O imprudente obviamente ruiu

Podem não acreditar, mas José Sócrates continua na berlinda. Em Portugal, na semana passada, rebentou a “bomba” que há muito se esperava. O primeiro-ministro António Costa pediu a demissão ao Presidente da República, este aceitou, ouviu os partidos políticos e o Conselho de Estado e marcou eleições legislativas para o próximo 10 de Março.

O país ficou atónito, ninguém estava à espera que as palavras sem pudor escritas numa rede social pelo presidente do Supremo Tribunal de Justiça salientando que o país era um antro de corrupção, viessem a terreiro tão depressa provocar a queda de um governo de maioria absoluta. Naturalmente que o senhor presidente do Supremo Tribunal já sabia de tudo, até porque as investigações do Ministério Público (MP) começaram em 2019 com a tal história do ministro João Galamba e as minas de exploração de lítio.

Vamos aos factos: primeiramente ao imprudente-mor, o primeiro-ministro António Costa. Como é possível que um homem com tantas décadas de vida política nos mais diversos cargos e tendo enfrentado “guerras” com António José Seguro e José Sócrates, tenha escolhido para o seu governo vários socratistas?

Como é possível que António Costa imprudentemente, ou não, tenha escolhido para chefe de Gabinete um indivíduo socratista até à quinta casa que só tem tido problemas de ilegalidades e ainda por cima escondia o dinheiro que ia sacando entre os livros e caixas de garrafas de vinho, como foi descoberto no seu gabinete do Palácio de São Bento? António Costa, das duas, uma. Ou é mesmo um imprudente nato ou quis que se realizassem as mais diferentes negociatas nos mais diversos projectos em curso. A que propósito é que a “imprudência” de António Costa chega ao ponto de introduzir o seu melhor amigo, Diogo Lacerda Machado, – que por sinal esteve em Macau, tal como outro atingido neste imbróglio político, Jorge Oliveira – em todos os meandros e decisões a tomar pelo Governo?

Lacerda Machado é suspeito de ter corrompido gravemente o chefe de Gabinete, Vítor Escária, do primeiro-ministro. Bem, sobre suspeitas estamos atordoados. Então, eu que sou um simples cidadão e sou informado que só por escrever umas coisitas incómodas para este regime de corruptos e de incompetentes tenho o meu telefone sob escuta, como é que um assessor ministerial, um chefe de Gabinete, um secretário de Estado, um ministro e um primeiro-ministro se põem a falar ao telefone de factos graves, alguns ilegais e que alegadamente os colocam sob suspeita de corrupção, não pensando que estarão as suas conversas a ser gravadas?

Neste particular, por acaso a montanha pariu um rato porque as escutas que o MP apresentou aos advogados de defesa dos detidos não há matéria nenhuma que possa incriminar os seus clientes e outros arguidos como ministros, autarcas e empresários. Aliás, o triste último parágrafo do comunicado da Procuradoria-Geral da República, focando a suspeita sobre o primeiro-ministro e que ao fim e ao cabo derruba um governo de maioria absoluta é de uma gravidade tal, que levou um dos comentadores televisivos a dizer que tudo isto se tratou de um golpe de Estado constitucional.

E por outro lado, o MP também deixou atónitos todos os observadores políticos quando entra pela primeira vez na história da democracia em 50 anos, pelo Palácio de S. Bento a dentro com a PSP. PSP? Porquê? Se a Polícia Judiciária é que é a instituição para investigar e realizar buscas do foro criminal? O país ainda tem muita sorte em não assistir a uma greve indeterminada dos inspectores magoados e enxovalhados da Polícia Judiciária.

A história desta demissão do primeiro-mistro mais “imprudente” da política portuguesa por se ter rodeado por todos os lados de socratistas, que têm um curso superior de corrupção, será feita daqui a 10 ou 20 anos, possivelmente com o conhecimento de factos que hoje em dia não passam de conspirações, nomeadamente uma vingança do Presidente Marcelo, ou do antigo primeiro-ministro José Sócrates que ia tendo toda a informação dos cambalachos ministeriais, ou ainda de alguém muito importante na Comissão Europeia que não estava nada interessado em ver António Costa no topo da política europeia com um cargo em Bruxelas.

A verdade histórica vai demorar a ser conhecida. O que não demorou nada foi o povo estranhar como é que António Costa nomeia “imprudentemente” João Galamba para ministro das Infraestruturas, uma pasta que mexe com milhares de milhões de euros e depois não o demite quando o Presidente Marcelo assim o solicitou. O que é certo é a existências de muitas nuvens escuras em todo este baralho de compadrios entre ministros e autarcas, gabinete do primeiro-ministro e o maior amigo de António Costa, a aprovação de projectos megalómanos e sem viabilidade futura como o lítio e o hidrogénio. Um governo de maioria absoluta que ruiu deixando muita gente sem dormir.

As nossas fontes indicam-nos que há centenas de políticos envolvidos nos cambalachos, mas que o MP, nem com as escutas, os vai conseguir meter na prisão. Resta-nos saber quem será o novo líder do PS e se o PSD cai em si e decide fazer o mesmo, porque com Luís Montenegro perderá as eleições pela certa. Há muito que sabíamos que nada em Portugal acontecia com transparência, sem suspeitas de corrupção e compadrio. Os casos sucederam-se. Chamaram-lhes “casos e casinhos” e o povo tristemente a olhar para tudo isto e a ficar cada vez mais sem poder pagar a casa, dar escola aos filhos e até comprar medicamentos.

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