Hoje Macau China / ÁsiaCamboja | Complexo habitacional icónico dá lugar a casino de luxo O terceiro investimento do bilionário malaio Chen Lip Keong em Phnom Penh vai ocupar um espaço que era ocupado por cerca de 500 famílias. Está avaliado em cerca de quatro mil milhões de dólares [dropcap]U[/dropcap]m conhecido complexo habitacional em Phnom Penh vai ser transformado num casino de luxo, à medida que o Camboja atrai cada vez mais turistas e apostadores chineses, foi ontem noticiado. A empresa NagaCorp, controlada pelo bilionário malaio Chen Lip Keong e cotada na bolsa de Hong Kong, é a única operadora com licença exclusiva para explorar casinos até 2035 na capital cambojana, onde tem já os complexos Naga1 e Naga2. O terceiro casino da operadora em Phnom Penh, o Naga3, avaliado em cerca de quatro mil milhões de dólares, vai ocupar o conhecido ‘White Building’, onde residiam centenas de famílias, de acordo com o jornal South China Morning Post (SCMP). Em declarações à imprensa, na terça-feira, o vice-presidente da NagaCorp, Philip Lee, salientou que o Naga3 é, até agora, “o maior investimento do sector privado no país” e vai ocupar mais de 16 mil metros quadrados, incluindo o ‘White Building’. “Tem aproximadamente o mesmo tamanho que o Marina Bay Sands, em Singapura, que é o complexo de entretenimento mais caro do mundo”, afirmou. Inquilinos revoltados Estas notícias causaram indignação em antigos residentes do ‘White Building’, aos quais tinha sido prometido, pelas autoridades, novos alojamentos no edifício depois de uma remodelação. “[O Governo] contou-nos uma mentira tão grande. É um sítio muito central, o Governo devia renová-lo e permitir que continuássemos a viver aqui (…), mas eles só pensam em lucro”, lamentou Nhek Chantha, citada pelo diário de Hong Kong. A cambojana, de 67 anos, e os dois filhos foram expulsos em 2017, a par das restantes 497 famílias, depois de as autoridades municipais terem começado a emitir, dois anos antes, ordens de despejo, alegando que a estrutura não era segura. Uma empresa japonesa, a Arakawa, foi então incumbida pelo Governo de transformar o local num condomínio residencial, com pelo menos cinco andares de apartamentos sociais para antigos moradores. Em 2016, o ministro do Ordenamento Territorial, Planeamento Urbano e Construção cambojano, Chea Sophara, pediu paciência aos cambojanos e afirmou que o novo complexo devia ficar concluído até 2020. Esta segunda-feira, a empresa nipónica escusou-se a comentar a situação e o porta-voz daquele ministério cambojano, Seng Lot, disse não saber como ou por que razão o terreno havia sido transferido para a NagaCorp. Construído em 1963 como parte de um complexo cultural em frente ao rio Bassac, o ‘White Building’ foi, tal como resto da cidade, ocupado pelo regime dos Khmeres Vermelhos, em 1975. Depois da queda do regime, em 1979, uma multidão variada, incluindo artistas e músicos, mudou-se para o edifício, transformando-o numa “unida e colorida” comunidade, descreveu o SCMP. Aos moradores foi oferecida uma compensação de 1.400 dólares por metro quadrado, com muitos a protestar que era insuficiente para encontrarem novos alojamentos na cidade. Concorrência asiática O Camboja é, como o Vietname, o Japão e a Coreia do Sul, uma das principais ameaças ao monopólio do jogo em Macau, considerou o analista de jogo Grant Govertsen, em entrevista à agência Lusa, em Novembro. Uma opinião corroborada pelo fundador da Newpage Consulting, consultora especializada em regulação de jogos em Macau, em declarações à Lusa há um mês. Para David Green, a entrada em força de outros países asiáticos no jogo, como o Camboja e o Vietname, pode levar os turistas chineses que visitam Macau para essas paragens. Em 2018, Macau recebeu 35,8 milhões de turistas, dos quais 25 milhões são oriundos da China. No mesmo ano, o número de turistas chineses no Camboja cresceu cerca de dois terços, para mais de dois milhões. O investimento chinês redefiniu a costa do Camboja, dando lugar a grandes projectos turísticos, campos de golfe, aeroportos e parques temáticos. No final do ano passado, o Camboja tinha 150 casinos licenciados, vocacionados sobretudo para os apostadores chineses, uma vez que o jogo é proibido para a população local. Com um lucro de 390 milhões de dólares em 2018, a NagaCorp pagou 8,8 milhões de dólares em impostos.
Hoje Macau China / ÁsiaPyongyang | Partido dos Trabalhadores debate “actuais tensões” [dropcap]O[/dropcap] dirigente da Coreia do Norte, Kim Jong-un, convocou ontem uma reunião plenária do comité central do Partido dos Trabalhadores, no poder, para debater as “actuais tensões”, noticiou a imprensa oficial norte-coreana. Este encontro do comité central vai decorrer depois do fracasso da segunda cimeira, no final de Fevereiro passado, em Hanoi, entre Kim e o Presidente dos Estados Unidos. A agência de notícias oficial norte-coreana KCNA deixou entender que a reunião se ia focar no desenvolvimento económico. O objectivo da reunião plenária vai ser “discutir e decidir a nova orientação e os modos de luta de acordo com as necessidades permanentes da realidade revolucionária”, indicou. “O líder supremo sublinhou a necessidade de altos funcionários mostrarem um alto sentido de responsabilidade e criatividade, bem como espírito revolucionário de auto-suficiência e força”, acrescentou, numa referência a um encontro de Kim com quadros do regime, na terça-feira. A “nova linha estratégica” foi definida, há cerca de um ano, por Kim como “a construção económica socialista”, acrescentando que o desenvolvimento dos programas nucleares do país estava concluído. O parlamento norte-coreano deverá reunir-se esta quinta-feira. Trump e Kim reuniram-se pela primeira vez em Junho de 2018, em Singapura, onde assinaram uma declaração vaga sobre a “desnuclearização da península coreana”. Em Hanoi, Kim Jong-un reclamou o fim das sanções económicas aplicadas a Pyongyang pela ONU, na sequência de vários testes nucleares e de mísseis. O encontro terminou sem um acordo sobre a desnuclearização, necessária para diminuir as sanções contra o regime. Apesar do fracasso, os dois lados manifestaram vontade em continuar as negociações e Trump destacou repetidamente as boas relações com o líder norte-coreano.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Vendas de automóveis recuaram em Março pelo 10.º mês consecutivo Apesar da resistência da economia chinesa às adversidades provocadas pela guerra comercial com os Estados Unidos, as vendas de veículos mantêm a tendência de queda. Por outro lado, as transacções de carros eléctricos dispararam, com as vendas a registarem um aumento de 100,9 por cento, face a igual período do ano passado [dropcap]A[/dropcap]s vendas de automóveis na China caíram em Março, pelo décimo mês consecutivo, em termos homólogos, informou ontem a imprensa oficial, reflectindo o abrandamento na economia chinesa, numa altura de fricções comerciais com Washington. Segundo o jornal oficial em língua inglesa China Daily, venderam-se, no total, 1,78 milhões de veículos utilitários desportivos, ‘minivans’ e ‘sedans’, uma queda de 12 por cento, face a Março de 2018. Apenas os carros eléctricos registaram um aumento das vendas, na sequência da atribuição de subsídios pelo Governo, com 111 mil unidades vendidas, em Março, mais 100,9 por cento do que no mesmo mês do ano anterior. Em 2018 a venda de automóveis na China caiu 5,8 por cento, para 22,35 milhões de veículos, no primeiro declínio anual desde 1990, coincidindo com outros indicadores negativos da economia chinesa. Trata-se de um retrocesso para as principais construtoras do sector, que anunciaram planos de milhares de milhões de euros, visando cumprir as metas do Governo chinês para o desenvolvimento de veículos eléctricos. A segunda maior economia do mundo cresceu 6,6 por cento, no ano passado, o ritmo mais lento em quase três décadas. A actividade económica permaneceu robusta durante a maior parte do ano, apesar da guerra comercial que despoletou, no Verão passado, com Washington, suscitada pelas ambições chinesas para o sector tecnológico. No entanto, as exportações caíram em Dezembro, reflectindo os efeitos da entrada em vigor de uma segunda ronda de taxas alfandegárias nos Estados Unidos, sobre cerca de 200.000 milhões de dólares de bens oriundos da China. A queda nas vendas faz prever que Pequim deverá reduzir os impostos ou oferecer outros incentivos à compra de automóveis.
