EUA/Eleições: Laços ancestrais indianos de Usha Vance e de Harris entre orgulho e desilusão

Nos antípodas das ruidosas celebrações que eclodiram nos Estados Unidos, a aldeia indiana de Vadluru (sul) saudou hoje sem alarde a vitória de Donald Trump, orgulhosa da promoção da sua descendente mais ilustre ao posto de “segunda-dama”. Filha de imigrantes indianos, Usha Vance, 38 anos, é a mulher de JD Vance, futuro vice-Presidente.

O contraste acontece em Thulasendrapuram, 730 quilómetros mais a sudoeste de Vadluru, na aldeia do avô da candidata democrata derrotada nas presidenciais norte-americanas, onde a família da mãe de Kamala Harris tem laços ancestrais e onde as pessoas acabaram por sentir grande desilusão. Na aldeia de Vadluru, os sorrisos, porém, são muitos por verem JD Vance na vice-presidência.

Considerado um brilhante advogado, formado pelas universidades norte-americana de Yale e pela britânica de Cambridge, JD Vance nasceu nos subúrbios de San Diego (Califórnia), filho de uma pai cuja família é natural de Vadluru, no estado de Andhra Pradesh.

“Estamos felizes”, sorri um dos moradores da aldeia, Srinivasa Raju, 53 anos, ao anunciar o regresso de Donald Trump à Casa Branca. “Estamos orgulhosos”, acrescenta, entre as casas brancas e as palmeiras da pequena cidade, Venkata Ramanayy, 70 anos.

“Todos os indianos, não só eu, mas todos os indianos, estão orgulhosos de Usha por causa das suas origens indianas”, insistiu, afirmando esperar que a ‘segunda-dama’ “não se esqueça da aldeia e a beneficie”.

Os moradores de Vadluru rezaram para que Trump vencesse Harris, diz o padre hindu Appaji, 43 anos, vestido com uma túnica cor de açafrão. “Apoio Usha Vance e, portanto, apoio Trump”, explica depois de colocar uma vela para o Presidente eleito em frente à estátua do deus hindu com cabeça de elefante, Ganesh.

Appaji não esconde agora a esperança de um retorno mais concreto. “Se ela puder lembrar-se das suas raízes e fazer algo de bom pela aldeia, seria ótimo”, sublinhou o padre hindu, repetindo as palavras de Venkata Ramanayy.

No entanto, Usha Vance, que disse ainda praticar a religião hindu, nunca visitou Vadluru. Mas o mesmo Appaji garante que o seu pai esteve lá há cerca de três anos e que aproveitou para perguntar sobre o estado do templo.

Depois de o seu bisavô ter deixado a aldeia, o pai de Usha, Chilukuri Radhakrishnan, foi criado em Chennai (antiga Madras), antes de se mudar para os Estados Unidos para estudar. Tal como ele, milhões de indianos optaram por partir para os Estados Unidos.

Tornaram-se, de acordo com as estatísticas oficiais mais recentes, a segunda maior comunidade de origem asiática, com 4,8 milhões de representantes em 2020. A atmosfera era um pouco menos alegre 730 quilómetros mais a sudoeste, na aldeia do avô de Harris, que, apesar da derrota, os residentes de Thulasendrapuram afirmaram estar orgulhosos da democrata.

“Ela é uma fonte de inspiração para a aldeia”, garante T.S. Anbarasu, 63 anos, sublinhando que “todas as escolas da região conhecem Kamala Harris”. Nascida na Califórnia, a ainda vice-presidente norte-americana visitou várias vezes a aldeia indígena da sua família com a sua mãe.

Os residentes da aldeia, que seguiram atentamente os resultados das eleições nos seus ‘smartphones’, ficaram em silêncio quando o entusiasmo inicial se desvaneceu, pouco depois de começaram a ser noticiados os primeiros resultados que davam vantagem a Trump.

Os habitantes de Thulasendrapuram esperavam uma vitória de Harris e, na terça-feira, organizaram orações hindus especiais num templo local onde o nome da candidata democrata está gravado numa lista de doadores. Alguns planeavam também lançar fogo de artifício e distribuir doces se ela ganhasse.

“Estamos tristes com isso. Mas o que é que podemos fazer? Estava nas mãos dos eleitores daquele país. Foram eles que fizeram Trump ganhar. Só nos resta desejar o melhor a Trump”, disse J. Sudhakar.

À medida que os resultados se tornavam mais claros, um grupo de repórteres indianos que se encontrava no exterior do templo da aldeia também se dispersou rapidamente. A aldeia – palco de um breve espetáculo mediático e de euforia desde terça-feira – ficou então quase deserta.

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