A Liberdade na Peregrinação de Liu Ji e Leng Qian

Zhu Yuanzhang (1328-1398), quando ainda se não tornara o imperador Hongwu (1368-98), fundador da dinastia Ming e era apenas um rebelde que não pertencia à nobreza, vinha descendo um grande rio quando um vento rijo quebrou o mastro do navio que o transportava.

Olhando a margem, reparou numa grande árvore que se erguia junto de um templo e logo desejou utilizá-la para substituir o mastro quebrado. Quando se aproximou porém, o abade do mosteiro aconselhou-o a que, antes de o fazer, consultasse o espírito do templo retirando uma tabuínha de adivinhação. Ao retirá-la, ele leu: «Tudo sob o céu tem um mestre,/ Um homem honrado não tira nada para si próprio./ Embora as qualidades de um herói sejam conferidas pelo Céu,/ Ele deve, a cada passo, sondar qual o caminho correcto.» Logo desistiu da intenção.

A história ilustra o carácter do futuro monarca que, sendo orfão ainda muito jovem, foi acolhido num mosteiro budista como monge noviço, percebendo desde cedo o valor do acaso que desde então se empenhou em perscrutar. Na escolha dos seus conselheiros, obedecendo a essa preocupação, encontravam-se estrategas empenhados em planear os passos seguintes.

Entre eles destacava-se Liu Ji (1311-1375) também conhecido como Liu Bowen, o «velho sincero» estratega militar, estadista e poeta, a quem são atribuídas obras que respondiam a essa vontade de predizer a sucessão dos dias, como o livro de profecias Shaobing ge quan wen, «A canção completa do bolinho shaobing», ou o tratado filosófico Yulizi, o «Mestre do brilhante trigrama li, o fogo», para esclarecimento do Mundo e dos decisores.

Entre os seus curtos 182 capítulos está o edificante relato de um construtor de um qin, o instrumento musical dos literatos, que sendo apresentado na corte foi recusado por não ter o prestígio de ser antigo. Então ele acrescentou-lhe alguns riscos, enterrou-o por um tempo e de novo o apresentou, sendo agora muito bem recebido. De modo contrário, o conselheiro imperial procurava esclarecer-se na verdade. Como numa viagem que fez, no Outono de 1343, com um companheiro pela cordilheira de Huangshan, a montanha Amarela.

Leng Qian (c.1310-c.1371), esse amigo que também era erudito nas artes e instrumentos musicais, acompanhou-o num percurso até uma elevação, que a partir do tempo do imperador Jiajing (r.1521-67) foi designada Qiyun, «alta como as nuvens», fazendo parte do caminho por mar, embalados no ritmo cadenciado das ondas. Esse ritmo que Leng Qian, versado nos segredos da alquimia, procurou transmitir na pintura Monte Baiyue (rolo vertical, tinta sobre papel, 84,4 x 41,4 cm, no Museu do Palácio Nacional, em Taipé) que fez a pedido de Liu Ji para memorizar a jornada.

A partir da margem do rio Hengjiang, fez uma pintura livre de opções por estilos ou escolas, aproveitando o acaso, como queria o imperador Hongwu.

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