Hoje Macau SociedadeGIF | Jogo lidera em transacções suspeitas no primeiro trimestre [dropcap]A[/dropcap]s transacções suspeitas de branqueamento de capitais e/ou de financiamento do terrorismo (STRs na sigla em inglês) relacionadas com o sector do jogo somaram 72,5 por cento do total das participações durante o primeiro trimestre de 2019, de acordo com o Gabinete de Informação Financeira (GIF). “O número total de STRs recebidos pelo GIF durante o primeiro trimestre de 2019 foi de 699, o que significa uma diminuição de 23,1 por cento em relação ao mesmo período de 2018”, quando se registaram 909 participações. “A mudança deveu-se principalmente à diminuição significativa do número de STRs reportados pelo sector financeiro e por outras instituições”, pode ler-se na nota do organismo público. Os sectores financeiro e do jogo acumularam a larga maioria das participações de transacções suspeitas, com 24,2 por cento e 72,5 por cento, respectivamente. As participações quanto à actividade de outro tipo de instituições ficaram-se pelos 3,3 por cento. Durante o primeiro trimestre de 2019, o GIF recebeu 507 participações relativas à indústria do jogo, o que representou uma ligeira descida de quase 6,3 por cento. Contextualizando, no ano passado o GIF recebeu 3.716 participações de transacções suspeitas de branqueamento de capitais e/ou de financiamento do terrorismo, mais 20,45 por cento do que em relação a 2017.
Hoje Macau SociedadeWynn rompe negociações para comprar operadora de casinos australiana Crown [dropcap]A[/dropcap] Wynn Resorts, com casinos nos Estados Unidos e Macau, pôs fim às negociações para comprar a maior operadora de casinos da Austrália, a Crown Resorts, divulgadas na terça-feira. Num breve comunicado, a Wynn anunciou ter colocado um ponto final em “todas as discussões” com a empresa australiana, que opera casinos em Melbourne, Perth, Londres e, em breve, Sydney (Austrália). “Na sequência da divulgação prematura de discussões preliminares, a Wynn encerrou todas as discussões com a Crowns Resorts Limited relativamente a qualquer transacção”, de acordo com a nota, na íntegra, do grupo com sede em Las Vegas, nos Estados Unidos. Na terça-feira, a Crown avançou estar em discussões confidenciais sobre uma oferta da Wynn, embora tenha sublinhado que a proposta estava sujeita a condições: “Não há certeza de que estas discussões resultem numa transacção”, apontou. As notícias da possível compra da Crown pela Wynn levaram de imediato a um aumento de 20,5% no preço das acções na bolsa de valores de Sydney para 10,07 dólares australianos. O valor da Crown caiu 20% desde meados de 2018, devido a resultados inferiores ao esperado. Para os executivos da empresa, a quebra nos lucros deveu-se a uma diminuição dos gastos dos apostadores asiáticos. Em 2016, 19 funcionários do grupo australiano foram presos na China sob a acusação de promoverem ilegalmente jogos de fortuna e azar. Um tribunal chinês sentenciou 16 dos réus, incluindo três cidadãos australianos, a penas de nove a dez meses de prisão, e os três restantes foram libertados após perto de um mês de detenção. Na sequência deste caso, a Crown abandonou os planos de investimento em Macau e em Las Vegas, e chegou mesmo a vender terrenos na capital do jogo norte-americana ao Wynn por 373 milhões de dólares. As receitas operacionais da Wynn Resorts no último trimestre de 2018 subiram 4%, para 1,70 mil milhões de dólares, com o Palace, na faixa de casinos do Cotai, entre as ilhas da Taipa e de Coloane, a render mais 84 milhões, enquanto o Wynn Macau perdeu 30,3 milhões.
Hoje Macau China / ÁsiaNove líderes do movimento dos guarda-chuvas em Hong Kong aguardam sentença em liberdade [dropcap]N[/dropcap]ove líderes do maior movimento de desobediência civil de Hong Kong, condenados na terça-feira por perturbarem a ordem pública durante os protestos de 2014, vão conhecer a sentença em 24 de Abril, anunciou hoje o tribunal. Os condenados vão esperar a leitura da sentença em liberdade, sob fiança, indicou. Os nove, que enfrentam penas de até sete anos de prisão por cada acusação, são os últimos activistas condenados pelos protestos, que se prolongaram por 79 dias em 2014, em Hong Kong. Entre os condenados, estão os também fundadores do movimento “Occupy Central”, em 2013: Chan Kin-man, de 59 anos, professor de sociologia, Benny Tai, de 54, professor de direito, e Chu Yiu-ming, de 74 anos, ministro da Igreja Baptista de Chai Wan em Hong Kong. Os três foram considerados culpados de conspiração para perturbar a ordem pública, de incitarem ao motim através da obstrução ilegal de lugares públicos, bem como de incitar e mobilizar manifestantes “para alterar a ordem pública”. De acordo com o tribunal, o objectivo dos activistas era “forçar as autoridades a responder às suas reclamações políticas”. Os deputados Tanya Chan e Shiu Ka-chun, os ex-líderes estudantis Tommy Cheung Sau-yin e Eason Chung Yiu-wa e o vice-presidente da Liga dos Sociais-Democratas, Raphael Wong Ho-ming, foram considerados culpados de incitação para cometer distúrbios públicos. Também o ex-deputado democrata Lee Wing-tat, de 63 anos, foi considerado culpado de uma acusação de incitamento. Vários activistas foram já julgados pelo Ministério da Justiça, estando a cumprir penas de prisão. Alguns foram proibidos de concorrer às eleições e outros foram desqualificados do Conselho Legislativo da região administrativa especial chinesa. Entre 28 de Setembro e 15 de Dezembro de 2014, centenas de milhares de pessoas paralisaram quarteirões inteiros da antiga colónia britânica para exigir o sufrágio universal na escolha do chefe do Executivo de Hong Kong, nomeado por uma comissão pró-Pequim. Mas as autoridades chinesas não recuaram. Em 28 de Setembro, o movimento “Occupy Central” decretou o início da sua campanha de desobediência civil, juntando-se a outros protestos em curso há dois dias junto à sede do Governo de Hong Kong. A acção da polícia desencadeou manifestações mais importantes, levando ao movimento pró-democracia, também conhecido como a revolta dos guarda-chuvas amarelos, usados pela multidão para se proteger das granadas de gás lacrimogéneo. Chan, Tai e Chu renderam-se à polícia em Dezembro de 2014, pondo fim ao movimento “Occupy Central”.
