Perspectivas VozesLições de 2025 para a Década Jorge Rodrigues Simão - 18 Dez 2025 (Continuação do artigo publicado em 11 de Dezembro) No sector da segurança, o mundo enfrentará desafios complexos. O terrorismo poderá assumir novas formas, com utilização de tecnologias digitais e de inteligência artificial. A cibersegurança tornar-se-á prioridade, com ataques digitais a sistemas críticos a representar riscos significativos. Estima-se que até 2030 os custos globais de ciberataques possam ultrapassar 10 mil milhões de dólares anuais. No plano militar, tensões geopolíticas entre os Estados Unidos e a China poderão intensificar-se. O Médio Oriente continuará a ser foco de instabilidade. Entre 2026 e 2030, os cenários sociais e culturais assumirão papel determinante na configuração do futuro global. A migração internacional continuará a ser um dos fenómenos mais marcantes, impulsionada por conflitos armados, desigualdades económicas e alterações climáticas. Estima-se que centenas de milhões de pessoas possam estar em situação de mobilidade internacional ou interna, seja por procura de melhores condições de vida, seja por necessidade de sobrevivência. A Europa enfrentará pressões migratórias vindas de África e do Médio Oriente, com centenas de milhares de pessoas a procurar refúgio em países como Itália, Grécia, Espanha e Alemanha. Este fluxo exigirá políticas de integração mais robustas, mas também poderá gerar tensões sociais e políticas, alimentando discursos populistas e nacionalistas. Nos Estados Unidos, a imigração continuará a ser tema central, com políticas restritivas a provocar tensões sociais e protestos, mas também com a necessidade de mão-de-obra em sectores como agricultura, construção e serviços. Na América Latina, migrações internas intensificar-se-ão devido a fenómenos climáticos extremos, como inundações e secas, obrigando milhões de pessoas a deslocar-se das zonas rurais para as cidades. Em África, a desertificação e os conflitos armados no Sahel poderão deslocar mais de 20 milhões de pessoas, criando crises humanitárias de grande escala. A urbanização será outro fenómeno central. Até 2030, mais de 65% da população mundial viverá em áreas urbanas, com megacidades a crescerem de forma acelerada. Cidades como Lagos, Kinshasa, Mumbai, São Paulo e Jacarta poderão ultrapassar os 30 milhões de habitantes, enfrentando desafios de infra-estrutura, habitação, transporte e saneamento. A urbanização acelerada trará oportunidades de dinamismo económico e cultural, mas também riscos de desigualdade e exclusão social. As cidades terão de investir em soluções sustentáveis, como transportes públicos eficientes, habitação acessível e gestão de resíduos. A digitalização das cidades, com recurso a tecnologias inteligentes, poderá melhorar a qualidade de vida, mas exigirá políticas de inclusão para evitar que populações vulneráveis fiquem excluídas. As transformações demográficas serão igualmente decisivas. O envelhecimento populacional na Europa, Japão e Coreia do Sul exigirá políticas de saúde e de cuidados de longa duração, com impacto nos sistemas de pensões e na sustentabilidade fiscal. Estima-se que, até 2030, mais de 25% da população da Europa tenha mais de 65 anos, criando desafios de produtividade e de financiamento dos sistemas sociais. Em contrapartida, África e partes da Ásia terão populações jovens em crescimento, com milhões de pessoas a entrar no mercado de trabalho. Este fenómeno poderá ser uma oportunidade de dinamismo económico, mas também um risco de instabilidade se não forem criados empregos suficientes. A Índia, por exemplo, terá mais de 1,5 mil milhões de habitantes em 2030, com uma população jovem que poderá impulsionar crescimento, mas que exigirá investimentos massivos em educação e formação. A China enfrentará o desafio de uma população envelhecida, com mais de 400 milhões de pessoas acima dos 60 anos em 2030, o que poderá limitar o dinamismo económico e aumentar pressões sobre sistemas de saúde e pensões. Os cenários culturais também se transformarão. A globalização digital continuará a difundir valores e práticas culturais, mas também a gerar tensões entre tradições locais e influências externas. A música, o cinema e a literatura circularão de forma cada vez mais intensa, criando uma cultura global híbrida. Contudo, movimentos de afirmação identitária e de valorização de culturas locais ganharão força, procurando preservar tradições e resistir à homogeneização cultural. A diversidade cultural será simultaneamente uma riqueza e um desafio, exigindo políticas de inclusão e de respeito pela diferença. As migrações, a urbanização e as transformações demográficas interagirão com fenómenos ambientais e tecnológicos. As cidades terão de se adaptar a fenómenos climáticos extremos, como inundações e ondas de calor, que afectarão milhões de pessoas. A migração climática tornar-se-á realidade, com populações inteiras a deslocar-se devido à subida do nível do mar e à desertificação. A urbanização acelerada exigirá soluções tecnológicas, como cidades inteligentes e infra-estruturas sustentáveis, mas também políticas sociais para garantir inclusão. As transformações demográficas criarão novos equilíbrios de poder, com África e Ásia a ganhar peso demográfico e económico, enquanto a Europa e Japão enfrentarão desafios de envelhecimento. Em síntese, o período entre 2025 e 2030 pode ser descrito como uma fase de transição crítica, em que os acontecimentos de 2025 funcionaram como catalisadores de mudanças estruturais que se manifestaram em diferentes dimensões. A economia global entrou num ciclo de recuperação moderada, mas com riscos persistentes. A política internacional foi marcada por polarização e por tensões geopolíticas, com os Estados Unidos e a China a disputar a liderança tecnológica e industrial, e o Médio Oriente a permanecer como foco de instabilidade. O ambiente revelou a urgência da transição energética e da adaptação climática, com fenómenos extremos a afectarem milhões de pessoas. A tecnologia transformou economias e sociedades, criando oportunidades e riscos. A educação e a saúde exigiram políticas inclusivas e inovadoras. A segurança tornou-se prioridade, com ciberataques e terrorismo digital a representar riscos significativos. Os cenários sociais e culturais revelaram a importância da migração, da urbanização e das transformações demográficas. O futuro dependerá da capacidade de articular interesses nacionais com responsabilidades colectivas, construindo um equilíbrio entre competitividade e solidariedade. Se os países conseguirem investir em inovação responsável, em educação inclusiva e em sustentabilidade energética, será possível construir um futuro mais justo, sustentável e inclusivo. Caso contrário, o risco de estagnação prolongada e de agravamento das desigualdades permanecerá elevado. O período entre 2025 e 2030 ficará, assim, como um momento decisivo, em que a humanidade foi chamada a escolher entre a cooperação e a fragmentação, entre a coragem de avançar e o risco de permanecer prisioneira das suas próprias contradições.