para as melhores curtas-metragens de animação, documentário e ficção internacionais. O prémio para cada um dos trabalhos foi cerca de 4.500 patacas. O galardão para a melhor animação coube este ano a “Guaxuma”, de Nara Normande (Brasil/França, 2018), um filme de 14 minutos sobre memórias de infância à beira-mar e amizades na areia da praia. “Um filme sensível sobre uma história pessoal. O realizador guia-nos com perícia através desta viagem, com a aplicação de várias técnicas e estéticas. O filme encantou-nos e puxou-nos para dentro da história“, refere a avaliação. A melhor ficção foi para “The Girl With Two Heads”, de Betzabé Garcia (Reino Unido, 2018), onde em 13 minutos é explorada a questão da representação e da autoconsciência do corpo, através de uma personagem enquanto ela procura definir a sua visão de feminilidade e o seu lugar como mulher na sociedade. “Ficámos fascinados desde o início pela sua caligrafia cinematográfica. O filme cativa-nos pelo óptimo ritmo e pela abordagem visual”, foi a opinião dos jurados. E o melhor documentário curto foi alcançado por “Swatted”, de Ismaël Joffroy Chandoutis (França, 2018), com 21 minutos de uma narrativa bem construída, a partir de vídeos de youtube e testemunhos de vítimas de assédio online. “O filme dá-nos a dimensão e o potencial do mundo de hoje e para onde se pode ir. Uma investigação maravilhosa, montada e narrada de forma sedutora e inteligente, construindo e desconstruindo a nossa realidade em 20 minutos”, elogiou o júri. O Festival IndieLisboa 2019 encerrou com o novo filme de Nadav Lapid, “Synonymes”, que venceu o Urso de Ouro em Berlim 2019. Paixão em Junho No âmbito das festas que celebram o “Mês de Portugal na RAEM”, o IndieLisboa anunciou já o seu programa de cinema português no território. A mostra vai decorrer entre 21 e 23 de Junho, de sexta a domingo, na Cinemateca Paixão, com o apoio da Fundação Oriente e da Casa de Portugal. No cartaz das exibições estão as longas “A Dama de Chandor” (1999) de Catarina Mourão, “Bostofrio, où le ciel rejoint la terre” (2018) de Paulo Carneiro, e a “Peregrinação” (2017) de João Botelho. Entre as curtas estão obras aclamadas pela crítica internacional em diversos festivais, como “Miragem Meus Putos” (2017) de Diogo Baldaia, “Amor, Avenidas Novas” (2018) de Duarte Coimbra, “Nyo Vweta Nafta” (2017) de Ico Costa, ou “3 Anos Depois” (2018) de Marco Amaral, entre outros. A realizadora Catarina Mourão, autora de filmes como “A Toca do Lobo” (2015) e o mais recente “O Mar Enrola na Areia” (2018), vai estar presente no território, onde organizará workshops com cineastas locais.
Raquel Moz EventosExposição no Armazém do Boi mostra obra de Ernest Van até 16 de Junho [dropcap]O[/dropcap] Armazém do Boi inaugurou ontem a exposição “A River of Divine Imperfections – Ernest Van solo exhibition”, que hoje abre as portas ao público e que pode ser vista entre as 12h e as 19h, de terça a domingo, até ao dia 16 de Junho. Mantras e outras espiritualidades são a proposta artística de Ernest Van, numa exposição individual em que questiona o estado de alma da humanidade. A resposta é dada através da construção de um rio de imagens, num longo caudal de pequenos mosaicos em madeira, onde se fundem materiais diversos em composições de folha de ouro, papel de arroz, tintas e outros pigmentos minerais. São 500 peças ao todo, com dez por dez centímetros, que funcionam como um totem religioso e correspondem a um sentimento perdido que Ernest Van quis salientar com esta exposição. O seu manifesto de intenções refere que, “numa altura em que a ciência supera a religião, a razão começa a ser um princípio de devoção e a nossa espiritualidade acabou sendo esmagada. É como a fábula que conta como o coração humano se localizava inicialmente no centro do peito, mas que após tantos anos de desconsideração, acabou por se mover para o lado”. Através de elementos de inspiração budista e outras alusões mitológicas, o artista local refere que “impregnando símbolos espirituais e métodos na peça de arte, espero conseguir levar os espectadores para um santuário espiritual, onde possam entrar nesse ‘estado’ que resgata a função mais ‘arcaica’ da arte – a cura do coração”. Cura para o desassombro Ernest Van, que se formou em Artes Gráficas de Comunicação pela Universidade Nacional de Artes de Taiwan, explica que “com a utilização de acções contínuas e repetitivas para iniciar um diálogo interno, cada painel representa um momento entre os muitos que compõem a vida de uma pessoa, sendo a própria vida uma viagem de auto-cultivação. Sinto-me em paz quando desenho divindades budistas, na esperança de que as minhas meditações possam ajudar a curar os outros, tal como acontece comigo”. A exposição pode ser visitada na galeria da Rua do Volong e conta com a curadoria de Ann Hoi.
Raquel Moz EventosFotografia | A vida de uma família macaense no fim do século XIX em exposição Henriqueta e Maria são as filhas de José Vicente Jorge que sorriem na antiga imagem do cartaz da exposição “Casa das Duas Filhas”, que inaugura a 18 de Maio na galeria At Light. Numa velha casa colonial vão estar fotos que falam de memórias e saudades de uma Macau que já lá vai [dropcap]A[/dropcap] “Casa das Duas Filhas – Fotos da Família de José Vicente Jorge” é o nome da exposição que reúne imagens e testemunhos de uma influente família macaense, atravessando várias gerações e contribuindo para melhor entender o território ao longo das épocas, desde meados do século XIX até meados do século XX. Através da fotobiografia de José Vicente Jorge, cuja família terá chegado a Macau em 1700, as memórias vão sendo contadas nos daguerreótipos guardados por filhos e netos, os mesmos que agora abrem o baú na galeria At Light, no próximo dia 18 de Maio, sábado, pelas 16h. O lugar da mostra importa, no Pátio do Padre Narciso, atrás do Palácio do Governo, por ser um edifício colonial recuperado que empresta charme ao evento. Mas importa também, por não distar muito da original casa da família, sita na Rua da Penha e há muito desaparecida. As duas filhas de José Vicente Jorge, Henriqueta e Maria, dão o mote à exposição, a partir da fotografia que junta as irmãs, mães dos primos Pedro Barreiros e Graça Pacheco Jorge, que muito têm feito para não deixar esquecer as histórias da família, nomeadamente através dos livros “A Cozinha de Macau da Casa do meu Avô”, de 1992, e “José Vicente Jorge: Macaense ilustre”, de 2012. As muitas facetas do avô, intérprete, diplomata, professor de chinês e inglês, entre outras ocupações desta personalidade destacada do território, nascido em 1872 na Freguesia de São Lourenço, em Macau, vão sendo reveladas através do espólio que sobreviveu à sua morte, em 1948, na cidade de Lisboa para onde se mudou no final da Segunda Guerra Mundial. Foi “uma fase bastante difícil para o território”, com o retomar da Guerra Civil Chinesa, de 1946 a 1949, entre comunistas e nacionalistas. São importantes testemunhos da história local, que contou com momentos relevantes deste homem que iniciou funções no Expediente Sínico em 1890 e esteve destacado em Pequim, ao serviço da diplomacia portuguesa, nos primeiros anos do século XX. Em Macau privou com uma elite de diplomatas, advogados, intelectuais, professores, escritores e poetas, como Camilo Pessanha, que veio a ser seu grande colega e amigo. Lar perfeito A casa das duas filhas pretende ser mais do que o legado do pai, a julgar pelo texto que divulga a mostra. É uma casa de família, de crianças, de festas, de brincadeiras, de afectos, de objectos, porque “existe um tipo de amor chamado saudade”, lê-se. A partida para Portugal foi um corte que deixou marcas profundas e sonhos perdidos. Os netos Pedro e Graça preservaram móveis, porcelanas, livros, fotografias, recortes de jornal, receitas culinárias, que têm divulgado “para chegar perto do lar perfeito que ainda existe nos seus corações: Macau”. Vários são os relatos que ficaram no seio da família. “Algumas destas coisas aconteceram em Macau e outras em Portugal. A vida não é só cheia de alegrias, também há dores e tristezas. Há uma história inesquecível: na década de 1940, as três gerações da família de José Vicente Jorge partiram para Portugal para evitar a guerra, instalando-se em Lisboa. Henriqueta e o marido quiseram banquetear as personalidades locais com um jantar em sua casa. Mas quando a anfitriã apresenta uma iguaria típica da comida macaense, de que toda família se orgulhava, a resposta dos convivas foi: o sabor destes pratos cheira a febre amarela!”. A vida em Portugal foi particularmente triste para o patriarca, que viria a falecer em 1948, de diabetes e saudades. O velho casarão da Rua da Penha foi vendido nesse ano, e duas décadas mais tarde seria demolido e loteado para dar lugar ao progresso urbanístico. E, no entanto, aos 95 anos de idade, numa casa de repouso em Portugal, Maria continuava a receber visitas da filha e a dizer, numa voz ora infantil, ora lúcida, “eu quero ir para casa”. “Para casa? Ninguém pode tomar conta de si durante vinte e quatro horas. Depois volta a cair!”. Não, “quero voltar para Macau. Macau.”, relata o texto da exposição.
