Asas sem voar

Há mais de 50 anos que se fala de um novo aeroporto para Lisboa e há 13 anos que um engenheiro que terminou o curso no Instituto Superior Técnico com 20 valores e que ao longo da vida nunca foi consultado para nada por não pertencer a qualquer partido político, transmitiu-me que o novo aeroporto de Lisboa em Alcochete nunca poderia acontecer porque existiam vários aquíferos no subsolo local.

Incompreensivelmente foi Alcochete que a Comissão Técnica para estudar a localização do novo aeroporto aconselhou como o melhor local. Dizem que não há bruxas, mas parece que as há. Acontece que a contestação a Alcochete tem sido tema de vários especialistas durante a semana passada. A Comissão Técnica indicou as mais variadas vantagens de Alcochete, mas lembremo-nos de um pormenor: dizem que em sete anos será construída a primeira fase e custará milhares de milhões de euros. Sete anos? À boa maneira portuguesa a derrapagem financeira é sempre uma realidade e os prazos de construção nunca foram cumpridos em obra alguma. Depois, a opção por um novo aeroporto deve-se ao quase congestionamento do aeroporto da Portela.

Ora, se está no limite da operacionalidade vai ainda esperar sete anos por uma pista na primeira fase? Antes de mais, não acreditamos que o aeroporto esteja pronto dentro de 10 ou mais anos. Isto, quando nos lembramos que na China se têm construído bons aeroportos em cerca de dois anos. A tal Comissão Técnica estudou nove locais e agora afirmou que a segunda melhor opção seria em Vendas Novas, mas o Estado teria de gastar muitos milhões em indemnizações de terrenos privados. Lembrar ainda que um aeroporto em Alcochete obrigará a despesas extras monumentais como uma terceira ponte entre Lisboa e a margem sul e a uma ferrovia de alta velocidade (TGV).

Tantos locais em estudo, desprezando à partida, o local que seria mais vantajoso para um país pobre, e que, esse local já tem as estruturas construídas e está em pleno funcionamento, como é o aeroporto de Beja. Não foi por acaso que os alemães em 1964 construíram em Beja uma base aérea militar. O local é extenso, plano e facilitador de desenvolvimento.

Beja, com um comboio de alta velocidade ligando a cidade alentejana a Lisboa ou com autocarros de luxo ficaria ao serviço da capital lisboeta a um tempo muito menor que vários aeroportos do mundo. Em Beja podiam-se construir mais duas pistas e desenvolver as estruturas técnicas necessárias por um terço do dinheiro que se planeia gastar com Alcochete, com a agravante de poder servir também o turismo para o Algarve. Este, é o país que temos. Não se aproveita o bom existente para se sonhar com megalomanias de gastos assustadores num país em crise e com dois milhões de pobres.

Há 50 anos que andam por decidir e agora anuncia-se um projecto de enorme envergadura para daqui a dez anos ou mais. E não queremos entrar por um parâmetro que tem sido comentado: a corrupção que alegadamente fará parte da construção do aeroporto em Alcochete. Porquê? Primeiramente porque já nos habituámos a ver ministros e autarcas a serem detidos ou demitidos pela prática da corrupção. Em segundo lugar já houve lóbis que adquiriram terrenos ou imóveis em Alcochete porque já sabiam (?) onde seria a localização do novo aeroporto.

Seja como for, só lá para Maio ou Junho do próximo ano é que o novo Governo que saia das eleições legislativas de 10 de Março irá tomar uma decisão. Contudo, não faremos uma crítica aos muitos especialistas da Comissão Técnica que estudou a localização. Quem somos nós para contestar os técnicos prestigiados que fizeram parte da referida comissão. Mas, também assistimos a outras individualidades de enorme conhecimento técnico que já contestaram a localização do aeroporto em Alcochete. E no meio disto tudo temos a ANA, presidida pelo cavaquista José Luís Arnaut, que já veio anunciar que irá apresentar uma queixa contra a Comissão Técnica.

Obviamente que à Ana, que tem um contrato de longa duração na gestão do aeroporto Humberto Delgado e que em nada lhe interessa que um novo aeroporto lhe retire a galinha dos ovos de ouro. Arnaut quer que o aeroporto Humberto Delgado continue a operar e que Montijo seja o anexo… quando a Comissão Técnica provou por A mais B que Montijo seria absolutamente impraticável. A procissão vai no adro há 50 anos e se formos pessimistas nem daqui a 20 anos teremos um novo aeroporto internacional a funcionar em pleno.

O Partido Socialista ainda vai eleger o novo secretário-geral. Por um lado, Pedro Nuno Santos há muito que ficou desautorizado por ter escolhido Alcochete sem dar qualquer cavaco ao primeiro-ministro. José Luís Carneiro entende que terá de haver um entendimento com o PSD para qualquer decisão sobre a matéria. O PSD anunciou que ainda vai criar uma comissão de estudo sobre a matéria. Muita água irá correr por baixo das pontes. No entanto, quem tem metido mais água até aos dias de hoje, têm sido todos quantos nos governam nos últimos 50 anos.

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