Via do MeioA nostalgia de pedras preciosas e jardins eruditos Paulo Maia e Carmo - 26 Ago 2025 Luzhu, a «Pérola verde», a fascinante dançarina, professora de música e a cortesã favorita do abastado funcionário e poeta Shi Chong (249-300), viveria um trágico destino que conduziria ao fim prematuro de ambos no mesmo ano, deixando uma memória inesquecível e uma edificante lição acerca da fugacidade da beleza e a brevidade da riqueza material. Essa era de opulência, em que os dois gozaram de um precioso tempo de luxo, calma e beleza não seria esquecido. Os dois seriam retratados numa pintura de 1732, feita pelo pintor Hua Yan (1682-1756), que se refere ao esplendoroso lugar em Luoyang, que teria cerca de cem apartamentos para concubinas rodeado de um jardim, propriedade de Shi Chong, um cenário que tão bem se adequava ao luxuoso encontro, chamado Jingu yuan, «Jardim do vale dourado» (rolo vertical, tinta e cor sobre papel, 178,9 x 94,1 cm, no Museu de Xangai). Ao longo do século dezoito e depois, a recordação da dançarina parecia estar subitamente muito viva como se vê num retrato feito em 1823 por Gai Qi (1773-1828). Num rolo vertical (tinta e cor sobre papel, 128,3 x 43,8 cm, no Metmuseum) ela tem uma pérola verde na mão e um faustoso casaco decorado com grous, atestando que o tempo não conseguiria fazer esquecê-la. A que se deveria esse renovar do interesse pela saudosa história da bailarina Pérola verde? Cerca de 1791 surgira em Pequim um cativante relato evocando os tempos felizes de uma família de Nanquim. Escrito por Cao Xueqin (1710-65), que lá nascera, dava uma forma a essa forte sensação de saudade. Em Shitou ji, «Relatos da pedra» mais conhecido como Honglou meng, «O Sonho do quarto vermelho», Cao Xueqin segue a história do jovem Jia Baoyu, o «Jade precioso», que nascera com uma pedra de jade na boca e viveu rodeado por uma série de personagens femininas que seriam tomadas por pintores como modelos que prolongaram esse ambiente de fim de um tempo. Fei Danxu (1801-50) foi um desses autores conhecidos por pinturas de belas mulheres jovens, inspirados no Sonho do quarto vermelho. A própria expressão honglou, «quarto vermelho», que se refere a esses lugares interiores das habitações aristocráticas, que podiam ser aposentos de dormir, estar ou até um jardim, aponta para essa vida escondida de olhares exteriores, objectos de curiosidade. Num álbum de 1841 (tinta e cor sobre seda, no Museu do Palácio em Pequim) Fei recorda As doze belezas de Jinling descritas no livro, cada uma sozinha num jardim. Na narrativa do livro vai-se debatendo um projecto de edificação de um jardim, designado Daguan yuan, «Jardim do grande panorama». E foi no seu jardim que Fei Danxu fez o retrato do poeta Yao Xie (1805-64) num rolo horizontal, tinta e cor sobre papel, 31,128,9 cm, no Museu do Palácio em Pequim, rodeado das suas esposas que dir-se-ia uma reminiscência do jardim de Shi Chong.