Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMulheres | Alerta para falsos docentes que tiram dinheiro a pais A Associação Geral das Mulheres alerta para o número cada vez maior de casos de burla levados a cabo por falsos docentes que, em grupos de WeChat, pedem dinheiro aos encarregados de educação para alegadas despesas escolares. A entidade exige, assim, maior acção do Governo na prevenção deste tipo de ocorrências Cada vez mais pessoas fazem-se passar por professores para burlar encarregados de educação em grupos na plataforma WeChat. O alerta é deixado pela Associação Geral das Mulheres, que pede maior divulgação de medidas preventivas por parte do Governo e políticas que levem ao aumento da consciência dos alunos universitários contra burlas. Chu Oi Lei, directora do Centro de Serviços da Família da Associação Geral das Mulheres, afirmou, em comunicado, que as burlas perpetradas por falsos professores não acontecem apenas no interior da China, tendo já ocorrido algumas vezes em Macau. Tudo começa com um perfil falso nos grupos de WeChat, sendo depois pedido aos pais pagamentos para despesas com materiais escolares, por exemplo. Chu Oi Lei recordou que, em Agosto do ano passado, e ainda antes de começar um novo ano lectivo, ocorreu um caso de burla semelhante, quando um encarregado de educação foi informado de que tinha de pagar despesas escolares através de um grupo no WeChat. O pagamento foi feito porque o burlão apresentava, no seu perfil, uma fotografia e o nome semelhantes aos do director de turma. Desta forma, Chu Oi Lei recomenda que as autoridades policiais informem a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) sobre as investigações levadas a cabo quanto aos professores falsos, além de pedir uma melhor comunicação entre a escola e os pais. A responsável entende que os pais devem sempre ligar para a escola a fim de confirmar que o pedido de pagamento é verdadeiro. Burla na universidade A dirigente da Associação Geral das Mulheres disse ainda que os alunos universitários são também burlados, sendo que aqueles que vêm do exterior são mais facilmente enganados por não conhecerem a sociedade local. Chu Oi Lei referiu dados já divulgados pelas autoridades policiais relativos ao primeiro trimestre do corrente ano, quando ocorreram 435 burlas em que os jovens foram as principais vítimas. Um terço dessas burlas esteve relacionado com burlas a estudantes do ensino superior. A responsável entende que as medidas de sensibilização e prevenção devem ser lançadas nas redes sociais e plataformas mais populares entre os jovens.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEspaço | China vai apostar em “modelo aberto de cooperação”, diz académico O académico Diogo Cardoso acredita que a política espacial chinesa irá apostar num “modelo aberto de cooperação”, fomentando um rápido desenvolvimento tecnológico. Num artigo académico, o doutorando da Universidade de Lisboa traça um olhar sobre a história da exploração espacial chinesa A agenda de exploração espacial é uma área de interesse do Governo chinês há décadas. Dos votos de intenção, falta de recursos e intenções militares da era de Mao Tsé-tung até à aposta actual durante a presidência de Xi Jinping, muitos passos foram dados em direcção ao espaço. Diogo Cardoso, doutorando do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa (UL), analisou o tema vertido num artigo académico publicado na última edição da revista Daxiyangguo – Revista Portuguesa de Estudos Asiáticos, publicação deste instituto. O artigo intitulado “As políticas do Espaço e de Segurança chinesas de Mao Zedong a Xi Jinping: Em busca do ‘Chinese Dream’ [Sonho Chinês]” e conclui que “nos próximos cinco anos a China deverá fortalecer a capacitação básica da sua indústria aeroespacial”, bem como “avançar na implementação de pesquisas de ponta e implementar grandes projectos científicos e tecnológicos”. Incluem-se ainda, nesta estratégia, a aposta em “projectos prioritários em áreas-chave, como os voos espaciais tripulados, a exploração lunar, o sistema de observação da Terra de alta resolução, o seu sistema de navegação BeiDou-3, e ainda a nova geração de foguetões de lançamento espacial”. Desta forma, o país vai continuar a melhorar, “de forma abrangente, a infraestrutura espacial, promover o desenvolvimento da indústria de satélites, conduzir pesquisas científicas em profundidade e aprimorar o desenvolvimento abrangente, coordenado e sustentável da indústria aeroespacial”. Na ascensão do poder chinês em matéria de política espacial, Diogo Cardoso entende que estão em causa “preocupações gerais com as mudanças na distribuição do poder económico e militar” bem como “preocupações específicas de como esses recursos são alocados e se isso pode levar a um conflito”. “Resta saber se a mudança nos objectivos espaciais da China, conforme articulado pelos seus cientistas e formuladores de políticas espaciais, para adquirir recursos baseados no espaço, bem como a montagem de uma estação espacial permanente, levarão ao nacionalismo de recursos, territorialismo e expansionismo”, lê-se ainda no artigo académico. Um modelo aberto Ao HM, Diogo Cardoso declarou ainda que a China, nos próximos anos, vai “propor um modelo de cooperação aberta no que concerne ao espaço, utilizando inclusive os seus activos espaciais para possibilitar a países em desenvolvimento que tenham acesso a serviços de rede de telecomunicações, navegação por satélite através do serviço BeiDou, agora com alcance global, e até utilização de satélites meteorológicos”. Para o académico, “todos estes serviços têm um grande impacto no desenvolvimento político, económico e social dos países em desenvolvimento”. Por outro lado, “a China continuará a apostar no desenvolvimento e expansão da estação espacial chinesa, que já se encontra totalmente funcional, na promoção do seu programa de exploração lunar e de Marte, bem como num grande conjunto de projetos espaciais com possíveis resultados extremamente importantes para a humanidade”. Importa ainda referir a ligação da política espacial com o projecto “Uma faixa, uma rota”, através da “Rota da Seda Espacial”, com a qual a China “tem promovido uma posição de cooperação internacional, colocando a sua estação espacial Tiangong ao serviço da ciência e da comunidade internacional”. Pelo contrário, o académico considera que os Estados Unidos “irão adoptar uma estação espacial privada no futuro, o que poderá colocar em causa os princípios de cooperação científica internacional para o espaço, uma vez que a maioria dos países não dispõem de avultados fundos para financiarem viagens espaciais”, aponta Diogo Cardoso. O doutorando do ISCSP entende que “o Programa Espacial Chinês destaca-se facilmente como uma das joias da coroa chinesa”, sendo que as suas origens remontam a 1955, quando o pioneiro dos foguetes e mísseis Quian Xuesen regressou dos Estados Unidos para a China. Esta foi a época em que “após um período de consolidação, os líderes da China olhavam para uma agenda em prol do desenvolvimento com papéis-chave desempenhados pela ciência e tecnologia”. Desde então, e ao longo das diversas presidências, a China “é agora um actor importante na arena espacial global. Um conflito espacial? Questionado sobre a tensão geopolítica entre a China e os EUA pode chegar ao espaço, Diogo Cardoso relembra que “a guerra comercial [entre os dois países] é, em grande parte, uma guerra tecnológica pela luta pelo domínio [nesta área], bem como nos padrões e normas internacionais”. “Em relação a um possível conflito espacial, e apesar de existirem armas anti satélite e outro tipo de armas a serem testadas, considero que um possível conflito, a acontecer, seria do tipo não convencional, com o uso de munições e tiros, mas através de tecnologias cibernéticas, que podem colocar em causa a actividade dos satélites de outro país.” O académico acredita que os EUA “vão adoptar uma postura ainda mais defensiva em relação ao espaço, uma vez que outros países já dispõem de tecnologias espaciais extremamente avançadas, pelo que a sua posição de dominação está ameaçada e, para isso, os EUA tentarão proteger a sua posição”. As bases fundacionais para o programa espacial chinês surgiram em 1956 com a criação da Comissão da Indústria de Aviação da China e da Quinta Academia do Ministério da Defesa. O artigo aponta que “o primeiro local de lançamento foi estabelecido em 1958 e o primeiro satélite foi lançado em 1970”. A primeira nave espacial não tripulada, Shenzhou-1 (Navio Divino 1), foi lançada em 1999, e em 2003 o primeiro astronauta chinês foi ao espaço a bordo da Shenzou-5. Por outro lado, a exploração da Lua foi iniciada em 2003, com o lançamento do satélite Chang’e-1 (Deusa Chinesa da Lua 1) e o primeiro laboratório espacial Tiangong-1 (Palácio Espacial 1) em 2011, descreve o académico no seu trabalho. Xi Jinping chegou ao poder em 2013 e desde então tem desenvolvido a ideia do “Sonho Chinês”, onde um dos objectivos é fazer com que o país disponha de um “exército forte” e poder espacial até 2030, daí observarem-se “esforços de modernização e fortalecimento do Exército de Libertação Popular (ELP) e das forças espaciais chinesas”. Os diversos Livros Brancos publicados por Pequim dão conta que “a exploração do espaço exterior é parte do desenvolvimento nacional geral”. Durante a governação de Mao Tsé-tung, “o espaço era visto mais como um gesto político do que uma parte vital da arena militar ou económica”, sendo uma “prioridade inferior” do Governo Central. Entre 1956 e 1976, a China teve “avanços muito limitados nas suas capacidades espaciais, devido à falta de recursos financeiros, tecnológicos e recursos humanos treinados, bem como às repetidas convulsões políticas que interromperam os esforços de pesquisa”. De frisar que a cooperação internacional em matéria espacial arrancou em 1970. Deng Xiaoping, por sua vez, “inicialmente fez pouco para promover o desenvolvimento espacial para os sectores militar ou civil”, tendo-se concentrado no processo de abertura e reforma económica do país. Nos anos 90, “o programa espacial beneficiou do investimento e do apoio intensificado de alto nível”, tendo como exemplo a implementação de diversos satélites no período de Jiang Zemin, entre 1992 e 2002. Hu Jintao “manteve o apoio ao programa espacial chinês. Durante os seus dois mandatos” tendo sido implementados, durante o seu mandato, “uma variedade de novos sistemas de satélites”. Hoje em dia, Xi Jinping olha para o programa espacial chinês “como um reforço do clima de inovação científica, especialmente no campo da robótica, inteligência artificial e aviação”, com um enquadramento na iniciativa “Made in China 2025”. Com o espaço, o Governo e o Partido Comunista Chinês esperam obter “enormes dividendos económicos”.
Andreia Sofia Silva EventosArmazém do Boi | Mostra de Peng Hung-Chih para ver até Setembro “Double Skins” é o nome da exposição de Peng Hung-Chih que resulta de uma residência artística no Armazém do Boi. Até ao dia 24 de Setembro será possível ver trabalhos que remetem para o contraste entre o desenvolvimento urbano de Macau e a permanência da povoação Hakka que, outrora, emigrou para a vila de Ka-Hó, em Coloane Peng Hung-Chih é o artista em destaque na mais recente exposição proposta pelo Armazém do Boi. “Double Skins”, inaugurada na última sexta-feira, 25 de Agosto, e patente até ao dia 24 de Setembro no espaço 川·Twist Art Space, na Travessa da União, é o resultado de uma residência artística realizada em Macau sobre o desenvolvimento social e urbanístico do território, nomeadamente em Coloane, e as memórias dos tempos em que parte da comunidade chinesa Hakka emigrou, estabelecendo-se na povoação de Ka-Hó, conhecida por ter tido uma indústria viva de construção naval. Destaque para o facto de a comunidade Hakka ser oriunda de zonas do sul da China como é o caso das províncias de Guangdong, Fujian, Jiangxi, Sichuan ou Zhejiang, entre outras. Com curadoria de Cai Guojie, esta é uma mostra que “gira em torno de espaços representados por duas extremidades de um pólo: uma delas regida pelo capitalismo e outra guiada pela povoação Hakka, que evoluiu organicamente ao longo desse desenvolvimento histórico” Segundo uma nota do Armazém do Boi, “com o desenvolvimento urbano de Macau as aldeias das ilhas periféricas da cidade foram sendo gradualmente esquecidas”, sendo exemplo dessa realidade a povoação de Ka-Hó que, nos últimos 200 anos, “preservou o seu modo de vida e a língua Hakka”. Desta forma, “pode dizer-se que a povoação de Ka-Hó tornou-se um refúgio para a preservação deste dialecto”, mediante uma série de factores sociais “coincidentes”, tal como a distância em relação ao centro da península. Os tempos mudaram e, com eles, verificou-se que “a geração mais nova mudou-se para o centro da cidade em busca de emprego e de maiores oportunidades de desenvolvimento”. Além disso, alguns terrenos ficaram desaproveitados, com destaque para o progressivo abandono dos estaleiros de construção de juncos de madeira, “o que teve um impacto negativo no ambiente ecológico da zona, marginalizando ainda mais a povoação”. O “aqui e agora” Pang Hung Chih pega em todos estes elementos para explorar, de forma artística, a história desta comunidade estreitamente ligada com a história da própria povoação, cujos estaleiros se tornaram numa peça central de atracção e de necessidade de preservação. O artista optou por desenvolver os conceitos do “aqui e agora”, com referências ao passado, assumindo o papel de “flaneur”, que significa alguém que passeia, de forma errante, por um lugar, absorvendo vivências e observando pedaços das memórias que perduram. Nascido em 1969, Peng Hung-Chih é natural de Taiwan, onde ainda vive e trabalha. O seu trabalho varia entre a instalação, vídeo, pintura e escultura, incorporando diversos elementos relacionados com a arte, religião e humanidade como formas de explorar a cultura contemporânea ligada à história dos lugares.