Nürburgring Nordschleife é novo palco predilecto das marcas chinesas

Em plena Floresta do Eifel – em alemão, Eifelwald – dois carros com matrícula chinesa estão estacionados em frente a uma unidade hoteleira. O cenário aparenta ser intrigante à primeira vista, mas não o é.

O Nürburgring Nordschleife, na Renânia-Palatinado, já próximo da fronteira com a Bélgica e o Luxemburgo, tornou-se o palco predilecto dos novos construtores automóveis chineses para mostrarem ao mundo que também podem medir forças com os seus rivais europeus, norte-americanos e asiáticos no que respeita a veículos de alta-performance.

A aposta da indústria automóvel chinesa está fortemente concentrada nos NEVs – “New Energy Vehicles” (Veículos de Novas Energias) – como parte da estratégia para reduzir a poluição, diminuir a dependência dos combustíveis fósseis e impulsionar a inovação na indústria automóvel. A China representou quase dois terços das vendas globais de veículos eléctricos em 2024, e os seus construtores, todos eles relativamente novos, discutem taco a taco com os grandes construtores tradicionais um pedaço deste apetitoso mercado.

É indiscutível que o crescimento das vendas deste tipo de veículos a nível mundial não tem sido acompanhado, à mesma velocidade, pela evolução da tecnologia aplicável ao desporto automóvel, especialmente no que diz respeito aos veículos eléctricos (EVs).

O Campeonato do Mundo FIA de Fórmula E é a única competição verdadeiramente global para veículos elétricos, após o fiasco e a morte prematura da Taça do Mundo de Carros eTouring da FIA — FIA ETCR. Sem alternativas para afirmarem os seus produtos do dia a dia nas pistas, as marcas chinesas rumaram em peso ao Nürburgring Nordschleife, conhecido por ser um dos locais favoritos dos fabricantes automóveis europeus para testar carros de alta performance.

O “Inferno Verde”, nome dado pelo lendário piloto Jackie Stewart devido à sua dificuldade e à densidade da floresta que o rodeia, é um circuito com mais de 20 quilómetros e 170 curvas, combinando retas rápidas, secções técnicas e desníveis acentuados. Muitos recordes de volta são medidos aqui para carros de estrada desportivos e superdesportivos, fazendo do Nordschleife uma referência incontornável para a performance automóvel.

Capítulos para a história

Em 2017, a NIO deu-se a conhecer ao mundo ocidental quando estabeleceu um recorde com o seu supercarro eléctrico EP9. O veículo completou uma volta ao circuito de 20,8 km em 6 minutos e 45,90 segundos, tornando-se, na altura, o carro de produção mais rápido a percorrer o famoso traçado germânico.

Este feito evidenciou a capacidade da NIO e da indústria chinesa em competir com marcas estabelecidas no segmento de carros de alto desempenho. Dois anos depois, a Lynk & Co, a primeira marca chinesa a vencer uma corrida no Circuito da Guia, com o modelo 03 Cyan Concept, uma versão de alta performance do sedan 03, alcançou um tempo de volta recorde em 7 minutos e 20,143 segundos, estabelecendo um novo recorde para carros de quatro portas.

Marcas como a Zeekr, a MG e a Lotus passaram pelo antigo palco do Grande Prémio da Alemanha de Fórmula 1, até que, em 2024, a Xiaomi chegou com estrondo. Com uma versão de produção do SU7 Ultra, registou um tempo de 7 minutos e 4,957 segundos, superando rivais como o Porsche Taycan Turbo GT e o Rimac Nevera. Para acompanhar o sucesso de vendas do seu carro, a marca de tecnologia electrónica foi ainda mais longe: no mês passado, o SU7 Ultra Prototype, construído em parceria com a Prodrive, alcançou uma volta impressionante de 6 minutos e 22,091 segundos, tornando-se o terceiro carro mais rápido de todos os tempos no circuito, atrás apenas do Porsche 919 Hybrid e do Volkswagen ID.R.

Estes resultados da Xiaomi tiveram um impacto significativo, tanto na imprensa ocidental como em casa, como prova da afirmação internacional de uma indústria que quer ser líder incontestada no que respeita aos veículos NEV. Por outro lado, a Xiaomi aproveitou para “surfar a onda” e lançou no mercado uma edição limitada especial do SU7 alusiva a este feito.

Mais virão

O Nürburgring Nordschleife faz parte do vocabulário da indústria automóvel chinesa e a tendência é para uma presença ainda mais forte das marcas chinesas nos próximos anos na pista alemã.

“Acredito que foi a decisão da Xiaomi que trouxe maior atenção à definição de recordes de volta em Nürburgring”, explicou o jornalista chinês Bruno Qi ao HM. “Com uma enorme influência mediática na China e um CEO de alto perfil como Lei Jun, a Xiaomi atraiu um foco significativo para este cenário. Após o sucesso da NIO, este foi mais um desempenho forte de um veículo elétrico de alta performance chinês em Nürburgring.”

A Xiaomi, que já dá nome a uma curva do circuito alemão, poderá querer melhorar o seu tempo de volta, enquanto outras marcas chinesas procuram seguir a tendência – nem que seja para se exibirem num palco mundialmente respeitado e de boas memórias.

“Marcas como a Yangwang (a marca de luxo da BYD) também enviaram os seus modelos para tentativas de tempos por volta”, refere o jornalista da publicação chinesa BEC Motorsport. “Penso que os construtores automóveis chineses encontraram agora uma oportunidade relevante para demonstrar as capacidades das suas plataformas elétricas de alta performance, e esta estratégia já está a ajudar a impulsionar as vendas.” Até porque, no final do dia, o que pesa é o que se vende.

Subscrever
Notifique-me de
guest
0 Comentários
Mais Antigo
Mais Recente Mais Votado
Inline Feedbacks
Ver todos os comentários