Concerto | Percussionista João Pais Filipe hoje no LMA

Hoje, por volta das 21h, o percussionista João Pais Filipe sobe ao palco do LMA para uma noite de sobreposição de camadas de ritmos. Prevê-se uma noite de experimentação e batidas entre o tribalismo e música de dança mais profunda

 

[dropcap]E[/dropcap]stá em Macau um dos expoentes máximos da improvisação e experimentalismo rítmico da música portuguesa. O músico portuense João Pais Filipe sobe hoje ao palco do LMA, a partir das 21h, para um concerto que se prevê intenso.

O conceito estético do som a solo do baterista e percussionista assenta em várias camadas rítmicas, despidas das tradicionais influências do jazz, mesmo do mais free, e do rock.

Quanto ao concerto em si, João Pais Filipe levanta um pouco a ponta do véu sobre o que se pode esperar hoje na casa da música na Coronel Mesquita. “Vou apresentar quatro temas longos, cada um deles tem um ritmo especial que criei, com tempos irregulares. Além da percussão, os instrumentos que vou usar foram feitos por mim”. Daqui nasce parte da singularidade do som do músico, que também constrói gongos e instrumentos metálicos de percussão.

O resultado é um ciclo viciante de ritmos que se entrecruzam e deixam no ar tons étnicos e tribais. Daí o termo “ethno-techno”, que encaixa bem na estética sonora do portuense. “Todos os ritmos têm uma base étnica, alguns foram beber mais a ritmos africanos, outros ao Médio Oriente. A minha ideia era quase criar um mantra em temas longos e bastante repetitivos”, revela.

Para chegar ao conceito que explora a solo, João Pais Filipe despiu-se das roupagens rítmicas mais tradicionais. “Para o meu trabalho a solo tive de fugir de influências anteriores, como de bateristas de jazz e do rock. Mudei completamente a maneira como abordo o instrumento e mudei o instrumento em si. Criei um sistema diferente para poder fazer aquilo que faço agora. Tive de desconstruir e fugir dessas coisas todas do rock e do jazz, da bateria como ela é conhecida”.

Tambores com todos

No meio da profusão de ritmos, um concerto do percussionista tanto pode convidar à dança, como a uma postura mais meditativa.

Com um segundo disco a solo que sairá no próximo ano, João Pais Filipe vai apresentar no LMA parte dos temas que vão compor o registo, que ainda não tem nome.

As colaborações com outros projectos são grande parte da discografia e carreira do músico. No início de 2020 tem três discos a sair, além do registo a solo. Um dos disco parte da simbiose com o alemão Burnt Friedman, músico e produtor que tem no currículo colaborações com projectos de electrónica, dub e jazz.

Noutro registo, João Pais Filipe tem na calha um disco com os portugueses Black Bombaim, que exploram sonoridades perto do rock psicadélico.

O percurso musical do portuense foi marcado, naturalmente, pelo consumo de muitos sons ritmados, como, por exemplo, os discos de jazz com Tony Williams na bateria. Outros baterista que influenciaram o crescimento do músico foram Jaki Liebezeit, dos seminais CAN, e Tony Oxley numa acepção mais experimentalista.

Mas as influências de João Pais Filipe não se ficam por aqui. A música electrónica, de onde se destaca a dupla finlandesa Pan Sonic, é um dos pilares da discografia do músico, assim como a música industrial, onde destaca bandas clássicas como Coil e Throbbing Gristle. Apesar de não serem influências directas, algumas raízes do som de João Pais Filipe estão plantadas no industrial.

Pela primeira vez em digressão na Ásia, o portuense deu ontem um concerto em Hong Kong. Depois do concerto no LMA segue para Taiwan, antes de terminar com dois concertos em Tóquio.
Os bilhetes para o concerto de hoje custam 120 patacas. Além de João Pais Filipe, a noite será marcada pela presença de DJ NOYB nos pratos.

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