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTecnologia | Trabalho remoto mantém-se em algumas empresas locais Num mercado laboral dominado pelo jogo, imobiliário e funcionalismo público, que lugar tem o teletrabalho em Macau no período pós-pandemia? O HM tentou apurar até que ponto um regime de trabalho mais flexível se adequa às características da economia local Durante a pandemia, em que os contactos próximos tinham de ser evitados ao máximo, o teletrabalho foi a salvação para muitas empresas e trabalhadores. Se no mundo cada vez mais empresas se vêm obrigadas a incluir o teletrabalho ou regimes híbridos para poderem contratar, no período pós-pandemia, como é o caso em Macau, com um mercado laboral dominado, essencialmente, por actividades que não podem ser exercidas remotamente, como o jogo e o turismo? O HM foi conhecer o caso de algumas empresas do sector privado, de várias áreas, que mantém o teletrabalho mesmo depois do regresso à normalidade. Bruno Simões, director da SmallWorldExperience, empresa ligada à produção de eventos e conferências, adiantou que, durante a pandemia, o teletrabalho foi adoptado “desde o início” e que agora a flexibilidade é a regra. “Actualmente, temos um sistema híbrido, mas não temos um horário fixo. Todos os trabalhadores podem agora trabalhar em casa sempre que necessitem. Tal acontece muitas vezes sempre que há mau tempo, muito trânsito, ou quando estamos a preparar eventos”, acrescentou. Suzanne Watkinson, directora-geral da agência imobiliária Ambiente Properties, também manteve a sua empresa a funcionar em teletrabalho durante a pandemia, “à excepção de algumas semanas quando o Governo decretou o encerramento dos escritórios”. “Até certo ponto, o facto de estarmos no negócio do imobiliário faz com que os nossos dias e horas sejam ajustadas às necessidades dos clientes. Então, quando tudo estava mais parado, focámo-nos nas questões administrativas, como a criação do nosso website e questões dessa natureza. Assim, em termos gerais, continuámos a ir ao escritório algumas vezes”, frisou. Actualmente, a empresa optou por trabalhar com um sistema híbrido. “Alguns membros da Ambiente Properties trabalham num horário flexível, o que significa que o trabalho é feito em casa durante uma parte do dia e, depois, no escritório. Contudo, na nossa empresa continuamos a defender a importância da interacção presencial e as conversações casuais na equipa são a ‘cola’ que precisamos para nos mantermos unidos”, disse. Suzanne Watkinson acredita que continua a ser fundamental ter reuniões presenciais e partilhar conhecimentos e dados sobre o mercado imobiliário de uma forma mais próxima. No caso da empresa de comunicação social Project Asia Corp., que detém o portal Macau News Agency e a revista Macau Business, entre outras publicações, o teletrabalho é também usado de forma flexível. “Durante a pandemia a nossa empresa continuou sempre em actividade e com o escritório aberto, sendo que a equipa trabalhou a partir de casa nos períodos de confinamento. Adoptámos também em determinados períodos – seguindo o que as autoridades indicavam – um sistema rotativo, em que metade da equipa trabalhava no escritório e a outra metade a partir de casa. Durante a maior parte desses três anos, tivemos toda a equipa – os que estão em regime de tempo inteiro – a trabalhar presencialmente no escritório, seguindo normas de higiene e cuidados. Além disso, ao longo desses três anos, os trabalhadores que estivessem com sintomas costumavam trabalhar a partir de casa. Hoje em dia trabalhamos essencialmente em modo presencial, sendo que – tal como já acontecia antes da pandemia – colaboradores em regime de part-time, que executam tarefas que não requerem presença no escritório (cujo trabalho pode ser executado e acompanhado on-line) podem fazê-lo a partir de casa.” Um mercado conservador O debate a nível mundial sobre a permanência do teletrabalho no mercado laboral após a pandemia tem sido constante. Um dos exemplos mais falados foi o de Elon Musk, patrão da Tesla que defendeu, no ano passado, que “o trabalho remoto já não é aceitável”, tendo alertado os seus trabalhadores que “quem quiser trabalhar à distância deve estar no escritório por um mínimo de 40 horas por semana ou sair da Tesla”. “Isto é menos do que pedimos aos trabalhadores da fábrica”, terá acrescentado, segundo a Bloomberg. Suzanne Watkinson recorda que “empresas como a JP Morgan, Amazon, Apple ou Disney, que foram grandes defensores de um regime híbrido e do trabalho a partir de casa nos últimos anos, estão agora a exigir aos seus trabalhadores para regressarem aos escritórios, acreditando que a produtividade aumenta quando a equipa está junta “, adiantou. Importa olhar para as especificidades do mercado laboral local, ainda dominado pelo jogo e pela indústria turística e de serviços, ou seja, trabalhos que não podem ser feitos a partir de casa e com recurso a um computador. “Olhemos para o mercado local: dos 363 mil trabalhadores no sector do jogo, qual é a percentagem dos que ocupam posições nas linhas da frente [com contacto com jogadores, como os croupiers]. Estes trabalhos não podem ser feitos à distância. No imobiliário, e até certo ponto, este cenário já acontece devido ao abrandamento do mercado e a natureza do trabalho. O trabalho no Governo pode ser feito remotamente, a não ser nos serviços que não o permitam. Restam algumas pequenas e médias empresas. Desta forma, não sei se o teletrabalho é, de facto, uma questão em Macau.” Bruno Simões, por sua vez, entende que “Macau é bastante conservador em termos laborais”, onde “o relógio de ponto é ainda a norma e o teletrabalho é uma excepção”. “As reuniões virtuais são mais aceites”, apontou. Para o economista José Sales Marques, “os regimes híbridos são mais aceitáveis, excepto para certas profissões muito específicas”. “Em termos gerais, o mercado de trabalho em Macau oferece empregos na área de serviços, onde existe necessidade de trabalho presencial e contacto intenso com clientes, como quase tudo o que está relacionado com a hotelaria, a restauração, o jogo e o turismo”, acrescentou. O lado bom e mau “Working from Home Around the Globe” é o nome do relatório, lançado em Junho deste ano, sobre o panorama do teletrabalho em todo o mundo, da autoria de Cevat Giray Aksoy, Jose Maria Barrero, Nicholas Bloom, Steven J. Davis, Mathias Dolls e Pablo Zarate. Uma das conclusões do documento prende-se com o facto de os trabalhadores com um trabalho a tempo inteiro terem estado, entre os meses de Abril e Maio deste ano, a trabalhar a partir de casa 0,9 dias por semana, em média. Diz o relatório que “os níveis de trabalho a partir de casa são mais elevados nos países de língua inglesa” e que “os trabalhadores a tempo inteiro trabalharam em média 1,4 dias completos pagos por semana a partir de casa na Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido e EUA”. Em comparação, “os níveis médios de trabalho a partir de casa foram de apenas 0,7 dias por semana em sete países asiáticos, 0,8 nos países europeus e 0,9 em quatro países da América Latina e na África do Sul”. Além disso, “67 por cento dos empregados a tempo inteiro trabalham [actualmente] cinco dias por semana nas instalações da empresa”, enquanto 26 por cento têm um regime híbrido. Apenas “oito por cento dos empregados a tempo inteiro trabalham inteiramente a partir de casa”, descreve o relatório. Alvo de muitas desconfianças, o teletrabalho continua a não ser adoptado totalmente em muitos países. Bruno Simões acredita que “um dos aspectos mais positivos da pandemia foi tornar o teletrabalho uma realidade”, pois “até então as reuniões virtuais e o trabalho a partir de casa não eram aceites”. Trabalhar a partir de casa pode ajudar a poupar tempo e dinheiro gastos nas deslocações, mas, para Bruno Simões, há o problema “da falta de formação dos jovens”. “Aprende-se muito mais quando estamos fisicamente no mesmo local”, disse. Para Suzanne Watkinson, os aspectos positivos do teletrabalho prendem-se com a poupança de tempo e dinheiro, enquanto, no que diz respeito aos pontos negativos, exige “um grande nível de confiança entre gestores e empregados para ser um sucesso”, pois “a produtividade pode ser mais baixa se os empregados tirarem vantagens de trabalharem em casa”. Podem ainda ocorrer problemas na comunicação por telefone ou email. “Nada bate a comunicação cara a cara para que as coisas sejam feitas”, frisou. Se Elon Musk acredita que, em casa, os seus funcionários podem tornar-se mais preguiçosos, a verdade é que trabalhar em casa pode significar precisamente o contrário: dias de trabalho mais longos e menos pausas. Um estudo desenvolvido pelo centro de investigação norte-americano National Bureau of Economic Research em plena pandemia, em 2020, concluiu, segundo o jornal Público, que os dias de trabalho estavam, à data, mais longos, segundo informações disponibilizadas por 3,1 mil trabalhadores. Em média, o dia de trabalho passou a ter mais 48,5 minutos logo nas semanas a seguir aos primeiros confinamentos, enquanto o número de reuniões aumentou 13 por cento.
Andreia Sofia Silva SociedadeRetalho | Salários e número de trabalhadores a crescer Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que o sector do comércio por grosso e a retalho registou um aumento de 3,2 por cento dos trabalhadores no segundo trimestre deste ano por comparação a igual período do ano passado, tendo-se registado um total de 63.934 trabalhadores. Em termos de salário médio, com a excepção de remunerações irregulares, o montante pago no segundo trimestre foi de 14.810 patacas, mais 5,9 por cento em termos anuais, “devido sobretudo à base de comparação ter sido relativamente baixa, causada pelo maior número de licenças sem vencimento que existiu durante o ano pandémico anterior”, explica a DSEC. Destaque ainda para o facto de a área do comércio a retalho ter registado, em igual período, um total de 2538 vagas de emprego, mais 1.157 em termos anuais. Relativamente a outros sectores de actividade económica, importa ainda realçar a área dos “transportes, armazenagem e comunicações” com 14.391 trabalhadores registados no segundo trimestre, mais 3,4 por cento de aumento em termos anuais. Em Junho deste ano a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo fixou-se em 21.250 patacas, mais 5,2 por cento, em termos anuais. Em matéria de segurança, registaram-se reduções em termos salariais e de número de trabalhadores. Contabilizaram-se 12.794 trabalhadores ao serviço, menos 2,3 por cento, em termos anuais. A remuneração média dos trabalhadores a tempo completo em Junho de 2023 foi de 12.410 patacas, menos 2,7 por cento, em termos anuais.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCovid-19 | Governo afasta alarme social devido a nova subvariante A nova subvariante da Ómicron BBX da covid-19, a Éris ou EG.5, representa já mais de 70 por cento dos novos casos da doença na China. Os Serviços de Saúde afastam a possibilidade de perigos maiores para a população, tal como o epidemiologista Manuel Carmo Gomes Com agências As fronteiras abriram, as restrições foram eliminadas e a vida voltou à normalidade no que à pandemia diz respeito. Mas a verdade é que a covid-19 continua a ser uma realidade para muitas pessoas, ainda que bastante longe do grau constrangimentos ao quotidiano dos últimos anos. Agora a subvariante da Ómicron BBX mais comum é a Éris, ou EG.5, que na China já é responsável por mais de 70 dos casos de infecção. Em Macau, os Serviços de Saúde (SS) parecem estar descansados relativamente à nova mutação. “De acordo com a última avaliação da Organização Mundial da Saúde (OMS), a subvariante EG.5 apresenta as características de maior capacidade de transmissão e de escape imunológico”, sendo que “não foram encontradas evidentes alterações significativas patogénicas”. Além disso, “não houve um aumento significativo [na nova subvariante] dos riscos globais para a saúde pública”. Desta forma, as autoridades de saúde da RAEM entendem que “com base nos dados disponíveis, o nível de risco global para a subvariante EG.5 é avaliado como de baixo risco”, sendo que os SSM prometem continuar “a monitorizar a evolução do novo coronavírus e a adoptar oportunamente diversas medidas de prevenção da epidemia”. Assim, as autoridades de saúde parecem não querer voltar ao passado recente, marcado por um uso generalizado de máscaras e mais testagem da população. A Organização Mundial da Saúde (OMS) listou a EG.5 como variante de interesse, no entanto, não indicou que represente uma ameaça maior em comparação com outras cepas do tipo de coronavírus. Quem contraiu infecção pela subvariante XBB da Ómicron, entre Abril e Junho, pode ter alguma imunidade contra a EG.5, segundo a organização. O Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China adiantou na semana passada que a disseminação da subvariante EG.5 não exerceu pressão significativa sobre o sistema hospitalar do país e que é improvável que leve a surtos em massa. “Não há evidências conclusivas que sugiram que a EG.5 possa causar sintomas graves”, afirmou o CDC, citado pelo China Daily. Preparar para o frio Na sexta-feira, segundo a agência estatal Xinhua, especialistas chineses afirmaram que a China não deverá ter um novo surto de covid-19 em grande escala tão cedo, mas aconselharam que a população tome precauções devido à chegada do período frio no Outono e Inverno. Li Tongzeng, médico e chefe do Departamento de Doenças Respiratórias e Infecciosas do Hospital You’an, de Pequim, disse que a maioria dos casos de covid-19 actuais apresenta sintomas leves, existindo poucos casos graves. A imunidade pública ainda é eficaz na proteção contra a variante EG.5, disse Hu Yang, médico sénior do departamento de medicina respiratória e terapia intensiva de um hospital com sede em Xangai. Huang Senzhong, professor da Universidade Nankai, expressou opiniões semelhantes, dizendo que actualmente são registadas algumas infecções esporádicas na China, mas em número mais baixo e com um menor impacto na sociedade. Os especialistas apontaram ainda, segundo a Xinhua, a necessidade de reforçar a área da saúde a fim de dar resposta ao período de frio que se aproxima, nomeadamente um aceleramento na investigação e produção de novas vacinas para variantes futuras da covid-19. O director-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, alertou no início do mês que, embora o risco geral seja baixo, a disseminação global da EG.5 pode contribuir para um aumento de casos de covid-19 em diferentes partes do mundo. “Não há dúvida de que o risco de morte ou de casos graves é agora muito menor do que há um ano, devido à crescente imunização da população graças a vacinas e infecções, mas apesar da melhoria, a OMS continua a considerar que o vírus representa um risco alto para a saúde pública”, acrescentou. Embora a OMS tenha declarado o fim da emergência internacional em 5 de Maio, Tedros Ghebreyesus disse no início do mês que o “vírus continua a circular em todos os países e continua a matar e a sofrer mutações”. Palavra de epidemiologista Manuel Carmo Gomes, epidemiologista português, garantiu ao HM que a Éris, ou EG.5, deriva da Ómicron XBB.1.9., apresentando duas mutações “que lhe conferem uma capacidade especial para evadir os anticorpos que todos temos por termos sido vacinados, infectados ou as duas coisas”. Assim, “esta capacidade de evasão inclui mesmo os anticorpos de pessoas que foram infectadas com versões anteriores da XBB”, existindo, no entanto, alguns perigos. O epidemiologista aponta que o vírus pode continuar a evoluir “para se adaptar a uma população mundial que tem uma ‘parede imunitária’ originada pela vacinação e por três anos de infeções naturais”. “Ninguém pode prever que novas direcções vai seguir. Este perigo é conceptual, mas obriga a manter um significativo esforço de vigilância, o qual, infelizmente, decaiu muito desde que a OMS proclamou o fim da situação de emergência internacional”, frisou. O segundo perigo endereçado por Manuel Carmo Gomes prende-se com o facto de a maioria das pessoas ter “concentrações muito baixas de anticorpos em circulação no sangue porque fomos vacinados ou infectados há mais de quatro meses”. Existe, desta forma, “uma probabilidade alta de sermos infectados pela EG.5, caso tenhamos contacto com o vírus”, sendo que este cenário “deve aumentar muito no próximo Outono”. Quais são, então, os cuidados a ter? O especialista entende que “para as pessoas mais idosas e os que padecem de doenças de risco para a covid-19, como imunodeficiência, doença pulmonar, doença renal ou neoplasias, o risco de desenvolvimento de formas graves de covid é real”. Pelo contrário, “nas pessoas saudáveis, em princípio, a infecção por EG.5 pode originar sintomas leves que serão ultrapassados com o tempo”. O cenário de maior mortalidade continua afastado. “Existe evidência de poder infectar e causar doença leve com relativa facilidade, mesmo em pessoas que foram vacinadas ou infectadas no passado, mas não há evidência de que seja mais letal ou mais patogénica”, adiantou Manuel Carmo Gomes. Outubro com reforços O HM questionou Manuel Carmo Gomes sobre a eventual necessidade de reforço das vacinas com esta nova subvariante. O epidemiologista disse que “o reforço outonal que será dado a partir do início de Outubro em Portugal e no mundo, deve diminuir significativamente o risco de doença grave, de forma duradoura, e o risco de infecção, temporariamente, causada pela EG.5”. “A razão é simples: o próximo reforço é uma vacina feita com base na XBB.1.5, uma subvariante muito parecida com a XBB.1.9, a precursora da EG.5”, explicou ainda. Manuel Carmo Gomes também entende não ser necessário, para já, alterar os planos de combate à doença. “Em Portugal, pelo menos, não há evidência de que a EG.5 venha a causar uma pressão hospitalar maior do que anteriores versões do vírus. Em alguns países, como os Estados Unidos e o Reino Unido, as hospitalizações com covid estão com sinal ascendente, mas estão a partir de níveis historicamente baixos.” Desde o início da pandemia, no final de 2019, a OMS registou quase sete milhões de mortos em todo o mundo, tornando a crise sanitária uma das mais graves desde a gripe espanhola, em 1918. Em comparação com os piores momentos da pandemia, em que foram notificados mais de 20 milhões de casos semanais globalmente (no início de 2022 com a variante Ómicron), apenas cerca de 10.000 infecções foram relatadas na Europa e 20.000 nos Estados Unidos, em Julho, embora os números ainda fossem relativamente altos na região da Ásia – Pacífico (288.000 positivos). Reforço em baixa Dados fornecidos pelos Serviços de Saúde (SS) ao HM revelam que apenas “mais de 60 por cento dos adultos [vacinados] receberam