Hoje Macau EventosCasino Lisboa soma 13 anos e “mais de 22 milhões de visitantes” [dropcap]O[/dropcap] Casino Lisboa, que celebra 13 anos no próximo dia 19, recebeu “mais de 22 milhões de visitantes” ao longo deste período, o que corresponde a cerca de dois milhões por ano, divulgou ontem a Estoril Sol, cujo presidente do conselho de administração é Stanley Ho. Os empresários Ambrose So e Pansy Ho, ligados às concessionárias de jogo Sociedade de Jogos de Macau e MGM China, respectivamente, também fazem parte do conselho de administração. “A elevada afluência de público – uma média diária de cerca de 5.000 entradas – reflecte, de forma inequívoca, o êxito do Casino Lisboa”, que surgiu da reconversão do Pavilhão do Futuro da Expo’98. As celebrações deste ano são protagonizadas, no dia 19, pelos Orelha Negra, que actuam, com entrada livre, a partir das 22:00, no palco central do Arena Lounge, seguindo-se o DJ João Afonso. Samuel Mira a.k.a. Sam the Kid, Dj Cruzfader, Francisco Rebelo, João Gomes e Fred, formam a banda Orelha Negra, banda que se deu a conhecer em 2010. O Auditório dos Oceanos, uma das valências do casino no Parque das Nações, teve em cartaz, ao longo destes 13 anos, 147 espectáculos diferentes, num total de 2.561 sessões, aos quais assistiram “mais de 1,25 milhões de espectadores”. “STOMP”, “Momix”, “Crazy Horse”, “Os Melhores Sketches dos Monty Python”, “A Verdadeira Treta”, “Apanhados na Rede”, “Slava Snow Show”, “40 e Então?”, “Nome Próprio”, “God”, “Filho da Treta”, “Mais Respeito que Sou Tua Mãe” e “Raul” foram alguns dos espectáculos deste palco, inaugurado em 2006 pela cantora lírica Natalie Choquette. No ano passado, este palco recebeu sete produções. A peça protagonizada por Maria Rueff, “Zé Manel Taxista”, foi a que mais sessões registou (42). Este ano já subiram ao palco quatro produções, entre as quais “Lusitânia Comedy Club – O Porquê da Coisa”, que lidera o numero de sessões deste ano (11). O Arena Lounge, o espaço central do Casino Lisboa, foi palco de espectáculos musicais e actuações de novo circo. Acolheu “mais de 650 bandas, além da música ambiente, da rubrica Juke Box” e 180 artistas circenses, de vários países. A Orquestra Bamba Social & Tiago Nacarato foi a única que este ano esteve em cartaz, no Arena Lounge que, no ano passado, somou dez espectáculos, entre os quais concertos de Sérgio Godinho & Capicua e dos The Gift, que protagonizaram a passagem do ano. A Galeria de Arte do Casino Lisboa recebeu 125 exposições de arte contemporânea, desde 2006. Foi inaugurada com uma mostra do colombiano Fernando Botero. No ano passado foram apresentadas sete exposições, entre as quais “Raul”, dedicada ao actor Raul Solnado (1929-2009), concebida por Patrícia Reis, do ateliê 004, e por José Poeira, da produtora de espectáculos UAU. Este ano já se realizaram as exposições de pintura “Percursos II – Variações”, de José Cardoso, e “Otros Mundos II”, de Sílvia Zang.
Hoje Macau EventosObra de José Saramago ganha nova urgência com o regresso dos populismos, diz João Botelho [dropcap]A[/dropcap] obra de José Saramago “O Ano da Morte de Ricardo Reis” ganha uma nova urgência com o regresso dos populismos, afirma o realizador João Botelho, que decidiu adaptar o romance para o cinema face à sua actualidade. Depois de pegar noutros autores importantes da literatura portuguesa, como Agustina Bessa-Luís, Fernando Pessoa ou Eça de Queirós, o realizador João Botelho queria adaptar José Saramago, acabando a actualidade por o ‘empurrar’ para “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, que tem como pano de fundo a afirmação do Estado Novo e o surgimento da extrema direita na Europa. Na obra de José Saramago, Ricardo Reis regressa do Brasil, um mês depois de o seu ‘criador’ Fernando Pessoa morrer. A Lisboa que encontra, em 1935/1936, é cinzenta e triste, onde quase sempre chove. Os mais pobres juntam-se para o bodo, assiste-se à escolha das cores do fascismo português num comício no Campo Pequeno, um gerente de hotel sempre à procura de saber tudo simboliza os bufos, ao mesmo tempo que o heterónimo de Pessoa lê notícias que vêm do resto da Europa, de Mussolini, de Hitler, do arranque da Guerra Civil espanhola. “Eu acho que, nos tempos que correm, estamos a viver umas épocas muito parecidas, muito estranhas, com o regresso dos populismos, nacionalismos, guerras religiosas em que parece que estamos na Idade Média e este texto é actual”, disse João Botelho, que falava à agência Lusa durante as rodagens do filme, em Coimbra. Luís Lima Barreto, que interpreta Fernando Pessoa na longa-metragem de Botelho, também salienta “uma maior urgência” em adaptar esta obra. “Este filme há dez anos ainda se podia perguntar o porquê de se o fazer. Neste momento, as pequenas referências que há no filme são tão parecidas com o que se está a passar no mundo que até faz impressão”, diz. O actor conta que, a estudar o texto, prendeu-se com uma frase de Pessoa a Ricardo Reis: “O mundo ainda está pior do que quando o deixei”. “Neste momento, as coisas estão absurdamente perigosas”, constata. Também o actor brasileiro Chico Diaz, que interpreta Ricardo Reis, considera “extremamente oportuno” o momento de adaptação da obra. “Vem com muita força para tornar clara a discussão que estamos a viver no mundo inteiro. O filme veio para tornar essa discussão bem fértil”, acrescenta, apontando para o seu próprio país que está a viver “um momento ímpar, que chega a ser surreal”, onde “a razão se perdeu”. Nesse sentido, acredita que também é oportuno que a discussão se faça “através da poesia”, porque “eles não suportam poesia, não suportam a arte”. Pilar del Río, que preside à Fundação José Saramago e que esteve presente em Coimbra, durante as rodagens, evoca o “Ensaio sobre a Lucidez” e a sua epígrafe – “Uivemos, disse o cão” -, para salientar que se está num momento em que “qualquer ser humano com consciência tem de uivar”. Quando soube que João Botelho ia adaptar o filme, a tradutora, jornalista e companheira de Saramago desejou “ser um Estado com capacidade de condecorá-lo”, notando o risco de se atrever “com uma obra tão grande”, depois de Saramago também ter tido a coragem de enfrentar um símbolo de Portugal, com uma carga “de sabedoria, de humor de ironia, com uma perspectiva contemporânea, que destroça toda essa mitologia dos anos 30”. “A História é importante neste momento, porque estamos a incorrer, novamente, alegremente, cantando e dançando – como dizia o outro – nas mesmas atrocidades, a cair na perversão, no desprezo do outro e no elogio da ditadura”, afirma. Nesse sentido, Pilar del Río defende que é preciso ler, não precisa de ser Saramago ou sequer literatura, mas “ler pensamento, filosofia, história”. “Ao ler, somos mais fortes. Se somos mais fortes, não seremos tão facilmente empurrados pelos ventos”, realça. Além de um filme, a adaptação de João Botelho vai originar uma série de cinco episódios a ser emitida na RTP, informou o produtor Alexandre Oliveira, acrescentando que o orçamento é de cerca de dois milhões de euros e que a estreia comercial está prevista para 2020. As filmagens vão decorrer até final de maio, sendo grande parte do filme rodado em Lisboa.
