Grande Prémio | Corrida de resistência é hoje um cenário improvável

Muitas das provas clássicas do automobilismo mundial são provas de resistência, como as 24 Horas de Le Mans ou as 24 Horas de Spa. O próprio Grande Prémio de Macau nasceu inspirado nas provas de “endurance”, mas hoje realizar uma “maratona” dessa natureza no Circuito da Guia é quase uma missão impossível

 

Quando em 1954 os criadores do primeiro Grande Prémio de Macau avançaram com a sua corrida, esta foi inspirada nas 24 Horas de Le Mans, em França, para carros de Turismo, de Sport ou Especiais. Dada a fragilidade e limitações do parque automóvel da altura, os organizadores decidiram que a duração da prova seria de quatro horas. Com a excepção da “Guia 101” – que oficialmente se chamava “As 101 Voltas da Guia” e foi até hoje a única corrida de realizada no Circuito da Guia fora do contexto do Grande Prémio de Macau – nunca mais se realizou uma corrida desta natureza no circuito urbano mais famoso do Sudeste Asiático.

Nesse remoto ano de 1969, a ideia inicial da Filial de Macau do Automóvel Clube de Portugal era organizar uma corrida de doze horas – as 12 Horas de Macau – mas esta acabou por ter apenas seis horas de duração. Muitos se interrogam sobre as razões de Macau nunca mais ter voltado a organizar uma prova de “endurance” e outros tantos ainda sugerem porque não fazê-la agora.

Stéphane Ratel, o fundador da SRO Motorsports, a empresa co-organizadora da Taça do Mundo de GT da FIA, revelou, em entrevista recente, que foi abordado por um responsável de uma conceituada marca alemã que lhe sugeriu uma corrida de resistência dentro do Grande Prémio, algo que o empresário francês descartou de imediato.

“Seria de facto emocionante, mas talvez também demasiado [para a estrutura do circuito]”, afirmou ao HM, Benjamin Franassovici, braço direito de Stéphane Ratel para a Ásia, e também Director do Campeonato GT World Challenge Asia e Co-Coordenador da Taça do Mundo de GT da FIA do Grande Prémio de Macau. Para o próprio, uma corrida deste género “exigiria que os organizadores fizessem alterações significativas ao evento como um todo.”

Formato perfeito

As provas de resistência em circuitos citadinos praticamente desapareceram. O Circuito Internacional de Vila Real, no norte de Portugal, tentou realizar uma prova de seis horas este ano, mas não o conseguiu por falta de quórum. Para além da dificuldade de cativar interessados e motivar o público para uma corrida tão longa, a FIA é bastante rigorosa no que respeita às normas de segurança nos reabastecimentos.

O responsável pela maior competição regional de Grande Turismo nesta parte do globo, Benjamin Franassovici reconhece que “actualmente, o pitlane [do Circuito da Guia] não é suficientemente grande e seria necessário mais equipamento, como plataformas de combustível.”

Mesmo que os obstáculos estruturais fossem ultrapassados, com a capacidade de organizar grandes eventos que a RAEM já nos habituou, existiria sempre um desafio suplementar que requeria um esforço considerável para ser superado, pois “isto teria um impacto logístico e orçamental que poderia ser prejudicial para os participantes internacionais e locais.”

O próprio Benjamin Franassovici partilha da opinião generalizada de que o formato actual da Taça do Mundo de GT da FIA é a opção mais apropriada: “Pessoalmente, também acredito que o formato de ‘sprint’ é adequado para Macau. Existem inúmeras corridas de resistência para carros de GT em todo o mundo, mas muito poucos eventos de ‘sprint’ com pilotos profissionais. É algo que marca Macau.”

Nos próximos dois anos, a Taça GT Macau vai manter o mesmo formato e acolher a Taça do Mundo de GT da FIA nos moldes que conhecemos. O que virá a seguir é uma incógnita, mas repetir 1954 é altamente improvável.

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