ONU preocupada com falta de apoio aos refugiados no Myanmar

O chefe do Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) apelou ontem à comunidade internacional para manter o apoio aos refugiados de etnia rohingya de Myanmar, apesar das crises no Médio Oriente e Ucrânia. Filippo Grandi disse em Banguecoque ser necessário mais apoio para ajudar os rohingya e aliviar o fardo dos países que acolhem os refugiados desta etnia minoritária da antiga Birmânia.

Falando à margem de uma reunião regional sobre refugiados, Grandi defendeu que o “regresso voluntário e digno a Myanmar” dos rohingya é a solução mais desejável, mas reconheceu haver “muitos desafios que têm de ser ultrapassados”. Admitiu que a assistência humanitária está a tornar-se mais difícil devido à persistência do conflito armado em Myanmar e à redução do financiamento e da ajuda por causa de crises como as do Afeganistão, Ucrânia ou Médio Oriente. Pediu, por isso, “políticas abertas para os países de acolhimento, contribuições para os países doadores e para todos os outros em todo o mundo, e atenção por parte da comunidade internacional”.

Mais de um milhão de rohingya fugiram de Myanmar para o Bangladesh ao longo de várias décadas. O número inclui cerca de 740 mil que atravessaram a fronteira a partir de Agosto de 2017, quando os militares birmaneses lançaram uma operação de grande envergadura na sequência de ataques de um grupo de guerrilha.

Os Estados Unidos denunciaram em 2022 que a opressão dos rohingya em Myanmar equivalia a genocídio, depois de terem confirmado relatos de atrocidades cometidas contra civis pelos militares numa campanha sistemática contra a minoria étnica. Os rohingya, que são muçulmanos, enfrentam uma discriminação generalizada em Myanmar, de maioria budista, sendo-lhes negada a cidadania e muitos outros direitos.

Cadeira do poder

Participaram na reunião em Banguecoque delegados do Bangladesh, Reino Unido, Índia, Indonésia, Malásia, Tailândia e Estados Unidos, bem como representantes de organizações dos rohingya. A junta militar no poder em Myanmar não esteve representada na reunião, segundo a ONU.

Myanmar e Bangladesh concordaram com um processo de repatriamento de dois anos em 2018. O processo foi prejudicado pelo agravamento da segurança em Myanmar após a tomada do poder pelo exército em 2021, que desencadeou uma resistência armada generalizada.

Grandi disse que as contribuições financeiras para a ajuda aos rohingya diminuíram e que a missão da ONU para este ano “mal tem 40 por cento de financiamento”, uma queda acentuada em relação aos cerca de 60-70 por cento dos anos anteriores. “Algo tem de mudar. Caso contrário, estou realmente preocupado com o futuro dos refugiados rohingya e com a paciência do país de acolhimento para os receber”, acrescentou.

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