Raquel Moz EventosFAM | “Rain” em palco no Centro Cultural de Macau no próximo domingo A partir da música do compositor Steve Reich, chega a Macau “Rain”, performance de Rosas, uma das mais importantes companhias de dança contemporânea do mundo, liderada pela coreógrafa belga Anne Teresa De Keersmaeker. “Rain” vai cair no grande auditório do Centro Cultural de Macau este domingo, às 20h [dropcap]E[/dropcap]xistem poucas coisas que combinam tão bem no mundo artístico como música minimal e dança contemporânea. Um dos bons exemplos desta simbiose sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau este domingo, pelas 20h, como parte do cartaz do Festival de Artes de Macau. “Rain” é o espectáculo concebido pela pioneira coreógrafa belga, Anne Teresa De Keersmaeker e interpretado pela companhia que dirige, a Rosas, que traz ao território a sua visão de movimento a partir da música do compositor norte-americano Steve Reich. “Impelidos pelos tons pulsantes de Steve Reich, nove bailarinos percorrem o palco com agilidade, dançando variações infinitas de liberdade física e precisão geométrica, com uma leveza de tirar o fôlego”, refere o Instituto Cultural em comunicado. Os espectadores que forem este domingo ao Centro Cultural podem esperar um cozinhado constituídos pelos ingredientes artísticos que tornaram Anne Teresa De Keersmaeker uma figura incontornável do mundo da dança. As figuras matemáticas, a repetição sustentada, a ocupação geométrica do espaço, a arte da variação contínua são elementos essenciais de “Rain”. Movimento mínimo O espectáculo da companhia Rosas, foi a primeira coreografia assinada por Anne Teresa De Keersmaeker a entrar para o repertório do ballet de Ópera de Paris. Importa referir que a belga foi laureada com inúmeros prémios de prestígio, incluindo o Samuel H. Scripps/American Dance Festival Award for Lifetime Achievement, em 2011, e o Leão de Ouro para Lifetime Achievement in Dance da Bienal de Veneza, em 2015. Esta é uma das mais características coregrafias de Anne Teresa De Keersmaeker e parte de “Music for 18 Musicians”, composto pelo norte-americano Steve Reich em 1976. O compositor é um dos nomes cimeiros, ao lado de vultos como Philip Glass, da música minimalista do final dos anos 1960. Durante uma hora e dez minutos, nove bailarinos dão corpo aos pulsantes tons da música de Steven Reich numa composição de movimentos que une todas as partes, num jogo de constante afastamento e reaproximação, até se chegar a um consenso coreografado com mestria. Os bailarinos, por várias vezes, ocupam o palco em simultâneo, oferecendo ao público uma variedade técnica e fisicalidade que desafiam os normais cânones das coreografias de grupo. “Rain”, que estreou em 2001, é um trabalho ainda aplaudido pela crítica e público e que se mantém relevante no plano da dança contemporânea. O espectáculo não está esgotado e os bilhetes custam entre 300 e 120 patacas.
Raquel Moz Manchete SociedadeIAS | Número de toxicodependentes registados desceu no ano passado Menos 8,2 por cento de toxicodependentes foram registados em 2018, mas o “ice” sobe no ranking de preferências. O IAS atribui o bom resultado às medidas de prevenção e acaba de abrir uma nova unidade da rede centralizada de registos no Hospital Kiang Wu [dropcap]O[/dropcap] número de toxicodependentes referenciados em Macau diminuiu ligeiramente em 2018, representando uma descida de 8,2 por cento, com 424 casos registados contra os 462 de 2017. Os dados do Sistema de Registo Central de Toxicodependentes do Instituto de Acção Social (IAS) foram ontem revelados na 1ª Sessão Plenária da Comissão de Luta contra a Droga de 2019, que decorreu ao final da manhã. Entre o total de toxicodependentes registados em 2018, 24 eram jovens, ou seja, 5,7 por cento, um número que se manteve quase idêntico ao ano anterior. O “ice” continua a ser a droga de eleição, representando 48,2 por cento do conjunto de estupefacientes consumidos, o que é um aumento face a 2017, onde os cristais de metanfetamina já perfaziam um terço das substâncias viciantes, ou 35,1 por cento. Cerca de 70 por cento do consumo é feito em espaços privados – seja em casa própria, casa de amigos ou hotéis –, à semelhança de anos anteriores, mas a despesa com as drogas decaiu bastante, com a média mensal dos gastos a fixar-se nas 3.792 patacas em 2018, contra 7.834 patacas em 2017. Em declarações à imprensa, no final do encontro, a chefe de Departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, Lei Lai Peng, afirmou que a tendência de descida do universo de toxicodependentes, sobretudo os mais jovens, tem resultado da prevenção levada a cabo nos últimos anos. “Segundo os dados de 2014, a idade dos jovens que consumiam droga, dos 16 aos 20 anos, representava 6,3 por cento do total, mas quando chegámos ao ano passado, em 2018, essa percentagem desceu para 5,4 por cento. Portanto, há uma descida [da incidência da droga] quanto à idade dos toxicodependentes. Isso tem a ver com a sensibilização e com a educação, promovida junto da sociedade. E a sensibilização não pode parar. Embora haja uma descida, continua a haver cada vez mais acções [de divulgação e prevenção]”, sublinhou. O Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes de Macau foi outra medida elencada e que, recentemente – entre Fevereiro e Março deste ano – abriu mais um centro de reporte no Hospital do Kiang Wu, aumentando para 20 as unidades existentes que informam o IAS sobre casos de abuso de drogas. Com o recém anunciado ponto de recolha de informações, “o Governo procura localizar e descobrir novos casos de consumo de droga, não só através da cooperação com entidades públicas, mas também com as entidades privadas, para alargar a rede de recolha de informações e para assim procurar resolver o problema ou reduzir o consumo de droga na sociedade”, explicou a responsável. O sistema de registo centralizado de abuso de drogas foi criado há dez anos atrás, em 2009, e desde então o IAS tem feito o convite a várias entidades, públicas e particulares, para integrarem a rede de notificação e apoio, que permite contabilizar novos casos e estabelecer medidas para a redução do problema, acrescentou Lei Lai Peng. Próximas visitas A Comissão de Luta Contra a Droga prepara-se para enviar, na segunda quinzena de Maio, um grupo de vogais até Pequim, para uma visita ao Departamento de Controlo de Narcóticos do Ministério de Segurança Pública da China, com o objectivo de “conhecer as novas tendências de consumo e de tráfico de droga na RPC. Como Macau, Hong Kong e a China são regiões adjacentes, queremos saber qual é a situação nestas regiões fronteiriças, e que informações podemos obter no sentido de fazermos uma boa prevenção comum. Também nos interessa conhecer os trabalhos de prevenção e os novos métodos de desintoxicação implementados na China”, adiantou Lei Lai Peng na conferência de imprensa. O grupo participará também na 28ª edição da Conferência Mundial da Federação Internacional das Organizações Não-Governamentais para a Prevenção do Abuso de Drogas e Substâncias – a “IFNGO Conference” a 23 e 24 de Maio, em Pequim. O plano de trabalhos para 2019 inclui ainda, entre outras iniciativas, a programação da série de actividades do Dia Internacional Contra o Abuso e o Tráfico Ilícito de Drogas, que decorrerá entre Junho e Agosto, e a realização da Conferência Nacional sobre Prevenção e Tratamento da Toxicodependência de 2019, a acontecer em Macau no mês de Outubro.
