China diz que esmagará ingerências em Taiwan

A China voltou ontem a acusar o Japão de aumentar a tensão regional com a anunciada implantação de mísseis em ilhas próximas de Taiwan, advertindo que “esmagará” qualquer tentativa de interferência externa no que considera um assunto interno.

O porta-voz do Gabinete para os Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado (Executivo chinês), Peng Qing’en, classificou a decisão de Tóquio como uma “provocação extremamente perigosa” e acusou o Japão de estar “a criar tensão e a alimentar o confronto militar” numa zona a apenas 110 quilómetros de Taiwan.

“Temos a firme vontade, determinação e capacidade de salvaguardar a soberania e a integridade territorial da China e de esmagar qualquer tentativa de interferência externa”, afirmou Peng numa conferência de imprensa em Pequim. O porta-voz acusou Tóquio de violar o espírito da Constituição pacifista do país e de avançar para a “expansão militar”, impulsionado por “forças de direita, que procuram libertar-se das restrições do pós-guerra”.

Peng recordou que a Declaração de Potsdam (1945) proibia o rearmamento japonês, sublinhando que esta evolução “despertou a preocupação da comunidade internacional”.

A data concreta para a implantação desse sistema antimíssil numa cadeia de ilhas próxima de Taiwan, capazes de interceptar ameaças aéreas a uma altitude de cerca de 50 quilómetros, ainda não foi decidida, mas corresponde a 14 novas unidades antimísseis terra-ar que o Governo japonês planeia instalar até 2031 para triplicar os sistemas de protecção numa zona de especial interesse estratégico.

A reacção da China ocorre num momento de máxima tensão diplomática entre Pequim e Tóquio, após declarações recentes da nova primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, que declarou que um ataque chinês contra Taiwan pode justificar a intervenção das Forças de Autodefesa japonesas.

A China exigiu a retratação da chefe do Governo nipónico, convocou o embaixador japonês e emitiu avisos oficiais desaconselhando os cidadãos chineses a viajar para o Japão, o que provocou centenas de milhares de cancelamentos de voos e afectou o sector turístico e cultural japonês.

Tóquio, por sua vez, defendeu que a implantação de mísseis terra-ar nas ilhas do arquipélago Nansei responde exclusivamente a fins de defesa e faz parte da estratégia de segurança adoptada em 2022, em plena inflexão histórica de Tóquio no sentido do rearmamento.

O Ministério da Defesa japonês denunciou ainda esta semana a incursão de um drone chinês entre a ilha de Yonaguni e Taiwan, o que justificou o envio de caças.

Sem avanços

A tensão diplomática mantém-se, apesar dos recentes apelos do Presidente norte-americano, Donald Trump, tanto ao líder chinês, Xi Jinping, como a Takaichi.

Durante uma conversa telefónica com Trump, Xi insistiu que o “retorno” de Taiwan à China constitui uma “parte importante” da ordem internacional pós-Segunda Guerra Mundial, enquanto Tóquio insiste que a sua posição não mudou e que qualquer disputa sobre a ilha, autogovernada desde 1949, deve ser resolvida pacificamente.

Tóquio e Pequim têm mantido reuniões bilaterais de alto nível em busca de formas de desaceleração da tensão actual, sem sinais claros de progresso, segundo analistas.

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