o reforço” da vacina contra a covid-19 desde o início do programa, em comparação à taxa de vacinação inicial da população alvo em Macau, que ultrapassou os 90 por cento. Por sua vez, “cerca de 70 por cento” das pessoas com idades compreendidas entre seis meses e os 17 anos completaram a vacinação inicial, enquanto em relação aos adultos de 18 aos 59 anos, “mais de 90 por cento completaram a vacinação inicial”. Relativamente à população mais idosa, ou seja, com 60 ou mais anos, “mais de 80 por cento completou a vacinação inicial”, apontam os SS, que prometem continuar a apostar na campanha de vacinação contra a covid-19 “através de publicidade diversificada, incluindo vídeos promocionais, infografias, anúncios online em plataformas de redes sociais, bandeiras e placas publicitárias”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteÓbito | Ng Sio Ngai, veterana jornalista, morre de doença prolongada Ng Sio Ngai faleceu na madrugada de sexta-feira vítima de doença oncológica. Natural de Zhongshan, a jornalista dedicou-se por inteiro à profissão, e ajudou a criar a Associação de Jornalistas de Macau e o órgão de comunicação social “All About Macau”. É recordada por colegas e membros da comunidade chinesa pelo heroísmo e espírito livre A classe jornalística, seja de língua chinesa, portuguesa ou inglesa, conhecia-lhe o jeito peculiar de colocar perguntas: pertinentes, incisivas, mas longas e sempre com alguma opinião pelo meio, algo que os manuais de jornalismo não recomendam. Era um estilo próprio de inquirir os poderes dirigentes que, desde os anos 1980, existia na jornalista que passa agora a fazer parte da história do jornalismo em Macau: Ng Sio Ngai faleceu na madrugada de sexta-feira, 25, vítima de doença oncológica. A notícia foi avançada pelo jornal online “All About Macau”, que ajudou a fundar e de que era dirigente. “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento de Ng Sio Ngai, presidente do ‘All About Macau’, na madrugada de 25 de Agosto, após doença prolongada. O seu falecimento constitui uma grande perda e uma grande tristeza para nós.” O obituário descreve ainda que a jornalista iniciou a carreira no período em que Macau estava ainda sob administração portuguesa, “cobrindo notícias e escrevendo crónicas de opinião para vários órgãos de comunicação social”. O “All About Macau” descreve ainda que Ng Sio Ngai “foi uma das principais jornalistas da linha da frente de Macau, testemunhando momentos importantes como as negociações sino-portuguesas [sobre a questão de Macau], a transferência de soberania e as eleições para o Chefe do Executivo, além de ter feito uma cobertura aprofundada de acontecimentos importantes que preocupam a comunidade de Macau, nunca desistindo”. Ainda sobre o “All About Macau”, fundado em 2012, o jornal recorda que a jornalista, juntamente com outro grupo de repórteres, decidiu criar este meio de comunicação online em língua chinesa “dedicado a mostrar uma pluralidade de vozes junto da sociedade e a construir uma sociedade civil juntamente com o público”. No trabalho feito com a Associação de Jornalistas de Macau, da qual foi co-fundadora, em 1998, Ng Sio Ngai “foi uma voz activa na defesa da liberdade de imprensa em Macau”. “Durante a sua doença, a presidente sempre continuou a prestar atenção à dinâmica da sociedade. Apesar de estar doente, continuou sempre a prestar atenção à dinâmica da sociedade e a persistir no seu amor pelo jornalismo, demonstrando um amor e sentido de responsabilidade sem paralelo pela profissão”, lê-se no obituário. O jornal destaca ainda que a liderança “extraordinária” da repórter “permitiu que os meios de comunicação social avançassem apesar das dificuldades, transformando-os gradualmente numa plataforma influente com uma diversidade de vozes junto da comunidade”. Aquilo que é essencial Carol Law, também jornalista e amiga de Ng Sio Ngai, recorda ao HM que esta fez muito trabalho “por Macau e pelos meios de comunicação social locais, especialmente para os jovens e as novas gerações de jornalistas”. “Como jornalista cumpriu sempre a sua missão de forma diligente. No período da transição, ainda antes da transferência de soberania, ela procurou, de forma activa, entrevistar responsáveis chineses para saber mais sobre questões como a localização dos quadros [na Administração pública], que era uma das maiores preocupações da sociedade na altura.” Além disso, recorda Carol Law, quando foi anunciada a construção da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, “ela procurou escrever vários artigos que esclarecessem os leitores sobre os custos da obra e os benefícios que poderia trazer para Macau”. Acima de tudo, Ng Sio Ngai dedicou-se, ao longo da sua carreira, a “acompanhar a execução da Lei Básica, bem como a facilitar o debate social, reflectindo [no seu trabalho] todas as vozes das pessoas em termos de desenvolvimento sustentável da cidade, igualdade e liberdade”. Carol Law destaca ainda a defesa firme “da liberdade de expressão e de imprensa”, pois como co-fundadora da Associação de Jornalistas de Macau, “sempre manifestou directamente as suas preocupações, nomeadamente durante as alterações à lei de imprensa e lei de segurança nacional”. A Associação de Jornalistas de Macau, numa nota de pesar sobre o falecimento da jornalista, recordou que esta nasceu em Zhongshan e que se mudou para Macau com 18 anos “em busca dos seus sonhos”, com um grande interesse pela leitura e pelo taoísmo. Ng Sio Ngai foi “uma pessoa verdadeira e honesta”, que “nunca esqueceu a sua vocação de jornalista, mantendo uma atitude independente e crítica em relação ao Governo”. Uma figura “heroica” Johnson Ian, ex-jornalista do jornal Ou Mun, recordou nas redes sociais os dias em que, com Ng Sio Ngai, “andava atrás das notícias, agarrava o microfone e fazia viagens de trabalho”. “Tu eras sempre a primeira ir, sempre a olhar para a frente. Lembro-me das nossas alegrias e tristezas quando fazíamos a cobertura da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, das gargalhadas que dávamos quando comíamos snacks a altas horas da noite e bebíamos café juntos. Foi óptimo ter-te como jornalista sénior, uma colega de armas, uma velha e boa amiga. Ter-te foi a sorte dos jornalistas da minha geração e também de Macau”, escreveu ainda. Mas Ng Sio Ngai é também uma personalidade recordada por figuras fora da comunidade jornalística, nomeadamente Scott Chiang, antigo dirigente da Associação Novo Macau e ex-candidato a deputado. Ao HM disse que a jornalista falecida foi “uma figura omnipresente da sociedade civil de Macau” “Em primeiro lugar, ficávamos surpreendidos pela idade dela, pois era quase sempre a jornalista mais velha da redacção, muitas vezes a fazer trabalho comum junto de um grupo de colegas com um terço da sua idade. Muitos foram deixando a profissão ao longo dos anos, mas Ng Sio Ngai manteve-se sempre a trabalhar. Era, sem dúvida, uma autoridade relativamente ao seu profissionalismo e experiência, embora estivesse longe de ser autoritária. Não podemos, contudo, misturar bondade com fraqueza.” Para Scott Chiang, Ng Sio Ngai “era uma jornalista muito feroz quando era necessário, especialmente quando a pessoa do outro lado do microfone tentava uma forma fácil de fugir às questões”. “Pessoas como ela deixam-nos um testemunho de devoção e resistência. Lembram-nos que, num mundo de loucura total, é possível manter uma busca pura de ideais”, declarou. O cineasta local Vincent Hoi também juntou a sua voz a um vasto e heterogéneo grupo de pessoas que recordaram a jornalista nas redes sociais. Ao HM, disse que a sua morte “é uma grande perda para o jornalismo de Macau, sobretudo para os media chineses”. “Ela tinha um grande sentido de justiça e sempre lutou pela liberdade no jornalismo. O que ela noticiava não era aquilo que o Governo queria, mas era o que os residentes queriam saber.” Sobre o jornal que ajudou a fundar, Vincent Hoi aponta que “mudou o ambiente do jornalismo em língua chinesa”, num cenário em que “os media chineses, como a TDM e o jornal Ou Mun, são muito conservadores e reportam as notícias que o Governo quer”. Em termos pessoais, Vincent Hoi recorda alguém que tinha amigos de todas as idades, “muito heroica”, que vai deixar saudades.
Andreia Sofia Silva SociedadeComércio | Retalhistas pessimistas face a terceiro trimestre Comerciantes do sector do retalho não estão confiantes num bom volume de negócios para o terceiro trimestre deste ano. Dados da Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC) mostram que 48,2 por cento dos retalhistas prevêem a diminuição do volume de vendas em termos anuais, enquanto 38,4 por cento antecipam uma estabilização. Por sua vez, 13,4 por cento projectam um aumento do volume de negócios. Ainda para os últimos três meses do ano a previsão de cerca de 47,4 por cento dos retalhistas é de que a situação de exploração dos estabelecimentos seja insatisfatória. A DSEC revela ainda que 42 por cento dos retalhistas acreditam “numa situação estável de exploração”, enquanto 10,6 por cento “prevêem uma situação de exploração satisfatória”. Por sua vez, 78,7 por cento dos retalhistas prevêem a estabilização dos preços de vendas em termos anuais, 12,1 por cento antevêem uma diminuição e 9,2 por cento projectam o aumento. No segundo trimestre do ano o volume de negócios foi de 21,58 mil milhões de patacas, um aumento anual de 59,3 por cento com a eliminação de factores que influenciam os preços. Contudo, no segundo trimestre o volume de negócios caiu 10,2 por cento em relação ao primeiro trimestre do ano. De destacar que o índice do volume de vendas diminuiu 14,3 por cento em termos trimestrais.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTNR | Poder do Povo pede que Governo siga medidas de Hong Kong A associação Poder do Povo pede que as autoridades locais sigam as mesmas medidas implementadas em Hong Kong sobre a contratação de trabalhadores não residentes para os sectores dos transportes e construção civil, nomeadamente com controlo salarial. Numa carta entregue ao Governo, a associação exige também que o salário mínimo não seja inferior a 36 patacas por hora A associação Poder do Povo entregou ontem uma carta junto da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) a exigir que Macau siga as mesmas regras que Hong Kong no que diz respeito ao processo de contratação de trabalhadores não residentes (TNR) para os sectores da construção civil e transportes, nomeadamente as quotas de trabalhadores permitidas por sector, os salários pagos e a proporção residente-TNR por área laboral. A missiva, também dirigida ao secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, pede ainda que o salário mínimo não seja inferior a 36 patacas por hora, tendo em conta que o ajustamento do valor está actualmente em discussão em sede de Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). Quanto aos TNR, a Poder do Povo defende que os TNR recebam o mesmo que a média salarial em vigor por sector laboral, para garantir um equilíbrio com os ordenados pagos aos residentes. Lam Weng Ioi, secretário-geral da associação, disse que “uma das políticas adoptadas em Hong Kong é a regulação [da contratação] de TNR com salários nunca inferiores ao salário médio pago nos sectores, o que pode evitar que a importação de TNR venha a afectar os montantes salariais dos locais”. “Uma vez que a qualidade de vida e os salários dos residentes locais e dos nacionais do Interior da China são diferentes, os TNR podem aceitar receber valores mais baixos”, adiantou. Mais transparência Lam Weng Ioi afirmou ainda que o Governo deve ser mais transparente nos critérios de aprovação de quotas para os TNR, devendo regular melhor a proporção entre estrangeiros e locais. “Algumas empresas apresentam pedidos [de contratação] justificando a necessidade de TNR, mas não sabemos quais foram os critérios de aprovação [da parte da DSAL]. Precisamos que esses critérios sejam divulgados”, frisou. Uma vez que não há limites definidos para o total de quotas de TNR, o responsável considera que estes devem ser estabelecidos, para que a aprovação de quotas de TNR seja feita de forma prudente, garantindo que não há uma disponibilidade de trabalhadores estrangeiros superior à procura por parte das empresas. Ainda sobre o salário mínimo, Lam Weng Ioi lembrou que, com o aumento da inflação nos últimos anos, que ronda os cinco por cento, o salário mínimo deve acompanhar também essa tendência. “Se os preços aumentarem e o montante do salário mínimo permanecer igual, isso vai desiludir os grupos sociais mais vulneráveis”, acrescentou. Em finais de Julho o Governo propôs que o salário mínimo, que é actualmente 32 patacas por hora, passe a 34 ou 36 patacas por hora de trabalho.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteFukushima | Descarga de águas origina protestos na Coreia do Sul As águas residuais da central nuclear de Fukushima começaram ontem a ser despejadas no oceano, situação que levou à proibição de importação de produtos em Macau, Hong Kong e Interior da China. A Agência Internacional de Energia Atómica supervisionou a descarga e indicou que a concentração de trítio na água está abaixo do limite esperado O operador de Fukushima Daiichi, a Tokyo Electric Power Company Holdings (TEPCO), começou ontem o lançamento para o oceano de águas residuais radioactivas tratadas e diluídas da central nuclear. Num vídeo transmitido ao vivo da sala de controlo da central, a TEPCO mostrou um membro da equipa a ligar a bomba que descarrega as águas para mar às 13h03 (hora local), três minutos após o início da etapa final, num processo que poderá prolongar-se até 2050. A bomba enviou o primeiro lote de água diluída e tratada de uma piscina de mistura para uma piscina secundária, a partir da qual a água é libertada no oceano, a um quilómetro da costa, através de um túnel submarino. O arranque aconteceu só depois da TEPCO confirmar que não havia qualquer impacto devido ao lançamento por parte da Coreia da Norte de um alegado satélite espião, que provocou a activação do alerta antimíssil no sul do arquipélago do Japão. A TEPCO tinha avisado que a central de Fukushima Daiichi poderia, no início de 2024, ficar sem espaço para armazenar cerca de 1,33 milhões de toneladas de água, proveniente de chuva, água subterrânea ou injecções necessárias para arrefecer os núcleos dos reatores nucleares. A operadora pretende libertar 31.200 toneladas de água tratada até ao final de Março de 2024, o que esvaziaria apenas 10 dos cerca de mil tanques de armazenamento, embora o ritmo de descarga deva aumentar mais tarde. A preparação tinha começado na terça-feira, após o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, ter dado o aval final numa reunião dos ministros envolvidos no plano, aprovado pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA). Ainda na terça-feira, uma tonelada de água tratada foi misturada com 1.200 toneladas de água do mar, sendo que a mistura foi mantida na piscina primária por dois dias para amostragem final para garantir a segurança, disse um executivo da TEPCO. Junichi Matsumoto tinha dito que, na primeira fase que deverá durar cerca de 17 dias, iriam ser descarregados cerca de 7.800 metros cúbicos de água contendo trítio, uma substância radioativa que só é perigosa em doses muito concentradas. “Especialistas da AIEA recolheram esta semana amostras das águas preparadas para as primeiras descargas”, afirmou num comunicado o órgão da ONU que supervisiona a operação. “A análise realizada de forma independente no local confirmou” que a concentração da substância radioactiva trítio estava “bem abaixo do limite operacional de 1.500 becquerel (Bq) por litro”. Protestos na Coreia A libertação de água começa quase 12 anos e meio após a fusão nuclear de Março de 2011, causada por um forte terramoto e tsunami. O plano levantou preocupações entre grupos de pescadores japoneses e também nos países vizinhos, provocando protestos de rua na Coreia do Sul, que levaram ontem à detenção de mais de dez pessoas que tentaram entrar na embaixada japonesa em Seul durante uma manifestação, informou a polícia local. Um pequeno grupo de manifestantes reuniu-se em frente à embaixada, segurando cartazes nos quais se podia ler: “O oceano não é a lata de lixo do Japão”. Por sua vez, a agência sul-coreana Yonhap indica que 16 pessoas, todas