Grande Plano MancheteEstudo | Tratamento digital de insónia pode combater depressão Andreia Sofia Silva - 24 Fev 2025 Um estudo inédito desenvolvido por diversas universidades, incluindo a Universidade Chinesa de Hong Kong e Universidade de Pequim, concluiu que a terapia cognitivo-comportamental através de aplicações de telemóvel pode ajudar a combater depressão em jovens através da monitorização de insónias. A taxa de redução da doença é de cerca de 40 por cento O estudo “Eficácia da terapia cognitivo-comportamental baseada em aplicações para a insónia na prevenção da perturbação depressiva major em jovens com insónia e depressão subclínica: Um ensaio clínico aleatório” [Effectiveness of app-based cognitive behavioral therapy for insomnia on preventing major depressive disorder in youth with insomnia and subclinical depression: A randomized clinical trial] promete respostas para o tratamento de casos de depressão nos mais jovens. O trabalho, publicado pela revista “PLOS Medicine” e desenvolvido por académicos de diversas universidades de Hong Kong e da China, onde se incluem a Universidade de Hong Kong, Universidade Chinesa de Hong Kong ou a Universidade de Pequim, conclui que é possível reduzir, em cerca de 40 por cento, casos de depressão em jovens com a utilização de uma aplicação de telemóvel que monitoriza as insónias, um habitual sintoma em quem sofre da doença. Os dados foram apresentados no final da última semana em Hong Kong. Para chegar aos resultados, foi escolhida uma amostra aleatória de mais de 700 jovens chineses do Interior da China e Hong Kong com perturbação de insónia e sintomas depressivos, com idades compreendidas entre 15 e 25 anos, que se submeteram ao teste com a aplicação durante seis semanas. Assim, “este estudo controlado e aleatório avaliou a eficácia da terapia cognitivo-comportamental para a insónia baseada em aplicações (TCC-I) na prevenção do aparecimento futuro de perturbação depressiva major (MDD) em jovens”, pode ler-se. Isto numa altura em que “cada vez mais provas sugerem que a insónia desempenha um papel importante no desenvolvimento da depressão”, ocorrendo nesta investigação “a intervenção na insónia como uma abordagem promissora para prevenir a depressão nos jovens”. Assim, a “TCC-I baseada em aplicações é eficaz na prevenção do aparecimento futuro de depressão major e na melhoria dos resultados da insónia entre jovens com insónia e depressão subclínica”. O estudo conclui também que “estes resultados sublinham a importância de se visar a insónia para prevenir o aparecimento de DMG [um tipo de depressão] e realçam a necessidade de uma maior divulgação da TCC-I digital para promover o sono e a saúde mental na população jovem”. Conclui-se ainda que a TCC-I baseada em aplicações “não só melhorou os sintomas nocturnos de insónia, como também reduziu a fadiga diurna e conduziu a uma maior mudança para a maturidade”. Mais de 700 jovens analisados Depois de se testar a aplicação da TCC-I, foram realizadas entrevistas clínicas de base durante um período de seis a 12 meses para se compreenderem os resultados nos participantes e monitorizar os sintomas. Falamos, no período compreendido entre 9 de Setembro de 2019 e 25 de Novembro de 2022, de 708 participantes, sendo que destes 407 era mulheres (57 por cento), com uma média de idades de 22 anos. O estudo aponta ainda que “37 participantes, 10 por cento, no grupo de intervenção e 62 participantes, 18 por cento, no grupo de controlo desenvolveram novas perturbações do humor ao longo dos 12 meses de seguimento”. Por sua vez, o grupo que foi sujeito à CBT-I baseada na aplicação de telemóvel, ou seja, a terapia cognitivo-comportamental para a insónia, apresentou “taxas de remissão da perturbação da insónia mais elevadas do que os grupos de controlo pós-intervenção” no espaço de um ano. Além disso, o mesmo grupo “relatou uma maior diminuição nos sintomas depressivos do que os controlos na pós-intervenção e ao longo dos seis meses de seguimento”. Os autores do estudo entendem que “a insónia foi um mediador dos efeitos da intervenção na depressão”, não tendo sido “relatados eventos adversos relacionados com as intervenções”. Os autores partiram para este estudo com algumas ideias comprovadas de que a insónia constitui uma das causas principais para a depressão. “Os dados emergentes sobre a intervenção na insónia, especialmente a terapia cognitivo-comportamental para a insónia (TCC-I), têm mostrado resultados promissores no alívio da insónia e dos sintomas depressivos em doentes com insónia”, lê-se. As investigações já existentes centram-se em adultos e idosos, pelo que era importante analisar esta matéria entre os mais jovens. “Além disso, existem poucos estudos com poder estatístico adequado para demonstrar o efeito preventivo da TCC-I na depressão, tanto ao nível dos sintomas como das perturbações”, explicam os autores do estudo, frisando que “pouco se sabe sobre se a intervenção digital da insónia pode potencialmente prevenir a depressão juvenil”. Significados importantes O estudo aponta ainda que a terapia cognitivo-comportamental para a insónia baseada em aplicações “é uma intervenção viável e eficaz para prevenir a depressão futura, tanto ao nível dos sintomas como das perturbações, nos jovens”. Porém, é recomendada a realização de mais estudos que possam explorar “a integração do TCC-I baseado em aplicativos na prática clínica para melhorar a acessibilidade e prevenir a depressão entre a população jovem”. É também referida a necessidade da realização de mais ensaios clínicos “para explorar os potenciais benefícios da adaptação de intervenções digitais sobre o sono no alívio e prevenção da depressão”, a fim de se “avançar em direcção a abordagens de cuidados personalizados e escalonados junto da comunidade”. São referidas limitações neste estudo publicado na “PLOS Medicine”, nomeadamente “a inclusão de uma mistura de indivíduos com e sem depressão prévia, e uma amostra limitada de adolescentes, embora tenha havido uma amostra global adequada”. À imprensa de Hong Kong, os autores do estudo falaram da importância destes resultados e como podem constituir novas ferramentas em futuros tratamentos da doença. Citado pelo The Standard HK, Chen Si-jing, primeiro autor da investigação e bolseiro de pós-doutoramento do Departamento de Psiquiatria da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o estudo “demonstra que a TCC-I digital é eficaz na prevenção do aparecimento futuro de depressão grave, com uma eficácia satisfatória”. Já Wing Yun-kwok, director da Unidade de Avaliação do Sono da Família Li Chiu Kong, indicou que os estudos futuros irão centrar-se na intervenção digital sobre a insónia na prática clínica. O carácter inédito deste estudo na Ásia confere-lhe ainda uma maior importância. Segundo afirmou Lu Lin, académico da Academia Chinesa de Ciências e presidente do PKU Sixth Hospital, até à data “não tinha sido realizada qualquer investigação na Ásia sobre a eficácia desta terapia”.