Hoje Macau EventosEscritora Olga Tokarczuk venceu Booker Internacional há um ano e regressa aos finalistas [dropcap]A[/dropcap] escritora polaca Olga Tokarczuk, vencedora no ano passado do Prémio Man Booker Internacional de literatura, regressa este ano aos seis finalistas, ontem anunciados pela organização, dos quais será conhecido o vencedor no dia 21 de Maio. Numa lista dominada por mulheres, o escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez é o único homem nomeado, com “A Forma das Ruínas”, também o único romance, entre os finalistas deste ano, até agora editado em Portugal, distinguido no Correntes d’Escritas, no ano passado. A francesa Annie Ernaux, a alemã Marion Poschmann, a chilena Alia Trabucco Zeran e a omanita Jokha Alharthi são as outras quatro autoras candidatas ao prémio Man Booker Internacional, com os seus respectivos tradutores. O prémio tem o valor de 50 mil libras e é repartido igualmente por escritor e tradutor. Os seis finalistas foram seleccionados da “lista longa” conhecida há cerca de um mês, apurada entre os 108 títulos em 25 idiomas, apresentados a concurso este ano. Os seis livros finalistas deste ano foram escritos originalmente em cinco idiomas: árabe, francês, espanhol, alemão e polaco. O livro “Drive your plow over the bones of the dead”, de Olga Tokarczuk, com tradução de Antónia Lloyd-Jones, colocou novamente a autora na corrida ao prémio Man Booker Internacional, depois de há um ano ter vencido com “Flights”/”Viagens”, obra editada em Portugal pela Cavalo de Ferro. Da mesma lista de finalistas consta o colombiano Juan Gabriel Vásquez, com “The Shape of the ruins”, traduzido por Anne McLean, e que se encontra publicado em Portugal desde 2017, pela Alfaguara, como “A Forma das Ruínas”, romance vencedor do Prémio Literário Casino da Póvoa, em 2018, no festival Correntes d’Escritas da Póvoa de Varzim. Também traduzido para inglês, do espanhol, outro finalista é o romance “The Remainder”, da chilena Alia Trabucco Zerán. A tradução é assinada por Sophie Hughes. Outros finalistas são “The Pine Island”, da alemã Marion Poschmann, com tradução de Jen Caleja, “The Years”, da francesa Annie Ernaux, traduzido para o inglês por Alison L. Strayer, e “Celestial Bodies”, de Jokha Alharthi, de Omã, traduzido por Marilyn Booth. A lista foi seleccionada por um painel de cinco jurados: a autora e premiada historiadora Bettany Hughes (Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural 2018), a tradutora e presidente do grupo PEN do Reino Unido, Maureen Freely, a filósofa Angie Hobbs, o escritor e comediante Elnathan John e o ensaísta e romancista Pankaj Mishra. Bettany Hughes, que preside o júri do Man Booker Internacional 2019 afirmou: “Aqui está a sabedoria em todas as suas formas. Obras inesperadas e imprevisíveis levaram-nos a escolher esta vigorosa lista [de finalistas]. Subversivos e intelectualmente ambiciosos, com ‘golpes’ bem-vindos de inteligência, cada um destes livros sustenta um diálogo criativo. Fomos apanhados pela lucidez e a força subtil de todas as traduções”, lê-se no comunicado divulgado esta noite pelo prémio Man Booker Internacional. O jornal The Guardian destaca o facto de os finalistas apresentarem este ano o maior número de sempre de mulheres escritoras – cinco, em seis. Tendo em conta a lista de vencedores do prémio, desde a sua criação, se Olga Tokarczuk repetir a vitória, verificar-se-á então, pela primeira vez, a entrega do prémio a um mesmo autor, e em dois anos sucessivos. O escritor albanês Ismail Kadare, o húngaro László Krasznahorkai, o coreano Han Kang e o israelita David Grossman foram outros autores distinguidos com o Man Booker Internacional, incluindo os de língua inglesa Chinua Achebe, da Nigéria, Alice Munro, do Canadá, e os norte-americanos Philip Roth e Lydia Davis. O prémio é atribuído todos os anos a um único livro, traduzido para inglês e publicado no Reino Unido, sendo elegíveis tanto romances, como antologias de contos. Este é o último prémio atribuído sob o patrocínio do Man Group, multinacional que, desde 2002, manteve uma parceria com a Fundação Booker Prize. No dia 1 de Junho, dez dias após o anúncio do vencedor do Prémio Man Booker Internacional de 2019, passa a vigorar um novo acordo de financiamento dos prémios, com a Fundação Crankstart, pondo fim a 18 anos daquele patrocínio. Posteriormente, o prémio original será novamente conhecido como Prémio Booker e o prémio que distingue os melhores trabalhos de ficção traduzidas para língua inglesa passará a chamar-se Prémio Booker Internacional.
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresas europeias querem “resultados concretos” da China após cimeira com pouco sucesso [dropcap]A[/dropcap] Associação Europeia das Câmaras de Comércio e Indústria (Eurochambers) pediu ontem “resultados concretos” da China, nomeadamente na eliminação de barreiras no acesso ao mercado chinês, após uma cimeira bilateral com mais intenções do que resultados. “As empresas europeias querem ver resultados concretos e emergentes para operadores económicos da União Europeia [UE] após a cimeira de hoje, em questões como uma maior abertura do mercado, a protecção das indicações geográficas e ainda a criação de condições mais equitativas para as empresas da UE na China”, salienta a Eurochambers num comunicado enviado à agência Lusa. De acordo com aquela entidade, “estes são elementos cruciais para as empresas continuarem a construir uma parceria tão valiosa e tão estratégica como a que existe entre a UE e a China”. Citado pela nota, o presidente da Eurochambers, Christoph Leitl, insiste que “as palavras não bastam, são necessárias acções concretas, num prazo razoável, para benefício do sistema [comercial] multilateral, mas também do próprio relacionamento bilateral”. Segundo este responsável, a “Europa não consegue encetar sozinha” uma reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), pelo que a China “deve actuar rapidamente para rever e mitigar alguns dos problemas do seu modelo económico” no comércio externo. “Acho que alguns dos nossos parceiros estão a agir mal ao subestimar a importância e a urgência de preservar a OMC”, vinca Christoph Leitl. O responsável afirma ainda ser “decepcionante” que, após cinco anos de negociações entre a UE e a China, ainda não tenha sido possível “compatibilizar as ambições [económicas] das duas partes e não exista uma meta realista para que isso aconteça”. Criada em 1958, a Eurochambers representa mais de 20 milhões de negócios em toda a Europa, a quase totalidade de pequenas e médias empresas (PME), sendo composta por 46 câmaras de comércio e de indústria, incluindo a portuguesa. A nota foi divulgada após uma cimeira bilateral entre a UE e a China realizada hoje em Bruxelas. Numa declaração conjunta divulgada após a ocasião, foram assumidos compromissos como a mobilização de esforços para a reforma da OMC e a intensificação de conversações bilaterais sobre subsídios industriais e sobre condições de igualdade nos acessos aos mercados. Porém, não é dito como isso será feito, pelo que, para traçar a cooperação nesta área do comércio, a China e a UE vão “reunir-se assim que possível”, segundo o documento. Numa cimeira que os analistas já esperavam ter poucos resultados, foram ainda reafirmados compromissos na área da cibersegurança, do combate às alterações climáticas e da defesa. Na cimeira participaram os presidentes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, respetivamente, assim como primeiro-ministro chinês, Li Keqiang. Marcaram ainda presença a Alta Representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini, e o vice-presidente da Comissão Europeia para o Emprego, Crescimento, Investimento e Competitividade, Jyrki Katainen. A China é dos maiores parceiros económicos da UE, juntamente com os Estados Unidos, tendo sido, no ano passado, o principal mercado de importação para os países da União, num total de 394 mil milhões de euros. No que toca às exportações da UE, foi o segundo país destinatário, num total de 210 mil milhões de euros, segundo dados do gabinete de estatísticas da UE, o Eurostat, referentes a 2018.
Hoje Macau China / Ásia MancheteONU diz que China e EUA seriam os maiores beneficiários de um Brexit sem acordo [dropcap]A[/dropcap] China e os Estados Unidos seriam os países que mais beneficiariam de um ‘Brexit’ sem acordo, enquanto a União Europeia e a Turquia poderiam ser os mais prejudicados, segundo um estudo ontem divulgado pela ONU. A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicou um estudo sobre as consequências para a economia internacional com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE). A China, o maior exportador mundial, poderia ganhar 10,2 mil milhões de dólares com vendas adicionais ao Reino Unido, seguindo-se os Estados Unidos, com um crescimento das suas exportações de 5,3 mil milhões de dólares, de acordo com os dados do relatório. No estudo refere-se que a aprovação de um ‘Brexit’ sem acordo poderia beneficiar também o Japão, Tailândia, África do Sul, Índia, Brasil, Rússia, Vietname, Argentina e Nova Zelândia. Por outro lado, prevê-se no estudo que a União Europeia perderia 34,5 mil milhões de dólares em exportações para o Reino Unido, enquanto a Turquia poderia sofrer uma redução de vendas de 2,4 mil milhões de dólares. A Coreia do Sul, Paquistão, Noruega, Islândia, Suíça e Camboja também poderiam ver a sua economia prejudicada. “O plano britânico de reduzir as taxas à sua lista de ‘nações mais favorecidas’ incrementaria a competitividade de países eminentemente exportadores, como os Estados Unidos e a China”, afirmou a directora de comércio internacional e matérias-primas da UNCTAD, Pamela Coke-Hamilton.