Raquel Moz SociedadeFórum Macau | Países lusófonos terminaram colóquio sobre turismo Chegou ao fim o primeiro encontro organizado pelo Fórum Macau em 2019, depois de duas semanas de formação nas áreas de cooperação turística e comercial com participantes de oito países de língua portuguesa. O colóquio foi “bem-sucedido” e esperam-se mais cinco iniciativas semelhantes até final do ano [dropcap]A[/dropcap] cerimónia de encerramento do “Colóquio sobre Gestão de Turismo, Convenções e Exposições para os Países de Língua Portuguesa” do Fórum Macau, decorreu ontem de manhã no MGM de Macau, com a entrega dos certificados de formação que, entre 23 de Abril e 6 de Maio, reuniu funcionários públicos, representantes e gestores de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Portugal no território. Para a secretária-geral do Secretariado Permanente do Fórum Macau, Xu Yingzhen, que presidiu à cerimónia, “o colóquio foi bem-sucedido” e a organização, a par com a Universidade Cidade de Macau, teve como objectivo principal “o reforço do intercâmbio de cooperação da área de turismo, convenções e exposições, tendo em conta que é um trabalho determinante de enquadramento do Fórum de Macau. As matérias abordadas no colóquio apresentam um leque variado de conteúdos, além da realização de visitas e a participação em seminários”. As oportunidades mobilizadas com a construção da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, utilizando o mecanismo multilateral do Fórum de Macau para desenvolver as vantagens do território como plataforma de serviços para cooperação comercial entre a China e os países lusófonos, também foram relembradas. “Existe grande potencialidade para explorar os recursos turísticos da Grande Baía”, afirmou Xu Yingzhen, um espaço que junta nove cidades chinesas, além de Macau e Hong Kong, com cerca de 70 milhões de habitantes. A responsável adiantou que “Macau, com as suas características multiculturais e diversidade linguística, possui vantagens singulares para a construção de um centro mundial de turismo e de lazer. Este convite é para que os participantes possam conhecer mais profundamente o desenvolvimento das áreas de turismo, convenções e exposições, do interior da China e de Macau, após este colóquio”. As três dezenas de participantes estiveram também na 7ª edição da Exposição Internacional de Turismo (Indústria) de Macau, onde fizeram uma apresentação temática sobre os recursos e produtos turísticos dos respectivos países, além do ponto de situação do ambiente de investimento e de negócio de cada um. A cooperação na área de turismo é um tema consagrado no “Plano de Acção para a Cooperação Económica e Comercial”, assinado em Outubro de 2016, na 5.ª Conferência Ministerial do Fórum de Macau. De 2003 até aqui O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa – ou Fórum Macau – foi criado em Outubro de 2003, por iniciativa do Governo da China, com a colaboração do Governo da RAEM, em coordenação com sete países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor-Leste, Portugal e, em 2017, também São Tomé e Príncipe. O Fórum Macau organiza, a cada três anos, uma conferência ministerial, tendo sido já realizadas cinco edições, respectivamente em 2003, 2006, 2010, 2013 e 2016. Nestes encontros ministeriais são aprovados os “Planos de Acção para a Cooperação Económica e Comercial” que definem e planificam a cooperação nos âmbitos económico e comercial entre a China e os países de língua portuguesa. Este mecanismo multilateral tem como objectivo a consolidação do intercâmbio económico e comercial, cooperação intergovernamental, comércio, investimento e cooperação empresarial, capacidade produtiva, agricultura, floresta, pesca e pecuária, infra-estruturas, energia e recursos naturais, educação e recursos humanos, área financeira, cooperação para o desenvolvimento, turismo, transportes e comunicações, cultura, rádio, cinema e televisão, desporto, saúde, domínio do mar, cooperação entre províncias e municípios, bem como o papel do território como plataforma.
Raquel Moz EventosPalestra | O património desaparecido revisitado por um macaense “A Mansão do Poço da Velha” é o tema da palestra que António Conceição Júnior leva esta quarta-feira, 8 de Maio pelas 18h30, à Fundação Rui Cunha. As memórias do orador vão recordar outros tempos da cidade, outra gente e outros lugares que existiram ali na baía da Praia Grande, a mesma onde agora acontece este encontro [dropcap]”M[/dropcap]acau é um lugar por onde perpassam vários planos de memórias. Algumas foram sendo esquecidas ou então são ignoradas pela mudança das gentes que o povoam, que a terra foi, desde sempre, local de passagem”, lê-se na nota de imprensa da Fundação Rui Cunha (FRC), que convidou António Conceição Júnior para o próximo ciclo “Pauta de Histórias”, quarta-feira ao final da tarde. “A Mansão do Poço da Velha” é o mote da conversa sobre as recordações de um património desaparecido, que o artista macaense – autor de uma extensa obra artística de ilustração, pintura, fotografia, artes gráficas, e também ex-dirigente cultural por muitos anos no território – ainda guarda no seu baú de narrativas. E esta história é sobre “uma parte do património de Macau” e sobre uma antiga “mansão onde vivi quando era criança, aqui em Macau, e a que chamei Mansão do Poço da Velha”, desvenda Conceição Júnior ao Hoje Macau, sem querer revelar muito mais. O casarão já não existe. Mas é também sobre isso que vai falar na palestra. Afinal, os tempos mudaram. E a baía, onde hoje fica a sede da Fundação, foi outrora lugar de palacetes e mansões opulentas, tal como testemunha a prolífera obra do pintor inglês do século XIX que encontrou no território a sua morada e aqui veio a falecer. “Toda a Praia Grande, se for ver as pinturas de George Chinnery, verá que era constituída por palacetes com mobiliário vindo de Portugal. Estamos a falar do século XVIII, século XIX. E nos princípios do século XX, ainda havia palacetes”, conta Conceição Júnior. A conversa será sobre muito mais. “É de facto a revelação de um espaço e de uma forma de vida dos macaenses. Porque eu acho que, hoje em dia, as pessoas não sabem o que era a comunidade portuguesa de Macau e, dentro dessa comunidade portuguesa, a comunidade macaense. Sobretudo, aquela que era, digamos, a elite macaense, que vivia muito bem, vivia de uma forma esplêndida”. E acrescenta, “a comunidade macaense era de tal forma pujante, até aos anos 60, que todos os portugueses – e eram muito poucos aqueles que vinham para Macau – eram imediata e prontamente absorvidos pela comunidade. Entre essas pessoas contam-se o Manuel da Silva Mendes ou o Camilo Pessanha, que são pessoas que, passe a expressão, se tornaram macaenses. Não por nascimento, mas pelo afecto. São só dois exemplos de um período mais distante, mas houve outros, como o Joaquim Morais Alves, noutro período, que foi presidente do Leal Senado, e por aí fora”. Memórias de menino António Conceição Júnior nasceu em Macau, em Dezembro de 1951. Licenciado em Artes Plásticas e Design, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, veio a ser dirigente cultural em Macau desde 1978, responsável por muita da formulação da política cultural do território. Pelo meio, “viveu em diversos espaços e cresceu com lembranças que lhe foram legadas. Em menino ouvia o seu pai e amigos conversarem sobre Manuel da Silva Mendes [professor, sinólogo, filósofo], Camilo Pessanha [poeta, advogado, juiz, professor], de quem fora aluno, ou José Vicente Jorge [intérprete e tradutor de assuntos políticos]”, personalidades que marcaram a política e a sociedade da época. “Conviveu com personalidades do círculo mais erudito de Macau, tendo tido acesso, por exemplo, a Luís Gonzaga Gomes e às primeiras edições das suas obras, saídas do prelo na colecção “Notícias de Macau”, jornal propriedade de Herman Machado Monteiro, e em cuja redacção os pais de Conceição Júnior, ambos jornalistas, se casaram”, conforme relata o comunicado da FRC. Se dúvidas houvesse, aqui se encontram razões de sobra para não faltar a este encontro de fim de tarde. A entrada é livre.
