Para além do arco-íris

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]sta semana vou fugir do que já tinha planeado abordar pela minha necessidade de celebrar o mais recente acontecimento que em muito contribui para a compreensão do sexo pelo mundo. Refiro-me aos arco-íris que têm sido orgulhosamente partilhados no que se julga ser um importante passo para a normalização do que durante muito tempo, e que infelizmente ainda por vezes, se julgava anormal ou anti-natural. A homossexualidade nas suas formas de activismo político e sexual adicionam uma constante procura de bem-estar pessoal e de contestação. E ainda bem, porque tenho a certeza que a sexualidade e o seu desenvolvimento não ficarão por aqui.
O meu filme de análise será o Rocky Horror Picture Show. Filme musical de culto dos anos 70 que explora o género e a sexualidade nas suas ambiguidades como também nas suas concepções pré-estabelecidas. Para quem não conhece, imaginem pura liberdade e criatividade sexual, com criaturas extra-terrestres de um tal planeta longínquo chamado Transilvânia que usam saltos altos e cantam canções, em interacção com um casal de jovem adultos, ainda virgem (mas não por muito tempo). De absurdo tem tanto quanto de divertimento… um divertimento muito sexy. Temos a jovem e muito sensual Susan Sarandon que passa a maioria do tempo em roupa interior e o Tim Curry que usa saltos altos com uma confiança que muitas mulheres matariam por ter. Num espectacular acto final com todos os envolvidos de corpete e cinto de ligas, cantam refrões de incentivo ao prazer infindável numa orgásmica procura pela luxúria. O mais excitante (de cariz sexual ou não) é toda a confusão que persiste no género e orientação sexual durante todo o filme. Aqui, o espectro de orientação sexual proposta por Kinsley parece-me relevante para entender alguns enigmas do desejo. Kinsley, em busca de padrões sexuais comuns, encontrou grandes disparidades nos vários depoimentos de homens e/ou mulheres chegando, por isso, à conclusão que há quem possa ser mais ou menos heterossexual ou homossexual. A adicionar e para complicar, estudos antropológicos de género também mostram a possibilidade sermos mais ou menos homens ou mulheres, ou seja, existem felizmente estas ‘gray areas’ que desenvolvem um mar de possibilidades para quem queremos ser, na pura das honestidades.
A categorização, processo psicológico que facilita o nosso entendimento do mundo, é sentida demasiadas vezes de forma estática que reduz as possibilidades de contestação a percepções de todo o tipo, neste caso, de como o sexo é sentido. Assim, a inclusão da homossexualidade nos direitos formais legislativos, que progressivamente se alastra no mundo, não é só um triunfo de uma minoria, mas da maioria. A normalização de formas de relacionamento outrora consideradas estranhas contribui para fluidez sexual de todos nós, e para as nossas fantasias hetero, bi ou homo que por vezes são expressas com vergonha ou confusão. Este desejo de fluidez de espectro, e este artigo, dedico a todos os amigos e amigas que sempre me confidenciam dilemas, conflitos interiores, e, em muitas conversas sobre sexo, com quem muito aprendi. Para todos aqueles que julgam que casamento entre pessoas do mesmo sexo trará catastróficos desequilíbrios na natureza, não faz mal, porque pelo menos será por amor e pelo acto glorioso que é a fornicação.

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