estudantes universitárias, foram detidas por esta tentativa de intrusão. Outros manifestantes foram dispersos e a polícia restringiu o acesso ao edifício que alberga a embaixada pouco depois deste incidente. Seul apoiou publicamente a decisão de Tóquio de descarregar água contaminada da central nuclear danificada de Fukushima, mas apelou a uma maior transparência no processo. “Apelo ao governo japonês para que publique informações sobre lançamentos de forma transparente e responsável durante os próximos 30 anos”, disse ontem o primeiro-ministro sul-coreano, Han Duck-soo. O chefe do Governo sul-coreano reconheceu que não há razões para uma “preocupação excessiva”, porque o plano aprovado pelas autoridades japonesas, que recebeu a aprovação da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), não deverá causar danos significativos. “Embora o cenário ideal fosse evitar completamente a descarga de água contaminada, os peritos de todo o mundo partilham a opinião de que não é necessária uma preocupação excessiva da população”, sustentou. Alimentos proibidos A descarga de águas residuais de Fukushima levou as autoridades de Macau e Hong Kong, bem como a própria China, a proibir a importação de determinados alimentos, tal como peixe, marisco, frutas, legumes, ovos, algas e sal marinho, de dez zonas do país, nomeadamente Fukushima, Chiba, Tochigi, Ibaraki, Gunma, Miyagi, Niigata, Nagano, Saitama e Tóquio. A suspensão de importação poderá afectar o abastecimento de restaurantes japoneses em Macau, foi noticiado esta quarta-feira, apesar de representantes do sector estimarem que o impacto será pouco significativo. Em comunicado, o Governo de Macau declarou que o Japão “ignorou as fortes dúvidas e a firme oposição da comunidade internacional, lançando forçosamente o plano de descarga de águas contaminadas da central nuclear de Fukushima no mar”, pelo que as autoridades locais estão “muito preocupadas com o incidente”, manifestando uma “forte oposição”. Há vários meses que o Instituto para os Assuntos Municipais tem vindo a realizar análises à comida importada do Japão, a fim de testar níveis de radioactividade e eventuais perigos para a saúde pública. Segundo a agência noticiosa Xinhua, o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) chinês manifestou-se ontem novamente contra a decisão das autoridades japonesas, tendo solicitado ao Governo de Fumio Kishida o fim da operação. “A China opõe-se firmemente e condena [este acto] com veemência. Fizemos sérias diligências junto do Japão e pedimos-lhe que pusesse termo a este acto ilícito”, afirmou o porta-voz do MNE num comunicado. O porta-voz afirmou também que a eliminação das águas contaminadas da central nuclear de Fukushima é uma questão importante em matéria de segurança nuclear e que o seu impacto ultrapassa as fronteiras do Japão, não sendo de modo algum um assunto privado do país. O MNE chinês entende que este acto “é extremamente egoísta e irresponsável que ignora o interesse público global”, pois “o oceano pertence a toda a humanidade”. “Ao despejar a água no oceano, o Japão está a espalhar riscos para o resto do mundo e a passar uma ferida aberta para as futuras gerações”, adiantou o porta-voz. Para a China, está em causa uma infracção “dos direitos das pessoas à saúde, ao desenvolvimento e a um ambiente saudável, o que viola as responsabilidades morais e as obrigações do Japão ao abrigo do direito internacional”. O MNE entende ainda que, “a partir do momento em que o Japão iniciou a descarga, colocou-se no banco dos réus perante a comunidade internacional e está obrigado a enfrentar a condenação internacional durante muitos anos”. Impacto no turismo? Ouvidos pela rádio e televisão públicas de Hong Kong, a RTHK, dois representantes do sector do turismo comentaram a possibilidade de o sector vir a ser afectado devido à descarga das águas residuais de Fukushima. Steve Huen, director executivo da EGL Tours, especializada em viagens ao Japão, afirmou que o impacto pode ocorrer, sendo, no entanto, de curta duração. Na quarta-feira, adiantou o responsável, o número de pessoas de Hong Kong que se inscreveram para excursões no país sofreu uma redução de 20 por cento face aos dois dias anteriores. “Não creio que os efeitos sejam duradouros. É claro que toda a gente vai observar a situação, mas talvez quando virem que não há problemas, comecem a viajar para o Japão novamente. Penso que levará muito pouco tempo para os números voltarem ao normal, penso que dentro de duas a três semanas”, disse Huen. Por sua vez, Fanny Yeung, directora executiva do Conselho da Indústria de Viagens de Hong Kong, fala de um efeito negativo mais duradouro, com uma quebra de 20 por cento no número de visitantes nos próximos meses. “A comida de lá, especialmente o peixe fresco, é algo muito desejado pelos viajantes. Este incidente afecta o seu nível de confiança e a intenção de as pessoas irem de férias ao Japão”, disse à RTHK. A responsável entende que as agências de viagens terão de considerar outros destinos e mercados para as suas operações. Com agências
Andreia Sofia Silva EventosBienal | Inteligência Artificial em foco na mostra “Livro da Revelação de___” Lam Sio Man e Pal Lok Chok assinam a curadoria da exposição “Livro da Revelação de__”, do colectivo “My Land Culture”, que reúne trabalhos de sete artistas. A exposição, patente na Galeria Lisboa a partir de Outubro, na Doca dos Pescadores, integra a Bienal Internacional de Arte de Macau e traz diversas visões sobre crenças tradicionais, tecnologia e inteligência artificial O colectivo “My Land Culture”, com sete artistas locais e estrangeiros, faz-se representar na exposição intitulada “Livro da Revelação de___”, com curadoria de Lam Sio Man e Pal Lok Chok, e que pode ser vista a partir de 6 de Outubro e até 30 de Novembro na Galeria Lisboa, na Doca dos Pescadores. Integrada no cartaz da Bienal Internacional de Arte de Macau, a mostra foi uma das quatro propostas de curadoria local escolhidas pelo Instituto Cultural (IC) para integrar a bienal, cujo tema é “A Estatística da Fortuna”. Os artistas escolhidos para a exposição são Fan In Kuan, Leong Chi Mou, Leong Chon, Ani Liu, a dupla Marta Stanisława Sala e Cheong Kin Man, Clement Valla e ainda Lu Zhang. Numa resposta por escrito ao HM, assinada em conjunto, os curadores explicam a génese deste projecto, que surge num ano que constitui “um marco histórico na integração da Inteligência Artificial (IA) na sociedade humana”. Apesar da enorme difusão da IA no nosso dia-a-dia, Lam Sio Man e Pal Lok Chok consideram que “há ainda uma tendência notória de jovens que visitam templos e abraçam as práticas religiosas tradicionais”, sendo que “o ressurgimento das crenças tradicionais tornou-se um fenómeno comum entre as novas gerações e a sociedade como um todo”. Desta forma, tornou-se imperativo explorar, na exposição, “este contraste intrigante”, explorando-se “a interligação entre o progresso tecnológico e a observância da religião”. “A nossa intenção era investigar, de uma perspectiva artística, o impacto da tecnologia no nosso processo de tomada de decisões, emoções, comportamentos e normas sociais, nas várias dimensões das nossas vidas. A nossa dependência face à tecnologia, juntamente com a falta de consciência sobre os seus impactos, pode levar-nos a desenvolver certas superstições ou a ignorar os potenciais riscos de desumanização”, frisaram. Assim, o trabalho de curadoria consistiu em chamar os artistas a “desconstruir aparentes aspectos comuns das nossas rotinas diárias”, sempre com um olhar na interacção entre superstições e tecnologia, a fim de “obter um profundo conhecimento da tecnologia, algo que nos pode facilitar uma maior compreensão da própria humanidade”. O nome da exposição, “Livro da Revelação de__” não é comum. O espaço em branco remete para uma “identidade fluída, simbolizando uma nova geração inquieta que navega [online] nesta era”. Esta parte do título significa também que todos os visitantes da exposição são abrangidos pelo projecto, “convidando-os a envolverem-se com as obras de arte e a descobrirem o poder transformador da arte numa era em que a tecnologia pode parecer inadequada e a fé pode estar a diminuir”, apontam. Utopias e interpretações A dupla composta por Cheong Kin Man, artista e antropólogo local, a residir em Berlim, e a artista polaca Marta Sala apresentam um conjunto de obras com o título provisório de “Apocalipses”, constituído por uma peça de tecido, um vídeo experimental e uma publicação artística, ainda em desenvolvimento. Ao HM, Cheong Kin Man explicou que o tema central dos trabalhos desta dupla é a “linguagem utópica”. “A parte principal da instalação, uma peça de tecido com nove a dezasseis quadrados com diferentes motivos e ideogramas, conta a história de uma linguagem emergente, numa época em que a linguagem e a tradução proporcionadas pela inteligência artificial desempenham um papel importante na comunicação humana”, disse ainda. Marta Sala adiantou também que o projecto permitiu à dupla “observar como o trabalho artístico e a inteligência artificial estão a ser incorporados entre si”. Os trabalhos da dupla contribuem, segundo os curadores, para explorar o “impacto da Globalização, a tradução da IA, o impacto da tecnologia nas culturas locais e as linguagens”. É uma colaboração “que atravessa diversas origens linguísticas e culturais, prestando atenção à pressão da homogeneização da cultura num mundo sempre em mudança”. Segue-se o trabalho da artista americana Ani Liu, que apresenta “A.I. Toys (unboxing mania)”, uma obra de 2021 feita em torno da ideia de uma máquina que aprende algoritmos e da IA que gera novos brinquedos. Este projecto “levanta importantes questões sobre a influência da tecnologia nas normas sociais e expectativas, particularmente se considerarmos o papel significativo que os brinquedos e jogos têm no pensamento e socialização das crianças”, adiantam os curadores. Clement Valla, outro artista americano, traz a Macau “Postcards from Google Earth”, um projecto em desenvolvimento desde 2010 que gira em torno do que é realidade e ficção no meio digital, através do trabalho artístico em torno de falhas e erros encontrados em imagens capturadas pelo Google Earth. Depois, Valla “transforma as imagens em postais com várias paisagens distorcidas”. De Macau Na Galeria Lisboa pode ainda ser visto o trabalho de Leong Chon, um artista de Macau cujos trabalhos mais recentes desconstroem “os limites entre o virtual e o real”, nomeadamente com a obra, de 2022, intitulada “Diego Velázquez – Retrato de Inocêncio X”, onde é recriado o quadro do pintor espanhol sobre o Papa Inocêncio X com recurso a técnicas de pintura digitais. Também de Macau, Leong Chi Mou apresenta, com “NeOracle”, uma “interpretação digital das práticas tradicionais [na religião], [algo que] reflecte a enigmática natureza do destino humano na era tecnológica”. Fan In Kuan, também artista local, apresenta duas esculturas com os nomes “Twelve Records”, de 2022, e “Pataca”, de 2020. Questionados quanto aos desafios sentidos para desenvolver esta mostra, Lam Sio Man e Pal Lok Chok alertam para as disparidades em termos de recursos face ao que as operadoras de jogo podem oferecer em termos artísticos, tendo em conta “as desvantagens em termos de equipamentos e recursos”. “O nosso objectivo principal para o público é fazer com que este consiga realizar uma profunda contemplação da nossa vida tecnológica contemporânea, encorajando as pessoas a desenvolver críticas e opiniões com base nas obras de arte provocatórias, em matéria de pensamento, exposição”, rematam.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteJogo | Analistas entendem que receitas podem chegar a 200 mil milhões em 2024 Ho Iat Seng previu que as receitas do jogo atinjam 200 mil milhões de patacas no próximo ano. Analistas ouvidos pelo HM acreditam ser possível atingir essa fasquia, apesar dos desafios em termos de ocupação hoteleira e infra-estruturas de transportes para acolher mais jogadores Analistas e economistas ouvidos pelo HM acreditam que o sector do jogo pode, de facto, registar receitas na ordem dos 200 mil milhões de patacas no próximo ano, montante previsto pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, na última sessão plenária na Assembleia Legislativa (AL) em que participou. Contudo, há desafios a contornar para que, em coordenação com o sector turístico, aumentar a capacidade para receber e acolher potenciais jogadores. O economista José Sales Marques baseia-se nos números actuais para fazer uma previsão. “Para as receitas do jogo atingirem as 200 mil milhões de patacas em 2024, as receitas mensais terão de ter um valor médio mensal de cerca de 16 mil milhões. Ora as receitas do jogo de Agosto deverão atingir cerca de 18 mil milhões de patacas. Se a tendência para a recuperação [económica] continuar a evoluir de forma positiva, e se os factores externos tiverem também um comportamento positivo no próximo ano, as receitas do jogo poderão, efectivamente, atingir as 200 mil milhões de patacas”, declarou. Opinião semelhante tem Alidad Tash, analista e director-executivo da consultora 2NT8 Limited, especialista nas áreas do jogo e resorts integrados. “A previsão do Chefe do Executivo de 200 mil milhões de patacas para 2024 é muito viável”, começou por afirmar o analista. “A minha previsão mais recente indica que [o sector] poderá obter [receitas] de 180 a 190 mil milhões de patacas este ano e de 210 a 230 mil milhões de patacas em 2024, por isso a previsão do Chefe do Executivo é até mais cautelosa. Prevejo um crescimento saudável e contínuo no jogo de massas e um ligeiro aumento no segmento do jogo VIP devido a potenciais desafios com a economia chinesa, que tem um maior efeito sobre os grandes apostadores”, acrescentou. As salas que contam Eric Coskun, analista e director da área de projectos de casinos na consultora IGamiX Management & Consulting Ltd, também faz uma previsão superior aos números avançados pelo governante máximo da RAEM, mas mediante determinados cenários. “De acordo com as nossas projecções, Macau deverá atingir este ano 176 mil milhões de patacas [de receitas] e, dada a actual taxa de crescimento, deverá, teoricamente, atingir entre 215 e 220 mil milhões de patacas, se houver uma grande injecção de salas [de jogo].” Isto porque “actualmente o sector VIP representa apenas 24 por cento do total de receitas do jogo, pelo que as perspectivas de se ultrapassarem as 200 mil milhões de patacas dependem fortemente da entrada em funcionamento de muito mais salas”. Eric Coskun lembra que o segmento VIP, ou seja, das apostas de valor elevado, “era o principal contribuinte para o total de receitas de jogo”, sendo que “a contribuição de um único jogador VIP para esse total de receitas era, no mínimo, equivalente à contribuição [das apostas] de, pelo menos, dez jogadores do segmento de massas”. Com a gradual redução do sector VIP, o analista pensa que “com um mercado dominado [pelo segmento] de massas, a pressão sobre as salas disponíveis será ainda maior”. Ben Lee, analista financeiro e sócio da consultora IGamiX, afasta a possibilidade de a fasquia de 200 mil milhões de patacas ser alcançada já este ano, a menos que aconteça um “aceleramento do desempenho” do sector do jogo nos últimos três meses do ano a seguir à semana dourada de Outubro, “ultrapassando significativamente a trajectória actual”. “O total acumulado de receitas do jogo, até ao mês passado, é de 96,7 mil milhões de patacas. Prevemos que este mês termine com 17 a 17,6 mil milhões de patacas [de receitas], o que nos poderá dar um acumulado de 114 mil milhões de patacas, deixando uma diferença de 86 mil milhões de patacas para os restantes quatro meses do ano”, disse ainda. Infra-estruturas precisam-se Na óptica de Ben Lee, para se cumprir a previsão do Chefe do Executivo será necessário desenvolver mais infra-estruturas em matéria de alojamento. “Actualmente, a nossa capacidade está a ser praticamente toda utilizada. A nossa rede de transportes está sob grande pressão, de tal forma que os turistas são levados a utilizar o sistema de autocarros públicos, pois os táxis não estão disponíveis durante todo o dia”, disse. Também Eric Coskun alerta para o problema dos táxis. “Outro critério que também prejudica seriamente o crescimento [do jogo e do turismo] são os