Raquel Moz EventosHong Kong | Arte multimédia revisita obra de Van Gogh É a exposição de arte multi-sensorial mais visitada no mundo e pode ser vista diariamente em Hong Kong. Chegou em Abril à baía de Kowloon e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entrar dentro de quadros como “A Noite Estrelada” ou “Os Girassóis” era até aqui imaginação apenas. Agora é só dar um salto ali ao lado [dropcap]A[/dropcap] experiência de arte imersiva sobre um dos mais ilustres pintores holandeses está a dar que falar no vizinho território, depois de ter passado por mais de 40 cidades internacionais e atraído cerca de quatro milhões de visitantes em todo o mundo. “Van Gogh Alive” é como assistir em três dimensões às várias fases da obra do pintor, onde três mil imagens são projectadas nas paredes, colunas, chão e tecto, criando movimentos que se transformam através das galerias e transcendem a noção de tempo e do espaço. Poder estar dentro dos famosos quadros do pintor pós-impressionista é uma nova sensação para os visitantes, que se passeiam pelo “Campo de Trigo com Corvos”, as “Amendoeiras em Flor”, o “Quarto em Arles” ou a “Estrada com Cipreste e Estrela”, amplificados nos murais de LED com quase dez metros de altura. São mais de uma centena de telas que acompanham a vida e obra de Van Gogh, durante o período de 1880 a 1890, integrando as paisagens de Arles, Saint-Rémy-de-Provence e Auvers-sur-Oise, lugares onde se refugiou nos últimos anos de vida e onde criou os seus quadros mais icónicos. O clássico mundo das artes abre-se com este espectáculo às grandes audiências, saindo do espaço de silêncio dos museus, onde a distância de protecção entre o público e a obra não admite a proximidade aqui conseguida. Este novo conceito de arte, como experiência para as massas, é possível graças a um sistema de tecnologia único, o Sensory4, que permite combinar as imagens gráficas em movimento com sons de alta-fidelidade, através de canais múltiplos com qualidade de cinema, que são projectados em ecrãs gigantes de alta resolução. A dinâmica visual é o resultado desta experiência, com imagens incrivelmente detalhadas, num espaço saturado de cor e som, onde a cada canto se pode encontrar um novo ponto de vista ou um especial pormenor, nos conhecidos quadros do pintor que tantas obras-primas deixou, entre paisagens, naturezas mortas, retratos e auto-retratos, com orelha e sem orelha. Viagem pelo mundo A exposição chegou à FTLife Tower de Hong Kong, em Kowloon, no passado mês de Abril e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entretanto, percorreu várias cidades como Madrid, Roma, Berlim, Atenas, Istambul, Moscovo, Varsóvia, Dubai, Singapura, Tel Aviv, São Petersburgo e, só no continente chinês, Xangai, Xiamen, Hangzhou ou Qingdao. Também em Lisboa, a exposição passou já pela Cordoaria Nacional, no verão de 2017. Em Hong Kong está em exibição de segunda a quinta, das 10h às 21h, sextas a domingos, ou feriados, das 10h às 22h. Os bilhetes custam 230 dólares de Hong Kong, por adulto, e 190 para menores de 15 e maiores de 65 anos.
Raquel Moz PolíticaVisita | Presidente português aplaudido no centro histórico A passagem foi curta, de apenas 21horas, mas marcada pela euforia e satisfação de residentes e comerciantes do centro histórico. Marcelo Rebelo de Sousa não se cansou de distribuir os habituais abraços enquanto percorria, com Alexis Tam, o percurso do Leal Senado às Ruínas de São Paulo. Deste passeio, Marcelo destacou ainda a singularidade de Macau e a importância de a preservar [dropcap]A[/dropcap] visita oficial do Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, a Macau foi de curta duração, mas de grande intensidade. Na manhã de ontem o Chefe de Estado português passeou entre a Leal Senado e as Ruínas de São Paulo, acompanhado pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, numa caminhada em que não faltaram abraços com residentes, chá com comerciantes e a prova das iguarias locais entre elas o pastel de nata local que é “menos doce”. Enquanto se dirigia às Ruínas de São Paulo, o Presidente português não deixou de salientar as particularidades de Macau enquanto território multicultural. Aliás, é esta comunicação entre povos de várias origens que fazem de Macau um “lugar especial” que “se deixar de ser original, morre”, disse. A ideia, de acordo com Marcelo, foi discutida em Pequim, com o seu homólogo chines, Xi Jingping: “Ele falava nisso mesmo: o que faz a diferença é o que dá valor, e Macau é diferente”. “Quando se é igual a tudo o resto, o que é maior esmaga o que é mais pequeno. E a diferença significa o quê? Um cruzamento de culturas, de línguas, de tradições, de usos, de gastronomia, é essa a riqueza de Macau”, salientou. Língua de união A língua portuguesa tem um papel fundamental nesta “genuinidade”, até por ser “um factor da diferença de Macau”. Apesar de não se entender em português com os comerciantes e residentes com quem se ia cruzando, o Presidente fez questão de distinguir as dificuldades de comunicação e o empenho do território em manter a língua portuguesa viva. “Uma coisa é a dificuldade de se entender em português, outra coisa é firmar e valorizar a língua portuguesa. E para isso aí estão as escolas, a todos os níveis e o empenho do Executivo da RAEM, que percebe a importância da língua portuguesa e apoia”, apontou. O Presidente português, que terminou em Macau uma visita de sete dias à China, referiu ainda que a manutenção da língua portuguesa no território além de 2049 é um dos objectivos do Governo Central. Quando questionado sobre esta matéria Marcelo Rebelo de Sousa respondeu: “Eu acho que sim. E espero ser vivo em 2049. Ainda faltam 30 anos, teria que ter 110 anos. Não é muito fácil, mas talvez”, comentou com o ânimo e boa disposição por que é conhecido. Segundo Marcelo, a continuidade da língua portuguesa em Macau é um processo “natural para o estado português e para o estado chinês”. “Se há pessoa que conhece bem a realidade de Macau, que gosta de relembrar que aqui veio no tempo em que o pai era responsável em Cantão, que depois teve responsabilidade em Cantão e conhece a especificidade de Macau – onde conheceu por exemplo, pela primeira vez, o vinho português, e gostou, é o Presidente Xi”, disse. Marcelo Rebelo de Sousa recordou ainda que não vinha a Macau há 31 anos. Nos anos 80 foi professor no território e agora comenta as diferenças com que se depara. “Está maior, tem mais património construído, tem muito mais turismo, um turismo diferente, há realmente mudanças, como é natural. Mas aqui, neste centro histórico, encontramos uma presença portuguesa tão