Via do MeioO Solitário Pato Bravo de Chen Lin Paulo Maia e Carmo - 29 Set 2025 Lu Zhaolin (634-684), o poeta de Fanyang (Youzhou) perto da actual Pequim, no poema Changan guyi, «Changan do tempo antigo», em que exprime a melancólica saudade do esplendor da antiga capital do Império, evocou uma familiar ave aquática que, se bem que vivendo livre parece possuir um compromisso voluntário, o seu comportamento social há muito observado e elogiado. Nos versos dezanove e vinte escreveu: Fossemos nós o peixe único, como escapariamos da morte? Puderamos ser apenas como os patos mandarim, sem desejos de imortalidade? Os patos mandarim (aix galericulata) cuja designação yuanyang revela a união de dois diferentes, do macho e da fémea, eram pecebidos como seres que mostravam o afecto e a fidelidade conjugal, acasalando para a vida toda e como tal exemplares para a estabilidade do tecido social. E como modelos se podem ver em tantos objectos decorativos para o lar e, como se pode ler no «provérbio», chengyu, a sua conduta, um objectivo de vida: «ser como dois patos mandarim brincando na água» (yuanyang xishui). Na arte da pintura o seu aspecto ricamente colorido seria reproduzido em detalhe no género niaohua, de «pássaros e flores». Mas não foi essa a ave aquática escolhida num rolo horizontal feito por Zhao Ji (1082-1135), o imperador dos Song Huizong, que preferiu o menos exuberante, mais vulgar pato bravo (anas playrhynchos) yeya, para figurar no admirável Corvos nos salgueiros e patos bravos nas ervas (tinta e cor sobre papel, 223,2 x 34 cm, no Museu de Xangai). Desse pato os poetas sublinham quase sempre só a sua conduta gregária, como no poema de Du Fu (712-770) O solitário cisne selvagem onde, identificando-se com o cisne, exprime uma queixa por se sentir negligenciado, e que termina com os versos: «Indiferentes, os patos bravos desatam num clamor, confundindo os gritos dos outros pássaros por todo o lado.» Porém não foi em grupo mas sozinho na sua despreocupada existência, que foi figurado por um pintor da dinastia Yuan. Chen Lin (c.1260-1368) fez num pequeno rolo horizontal (35,7 x 47.5 cm, tinta e cor sobre papel, no Museu do Palácio Nacional, em Taipé) a figura de um pato isolado na margem, junto das águas de um rio sob folhas de hibisco, furong (hibiscus mutabilis) cuja flor, uma das quais se encontra caída no chão, vai mudando de cor ao longo do dia, de branco a vermelho. A minúcia como estão figuradas as penas do pato, em contraste com a forma rústica das ondas e das folhas revela uma mutação no agir. E porque dos patos se diz que são os primeiros a detectar a chegada da Primavera ao experimentar a temperatura da água, acentua-se na pintura a impressão da passagem do tempo. Numa inscrição na pintura, o poeta e calígrafo Qiu Yuan (1247-1326) conta que esta foi feita no decurso de uma visita do autor ao estúdio do célebre pintor Zhao Mengfu (1254-1322) no Outono.