EventosExposição | “Flora Macanesis” revela memórias de Macau na Polónia Andreia Sofia Silva - 22 Jan 2025 O antropólogo local Cheong Kin Man, a residir em Berlim há muitos anos, juntou-se a Marta Sala, artista polaca, para realizar uma nova exposição, “Flora Macanesis”, que pode ser vista na cidade de Katowice, Polónia, até 28 de Fevereiro. Nesta mostra, o casal explora memórias de família e o passado de Macau, numa conjugação de instalações artísticas e peças têxteis Estreou ao público no passado dia 7 a exposição “Flora Macanensis”, o mais recente projecto da dupla de artistas Cheong Kin Man, natural de Macau, e Marta Stanisława Sala, polaca. Esta mostra está patente até ao dia 28 de Fevereiro na Biblioteca Pública Municipal de Katowice, na Polónia, mas a ideia é que possa visitar vários países e territórios, incluindo Macau. Segundo uma nota divulgada pelo Instituto Camões na Polónia, esta mostra é um trabalho da dupla composto por “uma série de sete cartazes que conta a história da Flora, mãe do artista, que chegou a Macau clandestinamente nos anos 80 e como a amnistia portuguesa concedida aos imigrantes ilegais no território, depois de uma visita de Mário Soares em 1990, mudou a vida de Macau”. Mas a mostra inclui também o projecto “A Bússola da Utopia”, com três peças têxteis, que conta a história do pai de Cheong Kin Man. Nesta peça, o artista e antropólogo natural de Macau acaba por “entrelaçar a travessia a nado do pai da China a Macau em 1979 com as estadias do jesuíta polaco Miguel Boym em meados do século XVII e também com a passagem do aventureiro polaco Conde Benyowsky pela colónia portuguesa em 1771”. Gonzaga Gomes e outros Desta forma, este trabalho mistura não só memórias pessoais do artista, há muitos anos a residir em Berlim, mas também outros pedaços da história de Macau. Também em “Flora Macanensis” se pode ver o vídeo experimental “O Monumento Pronto-a-Vestir”, que inclui uma entrevista com o navegador e investigador António Abreu Freire. “A obra audiovisual, inspirada no karaoke, demonstra, letra a letra, as traduções inglesa, polaca e cantonesa das palavras de Freire em português”, destaca-se. A mostra completa-se com “duas dúzias de livros em português e publicados em Macau do tempo da administração portuguesa, incluindo obras do sinólogo Luís Gonzaga Gomes (1907-1976), o jornalista Francisco de Carvalho e Rêgo (1898-1960), bem como um mapa ‘tentativa de reconstituição geográfica da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto feita pelo Visconde de Lagoa'”. Ao HM, a dupla de artistas contou que esta é a primeira vez que expõem no país de onde é natural Marta Stanisława Sala, com os dois a quererem “concretizar o plano de viver entre Berlim, Macau, Cracóvia e Lisboa”. A dupla trabalha junta desde 2021, tendo vindo a criar “várias línguas fictícias”, sempre dentro das áreas da arte e da antropologia visual. Marta Sala destaca, sobre “Flora Macanensis”, que “não só é importante ligar o têxtil e o texto nas narrativas auto-etnográficas, mas também a convivência com as pessoas entre Berlim, a Polónia, Macau e Portugal, fontes da nossa criatividade”. A cidade de Katowice é bastante próxima de Marta Sala, pois no lugar onde hoje existe a biblioteca pública, o seu avô materno teve uma oficina de construção de móveis nos anos do comunismo. Porém, Marta Sala nunca viveu nesta pequena cidade, embora permaneça lá toda a família. A ideia de ali expor surgiu da mãe de Marta. “A directora pediu-nos a contextualizar o nosso trabalho e propôs-nos a tematizar mais Macau”, destacou Marta, sendo que na sessão de apresentação da mostra teve lugar uma conversa sobre a participação da dupla na edição da Bienal de Macau de 2023. Marta Sala adianta que, como dupla, procuram “sempre o universal”, enquanto Cheong Kin Man destaca que é-lhe sempre natural falar da sua terra, Macau. “Tanto na Alemanha como na Polónia, sempre queremos falar de Macau de uma forma a que consigamos ter algum reflexo. Quando falámos [na conversa inaugural da exposição] da existência de três passaportes em China, Macau e Hong Kong, pedimos ao público para imaginar as alfândegas entre Katowice, Cracóvia e Varsóvia. Os casos de Macau e da Polónia não são comparáveis, mas a Polónia foi dividida durante séculos”, explicou. No último ano, a dupla não parou de produzir artisticamente, tendo realizado “De Copenhaga com Amor” e “As Espantosas e Curiosas Viagens” em Nuremberga, que teve o apoio da Fundação Oriente, entre outras entidades. Cheong Kin Man adiantou que esta última mostra poderá realizar-se em Lisboa ainda este ano, estando o projecto em fase de negociações.