transportes. Temos um dos piores serviços de táxi do mundo e, sem dúvida, o maior rácio visitante-táxi do mundo. Os esforços do Governo para melhorar a situação dos táxis têm sido muito fracos e a sua recusa em autorizar um serviço de transporte de passageiros como [as plataformas] DiDi ou o Uber, apesar de Hong Kong e a China o terem, deixa-nos a todos perplexos. Existem muitos outros problemas em curso que só irão dificultar o crescimento de Macau, mas os quartos e os transportes serão provavelmente os maiores.” Em matéria de transportes, Alidad Tash entende que a falta de táxis não afecta assim tanto os grandes apostadores, que recorrem a limusinas ou outro tipo de serviço de transporte privado, ou aos próprios autocarros providenciados pelos casinos. “É com o público que não joga, que tem dificuldades em ir a outros locais que não os casinos, que o Governo se preocupa”, rematou. Relativamente à problemática do alojamento, essencial para a pernoita de potenciais jogadores, o analista sustenta a sua previsão com estatísticas oficiais recentes. “Em Junho, tivemos 2,2 milhões de visitantes, com uma ocupação de quartos na ordem dos 89 por cento. Em Julho, os visitantes foram 2,76 milhões, com uma ocupação de cerca de 94 por cento. Deveremos terminar o ano com cerca de 26 a 27 milhões de turistas. Para atingirmos um total de receitas do jogo de 200 mil milhões, precisaríamos de ver um aumento do número de turistas para 32 milhões. Como já estamos com uma taxa de ocupação hoteleira na ordem dos 90 por cento, onde vamos acomodar os visitantes adicionais?”, questionou. Sem sustentação Eric Coskun defende que o sector da hotelaria deveria disponibilizar mais 15 a 20 mil quartos económicos para que haja um “crescimento sustentável” do sector turístico. “No final do primeiro trimestre de 2023, tínhamos 38.000 quartos e 81 por cento eram de quatro ou cinco estrelas. Em todos o lado, os preços dos quartos estavam no máximo, factor que aliado ao aumento dos visitantes e à falta de oferta, agravou os problemas de alojamento dos jogadores do segmento de massas. Muitos optaram por ficar hospedados em Zhuhai e fazer apenas uma viagem de um dia a Macau para fazer compras, refeições, passeios e apostas em casinos num curto espaço de tempo.” No passado dia 14 de Agosto, o Chefe do Executivo admitiu que o défice orçamental para o próximo ano seria de dez mil milhões de patacas, prevendo receitas do jogo na ordem das 200 mil milhões de patacas em 2024, o que permitiria acabar com o cenário de défice nas contas públicas em 2025. “Haverá contenção de despesas em 2024, porque segundo as nossas previsões de despesas, iremos registar défice. Com a previsão de 200 mil milhões de receitas de jogo podemos chegar a um equilíbrio. O nosso regime tributário é muito simples e são poucas as receitas provenientes de outras áreas. Não vamos conseguir aumentar os impostos pagos pelas pequenas e médias empresas. Devolvemos 70 por cento do imposto profissional durante a pandemia. Temos de alargar um pouco [as fontes de rendimento] e o sector financeiro terá de contribuir com 12 por cento dos impostos”, adiantou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaFukushima | Macau proíbe importação de produtos alimentares do Japão Peixe e marisco, frutas, algas e sal marinho são alguns dos produtos alimentares que as autoridades de Macau vão deixar de importar de dez regiões do Japão devido à decisão de descarga das águas da central nuclear de Fukushima no oceano. Macau reage assim em consonância com Hong Kong e o Interior da China O Governo decretou ontem a proibição de alguns produtos alimentares oriundos do Japão devido à decisão das autoridades nipónicas de despejar as águas da central nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico. Segundo a nota oficial divulgada ontem, será proibida a importação de produtos alimentares frescos como peixes, marisco, frutas, legumes, sal e algas marinhas de dez regiões do Japão, considerados como produtos com o risco mais elevado para a saúde pública. A proibição de importação entra em vigor esta quinta-feira, data em que deverão começar as descargas de água. As regiões consideradas de mais alto risco em matéria alimentar são, além de Fukushima, Chiba, Tochigi, Ibaraki, Gunma, Miyagi, Niigata, Nagano, Saitama e a própria capital, Tóquio. As autoridades dizem estar “profundamente desagradadas” com a decisão tomada pelo Governo japonês, justificando que a proibição das importações “é uma medida necessária para assegurar a saúde da população e a segurança alimentar”. Na mesma nota, é ainda referido que a decisão do Japão “sem consulta dos países vizinhos é um acto de extrema irresponsabilidade”, sendo que as autoridades locais dizem estar “profundamente preocupadas com o incidente”. O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que coordena matérias de segurança alimentar, diz estar em coordenação com as autoridades de Guangdong e Hong Kong sobre esta matéria. HK fecha a porta Entretanto, Hong Kong anunciou ontem também a imposição “imediata de medidas de controlo da importação” de produtos japoneses, horas após o Japão revelar que as águas da central de Fukushima vão começar a ser lançadas no oceano. “Instruí imediatamente o secretário para o Ambiente e Ecologia e os departamentos relevantes para imporem de imediato medidas de controlo de importações”, disse o Chefe do Executivo da RAEHK, John Lee. O dirigente disse que a medida serve para “proteger a segurança alimentar e a saúde pública de Hong Kong”, que apontou como “as principais prioridades do governo”. A China continental também já tinha proibido a importação de alguns alimentos de dez províncias do Japão. Na segunda-feira, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, defendeu que descarregar a água no oceano “não é a opção mais segura ou mais prudente”. O Governo japonês anunciou ontem que as águas residuais radioactivas tratadas e diluídas da central nuclear de Fukushima Daiichi serão lançadas no oceano a partir de amanhã. O primeiro-ministro, Fumio Kishida, deu o aval final numa reunião dos ministros envolvidos no plano e deu instruções ao operador da central, a Tokyo Electric Power Company Holdings (TEPCO), para estar pronto para iniciar as descargas na quinta-feira, se o tempo o permitir. A libertação de água começa quase 12 anos e meio após a fusão nuclear de Março de 2011, causada por um forte terramoto e tsunami. A central de Fukushima Daiichi deverá, no início de 2024, ficar sem espaço para armazenar cerca de 1,33 milhões de toneladas de água, proveniente de chuva, água subterrânea ou injeções necessárias para arrefecer os núcleos dos reactores nucleares. Tanto o governo japonês como a TEPCO alertaram que a água deve ser removida para evitar fugas acidentais dos tanques. Com Lusa
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteBRICS | Cimeira na África do Sul com expansão do bloco na agenda O grupo dos BRICS, que junta as economias emergentes mais importantes do mundo, incluindo a China, está reunido em Joanesburgo. Da 15ª cimeira, que termina amanhã, podem sair novidades quanto à adesão de novos países. Xi Jinping deverá procurar o reforço da aposta no multilateralismo e no crescimento da influência global da China Com agências Xi Jinping está desde segunda-feira na África do Sul para participar na 15ª cimeira dos BRICS, o bloco de economias emergentes da qual a China faz parte juntamente com Brasil, Rússia, Índia e, desde 2010, a própria África do Sul. O bloco de nações representa 40 por cento da população mundial e 26 por cento da riqueza gerada no planeta. Esta é a segunda visita internacional que o Presidente chinês realiza este ano depois do encontro bilateral com Vladimir Putin em Moscovo, no passado mês de Março. Segundo a agência estatal Xinhua, Xi Jinping chegou na segunda-feira a Joanesburgo, onde foi recebido pelo Presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa e outros dirigentes políticos. Num discurso, o Presidente chinês declarou que iria “trocar opiniões com Ramaphosa sobre o aprofundamento das relações China-África do Sul e questões de interesse comum”. Xi Jinping frisou ainda que “uma relação sólida e crescente entre China e África do Sul não só beneficia os dois povos, mas também traz mais estabilidade a um mundo que está a passar por transformações e turbulências”. Xi Jinping apontou também que a 15ª cimeira dos BRICS, que arrancou ontem, “tornar-se-á um marco importante no desenvolvimento do mecanismo [do bloco] e ajudará a levar a unidade e cooperação dos países em desenvolvimento a um nível mais elevado”. O Presidente chinês fez-se acompanhar por Cai Qi, membro do comité permanente do Politburo e director do Gabinete Geral do Comité Central do Partido Comunista Chinês, e Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros. Vários analistas entendem que a presença de Xi Jinping em solo africano constitui mais um passo para cimentar a sua estratégia multilateral em resposta aos avanços geopolíticos dos EUA. Citado pela CNN Internacional, Steve Tsang, director do Instituto da China da Faculdade de Estudos Orientais e Africanos (SOAS, na sigla inglesa) da Universidade de Londres, defendeu que Xi Jinping “não está apenas a competir com a América na actual ordem internacional dominada pelos Estados Unidos”. “O seu objectivo a longo prazo é alterar a ordem mundial para uma ordem sino-cêntrica. Faz sentido que a China se envolva com o Sul Global, que é muito mais numeroso do que as democracias ocidentais e com uma governança maioritariamente autoritária”, frisou. De salientar que o embaixador chinês na África do Sul, Chen Xiaodong, defendeu, antes da chegada de Xi, que os BRICS constituem “uma importante plataforma para a cooperação entre nações emergentes e em desenvolvimento”, bem como a “espinha dorsal da equidade e da justiça internacionais”. Relação com história Um comunicado da presidência sul-africana, citado pelo Lusa, destaca que a visita de Xi Jinping ao país “ocorre no contexto da celebração de 25 anos de relações diplomáticas entre os dois países, enquanto os laços históricos remontam à conferência de Bandung de 1955”. A visita do Presidente chinês é ainda uma oportunidade para “reflectir” sobre a Parceria Estratégica Abrangente (CSP, na sigla em inglês) e de “aprofundar” a cooperação entre os dois países no âmbito do Programa Estratégico de Cooperação a 10 anos (2020-2029), na óptica dos governantes sul-africanos. “A China é o maior parceiro comercial global da África do Sul em volume de negócios”, frisou-se na nota, sem avançar indicadores, acrescentando que “a China é também um importante investidor” no país africano. Nesta visita de Xi, as autoridades de Pretória dizem ter a expectativa de reforçar a cooperação multilateral com Pequim, “especificamente no contexto dos BRICS, G7 mais a China, e G20 e obter o apoio chinês ao apelo da África do Sul e do continente para a reforma das instituições de governança global, nomeadamente o Conselho de Segurança das Nações Unidas”. Uma faixa, uma rota Antes da viagem de Xi Jinping, o Governo chinês publicou nos principais jornais da África do Sul uma carta assinada pelo Presidente intitulada “Navegando o navio gigante da amizade e cooperação entre a China e a África do Sul rumo a um maior sucesso”, onde se destaca a ligação do país à política “Uma faixa, uma rota”. “A África do Sul foi o primeiro país africano a assinar o documento de cooperação ‘Uma Faixa, Uma Rota’ com a China. É o maior parceiro comercial da China em África há 13 anos consecutivos, bem como um dos países africanos com o maior volume de investimento chinês. O bolo da cooperação bilateral está a aumentar”, apontou. Xi Jinping destacou também o facto de muitas empresas chinesas estarem “a expandir as suas operações e, ao mesmo tempo, a assumir mais responsabilidades sociais na África do Sul”. Além disso, “as empresas sul-africanas também estão a investir no mercado chinês para aproveitar as abundantes oportunidades de negócio, dando um importante contributo para o crescimento económico da China”, frisou Xi Jinping. Sobre a relação bilateral com o país, o Presidente chinês entende estarmos perante um “novo ponto de partida histórico”. Em relação à cimeira, a China diz estar “pronta para trabalhar com outros parceiros para actuar no espírito dos BRICS de abertura, inclusividade e cooperação com ganhos mútuos”, além de “construir consensos sobre questões importantes e levar adiante a nossa tradição de diplomacia independente”, defendendo “resolutamente a equidade internacional e a justiça”. Xi Jinping destacou ainda, sobre a cimeira, a importância de instar a “comunidade internacional a voltar a concentrar-se nas questões de desenvolvimento, a promover um papel mais importante do mecanismo de cooperação dos BRICS na governação global e a tornar a voz dos BRICS mais forte”. Expansão em causa? A importância desta cimeira não se pauta apenas por ser a primeira desde a pandemia, e também a primeira que conta com a participação de Lula da Silva como Presidente do Brasil no seu terceiro mandato. Em causa pode estar a expansão do grupo fundado em 2006 com a adesão de mais países, existindo 22 nações que já mostraram esse interesse. O próprio Lula da Silva defendeu a entrada de nações como a Argentina, Venezuela, Arábia Saudita e Emirados Unidos no grupo. Segundo a BBC Brasil, poderão ser mesmo analisados nesta cimeira os critérios e condições de adesão, sendo que um cenário de expansão poderia interessar à China. Em Maio do ano passado, Wang Yi, ministro dos Negócios Estrangeiros, disse mesmo que “a China propõe iniciar o processo de expansão do BRICS, explorar um critério e procedimentos para a expansão e, gradualmente, formar um consenso”. A expansão do bloco está a ser ponderada para que haja um equilíbrio em termos do interesse dos seus membros. Ouvida pela BBC Brasil, Marília Souza Pimenta, professora de relações internacionais da Universidade Estadual de São Paulo, disse que “a entrada de novos países, a priori, tende a diminuir o poder relativo do Brasil no Bloco rumo à consolidação da liderança e influência chinesa”. Segundo a Xinhua, Anil Sooklal, embaixador da África do Sul junto dos BRICS, defendeu que 22 países abordaram formalmente os países do BRICS para se tornarem membros de pleno direito. “Há um número igual de países que têm perguntado informalmente sobre a possibilidade de se tornarem membros do BRICS”, revelou o diplomata. A Argélia foi um dos últimos países a mostrar esse interesse. “Candidatámo-nos oficialmente para fazer parte do grupo BRICS e enviámos uma carta a pedir para sermos membros accionistas do banco (Novo Banco de Desenvolvimento)”, disse o presidente argelino Abdelmadjid Tebboune à Ennahar TV, uma estação de televisão árabe, em 22 de Julho. A Xinhua cita ainda o jornal Mainichi Shimbun, um diário japonês, que refere que Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Nigéria e outros países produtores de petróleo também apresentaram candidaturas. Caso os processos sejam aprovados, “os membros dos BRICS irão cobrir mais de metade dos recursos mundiais de petróleo e gás”, pode ler-se. O bloco dos BRICS é ainda descrito pela Xinhua como “uma força positiva, estável e construtiva” em matéria de relações externas”, sendo que o Novo Banco de Desenvolvimento e o Acordo de Reserva Contingente dos BRICS podem “apoiar as economias com dificuldades de pagamento” perante as “rigorosas políticas económicas do Fundo Monetário Internacional”. Daniel Bradlow, professor na Universidade de Pretória, defendeu que “o Novo Banco de Desenvolvimento se tornou a realização mais proeminente”, conduzindo “ao aumento do comércio entre os países e conquistado alguma atenção internacional”. A Xinhua destacou ainda as palavras do Presidente de Cuba, Miguel Diaz-Canel, sobre o multilateralismo patente na acção dos BRICS. Os membros do grupo “estão a contrariar o conceito da Guerra Fria e a abrir a possibilidade de uma ordem internacional mais equitativa e justa que beneficie o mundo”. Acima de tudo, observadores consideram que o bloco BRICS vai procurar estabelecer uma nova relevância face à guerra da Rússia na Ucrânia, à competição global entre os gigantes asiáticos China e Índia, e perante a derrapagem da economia da África do Sul, apesar de ser o maior produtor mundial de platina e um dos principais produtores de ouro.
