Arquitecto José Maneiras morreu na noite de segunda-feira

Partiu um dos decanos, “filho da terra”, da arquitectura moderna de Macau. José Maneiras faleceu na noite de segunda-feira aos 90 anos de idade. Nascido em Macau em 1935 e licenciado na antiga Escola de Belas Artes do Porto em 1962, José Maneiras dedicou a sua vida profissional a Macau, principalmente no plano arquitectónico, mas também cultural e político.

O também arquitecto Carlos Marreiros, além da relação de amizade, profissional e institucional, conheceu José Maneiras desde a infância. “Ele era muito amigo da minha família, ia muitas vezes a casa do meu avô, e até me pegou ao colo”, conta ao HM. “Como cidadão era um homem consciente e activo, um homem de grandes princípios, de grande nobreza de alma e de grande independência. Não vergava ao dinheiro, nem ao poder. Um homem muito sério e um arquitecto extremamente honesto e competente”, afirma Carlos Marreiros.

O apurado sentido de humor, que ia além de observações e episódios cómicos do quotidiano, era um traço de personalidade indissociável do arquitecto. “Ele sabia muitas anedotas e punha as pessoas a rir. Era um grande contador de estórias e o maior poliglota que conheci na minha vida. Era inteligente e arguto, lia muito bem a cidade. Intuía muito bem a política, onde teve um papel activo”.

Recorde-se que no plano político e cívico, José Maneiras teve também uma vida cheia de actividade, desde a presidência do Leal Senado entre 1989 e 1993, ao papel activo no Centro Democrático de Macau.

No pelotão da frente

Um aspecto determinante na vida de José Maneiras foi a coragem com que abriu várias frentes, começando com o pioneirismo profissional.

“O contributo dele para a cidade é muito importante, foi o primeiro filho da terra a regressar a Macau depois de se formar entre a geração de macaenses do pós-Segunda Grande Guerra Mundial”, conta Carlos Marreiros, que distingue José Maneiras enquanto “um dos decanos” da arquitectura macaense, juntamente com José Pereira Chan e Nuno Jorge. Não admira, portanto, que Maneiras tenha sido sócio n.º 1 da Associação dos Arquitectos de Macau.

Longe dos tempos de abundância, Carlos Marreiros destaca a forma como José Maneiras acompanhou o primeiro boom de desenvolvimento de Macau, na década de 1970, que teria implicações no património histórico do território, à altura longe do reconhecimento internacional que hoje merece.

“Sempre com um sentido crítico, opinativo e tecnicamente esclarecido”, Marreiros lembra como o amigo acompanhou esse período da história recente de Macau. “Até há bem pouco tempo ele participava em debates e seminários sobre a cidade. Tinha sempre uma opinião muito bem fundamentada”, lembra Carlos Marreiros.

Em relação à obra que deixou, Marreiros destaca o centro para invisuais na zona da Areia Preta no norte da península, da Santa Casa da Misericórdia, as residências na Estrada do Visconde de São Januário e o bloco habitacional Conjunto São Francisco na Avenida da Praia Grande. José Maneiras desempenhou ainda um papel fundamental na pedozinação do Largo do Senado.

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