Hoje Macau China / ÁsiaChina quer eliminar restrições no acesso ao ‘hukou’ [dropcap]A[/dropcap] China anunciou ontem que vai abolir gradualmente as restrições no acesso ao ‘hukou’ – espécie de passaporte interno -, em áreas urbanas até três milhões de habitantes, beneficiando 100 milhões de trabalhadores migrantes. O documento, difundido pela Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento, o órgão máximo chinês de planificação económica, requer que as autoridades locais permitam o acesso a serviços básicos a trabalhadores migrantes, em cidades com entre um e três milhões de habitantes. A medida abrange 100 milhões de pessoas, segundo a imprensa local, mas exclui automaticamente as principais cidades do país, como Pequim, Xangai, Cantão ou Shenzhen – todas com mais de dez milhões de habitantes -, ou a maioria das capitais de província. Em 2018, o número de população urbana da China fixou-se em quase 60 por cento, segundo o Gabinete Nacional de Estatísticas. Com cerca de 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo. No mesmo ano, quase 14 milhões de rurais migrados nas cidades obtiveram o ‘hukou’, segundo o relatório de trabalho do Governo, entregue, no mês passado, pelo primeiro-ministro, Li Keqiang, à Assembleia Nacional Popular. As autoridades priorizaram trabalhadores com formação universitária ou profissional, detalha o mesmo documento. Filhos esquecidos A autorização de residência ‘Hukou’ é um sistema implantado em 1958, durante o Governo de Mao Zedong, para controlar a migração massiva dentro do país e assegurar a continuidade da produção agrícola e a estabilidade social nos centros urbanos. O restrito sistema de residência priva os trabalhadores de serviços básicos, como o acesso à educação ou saúde pública, rompendo com a estrutura familiar. Devido às restrições, milhões de trabalhadores optam por deixar os filhos ao cuidado de familiares nas aldeias de origem. Em muitos casos, os pais só visitam as crianças uma vez por ano. Um censo divulgado pelo Governo, em 2015, estima que o total de crianças “deixadas para trás” ascende a 9,2 milhões, mas estimativas independentes colocam aquela cifra nos 61 milhões. Em 2018, o número de população migrante que não aparece nos censos das cidades onde residem fixou-se em 241 milhões de pessoas.
Hoje Macau China / ÁsiaWeibo | Suspensas 50 contas por “informação política prejudicial” A campanha para “limpar” a internet de conteúdos “nocivos”, conheceu ontem um novo capítulo com o cancelamento de mais 50 contas, entre as quais a de académicos e jornalistas com milhões de seguidores [dropcap]A[/dropcap] rede social Weibo, equivalente chinês ao Twitter, suspendeu mais de cinquenta contas de “líderes de opinião” da China, por publicação de “informação política prejudicial”, informou ontem um jornal de Hong Kong. Segundo o South China Morning Post (SCMP), entre os perfis suspensos consta Yu Jianrong, um investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais que tem mais de sete milhões de seguidores e é visto como defensor de “políticas liberais”. A conta de Yu vai estar inacessível durante os próximos 90 dias. “É muito estranho: não sei qual dos meus comentários violou os regulamentos”, disse, citado pelo SCMP. O académico acrescentou que, nos últimos dois anos, se absteve de publicar qualquer mensagem política na sua conta. Para o Weibo, “informação política prejudicial” não se refere apenas a conteúdo que viole as leis ou a Constituição da China, mas também a rumores ou “informações adversas”, susceptíveis de minar os “valores da sociedade”. “São temas quotidianos sobre arte. Não houve qualquer” informação política, garantiu o especialista. Yu ganhou notoriedade nas redes sociais chinesas em 2011, quando os regulamentos eram menos restritos, através da publicação de uma série de fotografias de crianças a mendigar, visando reuni-los com os seus pais e promover a doação de livros para as áreas rurais. Outra das contas “silenciadas” nos próximos 90 dias é a de Wang Xiaolei, ex-repórter da agência noticiosa oficial Xinhua. Apesar de não publicar mensagens com conteúdo político explicito, o antigo jornalista, que tem meio milhão de seguidores, refere-se muitas vezes à dinastia Tang ou a histórias sobre artes marciais de Jing Song – o pseudónimo da jornalista de Hong Kong Louis Cha -, vistas como uma alusão indirecta à actualidade na China. Rede “limpa” Estas suspensões fazem parte de uma campanha para “limpar e retificar” a Internet, lançada, no ano passado pela Administração da China do Ciberespaço (CAC), a agência encarregue da censura dos conteúdos ‘online’. Em Novembro passado, a agência anunciou a suspensão de 9.800 contas nas redes sociais do país, incluindo no Weibo e WeChat. O regulador chinês para o ciberespaço considerou ainda que o Weibo “violou as leis e regulamentos do país, ao orientar a opinião pública para a direcção errada e exercer má influência”. As autoridades puniram a rede social com a suspensão, por uma semana, de algumas das suas ferramentas, incluindo a lista dos tópicos mais compartilhados, ou um serviço pago para fazer perguntas a celebridades. A censura imposta por Pequim no ciberespaço resulta no bloqueio de vários portais estrangeiros e alguns serviços de “gigantes” do sector, como o Facebook, Google ou Twitter. Considerada até há poucos anos o espaço mais livre na China, a Internet tem sido alvo de crescente censura, após a aprovação de uma lei de segurança no ciberespaço, no Verão passado. O Governo ordenou aos responsáveis por conteúdo ‘online’ que forneçam informação que esteja “ao serviço do socialismo e da orientação correcta da opinião pública”. O Weibo tem quase 500 milhões de usuários activos. O país mais populoso do mundo, com cerca de 1.400 milhões de habitantes, é também o que tem a maior população ‘online’ – mais de 800 milhões.
Hoje Macau Manchete SociedadeUniversidades de Évora e de Macau unem-se em projectos de tradução e de património [dropcap]A[/dropcap] Universidade de Évora e a Universidade da Cidade de Macau acordaram ontem parcerias nas áreas do património cultural e da informática, aplicada à saúde e centrada na tradução automática entre chinês e português. A assinatura dos memorandos de entendimento para estas parcerias decorreu de forma paralela à cerimónia de atribuição, pela Universidade de Évora (UE), do grau de Doutor ‘Honoris Causa’ a Chan Meng Kam, presidente do Conselho da Universidade da Cidade de Macau (UCM), realizada na tarde de ontem na cidade alentejana. A reitora da UE, Ana Costa Freitas, explicou aos jornalistas, no final da cerimónia, terem sido formalizados “dois memorandos de entendimento”, um deles “na área do património cultural” e que implica a criação de uma cátedra na universidade alentejana, no valor de “cerca de 50 mil euros”. Esta cátedra permitirá “financiar estudos sobre a herança cultural” comum entre Macau e Portugal, com o envolvimento do Laboratório HERCULES da UE, indicou. “Vamos receber cá pessoas para fazerem estágios e vamos mandar para lá pessoas para fazerem também estágios e iremos formar alguém que fique à frente do laboratório lá [em Macau]”, explicou. Segundo Ana Costa Freitas, já foi efectuado o inventário dos equipamentos que a Universidade da Cidade de Macau terá de comprar “para ter um laboratório minimamente apetrechado e, depois”, começa-se “logo a trabalhar”. Na área da informática, explicou a reitora, a colaboração prevê a criação de laboratórios conjuntos entre as duas universidades assentes num sistema “de tradução por computador” de chinês-português e vice-versa. “Já estamos a começar, por exemplo, na parte do ‘machine learning’ [a máquina automática de tradução] já temos o laboratório”, frisou Ana Costa Freitas. No protocolo relativo à área da informática, consultado pela agência Lusa, pode-se ler que a parceria abrange também um laboratório colaborativo neste âmbito centrado na saúde. A realização de cursos de verão, de turismo ou de arquitectura paisagista, na academia alentejana, recebendo alunos de Macau, será outro dos “frutos” da colaboração com a universidade privada macaense, segundo a reitora. Após receber a distinção da universidade portuguesa, Chan Meng Kam, revelou aos jornalistas que a Universidade da Cidade de Macau vai criar, “no próximo ano lectivo, uma licenciatura em estudos portugueses”. A Universidade da Cidade de Macau dedica “uma grande atenção aos estudos e programas centrados na aprendizagem da língua portuguesa”, frisou o responsável. Segundo Chan Meng Kam, o governo da China “presta uma grande atenção ao papel de Macau como plataforma” de ligação aos “países de língua portuguesa”. “Por isso, esperamos promover a cooperação entre a China e os países lusófonos em áreas como a educação, negócios, relações entre as comunidades e desenvolvimento de talentos”, argumentou. A reitora da UE considerou Chan Meng Kam uma “personalidade incontornável da Região Administrativa Especial de Macau”, da qual é “um dos grandes embaixadores”. “Uma região do mundo pela qual Portugal continua a ter um grande carinho e onde é bem visível o legado de séculos de trocas culturais”, frisou Ana Costa Freitas, na cerimónia de atribuição do doutoramento.
