Manchete SociedadeGastronomia | Estudo fala na “subvalorização” do restaurante Fernando Andreia Sofia Silva - 7 Out 2025 Em “Restaurante Fernando: Um Estudo de Caso sobre Autenticidade Culinária e Património Cultural”, José Ferreira Pinto, docente da Universidade Cidade de Macau, chama a atenção para uma “subvalorização”, por parte das autoridades, do valor cultural do restaurante, destacando a manutenção da identidade do espaço José Ferreira Pinto, docente na área do turismo da Universidade Cidade de Macau (UCM), acaba de publicar um estudo de caso sobre o Restaurante Fernando na plataforma académica CABI Digital Library, intitulado “Restaurante Fernando: Um Estudo de Caso sobre Autenticidade Culinária e Património Cultural”, alertando para a falta de reconhecimento cultural deste espaço por parte das autoridades. “Para os decisores políticos e programadores de destinos, o [restaurante] Fernando representa um activo subutilizado”, tendo em conta que é um “activo que contribui para a identidade global de Macau e proporciona um modelo de turismo sustentável”. É ainda explicado que “apesar do estatuto icónico entre os habitantes locais e visitantes internacionais, o Restaurante Fernando não foi formalmente reconhecido pelas instituições oficiais de turismo ou cultura como um dos principais expoentes da marca de destino de Macau”, mas a verdade é que tem “uma influência inegável” nestes campos. “Há casos documentados de viajantes que voam para Macau apenas para jantar no Fernando antes de regressarem aos seus países de origem, uma prova da sua atracção magnética e valor simbólico”, é acrescentado. Desta forma, “reconhecer e apoiar estas instituições poderia melhorar as estratégias de ‘branding’ dos destinos e promover ligações mais profundas entre os visitantes e o local”, é referido. No mesmo estudo de caso, destinado a estudantes universitários e operadores do sector, refere-se que “o Restaurante Fernando é um exemplo convincente de como a autenticidade, quando cultivada de forma cuidada e consistente, pode transcender tendências comerciais e tornar-se numa instituição cultural”. O Fernando existe desde 1986 em Coloane, junto à Praia de Hac-Sá, sendo desde então um ponto de passagem quase obrigatório para muitos turistas e residentes. Este estudo foi realizado com base “numa combinação de observação etnográfica, conversas qualitativas e evidências documentais”, sendo que em 15 meses foram feitas mais de 20 visitas ao restaurante “para interagir com funcionários, clientes, o proprietário do restaurante e o gerente do restaurante”. Através de “conversas informais, mas sistemáticas”, abordaram-se temas como as “percepções sobre autenticidade, fidelidade do cliente e pressões comerciais”. Resistir às crises Outro ponto destacado neste estudo de caso é o facto de o restaurante ter resistido a várias crises ao longo da sua existência. “A perseverança do [restaurante] Fernando durante crises económicas, pandemias e mudanças na dinâmica do turismo oferece uma poderosa lição de resiliência. A sua recusa em comprometer a identidade do restaurante em favor da modernização preservou um espaço que parece intemporal e emocionalmente fundamentado.” Assim, o autor considera que a manutenção do restaurante tradicional “desafia a lógica dominante da inovação constante na hotelaria e no turismo, sugerindo que a consistência e a fidelidade cultural podem ser igualmente, se não mais, valiosas”. No tocante ao futuro deste espaço gastronómico bastante conhecido, são deixadas perguntas a que só o próprio Fernando poderá responder: “Deve continuar a resistir à modernização em favor da preservação do espírito original, ou adaptar-se às novas tendências da hotelaria e formalizar a sua marca para atrair públicos mais jovens e mercados internacionais?”