forte, tão forte, tão forte que, passados uns 31 anos, eu diria que reencontrei aquilo que tinha encontrado naquela altura”, comentou. Visita prometida Desta vez, Marcelo Rebelo de Sousa passou por Macau quase de relance, mas ficou a promessa de um regresso que poderá acontecer já no próximo mês de Dezembro, altura da celebração dos 20 anos de transferência de Administração. “A própria China entende como naturalíssimo que Portugal esteja representado ao mais alto nível na celebração dos 20 anos da transferência de soberania. Foi assim que aconteceu há 20 anos e é assim que acontece agora”. No entanto, a vinda do chefe de estado português “depende das autoridades chinesas e da RAEM”. Alexis Tam garantiu que iria falar com o Chefe do Executivo acerca deste assunto, para que o convite seja formalizado. As razões são óbvias apontou Tam: “Vocês já viram, o Professor Marcelo é tão popular aqui em Macau e toda a gente gosta dele, é para nós uma honra que o Sr. Presidente volte muito em breve”, afirmou. Recordar a história Antes do passeio pelo centro histórico, Marcelo visitou a Santa Casa da Misericórdia que celebra este ano o seu 450º aniversário. Ali, o Presidente salientou a capacidade histórica portuguesa de estabelecer relações diplomáticas e de amizade com comunidades estrangeiras e de instituir organismos dedicados ao serviço social. “Entramos neste edifício, património da humanidade, e sentimos que aqui se fez história, que aqui se faz história há 450 anos, que traduzem muito a maneira portuguesa de estar no mundo. Nós somos assim. Partimos, atravessamos, chegamos. Chegamos e incluímo-nos. Chegamos e servimos. Chegamos e dialogamos. Chegamos e estreitamos laços fraternos. E há uma continuidade na história, que passa os regimes, passa os sistemas, passa as pessoas”, disse, louvando o “espírito do serviço à comunidade” daquela instituição. Já o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, António José de Freitas frisou que a Santa Casa “é indissociável da presença da comunidade portuguesa nesta região do sul da China” e manifestou vontade de “continuar a dignificar o bom nome de Portugal e da comunidade portuguesa que aqui permanece”. Encontro relâmpago Antes de se encontrar com a comunidade portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa teve uma pequena reunião com o Chefe do Executivo, Chui Sai On, na Sede do Governo, onde o Chefe de Estado português sublinhou a intensidade das relações em entre Portugal, a China e a RAEM, espelhada na intensidade da visita que decorreu nos últimos sete dias. “Tem sido uma visita muito intensa no espaço de duas semanas e isso significa que as ligações existem”, disse. “No mesmo mês há a visita do Presidente de Portugal a Macau e a visita do Chefe do Executivo a Portugal. É o retrato perfeito daquilo que nós queremos que sejam as relações entre nós. As relações entre Portugal e a China são excelentes, mas há algo mais especial nas relações com a RAEM que completa e enriquece a relação com a China”, acrescentou, referindo-se à visita de Chui Sai On, ainda este mês, a Portugal. Já Chui Sai On garantiu o interesse de Macau em continuar a profundar relações com Portugal. “Espero que as nossas relações de cooperação continuem a desenvolver-se e a aprofundar-se e ouvir da sua parte opiniões e sugestões para o aprofundamento das relações entre ambas as partes”, apontou. Almoço comunitário A manhã de ontem do Chefe de Estado terminou na residência do cônsul de Portugal em Macau onde decorreu um encontro e almoço com a comunidade portuguesa. No Bela Vista, o Presidente reiterou o seu apreço pelo território num discurso caloroso. “Esta casa é de todos nós. E é de todos nós há 500 anos. Há 500 anos que nos sentimos portugueses aqui em nossa casa, que os nossos irmãos chineses se sentem em sua casa quando estão com Portugal e com os portugueses. Há 500 anos que os nossos queridos irmãos de Macau se sentem em sua casa quando estão em Portugal e com os portugueses, com a China e os chineses”, disse, acrescentando que “Macau não foi nunca uma colónia portuguesa”. Prova desta proximidade é a quantidade de portugueses que vem para o território e aqui faz a sua vida. “Falo naqueles que além dos passaportes todos os dias aqui chegam, vivem ou têm famílias com 100 ou 300 membros e que são portugueses”, apontou, frisando que esta população vai além da “comunidade do passaporte, porque essa aumenta todos os dias”. Rebelo de Sousa frisou ainda que a relação de Portugal com o território vai além da Lei Básica, sendo que “a Lei Básica é importante, mas fala numa base de 50 anos”. “O que são 50 anos para uma cultura milenar como a chinesa e de quase mil anos como a portuguesa. Não é nada. Passarão os 50 anos e Macau será Macau, e haverá sempre a diferença que se chama Macau, e foi graças a Macau e a um percurso que começou há 500 anos que hoje temos excelentes relações entre Lisboa e Pequim”, rematou.
Raquel Moz EventosTeatro | Cai Fora faz percurso interactivo pela cidade [dropcap]A[/dropcap] companhia teatral local “Cai Fora” apresenta na sexta-feira “A Viagem de Curry Bone 2019”, uma história que se baseia num guia turístico com o mesmo nome e que vai dar a volta pela cidade, todos os dias de 3 a 10 de Maio, pelas 20h. A proposta reúne as experiências de Curry Bone na Terra dos Anões, onde se diz que “há apenas ruas e museus e as ruas tornaram-se lugares populares para descobrir: aqui não há ruínas mas relíquias, e não há morte mas revitalização”, pode ler-se no programa do Instituto Cultural (IC). “A Viagem de Curry Bone” estreou em 2009, causando um profundo impacto no público com a sua sátira ao desenvolvimento urbano e a sua busca de reconhecimento identitário. Após alguns anos de silêncio, Curry Bone está de volta, desta vez passando da sala de espectáculos para o ar livre”. O guia turístico Curry Bone tem também aplicação de telemóvel – Curry Bone’s Travel – que pode ser descarregada e levada para o percurso. Os espectadores, viajantes nesta experiência, devem levar o telemóvel e os auscultadores. O trajecto dura 2 horas e 30 minutos, com áudio em cantonense, para maiores de 13 anos. Os bilhetes custam 150 patacas. A companhia “Cai Fora” tem desenvolvido obras que são um diálogo entre a história e o desenvolvimento urbano. Criada em 2001, não desenvolve apenas trabalhos de teatro e de dança, produzindo trabalhos multidisciplinares que “são caracterizados pelo uso hábil da linguagem teatral poética e estética na composição de fábulas contemporâneas sobre a cidade urbana”, segundo o IC. O grupo macaense já integrou o FAM de 2013, com a peça “Um Mundo de Jogo”.