Andreia Sofia Silva PolíticaCapitais públicos | CE pode definir subsídios para empresas O Chefe do Executivo poderá decretar a atribuição de subsídios “para manter a normalidade da exploração e funcionamento” das empresas de capitais públicos. É o que consta no regime jurídico das empresas de capitais públicos ontem publicado em Boletim Oficial (BO), sendo que essa atribuição dependerá sempre da auscultação do “serviço competente”. Além disso, devem considerar-se vários critérios para a atribuição de subsídios, nomeadamente “a natureza do objecto da empresa e a racionalidade do plano anual de exploração e funcionamento, e do orçamento anual”. Deve ainda verificar-se se a empresa obteve anteriormente “subsídios do mesmo tipo através de contrato de concessão de exclusivo ou contrato de concessão de serviço público”. Devem também ter-se em conta os “resultados de exploração e funcionamento e a situação financeira da empresa no ano anterior, designadamente os lucros ou as perdas de exercício acumulados”. O referido regime entra em vigor a 1 de Novembro deste ano, sendo coordenado temporariamente pelo Gabinete para o Planeamento da Supervisão dos Activos Públicos, liderado pela ex-secretária Sónia Chan e que se mantém em funcionamento até 20 de Dezembro deste ano. Haverá depois uma nova entidade responsável pela implementação do diploma. Uma das competências da futura entidade passa por “dar orientações às empresas de capitais públicos para criarem um regime de governação empresarial moderna, aperfeiçoarem a estrutura da governação empresarial e promoverem o desenvolvimento estratégico e a optimização das actividades das empresas de capitais públicos”.
Andreia Sofia Silva SociedadeJogo | Sector com menos trabalhadores, mas com maiores salários Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) relativos ao segundo trimestre mostram que o sector do jogo contava com 23.675 croupiers, menos 418 em termos anuais. Em termos gerais, o sector dos casinos, lotarias e outro tipo de apostas contava com um total de 51.693 trabalhadores a tempo completo, menos 1.899, em termos anuais. Relativamente aos salários pagos, excluindo as remunerações irregulares, dos trabalhadores a tempo inteiro, foi de 24.730 patacas, mais 6,3 por cento, em termos anuais. Destaque ainda para o facto de o salário médio de um croupier ser de 20.300 patacas, mais cinco por cento face ao segundo trimestre do ano passado. No fim do trimestre em análise, existiam 113 postos vagos no sector das lotarias e outros jogos de aposta, correspondendo a um crescimento homólogo de 94. Os dados da DSEC mostram também que o número de trabalhadores recrutados foi de 986 e o de trabalhadores que deixaram o emprego correspondeu a 1.220. A taxa de recrutamento de trabalhadores foi de 1,9 por cento e a taxa de rotatividade de trabalhadores foi de 2,4 por cento, com aumentos de 1,6 e 0,9 pontos percentuais, respectivamente, em termos anuais. A taxa de vagas foi de 0,2 por cento. A DSEC explica, em comunicado, que “estes indicadores reflectem que os recursos humanos foram relativamente estáveis no sector”.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteClasse sanduíche | Idades de candidatura iguais à habitação económica As idades mínimas para concorrer a uma habitação intermédia são de 18 e 23 anos, se os pedidos forem em nome de uma família ou individualmente. Porém, os limites mínimos e máximos de rendimentos são superiores à habitação económica. Os requisitos foram ontem divulgados com a publicação da lei da habitação intermédia para a “classe sanduíche” Os residentes que pertencem à chamada classe média e não conseguem comprar uma casa no mercado imobiliário privado, nem correspondem aos critérios para concorrer a uma habitação económica por terem rendimentos acima dos requeridos, podem agora começar a pensar no futuro de outra forma. Isto porque foi ontem publicado no Boletim Oficial (BO) o regime jurídico da habitação intermédia, destinada à chamada classe média, também conhecida como classe sanduíche. São, assim, conhecidos os critérios de candidatura para estas casas que, em matéria de idade, são semelhantes aos da habitação económica: caso se candidatem a título familiar, os interessados devem ter mais de 18 anos de idade, enquanto numa candidatura a título individual, os jovens devem esperar um pouco mais para submeter a documentação, só podendo concorrer a partir dos 23 anos. Todos os candidatos devem ser residentes permanentes e habitantes da RAEM “de forma contínua ou intermitente” há, pelo menos sete anos. Determina-se ainda que, nos dez anos anteriores à data da apresentação da candidatura, os candidatos ou elementos do seu agregado familiar não podem ter assumido as posições de promitentes-compradores, co-promitentes-compradores, proprietários ou comproprietários de prédios ou apartamentos residenciais, ou ainda de terrenos. Também não podem candidatar-se concessionários de terrenos do domínio privado da RAEM. De fora ficam também os candidatos ligados a processos de candidatura à habitação económica. Relativamente aos rendimentos mensais dos candidatos, caberá ao Chefe do Executivo definir os limites mínimo e máximo em despacho. Os limites são, no entanto, superiores aos que vigoram na habitação económica, conforme as percentagens constantes na lei. Assim, a legislação determina que “o limite mínimo de rendimento mensal do candidato e dos elementos do seu agregado familiar [deve ser] igual a 50 por cento do limite máximo de rendimento mensal fixado para a aquisição de habitação económica”. Por sua vez, o “limite máximo de rendimento mensal do candidato e dos elementos do seu agregado familiar é igual ao limite máximo de rendimento mensal fixado para a aquisição de habitação económica, acrescido de 10 por cento”. Na prática, um candidato a título individual a uma casa de habitação intermédia não poderá ter rendimentos mensais inferiores a 19,175 patacas, nem mais de 42,185 patacas. O lado material Em termos de património líquido, o candidato não pode ser proprietário de apartamentos ou outros bens no valor superior a 1,5 milhões de patacas, mais 20 por cento em relação ao limite máximo definido para cumprir os requisitos de admissão às habitações económicas. Entende-se por património líquido casas, incluindo as que são adquiridas nos casos de sucessão, bem como “estabelecimentos industriais ou comerciais, quotas, acções, participações ou outras partes sociais do capital em sociedades civis ou comerciais, direitos sobre embarcações, aeronaves ou veículos, valores mobiliários, bem como contas bancárias, numerário, direitos de crédito, obras de arte, joalharia ou outros objectos, de valor superior a 5.000 patacas”. Cabe também ao Chefe do Executivo definir o preço da venda das casas e o respectivo rácio de compensação, tendo como base “o preço de venda da fracção” e “o valor de mercado avaliado pelo Instituto de Habitação com base no preço dos edifícios habitacionais privados das zonas adjacentes no início da venda das fracções”, entre outros critérios. Uma ideia antiga A habitação para a chamada classe sanduíche é um dos muitos programas habitacionais que o Governo está a desenvolver neste momento para dar resposta aos preços elevados do sector imobiliário e às necessidades de muitas famílias que não conseguem adquirir casa própria. Os residentes dispõem ainda da zona A dos novos aterros, que terá habitação pública e privada, e ainda a opção do “Novo Bairro de Macau” na Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin. O regime jurídico entra em vigor a 1 de Abril do próximo ano e prevê a construção de sete a dez mil casas no total, embora agora se avancem apenas com quatro mil construídos nos terrenos da avenida Wai Long, perto do Aeroporto Internacional de Macau. O projecto de construção de habitação para a chamada classe sanduíche esteve em consulta pública em 2020. Mas já nos anos anteriores deputados e analistas alertavam para a necessidade de dar resposta ao segmento da população residente que não correspondia aos critérios do Governo para concorrer a uma casa económica ou social, mas para quem o mercado privado era inacessível. Em Abril de 2021, o então deputado Au Kam San colocou questões sobre esta matéria. “O Governo está a pensar criar habitação para a classe de sanduíche, para satisfazer as necessidades habitacionais e de aquisição de imóveis desta classe. Todavia, esta habitação não deve ser pública, porque se o for, será só uma segunda versão avançada da habitação económica, e mais um ‘beco sem saída'”. Au Kam San lembrou, à data, que “só com dois tipos de habitação pública – económica e social”, o Governo se encontrava “numa situação dificílima, porque mesmo esgotadas todas as suas forças, não consegue satisfazer as necessidades sociais”. O deputado pedia, assim, uma definição clara de classe sanduíche e quantas casas seriam necessárias para este segmento da população de Macau. Só em Agosto do ano passado o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, disse na Assembleia Legislativa (AL) que os terrenos na avenida Wai Long, recuperados pelo Governo depois do polémico caso La Scala, seriam destinados para a habitação intermédia, dado que “muitos jovens estão a trabalhar no Cotai e, se calhar, essas habitações correspondem melhor às suas necessidades”. E os preços? À semelhança do que tem acontecido com a habitação pública, os futuros preços das casas de habitação intermédia têm gerado grande debate entre os deputados, que questionam se a nova política vai, de facto, corresponder aos rendimentos da classe média. Mais recentemente, o deputado Zheng Anting interpelou o Governo sobre esta matéria. “Alguns residentes temem que o preço da habitação para a classe intermédia, 5000 patacas por pé quadrado de área útil, segundo a previsão do Governo, seja demasiado alto e incomportável. Como vai o Governo, sem prejuízo da qualidade da construção, reduzir quanto possível os custos de construção e administrativos, para garantir um preço adequado?”, questionou. Num artigo de opinião publicado em Dezembro no semanário Plataforma, o deputado Leong Sun Iok abordou também a questão dos preços dos apartamentos, defendendo que existe o risco de se fomentar especulação imobiliária. “Com base nas informações apresentadas pelo Governo, a qualidade, tamanho e instalações de apoio ao esquema de habitação para a classe sanduíche são melhores que os da habitação económica. Por isso, há receio de que estas novas habitações se tornem num novo alvo de especulação imobiliária. Não se exclui a possibilidade de repetir a mesma competição feroz do passado, quando a antiga habitação económica estava aberta a candidaturas e negou o acesso àqueles que realmente precisavam.” Leong Sun Iok falou ainda da necessidade de convergência nas diversas políticas habitacionais em curso. Cabe, assim, às autoridades “preconizar uma maior articulação entre os apartamentos para a classe sanduíche e económica, para que os residentes possam ter, pelo menos, uma oportunidade de troca e assim ir ao encontro das necessidades de desenvolvimento da sua família”.
Andreia Sofia Silva SociedadeCancro | SSM apontam baixa taxa de mortalidade Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) asseguram, em resposta a uma interpelação escrita da deputada Wong Kit Cheng, que “as taxas de morbilidade e mortalidade padronizadas por idade, em Macau, são relativamente mais baixas do que as taxas da maioria dos países economicamente desenvolvidos do mundo”. Tal é sinal, segundo a resposta assinada pelo director dos SSM, Alvis Lo, de que os mecanismos de rastreio e prevenção funcionam. “Tendo como exemplo o cancro colorrectal, em 2022, após o rastreio de 2700 pessoas elegíveis, foram realizadas 179 colonoscopias com resultados positivos, sendo que oito tiveram o cancro colorrectal como diagnóstico. A percentagem de cancro colorrectal detectado através da colonoscopia foi de 4,5 por cento, o que reflecte a eficácia do rastreio”, aponta a resposta. Relativamente ao cancro da mama, a taxa de sobrevivência da doença é de 88,5 por cento. Relativamente ao novo hospital das ilhas, foi referido que o futuro Centro Médico de Macau do Peking Union College entrará em funcionamento de forma faseada em finais de Dezembro. Numa primeira fase terá um centro de gestão de saúde, seguindo-se um centro de ambulatório especializado e ainda um centro de tratamento de doenças oncológicas. O objectivo é “aumentar a actratividade dos serviços médicos especializados de Macau e promover o desenvolvimento da indústria do turismo médico”.
