Criminalidade | Burlas com trocas ilegais de dinheiro dominam

No primeiro semestre, os crimes de burla associados a trocas ilegais de dinheiro dominaram a criminalidade no território. Dados ontem divulgados mostram um aumento de 267 casos face a igual período do ano passado, num tipo de crime controlado por não residentes. Mais de dois mil burlões ligados à troca de dinheiro foram interceptados pelas autoridades

 

A criminalidade associada ao jogo registou um “certo aumento” em relação a igual período do ano passado, destacam as autoridades no relatório sobre o balanço da criminalidade no primeiro semestre do ano, ontem divulgado. E neste cenário, destacam-se os casos de burla associados a troca ilegal de dinheiro.

Dentro do rol de crimes ligados ao jogo, surge o crime de burla com 159 casos registados nos primeiros seis meses do ano, representando 23,3 por cento da criminalidade, seguindo-se 22 casos de usura, vulgo agiotagem. Relativamente aos “burlões de troca de dinheiro” contabilizaram-se 351 casos, um aumento de 267 casos em relação ao primeiro semestre de 2023 e de 262 face a igual período de 2019, antes da pandemia.

O documento explica que, por norma, estes burlões apresentam “falsos comprovativos de transacção bancária, alegando que houve atrasos na remessa ou que o montante de transacção da vítima é suspeito de ser fruto de crime, levando esta a crer que a sua conta bancária do Interior da China foi congelada”. Os burlões costumam ter bastante dinheiro vivo consigo para efectuar a troca, “sendo vulneráveis a actos de furto, roubo, ofensas à integridade física e, até, homicídio, perturbando o ambiente de segurança dos casinos e das zonas periféricas”.

As autoridades explicam o aumento do número de crimes ligados ao jogo com o “aumento substancial do número de turistas e com a recuperação da indústria do jogo”.

Porém, as autoridades entendem não haver motivo para alarme. “Devido aos esforços de prevenção e combate da polícia, especialmente as acções de combate às actividades ilegais de troca de dinheiro nos casinos e seus arredores, a segurança é salvaguardada eficazmente e o número de crimes relacionados com o jogo, no primeiro semestre deste ano, ainda foi significativamente inferior ao do mesmo período de 2019, antes da epidemia.”

Casa cheia

No primeiro semestre deste ano, a Polícia Judiciária (PJ) e o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) interceptaram 2.215 burlões deste tipo, tendo sido repatriados ou impedidos de entrar no território 2.072 não residentes envolvidos nestes crimes.

No total da criminalidade associada ao jogo, foram identificados 123 residentes e 639 cidadãos do interior da China, bem como 44 residentes de Hong Kong, apenas quatro de Taiwan e 16 pessoas de nacionalidades estrangeiras, o que demostra que “a proporção de residentes face a não residentes é de cerca de 1 por 5,7”. Também nas vítimas existe um domínio de não residentes, registando-se apenas, em seis meses, 71 residentes face a 420 cidadãos do interior da China.

Destaque ainda para o combate ao jogo ilegal online, pois, segundo o gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, “os websites de jogo ilegal fazem-se passar, muitas vezes, pelos portais das operadoras de jogo de Macau”. Com a ajuda de um mecanismo de comunicação interdepartamental foram bloqueados, no primeiro semestre, mais de 36.000 websites de jogo ilegal.

Outros processos

Nos primeiros seis meses do ano, as autoridades policiais instauraram 7.160 inquéritos criminais, mais 912 casos, numa subida de 14,6 por cento face a igual período de 2023. Em relação a 2019, contudo, o aumento foi de apenas 3,5 por cento. Só na Polícia Judiciária registaram-se 683 inquéritos criminais, um aumento de 261 processos em comparação com o período homólogo de 2023, representando uma subida de 61,8 por cento.

Dominam, com 4.418 casos, os crimes contra o património, mais 17,8 por cento em relação aos primeiros seis meses de 2023, onde se incluem todos os casos de burla, com e sem ligação ao jogo, num total de 1.394 ocorrências; bem como furto, roubo, usura ou extorsão.

Dentro dos casos de burla não associada ao jogo, registaram-se 188 casos de burla telefónica, mais 29 casos face a 2023 e mais 152 face a 2019. Cerca de 80 por cento dos burlões fizeram-se passar por funcionários de serviços públicos. Registaram-se ainda 408 casos de burla online, sendo mais frequentes os casos de aliciação para investimento, venda de bilhetes para espectáculos e compras online.

Foram ainda detidos, e presentes ao Ministério Público (MP), 2.743 indivíduos, o que reflecte um aumento de 787 indivíduos, mais 40,2 por cento comparando com o mesmo período do ano 2023. Ainda assim, face a 2019, houve menos 525 pessoas apresentadas ao MP, menos 16,1 por cento.

Mais violações

No que diz respeito à criminalidade geral, ficam em segundo lugar os crimes contra pessoas, com 1.191 casos, destacando-se os 546 crimes de ofensa simples à integridade física e 34 casos de violação. Neste ponto, as autoridades alertam para um “aumento em comparação com os períodos homólogos de 2023 e 2019”. “Mais de 60 por cento das vítimas não eram residentes de Macau, sendo que os crimes ocorreram em quartos de hotel, não sendo de afastar a hipótese de que alguns dos casos tenham ocorrido num contexto de relações sexuais consentidas”, aponta o relatório. No caso de violações envolvendo residentes, as autoridades pensam que “alguns casos tiveram lugar após o consumo de bebidas alcoólicas em bares, sendo que, noutros casos, vítimas e suspeitos conheciam-se”. No primeiro semestre, foram ainda registados 13 crimes de abuso sexual de crianças, uma redução de 27,8 por cento em relação a 2023, “mas, ainda assim, mais do que em 2019, situação que deve merecer a atenção da sociedade”, pode ler-se.

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