Raquel Moz EventosFAM 2109 | Inauguração com espectáculo de dança contemporânea É “Vertikal” porque desafia as leis da gravidade e os demais sentidos. O espectáculo que abre a 30ª edição do FAM é uma proposta assinada pelo coreógrafo francês Mourad Merzouki, que traz o hip-hop e a dança contemporânea para o palco do Centro Cultural de Macau. Ainda há bilhetes, mas são poucos [dropcap]A[/dropcap] 30ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) arranca já na sexta feira, 3 de Maio, com o espectáculo de dança contemporânea “Vertikal”, assinado pelo director artístico e coreógrafo Mourad Merzouki, o homem que levou o movimento hip-hop da rua para os palcos no início dos anos 90. O evento está agendado para as 20h, no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), logo após a cerimónia de inauguração do FAM, marcada para as 19h40. O espectáculo repete no sábado, 4 de Maio, e ainda há alguns bilhetes para as duas sessões. “Vertikal” é uma co-produção do Centro Coreográfico Nacional (CCN) de Créteil & Val-de-Marne e da Compagnie Käfig, onde “dez dançarinos deslizam no ar por cordas, libertando-se dos limites da gravidade para criar elementos coreográficos e produzir sequências de hip-hop únicas e contemporâneas”, segundo o Instituto Cultural de Macau (IC), organizador do FAM. Além de movimentos como inversões, elevações e cambalhotas, os “dançarinos são sustentados por cabos, executando saltos e acrobacias aéreas que desafiam a gravidade, como se estivessem num espaço de gravidade zero ou a flutuar na água. O espectáculo não traz apenas movimentos simples como uma cambalhota para o grande palco, também acrescenta um toque de romance poético à vigorosa e directa linguagem da dança de rua”, informa ainda o IC no material de divulgação. Ao comando da Compagnie Käfig, considerada pela organização do FAM como “uma das principais companhias de dança hip-hop de renome mundial”, Mourad Merzouki vai apresentar no território uma performance onde explora “a relação com o chão, que é essencial para o dançarino de hip hop”, com a introdução de novos elementos, a partir da colaboração de Fabrice Guillot, director artístico da Retouramont, empresa especialista em técnicas aéreas. Este equipamento permite ao coreógrafo um novo campo de possibilidades, libertando-se da dimensão horizontal do palco. “Os jogos de contacto entre os artistas funcionam através de impulsos: o dançarino pode ser alternadamente a base e o transportador ou, ao contrário, um trapezista, uma marioneta animada pelo contrapeso dos seus parceiros no chão”, explica Merzouki. A música do compositor Armand Amar – premiado autor de bandas sonoras para mais de duas dezenas de filmes e detentor de um César para Melhor Música em 2010, com a película “Le Concert” de Radu Mihăileanu – vai acompanhar as acrobacias dos dançarinos, combinando instrumentos electrónicos e de cordas, ao longo do espectáculo, que tem duração aproximada de 1 hora e 10 minutos, sem intervalo. Workshop na vertical A par dos dois espectáculos “Vertikal”, o coreógrafo realizará um workshop de dança no sábado, dia 4, entre as 10h e as 12h, no mesmo palco do CCM, para proporcionar a experiência do hip-hop aéreo a oito dançarinos locais. As inscrições para este evento decorreram até 16 de Abril, limitadas a candidatos com mais de três anos de experiência na área da dança. Outros vinte lugares foram disponibilizados para assistir ao workshop, sem direito a participação, que esgotaram também rapidamente.
Raquel Moz Manchete PolíticaEleições CE | Jason Chao defende legalidade de nacionalidade de Ho Iat Seng Para o activista Jason Chao, a dupla nacionalidade do presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, não constitui uma ilegalidade perante a Lei da Nacionalidade Chinesa ou a Declaração Conjunta Luso-Chinesa de 1987. É antes uma questão de interpretação política [dropcap]O[/dropcap] activista pró-democrata Jason Chao considera pertinentes as dúvidas avançadas pelo Hoje Macau na passada sexta-feira, a respeito da revelação da dupla nacionalidade do actual presidente da Assembleia Legislativa, e candidato a Chefe do Executivo, Ho Iat Seng. Mas atenua a situação e defende a legalidade da pretensão do candidato, que para a China continua a ser só cidadão chinês. A obrigatoriedade de renúncia da nacionalidade portuguesa só se impõe se for eleito e antes de tomar posse. “As questões surgidas a público, sobre a nacionalidade portuguesa de Ho, são totalmente compreensíveis. Ho foi membro do Comité Permanente do Assembleia Popular Nacional (APN). No contexto da política chinesa, Ho podia ser visto como um dos líderes do Governo Central chinês. A possibilidade de recorrer à protecção consular de Portugal, em caso de viagem para o estrangeiro com o passaporte português, é passível de colocar em causa a sua lealdade patriótica à China”. Mas perante a Lei Básica de Macau, Ho não está a desrespeitar os diplomas locais, acredita Jason Chao. “Em território chinês, Ho Iat Seng é considerado cidadão nacional exclusivamente chinês, pela Lei da Nacionalidade Chinesa e pelo memorando chinês da Declaração Conjunta Luso-Chinesa. Portanto, ele satisfez o artigo 72º da Lei Básica de Macau quando se candidatou à vice-presidência da Assembleia Legislativa em 2009”, que obriga os dois cargos máximos do órgão legislativo a serem ocupados por chineses, residentes permanentes da RAEM há mais de 15 anos. Na mesma linha de raciocínio, o ex-presidente da Associação Novo Macau considera que Ho Iat Seng também não incumpre o disposto no artigo 46ª da Lei Básica, que prevê que os candidatos a Chefe do Executivo sejam chineses, residentes permanentes em Macau, com mais de 40 anos de idade e 20 de residência consecutiva no território. Para Chao, a renúncia da cidadania portuguesa só será necessária para não contrariar a Lei Eleitoral para Chefe do Executivo n.º 3/2004, onde se declara que qualquer candidato proposto está obrigado a “não possuir o direito de residência em país estrangeiro ou, quando o possuir, comprometer-se a dele desistir antes da data da sua tomada de posse” (artigo 35º, alínea 2). O que Ho fez “muito cedo”, mesmo “sem ter necessidade de se apressar”. O mito da renúncia obrigatória “A posse de passaporte português, para Ho, enquanto vice-presidente da AL e membro do Comité Permanente da APN, é mais uma questão política, do que uma questão legal”, admite, acrescentando que a obrigatoriedade de renúncia dos passaportes estrangeiros por parte dos chineses da RAEM é “um mito”. “A Lei da Nacionalidade chinesa não reconhece a dupla nacionalidade. A maioria dos cidadãos de etnia chinesa, residentes em Macau, são considerados por lei só chineses. De acordo com o memorando da Declaração Conjunta de 1987, o Governo da China permite aos residentes nacionais que viajem para países estrangeiros com “documentos de viagem” portugueses. Porém, estes cidadãos chineses não gozam de protecção consular portuguesa em território chinês”. O activista teme mesmo que as autoridades chinesas venham a ser mais restritivas, na análise deste tema, podendo no futuro coagir os cidadãos da RAEM a abdicar dos seus documentos estrangeiros, de viagem ou cidadania, para demonstrarem lealdade à pátria chinesa, concluiu.
