EventosCCM | Festival de Artes de Macau ainda mexe Manuel Nunes - 18 Mai 2016 A entrar na recta final, o FAM ainda tem muito para dar nestas quase duas semanas que faltam para o encerramento: desde dança contemporânea japonesa a experimentações sonoras com sons do Antárctico, passando por espectáculos de rua. Mas há mais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]27.ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) está prestes a terminar mas nem por isso o seu interesse. Fomos à procura no programa do que ainda está para vir e descobrimos, já nesta sexta-feira, uma “Obssessão”. Assim se chama a famosa obra do coreógrafo japonês Saburo Teshigawara, inspirada na curta-metragem surreal “Un Chien Andalou” de Luis Buñuel. Estreou-se em 2009 no Festival Rock Arte de Saint Brieuc (França) e desde então tem estado em vários festivais internacionais. Teshigawara formou o KARAS, o grupo que apresenta a peça, com Kei Miyata em 1985 com o objectivo de procurar uma “nova forma de beleza” e assim desenvolveu uma nova linguagem artística, uma nova orientação para a dança contemporânea japonesa. Na interacção dos diversos elementos artísticos – música, movimento, belas-artes e filme, os KARAS criam espaços poéticos, em composições de grande sensibilidade escultural. Desejos impossíveis que se tornam realidade apenas através do amor irracional. De Beckett à Antárctida Sentado sozinho no seu pequeno quarto no dia do seu septuagésimo aniversário, um homem prepara-se para fazer uma gravação sobre o seu último ano de vida, um hábito de juventude. Mas antes ouve a cassete gravada há 30 anos, provavelmente o ano mais feliz da sua vida. Assim está dado o mote para “A Última Gravação de Krapp”, a famosa obra de teatro do absurdo de Samuel Beckett e que surge em Macau encenada pelo mundialmente célebre Robert Wilson. Na breve hora que dura esta obra, Wilson apresenta o trabalho de Beckett em meia dúzia de traços simples que pintam uma visão do mundo muito particular e, ao mesmo tempo, universal. E se gravássemos uns sons da Antárctida? E se os combinássemos com música electrónica? E se inventássemos uns instrumentos para que a coisa saísse mais a preceito? Foi precisamente o que Álvaro Barbosa, professor da Universidade de São José, junto com o desenhador de instrumentos musicais Victor Gama fizeram, dando origem a “Viagem à Última Fronteira”. Embarcados numa expedição de dez dias ao Antárctico num antigo barco oceanográfico dos anos 70 vaguearam pelas ilhas da Península e coligiram gravações áudio e vídeo. Barbosa ainda capturou a beleza natural dos gelos eternos em fotografia que deu origem a um livro. Depois saiu o concerto. O espectáculo apresenta peças musicais tocadas em conjunto por músicos locais e pelo Hong Kong New Music Ensemble, que incluem composições electrónicas originais de Gama tocadas em instrumentos musicais desenhados por ele próprio e no dispositivo de som interactivo (Espanta Espíritos de Cordas Radiais) inventado por Barbosa. Podem também ouvir-se sons gravados na Península Antárctica, colocados para “transportar” o público para a magia natural daquele território. Ar livre ou violino? Para quem gosta de espectáculos de rua, o FAM inclui o que o que a organização designa por uma “caleidoscópica mostra de espectáculos”. Diversidade e emoção são as propostas para a Praça do Iao Hon, com uma série de espectáculos onde se incluem malabaristas, danças tradicionais tailandesas, música ao vivo, teatro infantil e marionetas, durante as três noites do próximo fim-de-semana. Mas a opção também pode ser teatro infantil e aí tem a possibilidade de entrar em “Círculos”, uma produção de Taiwan de Cheang Tong onde a Fundação de Educação dos Oceanos Kuroshio, do mesmo país, surge como consultora. Tudo começa um belo dia quando na biblioteca da zona surge um livro chamado “O Animal Mais Popular”. Assim começa a aventura. A vaca acha que é ela mas afinal são o panda e o golfinho. Curiosa, a vaca decide conhecê-los encetando um périplo à procura do “animal mais popular”. “Círculos” é uma peça criada para inspirar uma reflexão sobre a forma como a humanidade vive, usando o teatro de marionetas, a poesia infantil, livros a três dimensões, música ao vivo, uma exposição interactiva e visitas guiadas. Uma viagem educativa para pais e filhos. Para momentos mais clássicos, não dá para perder Shostakovich segundo o violino da lendária violinista russa Viktoria Mullova. Os concertos de Shostakovich, obras que revelam a influência do pós-romantismo e do neoclassicismo, estão permeados de elementos de discordância e cromatismo do séc. XX e podem ser considerados como uma experiencia singular. Convidada a actuar neste concerto, a Mullova valeu-lhe o título de “Rainha do Gelo” da música. Esta será a sua primeira colaboração com a Orquestra de Macau. Está dado o mote para um evento com diversos horários e bilhetes a preços diversos. Bom fim-de-semana.