GP | Fórmula Regional é bom para os pilotos portugueses

A controversa substituição operada pela Federação Internacional do Automóvel (FIA) na prova rainha de monolugares do Grande Prémio de Macau poderá permitir o regresso de pilotos portugueses ao Circuito da Guia. Essa é a convicção de César Campaniço, o único piloto com licença desportiva de Portugal que participou nas provas de F3, Turismo e GT do Grande Prémio de Macau

 

Desde que a GP3 Series deu lugar ao Campeonato de Fórmula 3 da FIA, em 2019, não houve qualquer piloto português a participar na competição sob a gestão da Formula One Management. Com custos mais baixos que a Fórmula 3, cujos orçamentos da Taça do Mundo de Fórmula 3 em Macau ultrapassavam com a facilidade o milhão e meio de patacas, a Fórmula Regional poderá novamente abrir a porta ao regresso de jovens pilotos portugueses ao mais antigo circuito citadino do continente asiático.

“Claramente a Fórmula Regional abre muito mais a porta à participação de pilotos portugueses do que a FIA F3”, referiu ao HM César Campaniço, ex-piloto profissional e actual consultor e ‘driver coach’ de vários projectos no automobilismo. “Por um lado, porque financeiramente é muito mais viável e por outro, porque na geração actual temos poucos pilotos nas fórmulas de formação ou nas provas de protótipos para poder encarar uma participação digna naquele que é o mais desafiador e bonito, na minha opinião, circuito citadino ‘natural’ do mundo”

O actual ‘driver coach’ do FPAK Junior Team, o projecto da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting para o lançamento de jovens pilotos na velocidade, recorda que “já nos meus anos de Fórmula 3, era a final mundial da categoria, pelo seu simbolismo e por ser disputada no final do ano, após o termino dos campeonatos nacionais e continentais da mesma.”

Candidatos que se perfilam

Depois da sua estreia no Circuito da Guia no ano passado, com um entusiasmante sexto lugar na corrida prova de Fórmula 4, o jovem piloto luso de Macau e actual campeão chinês de Fórmula 4, Tiago Rodrigues, já publicamente mostrou interesse em participar na prova do território, sendo que a sua participação dependerá dos apoios que conseguir reunir.

Campaniço dá outro exemplo de um compatriota que poderá marcar presença já na prova no mês de Novembro: “Neste momento temos o Ivan Domingues que está na FRECA (Formula Regional European Championship by Alpine) e tem feito a sua formação desde a F4 de maneira estruturada. Certamente poderá fazer muito boa figura neste grande evento.”

Nas trinta e oito passagens dos monolugares da Fórmula 3 pelo território, dez pilotos portugueses participaram na prova, tendo vencido três edições, uma por André Couto (2000) e duas por António Félix da Costa (2012 e 2016).

Manter a relevância

O ex-piloto lisboeta, que correu no Circuito da Guia de F3 em 2002 e 2003, acredita que o evento do território não irá perder a relevância internacional construída ao longo de sete décadas, “pois os pilotos de Fórmula 3 já treinam e correm de Fórmula Regional, porque é proibido treinar de Fórmula 3. Por isso mesmo, não me admiraria, que pela importância do evento e da pista que muitos deles, ainda ativos na Fórmula 3 deste ano, também considerassem participar na prova”.

Ciente do impacto destas mudanças, Campaniço realça que “Macau é um evento especial, apesar de na pandemia ter perdido um pouco a pujança, mas esta decisão penso que vai tornar o evento muito mais composto e competitivo a nível da categoria de Fórmula de topo que vai participar este ano.”

Apesar de ainda não ter sido anunciado oficialmente, a grelha de partida da primeira edição da Taça do Mundo de Fórmula Regional da FIA deverá utilizar os monolugares Tatuus T-318 (inicialmente chamados Tatuus F.3 T-318), equipados com motores Alfa Romeo preparados pela Autotecnica Motori, com 1742cc e 270 cavalos, habitualmente vistos a competir na Fórmula Regional do Médio Oriente. A grelha de partida deverá reunir entre 27 a 30 monolugares.

“Não nos podemos esquecer que a Fórmula Regional nasce como categoria de topo que se pode fazer a nível nacional ou regional”, esclarece Campaniço. “Aliás, o seu primeiro nome era mesmo F3 Regional. A F3 Internacional de hoje em dia é só para alguns e esses iriam chegar ao fim do ano sem dinheiro para correr em Macau ou com pouca vontade de investir mais do que as corridas que têm no calendário deles”.

O 71.° Grande Prémio de Macau terá lugar de 14 a 17 de Novembro e, de acordo com a Comissão Organizadora da prova, os preparativos para as provas estão a decorrer de forma ordenada.

Director da FIA deixa escapar o motivo

Entretanto, em declarações proferidas à revista inglesa Autosport, François Sicard, o Director de Operações e Estratégia de monolugares da FIA, levantou um pouco mais o véu sobre a saída da F3 da RAEM. “Não foi possível manter a F3 porque vamos mudar para a nova geração de carros em 2025, pelo que, por razões logísticas, não era possível ter os carros em Macau”, explicou o responsável francês, que acrescentou que “ao mesmo tempo, estávamos a questionar se ainda seria relevante manter a F3 em Macau.
Foi [em 2019 e 2023] apenas uma corrida extra adicionada ao Campeonato de F3 da FIA, o que não é a filosofia do evento de Macau”. A ideia da FIA é “recriar a ideia da (antiga) corrida de F3 – ter os melhores pilotos de todas as categorias juniores do mundo”, explicou à reputada publicação britânica. Sicard também revelou que “há dois anos, eu já queria fazer isso. Sabíamos que o conceito da F3, tal como é actualmente, era bom, mas faltava-nos algo. Esperamos ter pilotos de todas as regiões”. A ideia da FIA passa por fazer uma selecção dos melhores pilotos dos vários campeonatos regionais.

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