Hoje Macau SociedadeConselho das Comunidades Portuguesas | Rita Santos reeleita presidente [dropcap]R[/dropcap]ita Santos foi reconduzida no cargo de presidente do Conselho Regional da Ásia e Oceânia do Conselho das Comunidades Portuguesas, depois de ter sido reeleita por unanimidade. A eleição decorreu na sequência da reunião anual dos conselhos para a Ásia e Oceânia, que aconteceu na segunda-feira e ontem em Pequim. Em comunicado, o gabinete dirigido por Rita Santos adiantou que os “conselheiros tiveram uma reunião prolongada com José Augusto Duarte, Embaixador de Portugal em Pequim”, onde “foram passados em revista matérias relacionadas com o bem-estar das comunidades, o emprego, a educação e assuntos de natureza consular”. Armando Jesus fica com o pelouro das questões sociais, económicas e fluxos migratórios. Da delegação australiana, Sílvia Renda fica a cargo do ensino do português no estrangeiro, cultura, associativismo e comunicação social, enquanto Melissa Silva fica responsável pelas pastas das questões consulares e participação cívica e política.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Governo quer oferecer mais atracções para distribuir visitantes [dropcap]A[/dropcap] directora dos Serviços de Turismo de Macau defendeu ontem a oferta de mais atracções e locais de interesse para distribuir os turistas e aliviar a pressão sentida em algumas zonas do território. “O nosso problema em capacidade de acolhimento é que [o turismo] não é distribuído. (…) Temos de providenciar mais possibilidades, mais atracções”, afirmou Helena de Senna Fernandes. Macau recebeu em 2018 mais de 35 milhões de turistas, um número que já não está longe do ‘tecto máximo’ de 40 milhões de turistas por ano, segundo o Instituto de Formação Turística (IFT). Para a directora dos Serviços de Turismo, “há muitas áreas que estão a sentir esta pressão”, pelo que a estratégia passa por “distribuir os turistas por diferentes espaços”. Questionada sobre outras formas de limitar o número de visitantes, Senna Fernandes salientou que o território “não é um parque temático”, por isso há que pensar em “diferentes maneiras” de combater o problema. A aplicação de uma taxa turística, que está a ser estudada pelo Governo, não é, no entanto, a solução para limitar o número de entradas, defendeu. A responsável falava à margem da apresentação da 7.ª Expo de Turismo de Macau, que se realiza entre os dias 26 e 28 deste mês. No ano do 20.º aniversário da transferência de administração do território, o evento tem “um objectivo maior”, sublinhou Helena de Senna Fernandes. Neste sentido, a área de exposição foi ampliada para o dobro, de 11 mil para 22 mil metros quadrados, e o número de expositores aumentou de 550 para 800, num orçamento global de 23 milhões de patacas, indicou a responsável em conferência de imprensa. Até à data, está confirmada a participação de cerca de 430 empresas e entidades e de 450 compradores profissionais, provenientes de mais de 50 países e regiões.
Hoje Macau SociedadeMP | Inquérito aberto a indivíduo que se passou por condutor acidentado [dropcap]O[/dropcap] Ministério Público (MP) abriu um inquérito para investigar o caso de um homem que se fez passar por um condutor que terá sido responsável por um acidente de viação. O caso em questão aconteceu quando um automóvel bateu numa barreira de cimento. Depois do acidente, que terá acontecido de madrugada, o condutor abandonou o local e um amigo deslocou-se ao sítio onde ficou o carro sinistrado a fim de se fazer passar pelo responsável pelo acidente. Na sequência de diligências preliminares de investigação, o caso foi encaminhado pela polícia para o MP. Como tal, o amigo que se fez passar por condutor acidentado é agora suspeito de favorecimento pessoal, crime praticado por quem impede, frustra, ou ilude actividade probatória ou preventiva de autoridade, com intenção de evitar que outra pessoa, que praticou um crime, seja submetida a pena ou medida de segurança. O MP aplicou medida de coacção “em conformidade com a situação concreta”, sem que tenha sido esclarecida qual. Este crime é punido com pena de prisão até 3 anos, ou com pena de multa e também sancionado na forma tentada. Por outro lado, também o indivíduo que abandonou o local do acidente de viação, fugindo às suas responsabilidades, será alvo das “respectivas diligências de investigação criminal nos termos da lei”, de acordo com um comunicado emitido pelo MP. Além disso, o organismo responsável pela persecução penal em Macau adianta que as diligências de investigação vão prosseguir de forma a punir juridicamente os dois indivíduos envolvidos no caso.
Hoje Macau SociedadeWynn negoceia compra da maior operadora da Austrália A operadora de jogo Wynn Resorts, com casinos nos Estados Unidos e em Macau, está em negociações para comprar a maior operadora de casinos da Austrália, a Crown Resorts, foi ontem anunciado [dropcap]A[/dropcap] Crown, que tem casinos em Melbourne, Perth e Londres e, em breve, em Sydney, indicou estar em discussões confidenciais sobre uma oferta da Wynn, de acordo com um comunicado. A operadora australiana disse que a oferta tem um valor implícito de 10,50 dólares por acção, a ser paga 50 por cento em dinheiro e 50 por cento com acções da Wynn. A oferta avaliou a Crown em cerca de oito mil milhões de dólares norte-americanos. “Não há certeza de que estas discussões resultem numa transacção”, apontou a Crown, sublinhando que a proposta está sujeita a condições que incluem aprovações regulatórias. O valor da Crown caiu 20 por cento desde meados de 2018, devido a resultados inferiores ao esperado. Para os executivos da empresa, a quebra nos lucros deveu-se a uma diminuição dos gastos dos apostadores asiáticos. Jogo ilegal Em 2016, 19 funcionários do grupo australiano foram presos na China sob a acusação de promoverem ilegalmente jogos de fortuna e azar. Um tribunal chinês sentenciou 16 dos réus, incluindo três cidadãos australianos, a penas de nove a dez meses de prisão, e os três restantes foram libertados após perto de um mês de detenção. Na sequência deste caso, a Crown abandonou os planos de investimento em Macau e em Las Vegas, e chegou mesmo a vender terrenos na capital do jogo norte-americana ao Wynn por 373 milhões de dólares. Contudo, as notícias da possível compra da Crown pela Wynn levaram, na manhã de ontem, a um aumento de 20,5 por cento no preço das acções na bolsa de valores australiana para 10,07 dólares. As receitas operacionais da Wynn Resorts no último trimestre de 2018 subiram 4 por cento, para 1,70 mil milhões de dólares, com o Palace, na faixa de casinos do Cotai, entre as ilhas da Taipa e de Coloane, a render mais 84 milhões, enquanto o Wynn Macau perdeu 30,3 milhões. “As receitas operacionais foram de 1,69 mil milhões de dólares no último trimestre de 2018, um aumento de 4 por cento, ou 65,4 milhões; as receitas operacionais do Wynn Macau e das operações Las Vegas aumentaram 84 e 11,7 milhões, respectivamente, compensadas por um decréscimo de 30,3 milhões no Wynn Macau”, anunciou a gestora de hotéis e casinos.
Hoje Macau SociedadeSanta Casa da Misericórdia | Chui Sai On reuniu com dirigentes [dropcap]U[/dropcap]ma delegação da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCM) reuniu na passada segunda-feira com o Chefe do Executivo. Leonel Alves, presidente da Assembleia-geral, e António José de Freitas, provedor da Mesa da direcção da instituição trocaram impressões com Chui Sai On sobre os serviços de acção social e de caridade. De acordo com um comunicado do Governo, o Chefe do Executivo destacou os alicerces bem consolidados da instituição, enalteceu a persecução do objectivo e espírito e felicitou os dirigentes pelo 450º aniversário da SCM. Por sua vez, Leonel Alves agradeceu o apoio que o Governo da RAEM tem prestado à SCM e destacou o papel que a instituição tem para os macaenses, “não só porque sinaliza os mais de quatro séculos da sua presença em Macau, como também a posição e responsabilidades que mantêm”. Já o provedor António José de Freitas referiu que para as actividades comemorativas dos 450 anos da SCM, Macau vai receber, pela primeira vez, o Congresso Internacional das Misericórdias, que contará com mais de 200 pessoas provenientes de países lusófonos.
