EventosPeter Kogler, artista: “A linguagem visual que uso é universal” Andreia Sofia Silva - 9 Abr 2025 Peter Kogler é o artista escolhido para uma nova montra no estúdio de design e arquitectura Impromptu Projects, de Rita Machado e João Ó, inaugurada amanhã. Até ao dia 31 de Dezembro deste ano será possível ver, em “Peter Kogler: Showroom”, na Travessa de Inácio Baptista, os trabalhos deste artista internacional que inovou ao colar o mundo da tecnologia e computadores à arte, criando uma nova linguagem artística Como se sente por apresentar o seu trabalho em Macau? Infelizmente nunca estive em Macau. Fui contactado há cerca de dois ou três anos pela Rita e João [Rita Machado e João Ó] para participar num projecto, vi as coisas que estavam a desenvolver, e que me pareciam muito interessantes. Tivemos uma conversa e a partir daí sabíamos que havia a hipótese de fazer um projecto conjunto no futuro. Mas só agora o conseguimos concretizar. Que tipo de trabalhos traz a esta montra? É uma fachada interessante com um mosaico, em que há uma montra e fizemos uma instalação com papel de parede, que é uma espécie de continuidade da fachada, como se fosse uma grelha distorcida. Temos depois das ventoinhas LED com dois globos que rodam em todas as direcções de forma caótica. É uma espécie de exposição de rua, porque está numa montra. É, para si, uma forma diferente de apresentar o seu trabalho junto do público? Já expus em diversos museus e espaços, e expus de uma forma mais clássica, digamos assim, com exposições. Mas também fiz muitos projectos no chamado espaço público, como estações de metro ou de comboio. Essa é a razão pela qual estou agora em Nápoles, porque estou a trabalhar num projecto para uma enorme estação de metro em parceria com um arquitecto. Como artista, como se sente mais confortável a mostrar o seu trabalho? Num museu, ou num espaço público? Gosto de trabalhar das duas formas. É preciso ter em conta que, quando se faz um projecto no espaço público, as pessoas não têm escolha. Têm de atravessar uma estação de metro ou uma estação de comboios [e ver o projecto exposto]. Mas quando se vai a uma galeria ou a um museu, é uma decisão consciente de alguém que sabe que vai confrontar-se com a arte ali exposta. Essa é a principal diferença. Portanto, temos um público diferente quando trabalhamos num espaço dito público, e temos de ajustar a nossa linguagem visual a uma situação específica. É considerado um dos pioneiros da arte computacional e da integração de um ambiente digital na arte. Como decidiu que era este o caminho a seguir como artista? Quando era apenas um jovem artista, em 1984, fui a uma feira de máquinas de escritório em Viena. Recordo-me quando foi apresentado o Macintosh, da Apple, o primeiro computador que tinha uma interface de utilizador baseada em ícones, em informação gráfica. Foi, assim, a primeira máquina em que o utilizador não tinha de ter qualquer tipo de conhecimento sobre programação, podia-se usar o Macintosh de forma bastante intuitiva. Essa foi, claro, uma mudança paradigmática, e era evidente que iria mudar a forma como as imagens são produzidas e como são comunicadas. Este foi um dos aspectos que me influenciou. Outro tem a ver com o facto de, na história da arte, os computadores não terem, nessa altura, nenhuma presença, ou seja, não havia muito a fazer nessa altura, por isso a oportunidade de criar uma espécie de nova linguagem visual era bastante boa. Estas foram as duas principais razões que me levaram a escolher este meio como a minha ferramenta principal. Actualmente, com a Inteligência Artificial (IA), há todo um novo universo que pode ser explorado artisticamente. Bem, acredito que vai mudar a nossa vida em vários níveis, vai afectar todo o contexto social. A Internet foi, por si só, uma grande mudança, e as redes sociais também vieram alterar muita coisa. A IA não se trata apenas de algo com impacto na arte, mas em toda a nossa vida. Que tipo de mensagens são transmitidas com o seu trabalho? Não há um tipo de mensagem específica, eu diria. Quando trabalhamos com computadores e os usamos como ferramenta visual estamos ligados a todos os outros domínios em que este tipo de meios digitais desempenha um papel. Portanto, é uma área que nos diz algo sobre determinada situação em um determinado momento histórico. Que expectativas tem em relação ao acolhimento do seu trabalho em Macau? E que influência poderá o território trazer ao seu trabalho? Começo por dizer que a linguagem visual que utilizo no meu trabalho tem um carácter bastante universal. Trabalho com alguns elementos que podem ser lidos em qualquer tipo de cultura, como o cérebro, as mãos, o globo, tubos. Todas estas imagens não têm qualquer tipo de conotação cultural específica. Estou ansioso por ir a Macau, para que me possa aperceber das qualidades específicas do território. Presumo que Macau seja fruto de uma situação muito complexa devido às circunstâncias históricas, com o facto de ter sido uma colónia portuguesa junto à China que, neste momento, apresenta um poderoso contexto económico. São muitas as influências que se cruzam ali. Ao longo da sua carreira tem exposto nos principais museus e galerias de todo o mundo. Esperava este reconhecimento internacional? Acima de tudo penso que é um privilégio ter a possibilidade de trabalhar a tantos níveis diferentes e com tantos contextos culturais diferentes. É também um processo contínuo de aprendizagem. O seu trabalho está muito ligado ao universo abstracto. Como se sente se o público não compreender o que quer transmitir, ou até com críticas negativas? Claro que não fico nada contente, mas isso faz parte do trabalho. Sabe, há sempre opiniões diferentes, e é assim que as coisas são. Mas entende que o seu trabalho se pode centrar ao nível do abstracto, ou estou a fazer uma análise errada? Há de facto certos elementos na minha linguagem visual que se apresentam com uma espécie de tradição abstracta. Mas há também muitos elementos com ligação a coisas que conhecemos, como o cérebro ou o globo. O meu trabalho comunica também a diferentes níveis, mas há também coisas mais directas, como as instalações que faço mais direccionadas a crianças, por exemplo. Aí, as crianças reagem de maneira forte. Tal significa que a informação passa de forma bastante directa, porque não é algo que se lhes possa dizer ou explicar, porque as crianças não têm propriamente conhecimentos da história da arte. Quais as grandes influências na sua arte? Essas influências foram mudando ao longo dos tempos? Um aspecto importante é aquilo que se pode fazer com a tecnologia. Comecei a trabalhar com computadores em 1984, em que havia programas gráficos com uma linguagem visual específica. Mas havia muito poucos dispositivos para transferir os elementos para outros materiais, como telas ou papéis de parede. Portanto, eram processos de transferência e produção totalmente analógicos, ao nível da fotografia ou da serigrafia, por exemplo. Ao longo de todos estes anos a tecnologia desenvolveu-se rapidamente e hoje qualquer tipo de transferência de elementos ou produção é digital, como projectar animações de computador, imprimir coisas para fachadas… Para mim foi importante observar todas essas possibilidades técnicas e perceber como as posso utilizar e incluir na minha linguagem visual.