Wong Shek Hung, directora da Oxfam para Macau, Hong Kong e Taiwan: “Covid afectou os mais pobres”

Em Macau desde 2012, a organização não-governamental internacional Oxfam tem lutado por aumentos do salário mínimo, mantendo um diálogo constante com o Governo. A directora da representação da Oxfam para Macau, Hong Kong e Taiwan, Wong Shek Hung, alerta que, mesmo com a recuperação da economia, muitas pessoas precisam ainda de apoio financeiro

 

Que balanço faz da actividade da Oxfam desde que se instalou no território em 2012?

Ao longo dos anos, a Oxfam tem-se concentrado em três áreas-chave: defesa de direitos [humanos], educação e angariação de fundos. Relativamente à defesa dos direitos, temos trabalhado em políticas laborais e salariais para garantir que os direitos e salários dos trabalhadores mais vulneráveis sejam protegidos. Temos vindo a fazê-lo através da elaboração proactiva de propostas ao Governo de Macau, respondendo a agendas políticas e afins. Também estamos a apoiar activamente e a trabalhar com organizações locais para desenvolver programas domésticos, incluindo a recolha de excedentes alimentares e a sua redistribuição a famílias que vivem na pobreza, oferta de aulas de reforço gratuitas a crianças de famílias mais pobres, apoio a pessoas que recolhem cartão [na rua] e outros programas de envolvimento público. No domínio da educação, temos organizado workshops e trabalhado com escolas para sensibilizar [os jovens] para as várias facetas da pobreza e para formar a nova geração, bem como o público em geral, como cidadãos globais. Através de uma série de actividades experimentais e interessantes, como o teatro interactivo, visitas à comunidade, jogos e outras, temos obtido o apoio crescente de um vasto leque de escolas e do público ao longo dos anos. Realizámos mais de 300 sessões por ano e, recentemente, trabalhámos também com a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), ministrando workshops de educação para a vida a alunos do ensino básico e secundário.

Um dos últimos eventos anunciados pela Oxfam foi a corrida na Torre de Macau, que tem como objectivo a recolha de fundos.

Sim. No que diz respeito à angariação de fundos, temos realizado alguns eventos de grande escala, que têm sido bastante populares entre as pessoas locais: o Oxfam Rice Event e o Oxfam TowerRun [ver texto secundário]. A edição deste ano foi mesmo reconhecida oficialmente pela Tower Running World Association como um evento de 120 pontos. Em termos de novas iniciativas, também introduzimos recentemente o Dress Green Day [Dia do Vestido Verde] e trabalhámos em conjunto com a DSEDJ para organizar novos workshops para estudantes, produzimos livros, entre outras coisas. O Dia do Vestido Verde é uma iniciativa em que todas as escolas e organizações participantes se vestem de verde durante um dia e doam à Oxfam o que gastariam num almoço. Podem também participar gratuitamente numa actividade educativa organizada pela Oxfam em Macau, para promover a sensibilização do público e aprender sobre a situação alimentar em vários locais espalhados pelo mundo.

Relativamente a matérias sociais, nomeadamente a questão do aumento do salário mínimo, como tem sido o diálogo com o Executivo?

Temos submetido, de forma pró-activa, diversas propostas ao Governo de Macau, respondendo às políticas estabelecidas e ao salário mínimo. Temos encorajado o Governo a aumentar o salário mínimo com base no Índice Mínimo de Subsistência, para que o processo de revisão [do montante] seja mais transparente. O actual salário mínimo não é revisto com a frequência suficiente (apenas de dois em dois anos) e os seus aumentos não acompanham a inflação. Tendo em conta o facto de um trabalhador ter, muito provavelmente, de cuidar de outra pessoa, necessitando de 7.990 patacas [mensais], com base no Índice Mínimo de Subsistência, os trabalhadores não deveriam ganhar menos de 38,4 patacas por hora. [Actualmente o aumento do salário mínimo está a ser discutido em sede de concertação social, com o Governo a propor um aumento que varia entre 34 e 36 patacas por hora]. Também reunimos com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, a Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo e várias pessoas e departamentos governamentais no passado.

De uma forma geral, a Oxfam considera que Macau e Hong Kong têm problemas sociais semelhantes, ou são diferentes, tendo em conta a diferença das suas estruturas económicas?

Tal como em Hong Kong e no resto do mundo, a covid-19 afectou os mais pobres de Macau, as empresas e [influenciou] a taxa de desemprego. Nos últimos três anos, recebemos mais pedidos de apoio de pessoas que vivem em situação de pobreza em Macau. Através dos nossos apoios com alimentos, por exemplo, encontrámos mais famílias monoparentais e idosos em situação de necessidade. Apesar de a economia ter melhorado, muitas pessoas precisam ainda de apoio. É por isso que medidas como o aumento do salário mínimo seriam muito benéficas para os segmentos populacionais mais vulneráveis de Macau.

As alterações climáticas é outra das áreas de actuação da Oxfam. O que tem sido feito em Macau neste domínio?

Mais justiça climática é uma das áreas de preocupação da Oxfam. Para aumentar a sensibilização para a questão e combater as alterações climáticas, satisfazendo ao mesmo tempo as necessidades dos mais pobres, temos desenvolvido um programa de recolha de excedentes alimentares e redistribuição a famílias que vivem na pobreza. [Esta medida] incorpora elementos de redução da pobreza e, ao mesmo tempo, protecção ambiental. Promovemos este programa junto de lojas, a fim de obter o seu apoio na doação de excedentes alimentares, e convidamos [também] o público e os estudantes a recolher excedentes alimentares. Temos também um programa dirigido aos colectores de papelão, com o objectivo de aumentar a quantidade de papel recolhido para reciclagem, bem como apoiar os colectores de papelão a melhorarem os ritmos de trabalho e os seus rendimentos.

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