Comida pré-preparada(II)

A semana passada, analisámos a recente controvérsia desencadeada online a propósito da comida pré-preparada. A China continental tinha emitido um “Aviso sobre o Reforço da Supervisão da Segurança Alimentar dos Alimentos Pré-Preparados e a Promoção do Desenvolvimento de Alta Qualidade da Indústria.” O Aviso explicita o que é “comida pré-preparada” e adianta que os alimentos que são confeccionados nas cozinhas centrais das cadeias de restaurantes de acordo com as leis e regulamentos de segurança alimentar, e depois distribuídos pelas suas sucursais, não são, por isso, considerados comida pré-preparada.

Embora existam diferentes definições de comida pré-preparada, para a maior parte dos consumidores, desde que os alimentos não sejam cozinhados no restaurante, e se contiverem ingredientes que tenham sinal de ter sido processados industrialmente, quer sejam refeições prontas ou produtos semi-acabados, são considerados “comida-pré-preparada”. Ou seja, “se não são acabados de cozinhar, logo são pré-preparados” é a percepção generalizada.

As refeições pré-preparadas estão omnipresentes nas modernas de cadeias de restauração. O sabor padronizado garante que os consumidores tenham a mesma experiência, independentemente do restaurante do grupo que visitem. Este procedimento fomenta a lealdade dos consumidores à marca. Os restaurantes não ganham nem perdem clientes por causa da qualidade do chef. A comida pré-preparada reduz o pessoal necessário, diminuindo os custos com salários e aumentando a eficiência do restaurante. Temos uma sociedade onde as pessoas pedem todos os dias “take-away”; os restaurantes precisam de cronometrar a preparação da comida e os estafetas precisam de cronometrar o tempo das entregas. Se a preparação da comida não for suficientemente rápida, os restaurantes não sobrevivem à concorrência. Para garantir uma eficiente preparação dos alimentos, os restaurantes precisam inevitavelmente de recorrer à comida pré-preparada. Impulsionada pelas necessidades dos restaurantes, a procura de comida pré-preparada aumentou exponencialmente. Estudos indicam que este mercado na China continental atingirá em 2026 1.072 biliões de dólares, com potencial para se desenvolver para o próximo mercado avaliado em biliões de dólares. Desta forma, é essencial estabelecer padrões nacionais de segurança alimentar no país.

O foco dos restaurantes em servir a comida rapidamente leva a que os consumidores encarem a comida pré-preparada como “fast food”. Por isso, podem não estar dispostos a pagar preços elevados por este tipo de alimentos. Além disso, os clientes esperam sentir o “wok hei” (o aroma fumado transmitido por um wok quente durante a preparação das refeições) e desfrutar da cozinha “feita na hora” quando vão ao restaurante. Se a comida é confeccionada na cozinha central da cadeia com ingredientes pré-embalados os clientes vão experimentar uma “lacuna psicológica” que provoca uma série de questões. Por exemplo, a comida que estou a consumir já terá passado o prazo de validade? Será que contém conservantes? Estes conservantes são prejudiciais à saúde? Será que afectam o sabor dos alimentos? Se o sabor e a frescura forem afectados, o preço deve baixar? Estas questões dão facilmente origem a dúvidas. Se os consumidores forem forçados a pagar preços elevados por comida pré-preparada, podem sentir-se enganados e entrar em conflito com o restaurante.

Esta controvérsia fez a sociedade perceber que se os consumidores “comerem felizes e com tranquilidade” vão regressar, o que será vantajoso para os clientes e para o restaurante. Talvez se possa considerar indicar no menu se o prato é “feito na hora”, se provém da “cozinha central da cadeia de restauração” ou se é “pré-preparado”, dando assim ao consumidor a possibilidade de escolha. Uma destas cadeias de restauração da China continental, a “Lao Xiang Ji,” usa este método indicando se as refeições são “feitas no restaurante,” “semi-pré-preparadas,” ou se são “comida pré-preparada reaquecida.” Este método satisfaz os clientes, libertando-os de mal-entendidos e preocupações acerca da comida-pré-preparada e da segurança alimentar. A abordagem da Lao Xiang Ji impôs-se à industrialização conseguindo assim reter a clientela.

Além disso, os restaurantes devem compreender que um ambiente transparente e honesto informa melhor o consumidor, o que aumenta a sua confiança nos restaurantes. A confiança do consumidor é o alicerce de todas as marcas. Os consumidores são tanto participantes como motores da indústria alimentar. Esta controvérsia ajudará a indústria alimentar a desenvolver-se numa direcção mais padronizada e saudável.

Para apoiar este desenvolvimento, a China continental precisa de implementar o mais rapidamente possível normas nacionais para a segurança das refeições pré-preparadas e estabelecer um rigoroso mecanismo de controlo de qualidade e rastreio, o que será mais benéfico para a sociedade.

De acordo com a Lei n.º 5/2013 de Macau, a “Lei da Segurança Alimentar”, as refeições pré-preparadas devem ser embaladas de forma segura e os seus ingredientes devem estar etiquetados, mas os restaurantes não são obrigados a indicar se os seus pratos usam ou não ingredientes pré-preparados. Esta controvérsia demonstra que os consumidores estão preocupados com a possibilidade de os restaurantes servirem refeições pré-preparadas. Dada a actual tendência de os habitantes de Macau irem fazer compras à China continental, para sobreviver, a indústria da restauração precisa de se aperfeiçoar para atrair mais turistas. Talvez os restaurantes de Macau possam considerar explicar aos clientes que se usarem alimentos pré-preparados localmente, estão a servir pratos típicos, “Made in Macau.” Se usarem alimentos pré-preparados vindos da China continental e processados nas suas cozinhas, poderão identificá-los como “Made in China continental + Processado em Macau” como um slogan de marketing. Desta forma podem reduzir-se custos operacionais e aumentar-se a percepção do valor do que é “Made in Macau.” Afinal de contas, a nossa indústria do turismo depende dos turistas, E vender aos turistas produtos tipicamente locais é a chave da sobrevivência dos negócios da cidade.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
Professor Associado da Faculdade de Ciências de Gestão da Universidade Politécnica de Macau
Email: cbchan@mpu.edu.mo

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