Doci Papiaçam di Macau | Coro do grupo em patuá actua em Lisboa

O coro dos Doci Papiaçam di Macau irá actuar em Lisboa esta semana por ocasião do plenário do Conselho das Comunidades Portuguesas, entre os dias 8 e 10 de Outubro. Inclui-se ainda uma actuação na Casa de Macau em Lisboa. Miguel de Senna Fernandes destaca que este é o primeiro convite feito por Portugal ao grupo 25 anos depois da transição

 

É um momento quase histórico. Ao fim de 25 anos da transferência da administração portuguesa de Macau para a China, os Doci Papiaçam di Macau, grupo local que mantém vivo o patuá, vai a Lisboa actuar por ocasião do plenário do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), que decorre entre amanhã e quinta-feira na capital portuguesa.

Assim, os Doci, que actuarão com o seu coro e não com o grupo de teatro, irão apresentar as suas canções e o seu trabalho na Assembleia da República, em São Bento, na terça-feira ao meio dia, seguindo-se, no dia seguinte, uma actuação na Casa de Macau em Lisboa. Finalmente, o grupo terá uma última actuação em frente à Câmara Municipal de Lisboa, por ocasião do encerramento das actividades do CCP.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes revelou que a ideia inicial de levar a Lisboa uma peça de teatro em patuá acabou por cair por terra, pois apresentar o coro é bem mais fácil em termos logísticos. “Havia alguma dificuldade em escolher o que seria apresentado, pois no que diz respeito às línguas seria complicado [apresentar a peça em patuá], mas oferecemos a possibilidade de apresentar o coro dos Doci, que está reabilitado desde há quatro anos.”

Desta forma, o grupo pensou tratar-se de uma melhor solução, “pois a música é uma linguagem universal”. “As pessoas não sabem patuá e podem apreciar a música cantada numa língua que não entendem, mas é sempre algo melódico”, frisou Miguel.

A actuação na Casa de Macau surgiu por acaso, a fim de aproveitar o único dia em que os Doci estão em Lisboa sem agenda, podendo, assim, mostrar o seu espectáculo aos macaenses que vivem em Portugal e demais interessados.

Fazer “o melhor possível”

Miguel de Senna Fernandes foi o responsável pelos arranjos das dez canções que o coro dos Doci vai levar para Lisboa, sendo que o grupo parte hoje para Portugal.

As expectativas são mais que muitas por um regresso que acontece 25 anos depois da transferência da administração portuguesa de Macau para a China.

“Não sei que público teremos, vamos fazer o melhor possível. As pessoas não sabem o que é o patuá, e talvez grande parte das pessoas já nem saiba o que é Macau, e vamos ter de explicar. Mas o grupo está entusiasmadíssimo. Tudo pode acontecer, estamos à espera do imprevisto, mas vamos dar conta do recado”, destacou Miguel de Senna Fernandes.

O convite feito pelo Governo português no ano em que se celebram os 25 anos da RAEM carrega em si um grande simbolismo, acrescentou o grande dinamizador dos Doci, autor habitual das peças de teatro que o grupo apresenta. “Há 25 anos que o grupo não vai a Portugal. Quando o fizemos [em 1999], actuamos na presença de Jorge Sampaio [então Presidente da República portuguesa], e nunca mais se falou da deslocação do grupo para fora. Não tínhamos como largar esta hipótese, é uma honra para o grupo.”

Miguel de Senna Fernandes confessa que não está posta de parte a possibilidade de se apresentarem em Lisboa peças em patuá. “Não está descartada a hipótese de um dia irmos a Lisboa apresentar o teatro em patuá, com uma trupe menor, tendo em conta o orçamento. Já nos custa muito ir agora. O coro tem 20 pessoas e, tendo em conta que a deslocação é paga pela secretaria de Estado, houve um limite apertado em termos de orçamento e muitas pessoas não puderam ir.”

A ida dos Doci a Lisboa é um evento com tanto simbolismo que o próprio Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, autorizou a despensa de serviço de muitos dos membros que são funcionários públicos. O governante recebeu uma carta a dar conta do evento.

“Há uma referência da ligação da secretaria de Estado em Portugal que manifestou a sua conexão à comemoração dos 25 anos da RAEM, embora não seja um apoio formal pois teria de passar pela Embaixada da China. Mas talvez [a iniciativa] tenha sensibilizado o Chefe do Executivo e os funcionários públicos tiveram despensa de serviço”, rematou.

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