Analistas realçam desafios no crescimento económico de Macau

Especialistas contactados pela agência Lusa perspectivam desafios no crescimento da economia de Macau para 2026, com a recuperação do sector do jogo a contrastar com o fraco consumo doméstico e pressão para a diversificação.

O economista Henry Chun Kwok Lei, professor de Economia Empresarial na Universidade de Macau e vice-presidente da Associação Económica de Macau, mantém uma perspectiva “cautelosamente optimista” para 2026, prevendo um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de cerca de 2,5 por cento durante o próximo exercício.

“A base elevada das receitas brutas dos jogos este ano, projectadas entre 246 a 248 mil milhões de patacas, irá condicionar o potencial de crescimento em 2026. Mesmo que a receita dos casinos aumente cerca de 4 por cento, para mais de 250 mil milhões de patacas, a sua contribuição para o crescimento económico global irá diminuir”, afirmou Henry Lei à Lusa.

Ben Lee, consultor para a actividade do jogo no sudeste asiático, tem uma perspetiva mais positiva. “A receita bruta dos jogos já atingiu 226,5 mil milhões de patacas até Novembro deste ano, pelo que é mais do que provável que ultrapassemos a projecção de 228 mil milhões”, disse.

A estimativa para as receitas do jogo para 2026 acrescentou o analista, é “um pouco conservadora”. “A menos que retrocedamos no próximo ano, com base no momento actual, as receitas brutas podem atingir um valor entre 260 e 270 mil milhões de patacas até ao final de 2026”, estimou.

Alarmes soados

A previsão inscrita no Orçamento para 2025 apontava para receitas totais na ordem dos 240 mil milhões de patacas, mas o fraco arranque do ano, sobretudo depois da guerra tarifária desencadeada pelos EUA, accionou os alarmes entre a equipa económica do Executivo de Sam Hou Fai, que aprovou em Junho um Orçamento Rectificativo em que cortou 4,56 mil milhões de patacas na previsão de receitas, altamente dependentes do setor do jogo (cerca de 83 por cento do PIB de Macau).

A Associação Económica de Macau prevê que o crescimento anual do PIB em 2025 venha a ser em torno dos 5,4 por cento, um estimativa escudada na “tendência estável e positiva dos principais indicadores de desenvolvimento económico, funcionamento globalmente estável dos sistemas orçamental e financeiro e manutenção de baixas taxas de desemprego”.

Quanto ao próximo ano, acrescenta a associação, “prevê-se que a economia de Macau mantenha a trajectória estável e positiva”, embora o panorama global “continue a ser caracterizado por turbulências e complexidade interligadas”. O Orçamento do Governo para 2026 aponta para um aumento de 3,5 por cento nas receitas dos casinos de Macau no próximo ano, atingindo 236 mil milhões de patacas, ainda assim, o valor mais elevado desde a pandemia.

Outros desafios críticos que Macau enfrenta em 2026 são o do estímulo ao consumo local e o do apoio às pequenas e médias empresas (PME). Em declarações à Lusa, Lei Choek Kuan, presidente da Federação da Indústria e Comércio de Macau, apontou para a mudança “irreversível” nos padrões de consumo em curso e sublinhou a importância do apoio governamental para que as empresas mantenham a confiança.

O economista Henry Lei defende uma transformação estrutural mais profunda que vá além dos subsídios e sugeriu que as PME locais devem procurar a diferenciação e serviços ‘premium’ — como “melhorar o serviço pós-venda, desenvolver produtos culturais criativos e criar experiências culinárias de alta gama” — para atender a um nicho demográfico de alto poder de compra, em vez de competirem pelo preço com o Interior da China.

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