EventosHistória | Livro sobre americanos em Macau no século XIX apresentado hoje Andreia Sofia Silva - 16 Abr 2025 O livro “To the Farthest Gulf for the Wealth of India – Representações de Macau no Peabody Essex Museum (Salem)”, de Rogério Miguel Puga, conta a história de americanos que viveram em Macau no século XIX. O académico apresenta hoje na Livraria Portuguesa a obra que resultou da consulta a registos guardados num museu em Salem, no Estado do Massachusetts Macau é há muito tempo um lugar de comércio e de vivências de pessoas de todo o mundo. Uma das comunidades estrangeiras que residia no território, no agitado século XIX, era constituída por norte-americanos, cuja presença em Macau perdura em fotografias, diários, objectos e quadros, presentes no Peabody Essex Museum, em Salem, no Estado do Massachusetts. Estes sinais de ostentação da vida, riqueza e dos negócios que os americanos tinham no território foram objecto de análise por parte de Rogério Miguel Puga. O académico ligado à Universidade Nova de Lisboa lançou, em 2023 um livro que resultou de anos de investigação sobre essa temática, intitulado “To the Farthest Gulf for the Wealth of India – Representações de Macau no Peabody Essex Museum (Salem)”. O autor apresenta hoje a obra em Macau, a partir das 18h30, numa sessão na Livraria Portuguesa. Ao HM, conta um pouco sobre o longo percurso de investigação e escrita, que teve o apoio da Fundação Macau. “Comecei o livro em Macau em 2009, mas só em 2023 foi lançado. Faz todo o sentido apresentar o livro na cidade que é tema da investigação e onde o mesmo foi iniciado”. O académico refere que a apresentação de hoje na Livraria Portuguesa é “duplamente simbólica”, pelo facto de existir uma colaboração com o CIELA, um centro de investigação da Universidade de Macau (UM), onde Rogério Miguel Puga tem apresentado algumas palestras sobre os temas do livro, dinamizadas pelo docente Mário Pinharanda Nunes. A sessão de hoje na Livraria Portuguesa é moderada por Joshua Erlich, professor da UM, “que também realiza trabalhos de investigação sobre a Companhia das Índias Orientais, na Índia, comunicando, assim, o seu trabalho com o meu estudo sobre a presença britânica em Macau entre os anos de 1635 e 1793, já publicado”, disse Rogério Miguel Puga. O autor confessa que o evento simboliza também um regresso a um território que não visita desde 2019 e onde “encontra sempre novos temas para estudar”. “Desta vez, foquei-me na presença portuguesa em Hong Kong, depois de visitar a exposição ‘Estórias Lusas’, no Hong Kong Museum of History, sobre a qual publicarei em breve uma recensão em Portugal”, indicou ao HM. O livro apresentado hoje tem estado à venda na livraria Plaza Cultural Macau, Livraria Seng Kwong (Starlight Bookstore) e no Centro de Informações ao Público da Fundação Macau. Mostrar Macau ao mundo Que objectos eram então estes e para que serviam? Que utilidade tinham para os americanos viajantes, numa época de raras e difíceis comunicações? Numa altura em que Macau era a única porta de entrada para a China, que não permitia a residência a estrangeiros, estes aportavam aqui a fazer negócio. Depois, chegados aos EUA, mostravam a Macau que tinham conhecido. Rogério Miguel Puga descobriu este universo quando visitou o museu, em 2005. “Percebi que numa das salas do museu estavam várias representações de Macau. Achei curiosa a ligação [do território] a Salem. Estava um quadro identificado como sendo Macau, mas era, na verdade, uma representação de Xangai. Falei com o curador do museu que me disse que havia mais obras de reserva que não estavam expostas, nomeadamente de George Chinnery e outros artistas”, contou, em entrevista realizada em 2023. No museu de Salem existem objectos como leques, mesas de encaixe, tampos de mesas, retratos, mesas de costura com representações de Macau ou retratos encomendados por norte-americanos. Rogério Miguel Puga escreve não apenas sobre esses objectos, mas também sobre o contexto histórico da época, tendo realizado também investigação em cidades como Nova Iorque, Filadélfia e Washington. Entretanto, decorre também hoje, na UM, entre as 14h45 e as 16h, na Faculdade de Artes e Humanidades, a palestra “Anglo-Portuguese Relations and the British Presence in Macau (18th-19th centuries)”, temática existente no livro. Trata-se de uma sessão onde se fala um pouco da história destes negociantes ocidentais que buscavam Macau para fazerem negócio com a China, sobretudo a partir de 1700, quando a Companhia das Índias Orientais estabelece relações comerciais directas com o país. Na palestra serão também mencionadas as interligações sociais e culturais que decorreram nestes anos entre os estrangeiros negociantes e as populações locais.