Hoje Macau PolíticaDeputado Lam Lon Wai declara guerra a “veículos zombies” [dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer que o Governo assegure que vai lutar com os carros abandonados na RAEM, ou seja contra as viaturas estacionadas ao longo da via pública durante anos, sem que os proprietários paguem os respectivos impostos. É este o conteúdo da última interpelação escrita pelo deputado dos Operários, que foi ontem divulgada. “É difícil conhecer a dimensão deste fenómeno sobre os proprietários que não pagam os impostos dos respectivos veículos porque o Governo não revela os dados. Mas em muitas vias mais remotas há lugares de estacionamento que estão ocupados por veículos sem o imposto em dia, como se fossem veículos zombies”, escreve o deputado ligado aos Operários. “Apesar das várias queixas, este tipo de veículos ocupa os lugares públicos e os recursos de estacionamento. Há situações em que até criam riscos à segurança”, é acrescentado. Face a este cenário, o legislador quer garantias do Executivo que vai combater o abandono dos carros. “De forma a garantir uma boa circulação e o estacionamento legal […], será que o Governo vai adoptar as medidas necessárias para combater este fenómeno e tomar a iniciativa de implementar as leis em vigor?”, questionou. Ao mesmo tempo Lam Lon Wai quer uma caça activa aos veículos zombie, ou seja os que não têm o imposto de circulação em dia. “Até ao final do prazo legal [1 de Abril], houve um grande número de veículos que não teve a situação regularizada. De forma a garantir que todos os proprietários dos veículos cumprem as suas obrigações, será que o Governo vai tomar a iniciativa e fazer inspecções para garantir que todos os veículos circulam de forma legal?”, é perguntado.
Hoje Macau PolíticaGrande Baía | Sónia Chan em Tóquio para promover projecto regional [dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, esteve ontem em Tóquio enquanto representante do Chefe do Executivo da RAEM numa sessão de promoção do projecto de cooperação regional da Grande Baía. Esta foi a primeira actividade, “em grande escala” de promoção no exterior organizada em conjunto pelos dirigentes de Guangdong, Hong Kong e de Macau, desde o lançamento das Linhas Gerais do Planeamento para o Desenvolvimento do projecto de cooperação inter-regional a 18 de Fevereiro. No discurso, a governante sublinhou “que a Grande Baía é uma das regiões com mais alto nível de abertura e mais vitalidade da economia da China”.
Hoje Macau China / Ásia“Uma Faixa, Uma Rota” | Alternativa à Rota da Seda dos séculos XIII e XVI em debate O Instituto de Defesa Nacional, em Lisboa, organizou na segunda-feira uma conferência subordinada ao tema da Nova Rota da Seda promovida por Pequim. O domínio da região, a posição geoestratégica que a China ocupa, e o papel de Moscovo no equilíbrio do xadrez internacional foram os temas discutidos por académicos portugueses [dropcap]A[/dropcap] Nova Rota da Seda promovida pela China constitui uma alternativa às antigas rotas de Marco Polo e Vasco da Gama, e a Rússia é decisiva para esta estratégia, considerou o académico José Félix Ribeiro no decurso da conferência “Dinâmicas e Interacções na Eurásia” promovida pelo Instituto de Defesa Nacional (IDN) em Lisboa, associada ao Curso de Estudos Avançados sobre a Eurásia. “Quando a China apresenta esta nova estratégia, diz que quer construir uma ponte e ao mesmo tempo uma estrada. A ponte é terrestre e a estrada é marítima”, assinalou em declarações à Lusa no “A Nova Rota da Seda é uma alternativa da China às rotas de Marco Polo e de Vasco da Gama”, assinalou. “A ponte em terra e a estrada no mar é em si suficientemente curioso para não se perguntar o que quer verdadeiramente a China. Julgo que a China quer ter a protecção da massa continental euro-asiática, que a torne mais independente do mar, sobretudo do Pacífico”, disse. Na perspectiva do académico, a primeira intervenção de um debate moderado por Luís Tomé, professor da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL), Pequim pretende dominar a rota percorrida por Vasco da Gama (ao longo da costa africana) por dois motivos. “Em primeiro lugar porque quer controlar na Índia, o seu verdadeiro adversário regional, e em segundo lugar quer surgir perante a Ásia como capaz de desafiar os Estados Unidos, porque a ambição da China é ser o centro da Ásia”. Quando se avolumam as perspectivas de confronto entre estas duas grandes potências em diversas áreas, Félix Ribeiro acredita que nunca entrarão em confronto directo “porque felizmente são ambas potências nucleares”, mas “vão infernizar-se uma à outra”. Blocos de sempre Neste cenário, não exclui críticas à abordagem de Washington face à China, e também face à Rússia, que permanece um actor decisivo para a consolidação da estratégia de Pequim, devido em particular à sua colossal dimensão continental. “Os Estados Unidos trataram os derrotados da Segunda Guerra Mundial, Alemanha e Japão, de uma forma absolutamente extraordinária, transformaram-nos nos seus principais aliados nos seus respectivos territórios”, recordou o académico. Após ao fim da União Soviética, considera, Washington deveria ter optado por uma posição menos assertiva. “Os Estados Unidos deveriam ter a mesma memória, que o fundamental quando se derrota alguém é saber o que se faz a seguir. E, sobretudo, quando não foi uma derrota de invasão, não houve um tiro, foi uma implosão”, defendeu. “Se o Presidente George Bush pai [no poder entre 1989 e 1993] tivesse mantido mais um mandato, nunca teria feito o que Bill Clinton fez, que foi acelerar a adesão dos países de Leste à NATO com aquela rapidez. Clinton quis mostrar que era tão republicano como os republicanos, quer na economia quer nas relações externas. Julgo que foi uma política desastrosa”, considerou. Dar-lhes gás O professor e investigador do ISCSP Marcos Faria Ferreira, que abordou o tema “Água, cooperação e conflito na Ásia Central”, Helena Rego, académica e funcionária do SIRP [Sistema de Informações da República Portuguesa] com a intervenção “Percepções em torno da Rússia”, integraram os cinco intervenientes num debate que se prolongou por mais de três horas. As “Relações Alemanha-Rússia” estiveram no centro da intervenção de Patrícia Daehnhardt, investigadora do IPRI-Instituto Português de Relações Internacionais e professora na Universidade Lusíada, que não ignorou a “ambiguidade” da actual situação. “Há uma certa ambiguidade, mas da parte dos alemães dizem que uma coisa é o panorama político, mas que existe uma relação essencialmente comercial, de salvaguarda de acesso aos recursos energéticos da Rússia, e fazem essa separação, que numa perspectiva externa leva a que a Alemanha possa ser criticada nesse domínio”, frisou em declarações à Lusa, e numa referência ao projecto Nord Stream II, que vai transportar gás russo para a Europa e já implicou a ameaça de sanções por parte dos EUA a empresas europeias. Este pipeline tem sido motivo de controvérsia entre a Chanceler Angela Merkel e o Presidente Donald Trump, mas é uma história que vem de trás. Em 2005, apenas a dias do fim do mandato de Gerhard Schroeder, o Chanceler aprovou o projecto o pipeline de quase 1300 quilómetros ao longo do Báltico. Schroeder, que é amigo pessoal de Vladimir Putin, acabaria a trabalhar como gestor da construção do Nord Stream, ao serviço da Gazprom. O gasoduto ficou pronto em 2011 e espera-se que a segunda fase se conclua este ano, numa infra-estrutura de importância maior para a economia russa, assim como para a autonomia energética alemã. Apesar da posição de Merkel quanto às sanções impostas a Moscovo na sequência da incursão militar na Ucrânia, estratégia económica tem levado a Chanceler a não se opor à construção do Nord Stream II. Facto que levou Trump a sugerir à líder alemã que deixasse de comprar gás russo. Integrar Moscovo No entanto, a Crimeia foi um passo longo para a diplomacia alemã, também de acordo com a apreciação de Patrícia Daehnhardt. “No domínio político a Alemanha