Andreia Sofia Silva SociedadeRestauração | Negócios crescem mais de 100% O volume de negócios do sector da restauração registou uma subida, em termos anuais, de 104,5 por cento em Junho, enquanto o sector do retalho registou um crescimento de 80,6 por cento no volume de negócios, também em termos anuais. Os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam ainda que 36 por cento dos donos de restaurantes inquiridos previram um crescimento do negócio em Julho, “destacando-se que as proporções dos proprietários dos restaurantes chineses e dos proprietários dos restaurantes japoneses e coreanos foram ambas de 41 por cento”. Por sua vez, 19 por cento dos empresários da restauração previram quebras mensais no volume de negócios para Julho. Relativamente ao comércio a retalho, 31 por cento dos retalhistas entrevistados previram que o volume de negócios para Julho crescesse em termos mensais, descreve a DSEC.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteEducação | Escolas com autonomia para definir regras do uso de telemóveis Desde 2021 que na China as escolas proíbem os alunos de usar telemóveis nas salas de aula. Em Macau, o Governo dá orientações, mas cada escola define as regras para o uso de telemóveis. Pais e professores defendem a integração dos aparelhos no sistema de ensino Vivemos colados ao ecrã do telemóvel grande parte do dia, respondendo a mensagens e vendo as últimas actualizações das inúmeras aplicações e publicações de redes sociais. No caso de crianças e adolescentes, esse fenómeno é também evidente, debatendo-se cada vez mais qual deve ser o lugar do telemóvel, tablet ou smartwatch [relógios inteligentes, com funcionalidades semelhantes a um telemóvel] na sala de aula, tendo em conta que o excesso de horas a olhar para o ecrã pode ser prejudicial para a saúde, além de reduzir drasticamente o nível de atenção nas aulas. Na China proíbe-se, desde 2021, o uso de telemóveis nas salas de aula das escolas do ensino não superior. No caso de Macau, as escolas têm autonomia para regular este comportamento, apesar de a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) estar atenta à problemática, tendo fornecido informações de referência através do Guia de Funcionamento das Escolas. Aponta a DSEDJ que “as escolas de Macau definem, de acordo com a sua organização das aulas, as regras para o uso de equipamentos electrónicos nas escolas”. O organismo acrescenta ainda, em resposta ao HM, que, através do Guia de Funcionamento das Escolas, são feitas sugestões sobre “a utilização dos materiais informáticos e o apoio aos alunos para estes aproveitarem [as vantagens] da Internet”, sendo aconselhado que “as escolas planeiem as actividades pedagógicas e a distribuição dos trabalhos de casa realizados com meios electrónicos”. As directivas emitidas pela DSEDJ têm como referência as sugestões dos Serviços de Saúde sobre o número de horas diárias de utilização dos dispositivos electrónicos com ecrã em diferentes faixas etárias. Desta forma, “pretende-se orientar os alunos a utilizarem, de forma razoável, os produtos electrónicos na aprendizagem, orientando-os para uma atitude e hábitos de utilização correcta da Internet e do telemóvel, equilibrando, deste modo, os seus tempos lectivos e de lazer”. Além da adopção deste Guia, a DSEDJ afirma que “tem mantido uma comunicação estreita com todas as escolas de Macau, aconselhando-as sobre os aspectos a terem em atenção e realizando, com estas, intercâmbios sobre diversos assuntos de interesse social, de modo a facilitar a elaboração e a implementação de políticas educativas”. EPM proíbe No caso da Escola Portuguesa de Macau (EPM) as regras estão há muito definidas no estatuto da própria instituição de ensino, lendo-se que “nas salas de aula é expressamente proibido o uso de telemóveis, smartwatches e de quaisquer outros equipamentos que perturbem o normal funcionamento da aula”. Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM, entende que o sistema, em termos gerais, “tem corrido bem”, embora defenda que a EPM deveria apostar na criação de “mecanismos para ensinar os miúdos a usar o telemóvel”, pois a questão mais importante não é a sua utilização em contexto escolar. “Não basta proibir. Não vale a pena esconder uma realidade tão evidente. Se os miúdos usam o telemóvel, muitas vezes mal, preferia que a escola pudesse integrar a sua utilização para que as crianças percebessem que o uso de equipamentos informáticos pode ter utilidade.” Assim, o responsável considera que a escola poderia fazer um trabalho de “pedagogia sobre a utilização saudável sobre este tipo de aparelhos”. Usar com autorização No caso da Escola Oficial Zheng Guanying, as regras para o uso de dispositivos electrónicos definem-se no Código de Conduta dos Alunos. Assim, logo a partir do ensino primário, lê-se que o aluno se responsabiliza com a seguinte regra: “Devo cumprir que não trago telemóveis e computadores tablet para a escola, sem autorização expressa, por escrito, da escola”. Semelhante directiva existe para os alunos do ensino secundário, cujo uso do telemóvel é bastante mais frequente, adicionando-se ainda que, durante as aulas, se deve “colocar em cima da mesa apenas o livro e o material escolar necessário”. Natacha Gonçalves é professora de inglês do ensino primário nesta instituição de ensino, cujos alunos não usam ainda telemóvel ou outro tipo de dispositivos. Ainda assim, recorda o episódio de um estudante que recebeu dos pais um smartwatch que recebe telefonemas. “Ele usou aquilo durante uma hora apenas, dentro da sala de aula. A directora de turma avisou-me logo que os miúdos não poderiam usar esse tipo de aparelhos.” Além do que consta no Código de Conduta dos alunos, ficou definido, desde o Verão passado, que os alunos do ensino secundário devem deixar os telemóveis numa caixa fechada à chave assim que chegam ao recinto escolar. “Só a funcionária tem a chave e mesmo nos intervalos grandes os alunos não têm acesso ao telemóvel, recebendo-o apenas à hora de almoço”, aponta Natacha. A docente aponta ainda que, no caso da EPM, onde os seus filhos estudam, faz-se uma gestão autónoma da questão, dependendo da turma e do professor. “Na EPM os meus filhos sempre tiveram os telemóveis dentro das salas, nos bolsos. Quando fazem barulho eles vão ver as mensagens que receberam, sendo que alguns professores reclamam, outros não. Os docentes acabaram por gerir a situação e habituaram-se à forma de agir dos miúdos. A escola não regula que eles têm mesmo de entregar os telemóveis.” Natacha Gonçalves entende que existem diversas perspectivas, negativas e positivas, sobre o uso de telemóveis nas salas de aula, podendo até ser integrados no sistema de ensino. “Caso trabalhemos com alunos adolescentes, e se estivermos a ensinar uma língua estrangeira, deveria ser instituído o uso do telemóvel para a pesquisa de certos termos e conceitos. O telemóvel acaba por ser uma ferramenta de trabalho engraçada”, disse. Desta forma, a professora de inglês acredita que “deve haver um equilíbrio”, lembrando que, acima de tudo, um telemóvel é um bem pessoal que não pode ser retirado de ânimo leve ao seu proprietário. “No meu caso odiaria que me tirassem o telemóvel ou me impedissem de o usar. Será que podem ter direitos sobre uma coisa que nos pertence? Acho que há aqui várias questões [a ter em conta]”, rematou. Segundo a Xinhua, as regras definidas para o ensino fundamental e médio na China, em 2021, com base numa informação do Ministério da Educação, proíbem mesmo o uso de telemóveis. Caso os estudantes tenham mesmo de usar o telemóvel nas instalações de ensino deve ser submetido um pedido próprio, com o consentimento, por escrito, dos encarregados de educação. Caso este pedido seja aprovado, os estudantes devem deixar os aparelhos com os funcionários, não os podendo usar durante o período de aulas. O relatório anual da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) sobre a tecnologia na educação, divulgado no mês passado, deixa recomendações para o uso de telemóveis na sala de aula, não só por poderem perturbar a ordem da aula e a atenção do estudante à matéria dada, mas também devido à possibilidade de ocorrência de casos de bullying digital. Segundo o jornal Público, o relatório aponta que o uso de telemóveis deve limitar-se apenas às actividades curriculares, sendo recomendável a proibição de utilização caso se verifique que a integração dos aparelhos com os conteúdos pedagógicos não funciona na prática, ou perturba o normal funcionamento da aula. Alémdo problema do bullying digital, estar demasiadas horas a olhar para um ecrã pode resultar em problemas do foro físico e mental para os mais novos.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteJoshua Erlich, autor de “The East India Company and the Politics of Knowledge”: O conhecimento como legitimidade Em “The East India Company and the Politics of Knowledge”, livro publicado pela Cambridge Press, Joshua Erlich, docente do departamento de História da Universidade de Macau, prova que a Companhia Britânica das Índias Orientais foi mais do que uma empresa meramente comercial, recorrendo ao conhecimento para legitimar a sua presença e acção na Índia britânica no período colonial O livro “The East India Company and The Politics of Knowledge” [A Companhia das Índias Orientais e a Política do Conhecimento] nasce da sua tese de doutoramento e traz-nos a ideia de que o investimento feito pela empresa serviu para legitimar a sua presença na Índia britânica. Como decorreu esse processo? A empresa esteve sujeita a todo o tipo de pressões e transformações entre finais dos séculos XVIII e XIX. Foi uma empresa comercial que começou a conquistar parcelas de território [na Índia] e a ter de conciliar estes dois papéis, ligados ao comércio e à soberania. Era algo difícil de fazer, sobretudo de justificar, e é aí que entra a questão da credibilidade. Era necessário mostrar, aos olhos da classe política britânica e indiana, que a governação [britânica, através da Companhia] era boa e que era necessário manter os privilégios comerciais e toda a estrutura empresarial. No período de Warren Hastings [primeiro governador-geral britânico da Índia entre 1772 e 1785] dominava a ideia de conciliação junto das classes políticas do império, do Reino Unido e da Índia, através do patrocínio a académicos e concessão de apoios a algumas pessoas ligadas à própria elite indiana. Isso dava credibilidade à Companhia, sobretudo junto da classe política. Toda esta ideia de credibilizar e legitimar as acções da Companhia através do conhecimento e da conciliação de diferentes forças políticas começou, de facto, com [Warren] Hastings e durou cerca de seis décadas, ou seja, durante grande parte da existência da Companhia. Esta estratégia de conciliação chegou depois ao fim. Porquê? Foi desafiante [mantê-la] em alguns períodos. A Companhia começou a conquistar cada vez mais território e passou a dominar todo o poder político na Índia britânica. Em meados de 1830 isso significava algo novo, [então] a classe política passou a exigir mais da Companhia, [nomeadamente] uma boa governança. A Companhia decide então partir da ideia de conciliação das elites para a promessa de educar o público, apostando na educação de massas, sendo que esta ideologia levou a uma série de debates em torno da educação. Não só houve investimento, mas também uma grande discussão [sobre este sistema], chegando-se à ideia de que um bom governador seria aquele que educava o seu povo na Índia. Essa é a última fase do compromisso [da Companhia] em relação à área do conhecimento. O investimento em conhecimento e educação funcionava, assim, como argumento para que o Reino Unido pudesse justificar a conquista de territórios na Índia e a sua administração. Exactamente. Por um lado, tínhamos uma Companhia que conquistava território e procurava ter lucros, e para conseguir tudo isso era preciso legitimidade, tendo de se comprometer com uma série de ideais, lidando com as classes políticas de ambos os lados, do Reino Unido e da Índia. Não poderia simplesmente operar pela via do domínio [territorial], sendo necessário negociar com outros poderes políticos poderosos, e é aqui que entra a perspectiva do conhecimento. Temos a ideia de que a Companhia das Índias Orientais tinha apenas uma natureza comercial e económica, mas esse é apenas um lado da história. Um dos pontos interessantes do livro é que este mostra que havia, de facto, um lado político [na existência] da Companhia, com ligação ao conhecimento. Até que ponto é que esta aposta no conhecimento foi importante para educar os locais, na Índia? Foi uma forma eficiente de o fazer? Nem todos os recursos [da Companhia] foram investidos na educação, foi mais um projecto do que propriamente um sistema concluído e posto em prática. Foram feitas muitas promessas e em 1854 falou-se no plano de desenvolver [na Índia britânica] um sistema público de educação com académicos. Temos de pensar que esta era uma ideia muito primitiva na altura, que estava a começar a ser debatida na Europa. A Companhia estava a fazer muitas outras coisas, dividindo ganhos com os seus accionistas, e acabou por não investir muito na educação. Era uma série de ideias e debates que ocorriam, mas que acabaram por ter a sua importância, porque se as autoridades discutiam estes assuntos acabava por se projectar uma certa imagem junto do público. Foi criado o “General Committee of Public Instruction” [Comité Geral de Instrução Pública]. Era o principal órgão, dentro da Companhia, responsável pela área educativa e do conhecimento? Este organismo foi criado em 1823 quando se estava a criar um sistema público de educação, primeiro em Bengali e depois em toda a Índia britânica. Foi prometido um certo montante de investimento para a abertura de escolas e para apoiar académicos, gerando-se vários debates, nomeadamente sobre qual a língua que seria usada no ensino: seria o inglês ou as línguas asiáticas? Seria aplicado o sistema de ensino europeu? Será que a Companhia iria conciliar todas as elites ou tentar expandir a sua influência política junto da sociedade indiana? Tal debate gerou um confronto entre diversas classes, com os reformistas indianos, por exemplo. Essa é a última parte do livro, quando abordo a controvérsia Anglicista-Orientalista. O fim desta controvérsia levou a uma redução ou fim do investimento na educação? É mais complicado do que isso, no sentido em que houve um período de bastante indecisão [nas políticas a adoptar] após 1835 e nos 20 anos seguintes. Em 1854 temos este grande projecto com intelectuais, que prometida a realização deste sistema público, mas o dinheiro não foi de facto investido. A Companhia passou a ter uma importância reduzida e os interesses da Coroa britânica passaram a ser outros, com o Governo britânico a assumir o controlo directo do território a partir de 1858. O programa de educação de massas foi totalmente abandonado. Passou a haver novas políticas em relação à área do conhecimento, com a Coroa a abandonar por completo as ideias que tinham sido desenvolvidas pela Companhia. Quando pensamos em colonialismo pensamos na ideia de imposição de uma cultura sobre outra. Com a ideia deste sistema educativo, a Companhia estava, de certa maneira, a fomentar o desenvolvimento das línguas e culturais orientais, algo que iria contra os interesses de alguma da classe política britânica, que pretendia expandir a cultura inglesa? Para muitos historiadores há um ponto de viragem quando os britânicos aprendem mais sobre outras culturas e ensinam outras línguas, existindo ainda a fase de expansão da cultura britânica. Há sempre aproximações ou distanciamentos em relação a estas ideias, e não podemos construir noções a favor de uma ou de outra. A ideia central [neste contexto], era como se poderia recorrer ao conhecimento para [atingir] fins políticos. O livro traz, assim, uma nova perspectiva sobre a Companhia das Índias Orientais, muito além do seu papel comercial durante o Império britânico. Sim. Tento mostrar a Companhia começou por ser uma empresa global muito poderosa, mas não teve apenas um papel comercial e económico, estando envolvida na política e no conhecimento, publicando livros, financiando investigação e universidades, construindo museus. Este debate que ocorreu sobre o papel do Estado e da Companhia [em termos de investimento] é semelhante ao debate que temos hoje em dia, quando falamos do investimento na investigação e na área das artes e humanidades.