Raquel Moz Manchete PolíticaCertidão de Registo Civil revela que Ho Iat Seng ainda é português O cargo de presidente da Assembleia Legislativa obriga o seu titular a ter nacionalidade chinesa, sendo que a Lei da Nacionalidade da China, em vigor em Macau, não reconhece a dupla nacionalidade. O processo para a perda de nacionalidade portuguesa de Ho Iat Seng entrou no Consulado na semana passada e ainda está a ser processado [dropcap]H[/dropcap]o Iat Seng é detentor de nacionalidade portuguesa e tem um número de identificação civil, ou seja, o número que é mostrado no cartão de cidadão. A informação obtida ontem pelo HM consta na certidão de registo civil do actual presidente da Assembleia Legislativa e pode levantar uma questão de dupla nacionalidade. Contudo, segundo o HM apurou, Ho já deu início aos procedimentos para deixar de ser português. No dia anterior à conferência de imprensa em que anunciou a candidatura ao lugar de Chefe do Executivo, Ho Iat Seng fez entrar um pedido no Consulado de Portugal em Macau para perder a nacionalidade portuguesa. O requerimento já terá sido reencaminhado para Lisboa, onde a decisão vai ser tomada pelo Ministério da Justiça, que terá cerca de 30 dias para aprovar, pedir mais informação ou recusar o processo. Questionado sobre este pedido, o Cônsul-Geral Paulo Cunha Alves limitou-se a dizer que não tinha comentários a fazer. Ho Iat Seng nasceu a 12 de Junho 1957, em Macau, e foi registado como filho de Ho Tin e Vu Kuan. Desde então, tem nacionalidade portuguesa e a certidão de registo civil mostra o número de identificação civil, assim com outros dados relevantes para a identidade de Ho, nomeadamente a data do casamento civil ou a alteração do nome dos pais. Na secção de averbamentos, onde consta a mudança de nome dos pais e o seu matrimónio, não é indicado que Ho tenha, em algum momento, perdido a nacionalidade e retomado a mesma posteriormente. A dupla nacionalidade não levanta questões jurídicas ao nível da legislação portuguesa. Porém, à luz da Lei da Nacionalidade da República Popular Chinesa a questão pode concretizar um cenário diferente. Segundo o artigo número três a “República Popular da China não reconhece que os nacionais chineses possuam dupla nacionalidade”. Obrigado a ser chinês A situação ganha maior relevância a partir do momento em que Ho Iat Seng, enquanto presidente da AL, ocupa uma posição que o obriga a ter nacionalidade chinesa. A exigência consta na Lei Básica que define que: “O Presidente e o Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Região Administrativa Especial de Macau devem ser cidadãos chineses de entre os residentes permanentes da Região Administrativa Especial de Macau […]”. A mesma exigência é imposta ao Chefe do Executivo, também pela Lei Básica. Segundo a opinião do jurista António Katchi, que comentou a situação sem focar ou conhecer o caso concreto de Ho Iat Seng, a legislação chinesa não aceita outra nacionalidade. “A lei chinesa da nacionalidade, que vigora em Macau, não permite a um cidadão chinês possuir cumulativamente outra nacionalidade”, afirmou ao HM. Também o advogado Sérgio de Almeida Correia admite a existência de zonas cinzentas, mas defende que uma interpretação rigorosa indica que os cidadãos têm de renunciar a qualquer outra nacionalidade para poderem ser chineses. “Em rigor, se as pessoas forem pedir o passaporte da RAEM e se forem nacionais portuguesas devem primeiramente renunciar à nacionalidade portuguesa. Este é o caso perante a lei chinesa”, disse o advogado. “Entendo que para haver um cumprimento estrito da lei devia ter renunciado à nacionalidade portuguesa sem subterfúgios ou recurso a outras interpretações”, sublinhou. Número de identificação Se Ho Iat Seng apenas tivesse passaporte português e não tivesse um número de identidade civil atribuído, a questão poderia não se levantar, uma vez que a lei portuguesa prevê situações em que são atribuídos de passaportes a estrangeiros. Mas o facto de existir um documento com número de identificação civil implica a nacionalidade portuguesa. “O cartão de cidadão é só para cidadãos nacionais”, refere António Katchi. Por outro lado, esta situação não é anormal na RAEM. “Há pessoas que, na prática, continuam a ter dupla nacionalidade, porque conseguem esconder da China o facto de terem nacionalidade estrangeira e, assim, não perdem a nacionalidade chinesa”, relata o jurista. Uma fonte conhecedora do Direito local colocou mesmo a hipótese de Ho Iat Seng não ter tido nacionalidade chinesa enquanto desempenhou as funções de presidente da Assembleia Legislativa. “Não existe a dupla nacionalidade no caso dos cidadãos chineses. Ou se é chinês ou se tem outra nacionalidade qualquer. Se ele tinha nacionalidade portuguesa não podia ter nacionalidade chinesa”, disse a fonte ao HM. “Mas se ele nasceu português e ainda tem a nacionalidade portuguesa não pode ter nacionalidade chinesa. É o que está na lei”, defendeu. Segundo a leitura da fonte, Ho já deveria ter abdicado da nacionalidade portuguesa, ainda antes de ter assumido o cargo de presidente da AL. No entanto, uma eventual dupla nacionalidade pode não ser situação única. Em 2009, em entrevista ao jornal Público, o presidente da Associação dos Advogados de Macau, Neto Valente, admitiu acumular ambas as nacionalidades, porque não lhe foi pedido que abdicasse da portuguesa. “Eu disse que era português e continuaria a ser. Responderam-me: ‘Não lhe perguntei se quer renunciar à nacionalidade portuguesa, só quero saber se quer ser chinês?’ Quero.”, relatou Neto Valente sobre a situação ao jornal português. Passaporte pode ser aceite A questão dos nacionais chineses de Macau terem passaporte português levou o Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) a emitir vários esclarecimentos, em 1998, nas vésperas da transição. “Os cidadãos chineses de Macau que sejam portadores de documentos de viagem portugueses [ndr., como por exemplo passaporte] podem continuar a usá-los para viajarem por outros países e regiões […], mas não podem gozar de protecção consular portuguesa na Região Administrativa Especial de Macau e nas outras regiões da República Popular da China”, foi esclarecido pelo Comité Permanente da APN. Porém, o académico António Katchi recusa que este esclarecimento legitime a posse de duas nacionalidades. “Baseando-se na lei que vigorava em Portugal em 1998, quando o Comité Permanente da APN fez esse esclarecimento, a República Popular da China pode admitir a possibilidade de cidadãos chineses possuírem passaporte português sem que para tanto tenham adquirido a nacionalidade portuguesa”, explicou. “Nesse caso, estarão a respeitar simultaneamente a lei chinesa e a lei portuguesa. Não se trata, portanto, de a China, pela voz da Comité Permanente da APN, aceitar oficialmente que esses cidadãos chineses tenham dupla nacionalidade, pois isso implicaria admitir uma violação da lei da nacionalidade chinesa”, clarificou o jurista. Rede de protecção Ainda de acordo com uma fonte conhecedora do Direito local é comum que alguns governantes locais mantenham os passaportes de Portugal, na maior parte dos casos o reflexo da herança da administração portuguesa. “A classe política de Macau tem na sua maioria nacionalidade portuguesa. Mas são passaportes que ficam guardados nos cofres, sem serem utilizados”, contou. “Se quisermos encarar a questão de uma forma mais extrema, o passaporte português funciona como uma espécie de protecção. Se tiverem um problema qualquer, pegam no passaporte e vão-se embora. Portugal não extradita pessoas com nacionalidade portuguesa”, acrescentou. “É uma herança da transição, até porque antes da criação da RAEM as pessoas não sabiam o que ia ser o futuro”, explicou. O HM tentou obter explicações junto da Assembleia Legislativa e de Ho Iat Seng, para perceber se poderia haver uma interpretação diferente das apresentadas, mas até ao fecho da edição não recebeu uma reacção.