tem mantido uma coerência desde 2014 [após a anexação da Crimeia pela Rússia e a guerra no leste da Ucrânia], na perspectiva da Alemanha sempre encarou a relação bilateral com a Rússia numa perspectiva de uma relação ‘sui generis’, mas mudou a sua posição, apoiada pela chanceler Ângela Merkel e pelos sociais-democratas do SPD”, precisou. A académica assinala que o Governo de “grande coligação” na Alemanha apoiou o endurecimento dessa posição, denunciou uma violação do direito internacional e considera-se “justificada” nessa sua liderança de uma resposta Ocidental de aplicação de sanções a Moscovo logo a partir de 2014. Uma liderança em conjunto com os Estados Unidos, “mas efectivamente foi a Alemanha que liderou essa resposta”, disse. “As acções da Rússia na Crimeia em 2014 não mudaram apenas o tom, mas também a posição. Reconhecendo que é importante, houve aqui uma alteração. Em 2010 houve um encontro entre Merkel e o então Presidente russo Dmitri Medveved numa tentativa de se criar uma nova arquitectura de segurança, e sempre houve essa preocupação de ‘como vamos integrar a Rússia'”. No entanto, Patrícia Daehnhardt considera que esta perspectiva de “integração” não está totalmente excluída, e compara os reflexos da dimensão política à dimensão comercial, “onde entre 2013 e 2017 houve uma diminuição considerável do volume de comércio”, mesmo que em 2018 voltou a aumentar. “Mas existe ainda a dimensão energética, e aí a Alemanha refere ser absolutamente fundamental, porque do gás natural que é importado da Rússia para a Europa, 38 por cento a 40 por cento é depois distribuído na Europa, não fica apenas na Alemanha. E aí, a Alemanha diz que é uma questão de interesse europeu”, acrescentou. A “manutenção da pressão” sobre Moscovo, e a preservação da convergência a nível interno, e do Ocidente, são aspectos que deverão prevalecer, apesar de a académica detectar a delicada posição alemã neste contexto, com as alterações da política externa norte-americana com Donald Trump na Presidência, e a pressão que exerce sobre as opções das empresas energéticas alemãs e europeias, em particular em torno do projecto Nord Stream II. “A posição da Alemanha está a tornar-se mais difícil para a sua política externa. Em última instância, a política externa e as visões estratégicas da política externa deveriam ser bastante mais aprofundadas e desenvolvidas, e é isso que falta um pouco à Alemanha”, considerou. Antes do período de debate a última intervenção foi da responsabilidade de Carlos Gaspar, investigador do IPRI em torno do tema “Rússia e Segurança Europeia”. E ao extrair uma das consequências do que definiu como “ofensiva da Rússia contra a segurança europeia”, assinalou a perspectiva de uma “dependência excessiva” da Rússia em relação à China. “Uma dependência excessiva que provavelmente terá efeitos importantes internos entre as elites russas, entre as escolhas que se vão impor a estas elites”, disse.
Hoje Macau China / ÁsiaPeste suína alastra-se a todo o continente chinês com surtos no extremo noroeste [dropcap]A[/dropcap] China detectou novos casos de peste suína africana nas regiões do Tibete e Xinjiang, no extremo noroeste do país, informaram hoje as autoridades locais, confirmando o alastrar do surto a todo o território continental. Os casos foram detectados em vários condados da cidade de Nyingchi, Região Autónoma do Tibete, e em Urumqi, a capital de Xinjiang, detalhou, em comunicado, o ministério chinês da Agricultura e dos Assuntos Rurais. A doença afecta porcos e javalis, mas não é transmissível aos seres humanos. No entanto, coloca em risco o mercado chinês, que produz anualmente 600 milhões de porcos. O ministério anunciou um mecanismo de emergência, visando isolar, abater ou desinfectar os porcos, e proibiu a entrada ou saída de todos os suínos vivos e produtos suínos das áreas afectadas. Em Nyingchi, 55 porcos morreram, enquanto em Urumqi foram registados quinze porcos infectados, numa fazenda com um total de 200 suínos. Desde que foi inicialmente detectado no início de Agosto, no nordeste da China, o surto espalhou-se já pelas 30 províncias e regiões da China continental. Centenas de milhares de porcos foram já abatidos. Apenas a ilha de Hainan, no extremo sul do país, e as regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, não registaram casos. A carne de porco é parte essencial da cozinha chinesa, compondo 60% do total do consumo de proteína animal no país. Dados oficiais revelam que os consumidores chineses comem mais de 120 mil milhões de quilos de carne de porco por ano. A flutuação do preço daquela carne é, por isso, sensível na China e o Governo guarda uma grande quantidade congelada para colocar no mercado quando os preços sobem. No final do ano passado, as autoridades chinesas autorizaram três matadouros portugueses a exportar para o país. Profissionais do sector estimam que, até ao final do ano, as exportações portuguesas para a China se fixem em 15.000 porcos por semana, movimentando, no total, 100 milhões de euros.
Hoje Macau China / ÁsiaCondenados nove líderes do movimento dos guarda-chuvas em Hong Kong [dropcap]N[/dropcap]ove líderes do maior movimento de desobediência civil na história de Hong Kong foram hoje considerados culpados por actos nos protestos de 2014, e incorrem em penas de até sete anos de prisão por cada acusação. Entre os condenados, estão os também fundadores do movimento “Occupy Central”, em 2013: Chan Kin-man, de 59 anos, professor de sociologia, Benny Tai, de 54, professor de Direito, e Chu Yiu-ming, de 74 anos, ministro da Igreja Batista de Chai Wan em Hong Kong. Os três foram considerados culpados de conspiração para perturbar a ordem pública de incitarem ao motim através da obstrução ilegal de lugares públicos, bem como de incitar e mobilizar manifestantes “para alterar a ordem pública”. De acordo com o tribunal, o objectivo dos activistas era “forçar as autoridades a responder às suas reclamações políticas”. Os deputados Tanya Chan e Shiu Ka-chun, os ex-líderes estudantis Tommy Cheung Sau-yin e Eason Chung Yiu-wa e o vice-presidente da Liga dos Sociais-Democratas, Raphael Wong Ho-ming, foram considerados culpados de incitação para cometer distúrbios públicos. Também o ex-deputado democrata Lee Wing-tat, de 63 anos, foi considerado culpado de uma acusação de incitamento. Os nove, que enfrentam penas de até sete anos por cada acusação, são os últimos activistas condenados pelos protestos, que se prolongaram por 79 dias em 2014, em Hong Kong. Vários activistas foram já julgados pelo Ministério da Justiça, estando a cumprir penas de prisão. Alguns foram proibidos de concorrer às eleições e outros foram desqualificados do Conselho Legislativo da região administrativa especial chinesa. Entre 28 de Setembro e 15 de Dezembro de 2014, centenas de milhares de pessoas paralisaram quarteirões inteiros da antiga colónia britânica para exigir o sufrágio universal na escolha do chefe do Executivo de Hong Kong, nomeado por uma comissão pró-Pequim. Mas as autoridades chinesas não recuaram. Em 28 de Setembro, o movimento “Occupy Central” decretou o início da sua campanha de desobediência civil, juntando-se a outros protestos em curso há dois dias junto à sede do Governo de Hong Kong. A acção da polícia desencadeou manifestações mais importantes, levando ao movimento pró-democracia, também conhecido como a revolta dos guarda-chuvas, usados pela multidão para se proteger das granadas de gás lacrimogéneo. Chan, Tai e Chu renderam-se à polícia em Dezembro de 2014, pondo fim ao movimento “Occupy Central”. Recentemente, o cancelamento de eventos literários e artísticos e a recusa em permitir a entrada de um jornalista do Financial Times em Hong Kong reacenderam a preocupação com a liberdade de expressão naquele território administrado pela China. Em 1997, na transferência de soberania de Hong Kong do Reino Unido para a China foi prometida uma semi-autonomia durante 50 anos, que permitiria manter os direitos de reunião e liberdade de expressão no território.