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteFamília | Estudo defende incentivos a empresas para colmatar falta de apoios Dois académicos da UPM entendem que o Governo pode incentivar as empresas “a conceder subsídios e inovar o regime de férias” relativamente às medidas de apoio às famílias, que não estão ainda generalizadas na sociedade. O estudo de Chong Leng Leng e Yin Yifen sugere a diferenciação entre os conceitos de políticas destinadas à família e políticas sociais Um estudo recentemente publicado na revista “Administração”, publicação da Direcção dos Serviços de Administração Pública, conclui que não cabe apenas ao Governo desenvolver as políticas de apoio à família, mas que este tem um “papel predominante” que “pode traduzir-se em incentivos às empresas para conceder subsídios e inovar o regime de férias”. A ideia é deixada pelos autores do estudo, Chong Leng Leng, doutoranda pela Universidade Politécnica de Macau (UPM) e vice-presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau, e Yin Yifen, professor da UPM, no estudo intitulado “Compreensão das Políticas de Macau Favoráveis à Família”, um “resultado intercalar” de outro trabalho, o “Estudo sobre a Inovação do Sistema de Gestão da Região Metropolitana de Nível Mundial da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, projecto desenvolvido com o apoio do Fundo Nacional para as Ciências Sociais. Os autores da análise frisam que “a concretização das políticas favoráveis à família não depende só do Governo”, mas sim “das relações de cooperação com o mercado e a sociedade”, permitindo a formação de um “quadro institucional em que o Governo, as organizações a comunidade e as associações sociais” trabalham em conjunto. Ao Governo compete ainda estabelecer condições para “mobilizar plenamente o entusiasmo da sociedade e das empresas” em prol do “desenvolvimento das políticas de Macau favoráveis à família”. Os académicos entendem ainda que, neste contexto, é fundamental ter em atenção que, hoje em dia, as mulheres trabalham cada vez mais fora de casa, contam no currículo com habilitações de estudos superiores, e não se dedicam apenas à família. Assim, “a promoção do desenvolvimento das mulheres e a igualdade de género devem ser nucleares para a futura implementação das políticas de Macau favoráveis à família”, contribuindo “para promover de forma eficaz a sua optimização e implementação”. Licença para ser mãe O estudo aponta também que “com o aumento da proporção de mulheres e mães na força laboral que as políticas favoráveis à família têm vindo a ganhar cada vez mais atenção”. Do rol de medidas destacam-se a licença de maternidade e o tempo de amamentação. Enquanto a amamentação tem sido alvo de debate na sociedade, os autores destacam que a licença de maternidade aumentou nos últimos anos, sendo hoje de 70 dias pagos, e que foi estabelecida a licença de paternidade de cinco dias. Outra medida destacada no estudo é o aumento do subsídio de nascimento, por filho, no valor de 5418 patacas. São ainda apresentados vários exemplos do prazo da licença de maternidade noutros países, nomeadamente a Dinamarca, onde o casal usufrui, no total, de 52 semanas de licença parental, sendo que, destas, 18 são de licença de maternidade. No Reino Unido a licença parental legal é de 54 semanas, incluindo 39 semanas de licença de maternidade remunerada, duas semanas de licença de paternidade remunerada e 13 semanas de licença parental legal e não remunerada. Na Alemanha são atribuídas, por exemplo, 14 semanas de licença de maternidade para mães solteiras, enquanto as mães que estão num relacionamento têm direito a 12 semanas. No caso da China, os autores do artigo citam outros académicos quanto ao facto de as políticas do sistema de segurança social chinês não chegarem a todos. “Com a excepção do seguro de maternidade, as medidas favoráveis à família apenas beneficiam algumas famílias e grupos especiais”, além de que “a protecção é bastante limitada”. Desta forma, “um tal sistema de segurança social necessita de uma reforma à luz da nova política populacional”. Políticas não generalizadas Uma crítica deixada pelos autores do estudo publicado na revista Administração aponta para a falta de generalização deste tipo de políticas, tendo em conta os resultados do “Inquérito sobre a situação actual das políticas favoráveis à família na sociedade de Macau”, lançado em 2021. Ou seja, os autores entendem que “embora as políticas de Macau favoráveis à família tenham conhecido um certo desenvolvimento nos últimos anos, as medidas de harmonia familiar ainda não foram generalizadas na sociedade”, existindo ainda “muito espaço para melhoria” destas medidas. O referido inquérito, citado pelos autores do estudo, revela que mais de 84 por cento dos trabalhadores entrevistados afirmaram sofrer de “limitações físicas e psicológicas devido ao desequilíbrio na vida profissional”, algo que “afecta os cuidados da família”. Por sua vez, “cerca de 70 por cento dos trabalhadores entrevistados afirmaram que a empresa não implementou medidas favoráveis à família”. Apenas 35 por cento dos inquiridos disseram que a empresa onde trabalham implementou “opções flexíveis” em matéria de férias. Clarificações por fazer Chong Leng Leng e Yin Yifen destacam no seu trabalho que as autoridades desenvolveram, nos últimos anos, diversas políticas de apoio às famílias, destacando também a implementação da nova lei de prevenção e combate à violência doméstica, em 2016. Ainda assim, entendem que devem ser promovidas “medidas eficazes de harmonia familiar”, lembrando que não é ainda clara a definição de medida social e medida do âmbito familiar. Isto porque não existe, no território, “um critério absoluto correcto inerente ao desenvolvimento das políticas de Macau favoráveis à família”. Desta forma, e tendo em conta diversos factores interligados com as políticas familiares, estas devem definir-se consoante “a situação real da cidade”. “De acordo com a situação actual, o mais importante é identificar a fase e os problemas em que se encontram as políticas de Macau favoráveis à família, a fim de definir o rumo de aperfeiçoamento das políticas.” Os autores descrevem, ser “necessário proceder a uma investigação profunda e a uma análise sobre a situação actual e as necessidades das políticas favoráveis à família”, a fim de ajudar “as famílias em que ambos os elementos do casal tenham empregos a aliviarem a pressão sentida tanto no trabalho como na família”. Além disso, os académicos não esquecem o contexto demográfico e o facto de Macau estar a enfrentar uma situação de envelhecimento populacional com tendência crescente, associada “ao aumento da taxa de emprego feminino e a uma diminuição da taxa de fertilidade”. Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que Macau tinha, em 2017, 74.100 idosos com idade igual ou superior a 65 anos, representando 12,8 por cento da população local. Em 2020 havia já 88.300 idosos com 65 ou mais anos, representando 15,7 por cento da sociedade. Relativamente, à mão-de-obra feminina, esta constituía, em 2017, 66,3 por cento de toda a força laboral, com 191,4 mil mulheres no activo, número que passou para as 202,3 mil mulheres no mercado de trabalho local em 2020. Os autores destacam também que, “nos últimos anos, a taxa de natalidade em Macau tem vindo a diminuir de ano para ano”, de 11 por cento em 2016 para 8,1 por cento em 2020.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteNovo Bairro de Macau | Previsto impacto reduzido no imobiliário local Em Setembro começam a ser vendidas casas no Novo Bairro de Macau em Hengqin, mas analistas acreditam que, a curto e médio prazo, o impacto no mercado imobiliário local será pouco visível. Além dos preços das habitações não serem acessíveis a muitos residentes, existem ainda constrangimentos legislativos e logísticos a ter em conta A Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin soma uma longa variedade de planos e projectos em curso, sendo um deles o do Novo Bairro de Macau, com capacidade para quatro mil apartamentos destinados a residentes da RAEM. Mas até que ponto este projecto, que visa fomentar a cooperação e integração regional entre Macau e Hengqin, irá ter impacto no mercado imobiliário local? Analistas ouvidos pelo HM dizem que as repercussões a curto e médio prazo serão reduzidas. Rose Lei, académica da Universidade de Macau (UM) e especialista em imobiliário, adiantou que o “impacto poderá ser diferente ao longo do tempo”. Para já, “não é ainda muito perceptível, porque a ideia de viver nessa região é ainda nova”. “As pessoas podem optar por esperar para ver. Se este primeiro lote de unidades [residenciais] vender bem, as pessoas começarão a adaptar-se à possibilidade de se mudarem para Hengqin. Como consequência, o preço da habitação [no território] será afectado de forma negativa. Outro factor a ter em conta é o número de residentes com emprego em Hengqin, que, de momento, não é grande”, acrescentou. Rose Lei entende que “será natural considerar Taipa e Coloane como as primeiras zonas afectadas” caso haja um impacto do Novo Bairro de Macau no imobiliário local, embora “não seja necessariamente esse o caso”. “O projecto afectaria, sobretudo, as unidades habitacionais de dimensão e qualidade semelhantes, que sejam propriedade de residentes que trabalhem em Hengqin ou que tenham flexibilidade suficiente para viver em Hengqin”, frisou. Suzanne Watkinson, directora-geral da agência imobiliária Ambiente Properties Limited, diz não acreditar que o projecto do Novo Bairro de Macau “venha a ter impacto nos preços da habitação em Macau”, pois com apenas quatro mil fracções terá capacidade para acomodar menos de um por cento da população local, “o que não é suficiente para movimentar o mercado”. No entanto, “se o projecto se revelar um catalisador para a deslocação de muitos milhares de pessoas para outros projectos de habitação em Hengqin ou Zhuhai, então poderá haver um impacto a longo prazo”. Se o projecto urbanístico vier a afectar o mercado imobiliário local, este impacto será mais visível “nas zonas mais antigas da península, atraindo reformados, jovens que compram casa pela primeira vez e aqueles que procuram melhorar as suas propriedades em Macau”. Depois seguir-se-á o impacto nas ilhas de Taipa e Coloane. Procura reduzida A agente imobiliária não tem dúvidas de que “a curto e médio prazo a procura pelo Novo Bairro de Macau por parte dos residentes será reduzida”, pelo menos até que infra-estruturas sociais estejam mais desenvolvidas. “A zona é bastante remota”, disse, além de que “a maioria das pessoas em Macau procura maior comodidade do que um nível de vida mais elevado”. Suzanne Watkinson entende que “os habitantes de Macau estão ainda relutantes em atravessar uma ponte de Macau para a Taipa, pelo que se prevê a mesma relutância em fazer uma viagem diária entre o norte de Hengqin e Macau”. Além disso, “não é conveniente realizar compras na zona, e vemos que, actualmente, há apenas um conjunto de pequenas lojas que servem o Novo Bairro e que parecem estar a perder dinheiro, pelo que poderão não conseguir sobreviver por muito mais tempo e ter de fechar”. Além disso, em termos de opções educacionais para famílias, a agente imobiliária pensa que “os habitantes de Macau hesitam em transferir os seus filhos para escolas na China, preferindo mantê-los no sistema escolar de Macau”. O facto de a ideia de viver em Hengqin parecer descabida para muitos residentes poderá estar relacionada com o facto de ainda existirem “dificuldades de integração de Hengqin e Macau devidas às políticas de entrada, controlo alfandegário, inspecções sanitárias, medidas de prevenção e controlo da epidemia, entre outros factores”, conforme descreveu o economista Lao Pun Lap num estudo recente, publicado pela revista Administração. O autor frisou mesmo que “até este momento o número de residentes que optam por se deslocar à Zona de Cooperação é relativamente reduzido”. Legislação e investimento Suzanne Watkinson defende ainda que o Novo Bairro de Macau “não é popular como [forma de] investimento”, e as razões prendem-se com a necessidade de cumprimento de legislações diferentes. “A compra de um imóvel na China está sujeita aos caprichos da regulamentação local. No caso do projecto do ‘Novo Bairro de Macau’, os regulamentos da cidade de Zhuhai determinam que as casas recém-adquiridas devem ser registadas durante três anos após a obtenção do ‘Certificado de Propriedade Imobiliária’ e só após um total de cinco anos podem ser transferidas, sem penalizações, para um residente de Macau que cumpra os requisitos”, alertou a responsável. “Sabemos de pessoas que compraram em Zhuhai e agora as suas propriedades valem uma fração do custo”, sendo este “um problema comum da oferta e procura na China”, onde há “demasiada nova oferta” em termos de imobiliário. A responsável alerta ainda para os preços elevados das habitações no Novo Bairro, que rondam os três e quatro milhões de renminbis, sendo que “para quem precisa de uma hipoteca, com juros, custará cerca de cinco a seis milhões”. Assim, “as muitas unidades residenciais subsidiadas pelo Governo que estão a ser construídas na zona A serão provavelmente uma opção mais popular quando estiverem concluídas e disponíveis”. O facto de existirem diferentes legislações em Macau e Hengqin pode ainda trazer problemas caso o residente queira vender a sua casa no Novo Bairro. “Será que os fundos podem ser transferidos para Macau? Continuamos a ouvir histórias de residentes de Macau que tentam transferir fundos das suas contas em Hengqin de volta para Macau, mesmo que sejam apenas algumas centenas de milhar de renminbis, e descobrem que as suas contas foram congeladas.” Uma experiência “inédita” Suzanne Watkinson entende que o Novo Bairro de Macau em Hengqin “é uma experiência inédita” cujo modelo, se for bem-sucedido, “poderá ser replicado”. “Uma das razões culturais e sociais pelas quais mais pessoas de Macau e de Hong Kong não se mudam para o continente é o facto de algumas preferirem viver com vizinhos que são seus compatriotas de Macau ou de Hong Kong em vez de viverem na China. O projecto do Novo Bairro de Macau constituirá uma experiência social interessante a este respeito.” Acima de tudo, a directora-geral da Ambiente Propterties Limited pensa que o Governo Central “não irá permitir a ocorrência de uma crise imobiliária prolongada em Macau”, intervindo “através de medidas de adaptação caso as circunstâncias o exijam”. “O objectivo [do Novo Bairro de Macau] é proporcionar mais espaço e melhorar a vida da população de Macau, e não diminuir o património líquido dos muitos proprietários locais”, frisou. Para o economista José Sales Marques, o projecto do Novo Bairro de Macau “é interessante e inovador”, sendo também “uma alternativa de boa qualidade para o mercado habitacional dos residentes”. Ainda assim, “é ainda muito cedo para se saber se o mercado imobiliário de Macau entrará em crise, caso a oferta de habitação no Novo Bairro alcance o sucesso e os fins que foram projectados”. Sales Marques recorda que a grande maioria dos apartamentos do Novo Bairro será de tipologia T2, cujos preços, embora mais baixos do que os praticados em Macau, “não são acessíveis a todas as camadas da população”. Para a deslocação de uma família com filhos há diversos factores a ter em conta, como a contratação de empregadas domésticas ou facilitação da própria mobilidade. “A política de contratação de mão-de-obra não-residente e as condições de acesso serão factores importantes a ter em conta, bem como outros custos, nomeadamente de mobilidade através da fronteira de Hengqin, os custos relativos à educação, bem como as perspectivas de mobilidade futura para quem compra uma unidade dessas, nomeadamente quanto ao acesso a crédito e custo do investimento, à possibilidade de revenda ou a evolução do mercado imobiliário de Hengqin”, rematou.
Andreia Sofia Silva EventosSuzy Bila, artista: “A pintura não tem territórios” A galeria AMAGAO associou-se à Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau e apresenta, até 6 de Outubro, a mostra “Paisagens Interiores”, da artista plástica Suzy Bila. Em entrevista, a artista, nascida em Moçambique, confessa que não faz arte para todos, sujeitando-se a múltiplas análises e olhares, deixando-se ainda influenciar artisticamente pelo mundo que a rodeia e as suas mudanças Como se descreve enquanto artista? É uma pergunta difícil (risos). É muito mais fácil falarmos dos outros do que de nós. Como artista vivo muito os processos dinâmicos. Sou uma pessoa que sente influências deste mundo e das suas metamorfoses. Não sou de territórios, porque acho que a pintura não tem territórios. Vivo muito de diálogos disciplinados que são influenciados por diferentes linguagens, e ao mesmo tempo gosto de trabalhar nelas. Gosto tanto de trabalhar na escrita como educadora de infância, ou como artista plástica. Também gosto de trabalhar em cerâmica. Sou uma pessoa que vivo entre processos que vão dialogando com a vida de uma maneira própria e que se vão permitindo [existir] sem serem forçados. Que trabalhos poderemos ver nesta exposição em Macau? Mostro 40 peças pintadas a acrílico sobre tela e outras em que usei tinta-da-china sobre papel. Na verdade, esta é uma exposição composta por poemas em diálogo, e é reflexo dessa minha relação com a vida, e da arte como um campo que se abraça a esta vida. A mostra acaba por ser uma viagem que traz peças com nomes como “Silêncio” ou a “Voz do Pássaro”. É uma metamorfose de todos esses poemas e daquilo que flui entre o passado e presente. Mas quando fala desses poemas, são palavras escritas por si? Não. São diálogos internos. Não fui buscar poemas de ninguém e nada está escrito. O que tenho aqui é mesmo a parte pictórica da vida. Criar arte nasce então desse diálogo interior, das suas percepções em relação ao mundo. É esta metamorfose da vida e de um mundo em mudança, e sou influenciada por isso. É a partir de tudo isso que depois nascem estes processos. Que expectativas tem em relação a esta exposição? Há um caminho, e esta exposição começou a ser planeada há dois anos. Ao longo deste caminho percebi também que estava a trabalhar com pessoas que percebiam de arte e esta sensibilidade acabou por criar uma relação, e é esse o meu cartão de visita em relação a Macau, porque já sei o que vou esperar e quais as pessoas que estão comigo neste processo. Acaba por ser algo positivo porque tenho essa bagagem positiva para esta exposição. Nasceu em Moçambique, vive em Portugal desde 1996. Fale-me do seu percurso como artista. Nasci em Maputo e na minha adolescência conheci um artista plástico que me despertou para a pintura. Nessa relação acabei por entrar em exposições. Ganhei um prémio em 1992 que me permitiu ir para Portugal, onde estudei cinco anos no AR.CO [Centro de Arte e Comunicação Visual], em Lisboa. Quando acabei entrei também na área da educação, e fiz uma licenciatura e mestrado nessa área. Estou agora a finalizar o meu doutoramento em educação artística, porque estas duas áreas, da pintura e da educação, sempre estiveram ligadas. O nome desta exposição é “Paisagens Interiores”. O que significa? A mostra tinha outro nome e depois optámos por este nome que acaba por abranger tudo isto, a ligação da arte e da construção das peças, e de parte delas serem todas este poema, este diálogo. Quando disse que a pintura não tem territórios, quer dizer que não se identifica com um determinado estilo? Identifico-me como uma artista do mundo, porque vou buscar coisas aos artistas de Moçambique, de Portugal, do Brasil. A arte é a comunhão de muita coisa. Não há mesmo territórios dentro de mim. Como olha hoje para a ideia de lusofonia, palavra que se integra com várias áreas, incluindo as artes? Nunca justifiquei essa palavra, vejo como algo que não é necessário justificar. Sinto que há uma forma de ser, de se assumir com o outro. Somos pessoas de relação, temos de sentir que temos de estar com os outros para podermos construir essas pontes, que são várias. Quando falo da arte, não falo da arte da lusofonia ou da Europa, por exemplo. Sou influência deste mundo, porque nasci em Moçambique, estou em Portugal, vou para o Oriente, para a América. Não posso separar estes sentimentos em termos artísticos. As pontes são importantes e temos de sentir que, em termos artísticos, não podemos ter territórios. A sua arte pode, então, ser compreendida por todos? Pode ser compreendida por quem sente algo por ela. Não vou fazer arte para toda a gente. A arte é aberta aos sentidos de cada um. Exposição e workshop Em “Paisagens Interiores”, a arte de Suzy Bila manifesta-se “em tons vívidos ou monocromáticos”, contendo em cada quadro “a essência da transcendência e da espontaneidade”, aponta um comunicado da galeria AMAGAO, situada no Artyzen Grand Lapa. Citada pelo mesmo comunicado, a artista referiu que a sua arte “reflecte as respostas às questões da vida”. “Cada momento tem a sua intensidade única, sem guião, [podendo ser um] imprevisto. A minha alma desperta num mundo de esperança, imersa num futuro em que as histórias do meu povo se entrelaçam com uma miríade de emoções. No meio das dificuldades da vida, somos transformados; e no silêncio absoluto, ouvimos os gritos agonizantes da terra. Neste lugar, permito-me sentir os meus sentidos, onde o céu encontra o mar.” Assim, o visitante pode mergulhar num espaço repleto de “formas abstractas, das paletas, das emoções e da criatividade sem limites”. Além da mostra, decorreu no passado fim-de-semana um workshop com a artista, concebido para crianças dos 7 aos 14 anos. Para os organizadores desta iniciativa, a mostra de Suzy Bila “está aberta aos entusiastas da arte e às mentes curiosas”, sendo “um testemunho cativante da capacidade da arte em transcender os limites físicos e emocionais”.