Raquel Moz EventosExposição | Artistas de Macau apresentam a sua visão do Mercado Vermelho O Albergue SCM e a Associação Cultural d’As Entranhas lançaram o repto a 15 artistas locais: pensar o Mercado Vermelho fora do quadrado, mas dentro da caixa. A ideia era juntar diferentes propostas, com base em formações e técnicas diversas, num formato de 40X40 centímetros. A inauguração é a 24 de Abril “MERCADO VERMELHO” é o título da mostra colectiva que no próximo dia 24 de Abril, quarta-feira, inaugura pelas 18h30 na galeria D1 do Albergue SCM. Quinze artistas locais foram convidados a interpretar o tema, criando as suas versões do icónico edifício em formato de caixas de luz, através das quais o público vai poder conhecer as diferentes leituras que resultaram da proposta inicial. As reflexões exprimem as técnicas artísticas e as formações dos participantes – pintores, designers, arquitectos, fotógrafos e outros entusiastas da cultura local – que tiveram cerca de três meses para apresentar a sua ideia. “A proposta que fiz aos artistas, creio que, mais do que os orientar, desorientou-os… Disse-lhes que gostava de fazer uma exposição sobre o Mercado Vermelho e que tinham uma caixa de luz, cada um, para trabalhar. Porque a exposição não vai ser na parede, é uma exposição para ser apresentada do ponto de vista de quem vê, na vertical, como se fossem as bancas do mercado. Dei-lhes então um quadrado de 40 por 40 para eles trabalharem”, explica a curadora da exposição, e produtora cultural do Albergue SCM, Vera Paz. As obras originais têm a assinatura de Carlos Marreiros, Guilherme Ung Vai Meng, António Leong, Adalberto Tenreiro, Bernardo Amorim, Chan Hin Io, Henrique Silva, João Palla, Alexandre Marreiros, António Salas Sanmarful, Pedro Paz, António Mil-Homens, Cai Guo Jie, Chan Chi Lek e Vera Paz. “Todas as abordagens são diferentes, as peças são muito díspares”, confidencia a responsável, para quem começa agora a colocação em cena dos trabalhos. “O repto foi lançado no início deste ano”, conta Vera Paz, mas era já uma vontade antiga. “O Mercado Vermelho faz parte das minhas memórias de infância. Em 1984, quando cheguei a Macau, lembro-me de ir com a minha mãe ao mercado e de aquilo me impressionar bastante. Tinha 10 anos e era tão diferente do que estávamos habituados em Portugal: a luz vermelha, os peixes cortados ao meio, tudo aquilo vivo, o cheiro… nunca mais me esqueço da impressão que me causou. E a água, sempre a correr, parecia-me sempre um cenário um pouco aterrorizador. De modo que, quando voltei, 35 anos depois, fiquei com vontade de fazer um fresco, uma reflexão, sobre estes ambientes e essas impressões que ainda eram tão presentes para mim”. A demanda individual passou a trabalho colectivo, buscando com outros artistas, residentes de longa data no território, variações sobre a mesma ideia de base. Enquanto edifício de carácter público, [o Mercado Vermelho] é talvez “o melhor embaixador do período do ArtDeco ou Tropical-Deco em Macau dos anos trinta”. Embaixador do ArtDeco Concebido pelo arquitecto macaense Júlio Alberto Basto em 1934, o Mercado Vermelho foi inaugurado em Junho de 1936, e classificado como “edifício de interesse arquitectónico” em 1992. Enquanto edifício de carácter público, é talvez “o melhor embaixador do período do ArtDeco ou Tropical-Deco em Macau dos anos trinta”, conforme descrevia Carlos Marreiros – um dos artistas da exposição colectiva –, num artigo de 1985 da Revista Nam Van. “De todos os bairros existentes em Macau, nenhum há que ofereça melhores condições de desenvolvimento urbano, em linhas modernas, que a Flora e o Mong Há, situados como se encontram, na zona mais plana da Colónia”, começava a memória descritiva do projecto de arquitectura de Júlio Alberto Basto, com data de 09.11.34, para a construção de um mercado, mais tarde nomeado Mercado Municipal Almirante Lacerda, hoje vulgarizado como Mercado Vermelho, segundo o mesmo artigo do arquitecto Carlos Marreiros. Situado ao fundo da Avenida Almirante Lacerda, a obra foi, à época, alvo de forte oposição pelos negociantes e proprietários de comércio do mercado adjacente, de San Kio, que temiam perder a sua fonte de rendimento e clientela. Segundo documentação do Arquivo de Macau, o Leal Senado avançou, assim mesmo, com a intenção de construir uma infra-estrutura de maior dimensão, correspondente à estandardização moderna de higiene para aquela altura, que iria satisfazer a necessidade de crescimento contínuo da população de San Kio e de Sa Kong, o que aconteceu em dobro e em triplo, de acordo com a mesma fonte. Saídos de uma nova geração de arquitectos, Júlio Alberto Basto, juntamente com Bernardino de Senna Fernandes e Canavarro Nolasco, entre outros, viriam a introduzir elementos de modernidade à instalada corrente neo-classizante que até aí predominava, pode ler-se ainda no antigo texto de Carlos Marreiros.E hoje, 82 anos depois da sua edificação, o que evoca o Mercado Vermelho para todos estes artistas? É ir ver às bancas de luz do mercado improvisado do Albergue, de amanhã a uma semana. Albergue | Season Lao e Haguri Sato mostram trabalhos É inaugurada esta quarta-feira uma nova exposição no espaço do Albergue SCM, com trabalhos de Season Lao e Haguri Sato. Vão estar expostos 36 trabalhos marcados pelo design gráfico de Season Lao, que, apesar de ter nascido em Macau, mudou-se para o Japão, mais precisamente para Hokkaido. Será também mostrado o trabalho de Haguri Sato, natural do Japão e que trabalha essencialmente com escultura. Season Lao licenciou-se no Instituto Politécnico de Macau e tem estado envolvido em inúmeros projectos de design. Desde o tremor de terra de grandes dimensões que assolou o Japão, em 2011, o artista sentiu necessidade de enfatizar, no seu trabalho, a forma como seres humanos e o meio ambiente coexistem no mesmo espaço. A sua obra mantém não só uma ligação à arte oriental como também reflecte os problemas contemporâneos da globalização. A exposição conta com o apoio da Fundação Macau e estará patente até ao dia 8 de Maio, com entrada gratuita. IC | Abertas candidaturas para Exposição de Artistas de Macau 2019 O Instituto Cultural (IC) está a aceitar candidaturas de trabalhos para integrar na Exposição de Artistas de Macau 2019. As propostas podem ser entregues até ao próximo dia 20 de Maio. Esta iniciativa conta com organização do Museu de Arte de Macau (MAM) e do Museu Nacional de Arte da China (NAMOC) e tem como objectivo “promover a interacção entre as comunidades artísticas de Macau e do Interior da China e reforçar a transmissão de tradições e a inovação no desenvolvimento das artes visuais de Macau”. Os candidatos devem ter idade igual ou superior a 18 anos e possuir Bilhete de Identidade de Residente permanente ou não permanente de Macau, e concorrer individualmente. Os trabalhos apresentados devem ser originais concluídos nos últimos dois anos e nunca terem sido exibidos publicamente. As categorias de meios de expressão artística são: pintura e caligrafia chinesas, pintura ocidental e artes tridimensionais ou cross media. Concerto | LMA recebe banda de tributo a Foo Fighters a 27 de Abril Os Faux Fighters, banda de tributo ao conjunto liderado por Dave Grohl, actuam no LMA no próximo dia 27 de Abril às 21h. Formados em 2012 por S. Chelsea Scott, que por coincidência é muito parecido com o líder dos Foo Fighters e ex-baterista de Nirvana, a banda de covers é conhecida pelos concertos intensos e divertidos, captando na perfeição a essência dos Foo Fighters. Quem quiser ouvir “Everlong” e “Learn to Fly” tem de desembolsar 100 patacas, se comprar o ingresso antecipadamente, ou 120 patacas à porta da sala da Coronel Mesquita.