Via do MeioAs veredas por onde andaram as figuras de Chen Mei Paulo Maia e Carmo - 8 Set 2025 Yinzhen (1678-1735), que reinou como o imperador Yongzheng entre 1723-35, o terceiro da dinastia Qing, permitiu-se mostrar uma liberdade para aceitar o exótico a ponto de se fazer representar num álbum de pintura (anónimo, de catorze folhas a tinta e cor sobre seda, 37,5 x 30,5 cm no Museu do Palácio em Pequim) vestido de modos tão diversos como um guerreiro persa, um mágico daoísta, monge tibetano ou com o traje que se usava naquele tempo nas cortes europeias, incluindo uma cabeleira. Essa disponibilidade deixou que se estendesse a certos aspectos das artes visuais que adoptaram alguns dos modos de figuração próprios da pintura europeia, em particular da perspectiva de ponto de fuga único mas não só. Numa versão feita por pintores da sua corte de uma célebre pintura de Zhang Zeduan (activo no início do séc. XII) conhecida como Subindo o rio durante o festival Qingming, completada já em 1736 (rolo horizontal, tinta e cor sobre seda, 35,6 x 1152,8 cm, no Museu do Palácio Nacional em Taipé) nota-se uma preocupação em respeitar as distâncias e as proporções relativas das figuras, usuais na pintura europeia, chegando até a ver-se representados edifícios contruídos no estilo da arquitectura europeia. Entre os cinco pintores que colaboraram na meticulosa elaboração da pintura, um deles vindo de Songjiang (actual Xangai) chamado Chen Mei (1695-1745) adoptaria características raras do modo de representação visual na Europa daquele tempo. Como no caso da que se pode ver no Museu Smithsonian (tinta e cor sobre seda, 106 x 92,5 cm) de um Nobre literato caminhando numa floresta no Outono, em que a referência exótica se pode ver no modo como figurou a formação rochosa do solo, semelhante ao efeito que se observa em gravuras impressas levadas para a corte por missionários jesuítas. Outros recursos próprios da pintura europeia como o uso da tinta diluída criando o sombreado para mostrar a tridimensionalidade contribuem para a serena atmosfera de harmonia entre o literato e a natureza à sua volta. Chen Mei, que nalgumas obras colaborou directamente com pintores jesuítas como Castiglione (1688-1766), mostrou também uma lúcida compreensão da antiga arte do pincel. Como no caso de uma pintura do álbum de Actividades sasonais das senhoras ao longo dos doze meses, de 1738, acompanhadas a cada página por um poema do imperador Qianlong. Na página referente ao oitavo mês desse álbum, (Yueman qingyou tu, tinta e cor sobre seda, no Museu do Palácio em Pequim) como era costume no Festival do meio-Outono, senhoras do palácio observam a lua num terraço (Qiongtai), rodeadas pelas fragrantes árvores osmanthus, uma das quais de acordo com a lenda, está no próprio satélite adormecido. Da cena desprende-se uma onírica atmosfera como um caminho estreito afastado da via comum, encurtando a distância para a lua.