O Elogio de Wang Juzheng à Àrdua Labuta Das Mulheres

Zhang Xuan (713-755), o pintor dos Tang, foi autor de uma pintura que hoje se pode admirar através de uma cópia atribuída ao imperador dos Song, Huizong (r.1022-63), onde se observam belas damas ricamente vestidas, penteadas e adornadas executando tarefas práticas de tratamento de tecidos, que habitualmente se espera ver a serem executadas por serviçais dessas senhoras. Nesse precioso rolo horizontal (tinta, cor e ouro sobre seda, 37,7 x 466 cm, no Museu de Belas Artes de Boston) onde se alardeia o luxo e que na verdade mostra a celebração de um rito anual relativo à produção da seda, que tem lugar na Primavera servindo de exemplo para o resto do Império, podem observar-se no fim, do lado esquerdo duas senhoras, uma de cada lado, estendendo uma peça de seda branca que uma terceira está a passar a ferro, ajudada por uma jovem.

E embora uma das senhoras se dobre ligeiramente no zelo de estender o tecido, nada parece estar a exigir um grande esforço, todas parecem executar uma actividade amena. Desse tempo em que na corte se recriava uma cena doméstica que decorre no seio da élite, um pintor talvez não menos erudito, recriou num modesto rolo horizontal (tinta e cor sobre seda, 26,1 x 69,2 cm, no Museu do Palácio Nacional, em Pequim), um emocionante contraponto dessa cena em que são protagonistas duas senhoras humildes. Uma de cada lado das pontas de dois fios na penosa função de fabricar um tecido que podia ser aquele que no outro rolo as damas se entretêm a eliminar as rugas. As senhoras aqui não são doces nem belas como as outras mas simples mulheres do campo que dependem da força fisica para accionar a roda de fiar que permite a sobrevivência da família. É notória a simpatia que a pintura mostra pela vida pobre e virtuosa mas inglória destas mulheres, o que suscita uma perplexidade sobre quem e porque foi criada.

Wang Juzheng, que viveu durante os Song do Norte, era natural de Hedong (actual Yongji, Shanxi) no reino do imperador Renzong (1023-63), era filho de um pintor e outras obras que lhe são atribuídas confirmam ser esta uma excepção. Porém, o apreço com que ela foi recebida pode ler-se no comentário que o preclaro Zhao Mengfu escreveu ao lado dela: «É um pequeno rolo mas o trabalho do pincel é magnífico, possui uma alta compreensão da vida. Com os seus maravilhosos apontamentos pode bem ser descrita como um trabalho digno dos deuses.»

E tudo feito com grande economia. Uma mulher mais velha será a avó de um menino que brinca com um sapo preso numa vara no início do rolo, dois velhos troncos e ramas de salgueiro, lembram a ausência do pai, uma mulher já não tão nova sentada num banco de madeira vai movendo a roda de fiar e, mal se vê, tem no peito um bebé, à sua frente brinca o pequeno cão da família. Nas mãos da cansada mulher velha, dois fios têm um peso tremendo.

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