EventosAgualusa diz que mau escritor nunca escreverá bom livro Hoje Macau - 20 Out 2025 Um mau escritor “nunca escreverá um bom romance com o recurso à inteligência artificial”, disse o escritor José Eduardo Agualusa este sábado no FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, defendendo que este instrumento não constitui um perigo para os autores e pode até ter algumas potencialidades. “Creio que um mau escritor nunca escreverá um bom romance com o recurso à inteligência artificial”, mas “talvez um bom escritor consiga escrever um romance melhor a partir do momento em que saiba usar esse instrumento”, acrescentou. Numa mesa de autores em que garantiu que a inteligência artificial não o assusta, o escritor angolano considerou que este instrumento “ainda é usado de forma trivial” por muitas pessoas, mas que quando “se souber utilizar bem, provavelmente irão descobrir-se potencialidades maiores”. Ainda assim considera não haver perigo de “os escritores serem substituídos”, porque a inteligência artificial “mimetiza, reproduz o estilo do escritor”, mas “a imitação do estilo, normalmente, é ridícula”. Já noutros capítulos “aquele instrumento é muito útil”, disse, dando como exemplo a crónica angolana nos jornais, que “melhorou muito, porque aquilo corrige muito bem”. “No caso de Angola é muito claro, de repente os cronistas começaram a escrever melhor, qualquer emergência a gente pede e sai a coluna semanal”. Porém, na narrativa longa, no romance, “a IA tem ainda um grande desafio” e, mesmo que um dia consiga escrever “um romance medíocre” terá que ter “alguém atrás, com criatividade”. Conversas no FOLIO José Eduardo Agualusa falava na 12.ª mesa do FOLIO, numa conversa com a escritora brasileira Giovana Madalosso, onde ambos defenderam que a literatura não está em perigo, apesar dos movimentos de censura e cancelamento de escritores em países como o Brasil. Até porque “cada vez há mais gente a ler. Cada vez há mais gente a ler melhor”, disse Agualusa. O FOLIO terminou ontem. Este ano assinalou-se o décimo ano de existência com mais de 460 iniciativas, incluindo mais de uma centena de conversas entre autores e o público, 15 mesas de autor, tertúlias, seminários, lançamento de livros, concertos e entregas de prémios.